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Historia Crítica

Print version ISSN 0121-1617

hist.crit.  no.81 Bogotá July/Sept. 2021  Epub Aug 06, 2021

https://doi.org/10.7440/histcrit81.2021.01 

Tema abierto

A graça manifestada e a pregação na Castela dos séculos xiv e xv*

La gracia manifiesta y el sermón en la Castilla de los siglos xiv y xv

Manifest Grace and Preaching in Castile during the Fourteenth and Fifteenth Centuries

Leandro Alves Teodoro** 

**Universidade Estadual de Campinas/Universidade Estadual de São Paulo, Brasil. O autor é doutor em História pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) e docente do Programa de Pós-Graduação em História da mesma universidade. É professor colaborador do departamento de História do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas, Brasil e professor do Programa de Pós-Graduação em História dessa instituição. Elaborou, entre outros trabalhos, Lições para homens casados. Portugal, séculos xiv-xvi (São Paulo: Editora Unifesp, 2016), o Guias dos costumes cristãos (São Paulo: Editora Unifesp, 2019) e o Constituições de Braga de D. Diogo de Sousa (Paris: Sorbonne/E-Spania, 2019). lleandroateodoro@gmail.com


Resumo.

Objetivo/Contexto:

a produção eclesiástica em castelhano na passagem do século xiv ao xv, assim como em outras línguas vernáculas desse período, acentuava a necessidade de criar parâmetros de ensino para os clérigos e de melhor prepará-los para orientar os fiéis nas doutrinas da Sagrada Escritura. Como as obras de fundo teológico e pastoral eram até esse momento produzidas em sua maioria em latim, era imperativo escrever tratados que fossem inteligíveis aos clérigos mais simples. A partir da serialização de obras destinadas à iniciação de clérigos da Coroa de Castela em seus deveres, é analisada, neste estudo, a regulação da conduta dessas figuras, com ênfase nas estratégias adotadas para orientar os pregadores a reconhecer a ação da graça em suas palavras. A importância de focar nas prédicas reservadas aos clérigos deve-se à riqueza desse material para a edificação de costumes e valores considerados virtuosos para todo tipo de fiéis.

Metodologia:

Com a finalidade de examinar o papel edificante da prédica de figuras letradas da Igreja, o primeiro passo consiste em serializar prescrições de recolhas de sermões e de obras de bispos em que são mais bem definidos os benefícios da palavra pregada. Em seguida, neste estudo, são interrogados os meios de naturalização dessas recomendações, destacando os suportes textuais que as comunicavam aos clérigos.

Originalidade:

Este estudo procura diferenciar-se de outros trabalhos sobre a formação de clérigos por abordar o papel atribuído à graça divina para mover suas palavras e inspirar leigos.

Conclusões:

Conclui-se que a graça divina era considerada não apenas a fonte de inspiração dos clérigos para a produção de prédicas, mas também o canal pelo qual a palavra conseguia estimular os fiéis a colocar em prática o conselho por eles prescrito.

Palavras-chave: ação da graça; Coroa de Castela; pregadores; século xiv; século xv; sermões

Resumen.

Objetivo/Contexto:

La producción eclesiástica en castellano en el paso del siglo xiv al xv, y en otras lenguas vernáculas del periodo, subrayaba la necesidad de crear parámetros de enseñanza para los clérigos y de prepararlos de una mejor manera para orientar a los fieles en las doctrinas de la Sagrada Escritura. Como las obras de fondo teológico y pastoral eran hasta aquel momento producidas en su mayoría en latín, era imperativo escribir tratados que fueran inteligibles a los clérigos más humildes. Con base en la revisión sistemática de obras destinadas a la iniciación de clérigos de la Corona de Castilla en sus deberes, en este estudio es analizada la regulación de la conducta de estas figuras, con énfasis en las estrategias adoptadas para orientar a los predicadores frente al reconocimiento de la acción de la gracia en sus palabras. La importancia de enfocar este trabajo en las prédicas reservadas a los clérigos se debe a la riqueza de este material para edificar costumbres y valores considerados virtuosos para todo tipo de feligreses.

Metodología:

Con el fin de examinar el rol edificante de la prédica de figuras letradas de la Iglesia, el primer paso consiste en sistematizar instrucciones contenidas en colecciones de sermones y en obras de obispos en las que son definidas las bondades de la palabra predicada. En seguida, se interrogan los medios de naturalización de estas recomendaciones, destacando los soportes textuales que se comunicaban a los clérigos.

Originalidad:

El estudio busca diferenciarse de otros trabajos acerca de la formación de clérigos al abordar el rol atribuido a la gracia divina para estimular la palabra e inspirar a los laicos.

Conclusiones:

Se concluye que la gracia divina era consideraba no solo la fuente de inspiración de los clérigos para producir prédicas, sino también el canal por el que la palabra lograba estimular a los fieles a poner en práctica la enseñanza transmitida por aquellos.

Palabras clave: acción de la gracia; Corona de Castilla; predicadores; sermones; siglo xiv; siglo xv

Abstract.

Objective/Context:

Ecclesiastical production in Castilian language at the transition from the fourteenth to the fifteenth century, as well as in other vernacular languages of the period, highlighted the need to create teaching parameters for clerics and to prepare them in a better way to instruct the faithful in the doctrines of the Holy Scriptures. As theological and pastoral works were produced mostly in Latin until that time, it became essential to write treaties that were intelligible to the humblest clergymen. Based on a systematic review of works destined to the initiation of clerics in their duties in the Crown of Castile, this study examines the regulation of the conduct of clergymen, emphasizing the strategies adopted to guide preachers in recognizing the action of grace in their words. The importance of focusing this work on sermons reserved for clerics arises from the richness of this material to teach habits and values considered virtuous for all types of parishioners.

Methodology:

In order to examine the edifying role of preaching by instructed members of the Catholic Church, the first step consisted in systematizing instructions contained in sermon collections and manuscripts written by bishops that clearly defined the benefits of the preached word. Next, the means to naturalize such recommendations were questioned, highlighting the textual supports transmitted to the clergy.

Originality:

This study seeks to differentiate itself from other works on the training of clergy by addressing the role attributed to divine grace in stimulating words and inspiring the laity.

Conclusions:

Divine grace was considered not only the source of inspiration for clergymen to produce sermons, but also the channel through which the sacred word managed to stimulate the faithful to put into practice the teaching communicated to them.

Keywords: Crown of Castile; fifteenth century; fourteenth century; preachers; sermons; the action of grace

Considerações iniciais

Nos séculos xiv e xv, diferentes dioceses da Cristandade assistem ao aumento da produção de obras em vernáculo, como as sumas de casos de consciência direcionadas a orientar a prática do sacramento da Penitência, já que até esse momento grande parte da produção pastoral e teológica era escrita em latim e, por isso, de difícil compreensão para muitos clérigos.1 Envolvida nessa missão de reforma dos costumes e das práticas do clero, a Coroa de Castela contribuiu com seu quinhão para o estabelecimento de um plano pastoral, a partir da tradução ou da escrita de livros comprometidos com a emenda das ações de clérigos e religiosos.2 No que toca a esse empenho edificante, a obra El espéculo de los legos - um manual doutrinário compilado em castelhano na primeira metade do século xv, a partir de uma versão em latim que remonta ao século xiii - discorre, entre outros temas, acerca das qualidades exigidas de um pregador. Observa essa obra que o pregador, além de remedador3 da santidade4 e estudioso,5 era o responsável por “derramar a semente da palavra em todo lugar”, tendo de seguir o exemplo de Cristo, que ensinava nas sinagogas.6 O Espéculo e outros livros voltados para o mesmo fim edificante colocam, pois, em destaque as virtudes esperadas de um clérigo que deveria admoestar o povo, ensiná-lo e puni-lo, e catalogam ações esperadas de um pregador mendicante ou de um clérigo diocesano responsáveis pela purificação das almas dos homens daquele tempo. Num contexto em que a Península Ibérica carecia de material em vernáculo para orientar a ação dos pregadores, esse tratado elabora um compêndio de doutrinas e lições que poderiam rechear diferentes modalidades de prédicas e admoestações dirigidas aos fiéis.

As advertências de um pregador mendicante ou de um bispo durante a celebração de um sínodo guardavam, apesar das grandes diferenças entre eles, uma tripla expectativa: imitar os santos (1), produzir e propalar boas doutrinas (2 e 3).7 No primeiro livro de Las siete partidas, de Afonso X, conjunto de leis elaborado no século xiii e uma das âncoras do sistema jurídico peninsular do final da Idade Média, destaca-se que a pregação deveria servir apenas para o louvor das crenças cristãs.8 Por isso, os pregadores não poderiam citar as fábulas greco-romanas, pois traziam referências ao universo dos gentios, e não às doutrinas e aos ensinamentos difundidos por Jesus Cristo.9 Em uma piedade amparada pela palavra externalizada,10 as recolhas de sermões em vernáculo visavam a disciplinar a palavra dos pregadores e, consequentemente, a impedir a produção de prédicas que estivessem em desacordo com os fundamentos da arte de pregar e que abrissem caminhos para interpretações heréticas.11 Nas décadas seguintes à elaboração de Las siete partidas, tendo em vista o aperfeiçoamento da pregação e da celebração dos sacramentos, prelados diocesanos assumiram, de maneira cada vez mais constante, políticas para a reforma da ação de clérigos e religiosos, exigindo-lhes uma vida exemplar e uma conduta penitente.12 Entre as medidas tomadas pelos bispos para promover essa reforma, houve a ampliação das bibliotecas catedráticas a partir da aquisição de sermonários e de livros de direito, teologia, artes liberais, medicina e outros.13 No que diz respeito à conservação de materiais destinados à pregação, apenas a biblioteca da catedral de Siguença possuía, no século xiv, dois exemplares de Artes Praedicandi do pensador francês Alain de Lille (c.1128-1202), utilizados como apoio para a produção sermões.14

Entre os séculos xiv e xv - período que compreende o recorte deste artigo -, diferentes eclesiásticos buscavam ampliar a discussão acerca do próprio valor do discurso, na medida em que revestiam a admoestação do clero de ares sacros, principalmente ao destacar a presença da graça divina na palavra do pregador. Nas últimas décadas, sobretudo num contexto em que constituições sinodais e recolhas de sermões ganharam edições críticas graças aos projetos editorais conduzidos por Antonio García y García15 e Pedro M. Cátedra,16 novos horizontes de pesquisa puderam ser idealizados, especialmente no que concerne à estruturação de uma história das incursões moralizantes em solo ibérico no final da Idade Média. Representativo dos trabalhos interessados em analisar os diferentes esforços eclesiásticos e monárquicos para o estabelecimento de ações pastorais na Península Ibérica é a obra coletiva Poder, piedad y devoción. Castilla y su entorno. Siglos xii-xv, dirigida pela historiadora Isabel Beceiro Pita.17 Nesse conjunto de ensaios, o capítulo de Ana Arranz Guzmán18 discute o caráter reformista de constituições de sínodos, servindo-se do projeto coordenado por Antonio García y García. Na historiografia espanhola, um dos principais nomes que se dedica às constituições dos sínodos, tendo inclusive editado alguns desses documentos e participado do projeto de García y García, é o do pesquisador Francisco Javier Fernández Conde. Além de especialista na trajetória do bispo de Oviedo, Gutierre de Toledo (1377-1389),19 ele tem uma vasta obra sobre as incursões moralizadoras da Igreja na Castela medieval em que analisa diferentes aspectos da política diocesana e da reforma empreendida nas paróquias ibéricas.20 Embora com base em documentos também examinados por esses historiadores, este estudo seguirá, todavia, um outro enfoque: a força edificante atribuída à palavra de pregadores e bispos na hora de admoestar o seu público.21

No governo dos reis da dinastia de Trastâmara, cresce a produção eclesiástica em vernáculo, e Castela ganha recolhas de sermões na mesma língua falada por pessoas comuns, como as reportaciones da missão de Vicente Ferrer (1350-1419), o Evangelios moralizados, de Juan López de Salamanca (c.1389-1479), e o sermonário do manuscrito 1854 da Biblioteca Universitária de Salamanca. Além das recolhas de sermões em vernáculo, ocorre em Castela o aumento do número de constituições e livros sinodais em que os cuidados com a pregação continuavam a ser contemplados pelos prelados diocesanos. No início do século xiv, já havia ocorrido um complexo processo de repovoamento em uma grande parcela da região centro-sul da Coroa de Castela, recuperada de mãos mouras.22 A partir desse período, como desdobramento dessa etapa inicial de reconfiguração geográfica e política de parte da Península Ibérica, intensificou-se o aprimoramento de uma rede eclesiástica que visava à manutenção de uma unidade de práticas pastorais em todo o território administrado pelos monarcas dessa Coroa.

Com ênfase em livros com propósitos semelhantes ao do El espéculo de los legos e em recolhas de sermões elaboradas em vernáculo, o objetivo do presente estudo não consiste em mapear as lições transmitidas aos leigos ou mesmo o perfil idealizado de um pregador virtuoso, o que demandaria um trabalho mais exaustivo e extenso, mas evidenciar a importância conferida à prédica de um clérigo como instrumento de aprendizagem e de ação da graça divina.23 Neste artigo, as lições direcionadas ao clero são abordadas com ênfase em dois aspectos: o papel da palavra como mediadora e a força atribuída à graça divina para sensibilizar o ouvinte da prédica.

A palavra intermediária

No manuscrito 1854 da Biblioteca Universitária de Salamanca, datado do século xv, em que está registrado um sermonário, também consta uma cópia do Libro sinodal do bispo de Salamanca,24 Gonzalo de Alba (1408-1412). Promulgada no sínodo de 1410, a obra teve um papel sobremodo importante na promoção das matérias que os curas de almas tinham de ensinar aos leigos. No capítulo segundo, em que analisa o ensino do Credo, a obra detalha que, entre os fiéis, haveria uma tripla divisão: “uns são ditos altos, outros baixos e outros medianeiros. Os primeiros são o papa e os bispos, os segundos são os leigos, os terceiros são os clérigos sacerdotes e os curas”. Ao desdobrar essa classificação social, o prelado dominicano apregoa que os bispos seriam obrigados não apenas a memorizar os artigos da fé, mas também a “defendê-los contra os hereges” e a ensiná-los aos cristãos. Em sua opinião e de outras autoridades eclesiásticas, da mesma maneira que cabia aos pastores criar o seu gado e protegê-lo dos lobos, seria um dever dos papas e bispos defender os fiéis católicos “dos hereges e de seus enganos”. Em seguida, os medianeiros na Igreja seriam os curas simples e aqueles que exerciam o ofício de orientar os outros, “assim como os pregadores, os mestres e os doutores”.25 Em seu raciocínio, o bispo de Salamanca justifica que o ensino da doutrina era um dever partilhado por prelados diocesanos, curas de almas e pregadores, atribuindo a cada uma dessas figuras a incumbência sagrada de se aproximar de homens e mulheres para admoestá-los. O aumento da celebração de sínodos e a proliferação de sermões resultavam, desse modo, dessa política eclesiástica descrita por Gonzalo de Alba, e cujo alvo era fazer com que cada peça da Igreja, desde a principal à medianeira, estivesse unida em prol da fé católica.

Nesse plano, que combinava ordenamento do comportamento cotidiano de clérigos seculares e regulares, não faltavam recomendações também referentes à palavra considerada ideal para os homens da Igreja. Foi nesse período, séculos xiv e xv, que se destacaram iniciativas de reforma mais ordenadas e constantes nas dioceses da Coroa de Castela, com o objetivo não apenas de colocar essa plaga em sintonia com as orientações dadas no iv Concílio de Latrão (1215) de organizar um conjunto de ações pastorais mais efetivas para o cotidiano dos fiéis, mas também de criar ferramentas edificantes para facilitar a absorção da doutrina cristã.26 A partir do século xiii, diferentes reinos católicos já apresentavam sinais de mudança nas propostas para a devoção dos leigos e começavam a experimentar um cenário em que os fiéis deveriam se confessar, repensar as suas atitudes e adequar o seu ritmo de vida às recomendações do confessor. Foi sobretudo na primeira metade do século xiv, época em que o dominicano Gonzalo de Alba promulga esse livro sinodal, que a Península Ibérica acolhe tal movimento reformista e assiste a um investimento maior na produção de obras em vernáculo de caráter devocional.27

Os simples clérigos eram ensinados, sobretudo no âmbito dos sínodos, que seus gestos e palavras deveriam ser a porta aberta aos fiéis para entrarem em um novo campo de descobertas sobre as verdades relativas à morte e à salvação. Num momento anterior ao episcopado de Gonzalo de Alba, quando a reforma do clero começava a ser sustentada por obras em castelhano, o bispo de Segóvia, Pedro de Cuéllar (1324-1350) - num sínodo de 1325 -, promulgou um livro sinodal em que disserta, entre outras matérias, acerca das qualidades esperadas do clérigo ordenado. Em sua consideração, além de ser casto, sóbrio em comer e beber, dominar o latim, o clérigo deveria saber como castigar uma pessoa “por correção e por pregação”.28 Em outra parte, ao discorrer sobre a maneira de dizer as Horas, o mesmo bispo acrescenta que o clérigo tinha de pronunciá-las “muito devotamente e com todo o coração”.29 Na pregação e nas Horas Canônicas, era dever do eclesiástico disciplinar gestos e discursos, ponderar as palavras e mover-se pelo fervor da devoção. A proposta era convencer os eclesiásticos de que os seus corpos e as suas palavras serviam como instrumentos de Cristo na Terra, capazes de fazer resplandecer a graça, intermediar a salvação e disciplinar fiéis pela visão e audição.

No ano de 1384 - quase seis décadas depois da promulgação do referido livro sinodal -, o bispo de Ávila, Diego de los Roeles (1378-1394), celebrou um sínodo cujas constituições se iniciaram com um roteiro, comum nesse gênero, para a aprendizagem dos artigos da fé, dos pecados mortais, dos mandamentos e de outros rudimentos da doutrina católica. Em seguida, ele explica como transmitir suas lições: “Estabelecemos e ordenamos que estas ditas ordenações [...] que foram por nós feitas, em cada domingo do Advento e em cada domingo da Quaresma [...]” sejam lidas em “voz alta”, de maneira que os fiéis as ouçam “quando vierem à missa”.30

Constituições como as de Diego de los Roeles confirmam a função dos clérigos como formadores de fiéis, ou seja, intermediários entre a doutrina e o público das missas. Na mesma esteira desse prelado, o bispo de Salamanca Diego de Anaya y Maldonado (1392-1407) também lançou mão de um roteiro de aprendizagem sintético, no sínodo de 1396, ao afirmar que “aos sacerdotes pertencem o saber e mostrar aos simples homens, maiormente aos clérigos curas o que devem pregar a seus povos”. Na sequência, ele considera obrigatório pregar aos fiéis aos domingos, na Páscoa, na Ressureição, na Quaresma e na Assunção de Santa Maria.31 Esses prelados sustentam, assim como outros de seus congêneres, que o clérigo deveria tomar consciência do poder instrutivo de suas palavras, para avaliar o repertório de lições a serem transmitidas aos fiéis de sua paróquia.32 A partir desses ensinamentos, esperava-se que o clero castelhano reconhecesse a voz como mecanismo de correção, instrução e punição, os três pilares da prática reformadora da Igreja com relação à sociedade laical.

As constituições sinodais foram, desse modo, peças centrais nesse plano de revigoramento da pregação e de efetivação de um poder atribuído ao bispo: de formador de clérigos atuantes e que soubessem cativar fiéis por meio de suas palavras.33 Enquanto as recolhas de sermões proporcionavam modelos a serem adotados por indistintos pregadores, que poderiam imprimir características próprias às prédicas e adaptá-las aos diversos contextos, as constituições sinodais ou os livros sinodais traziam orientações compiladas por um bispo em especial. Quando reliam as constituições em suas paróquias, os clérigos beneficiados retomavam uma lição elaborada por um bispo que, juntamente com o papa, era o responsável por pastorear almas e proteger os católicos dos hereges. Ao estabelecer e outorgar a obrigação de que a lista com os rudimentos da doutrina deveria ser lida em voz alta, Diego de los Roeles visava a perpetuar essa norma e colocá-la em vigência em sua prelazia. Além de asseverar sobre o próprio ofício, avaliando as atividades que cabiam aos bispos, prelados como ele preocupavam-se em convencer os simples clérigos a aprenderem a utilizar as próprias palavras como ferramenta de conversão. Dito de outro modo, muitos foram os prelados diocesanos que defendiam a importância da palavra dos homens da Igreja como intercessora não apenas na celebração dos sacramentos, mas igualmente no ensino da doutrina e dos costumes.34 Ao corroborar com o plano arquitetado por recolhas de sermões e manuais de confessores de oferecer parâmetros para as prédicas de clérigos e religiosos, as constituições sinodais ajudaram a naturalizar como sacra a palavra desses homens e a justificar a ação pastoral da Igreja. A partir da elaboração desse gênero de documento, os prelados diocesanos tinham à sua disposição um mecanismo de vigília e de controle das práticas dos clérigos colocados sob sua responsabilidade, já que traziam tanto orientações sobre comportamentos cotidianos quanto lições concernentes ao ensino da fé cristã.35

Além dos bispos, os pregadores também advogavam a favor dos benefícios dos sermões e ampliaram esse debate promovido nos sínodos. Nessa missão de revigoramento da aprendizagem da fé e do uso da voz como instrumento de conversão e ensino, recolhas de sermões e tratados religiosos cumpriram um papel complementar ao das constituições sinodais ao definir a função da palavra de um pregador na sociedade cristã. No Tratado de la vida espiritual, Vicente Ferrer explica que o pregador rechearia o seu discurso de caridade, evitando um comportamento soberbo, ao se mover por uma piedade paterna e ao conceber os fiéis como filhos pecadores.36 Embora se trate de um curto capítulo inserido numa obra em que são abordados diferentes segmentos da vida de um dominicano, essas orientações resumem certas estratégias de que o próprio Vicente Ferrer se valeu para produzir os seus sermões.37

Em uma das coleções de sermões atribuídas a Vicente Ferrer, a rae 29438 - que reúne prédicas de sua campanha em Castela entre 1411 e 1412 - diz-se que a intenção da pregação era revelar as formas usadas por Jesus Cristo para tirar as pessoas do pecado e as conduzir “à boa vida”.39 Na sequência, ao desdobrar o alvo do sermão, acrescenta: “Agora, acerca desta palavra proposta, eu busquei, na Santa Escritura, por amor a vós e encontrei quatro aguilhões com os quais Nosso Senhor Jesus Cristo punge e aguilhoa as pessoas que estão em má vida e em pecado” para se recuperarem e virem “à boa vida”, a saber: “o primeiro aguilhão é dor corporal; o segundo aguilhão é doutrina espiritual; o terceiro aguilhão é temor judicial; o quarto aguilhão é amor celestial”.40 Nesse sermão pregado entre os dias 7 e 12 de fevereiro de 1412, entre Salamanca e Zamora, Vicente Ferrer discorreu pormenorizadamente sobre esses quatro aguilhões, declarando que o segundo deles seria aplicado por aqueles responsáveis por pregar a doutrina evangélica, como frades, religiosos e outros do mesmo ofício.41 De acordo com o teólogo, o sermão teria de ser simples, direto e jamais recheado de “alegações de poetas”, ou seja, de palavras formosas, pois o conteúdo do texto era considerado um elemento estratégico que possibilitava a ação do Espírito Santo nos corações dos ouvintes. Mesmo que as palavras formosas chegassem aos ouvidos e fossem compreendidas pelo auditório, segundo ele, não seriam capazes de penetrar os corações por não carregarem a verdadeira doutrina.42 Além disso, a reputação do pregador estaria em risco a partir do momento em que não respeitasse esses princípios e preferisse utilizar poesias em suas prédicas, já que poderia perder a confiança do auditório, a ponto de ouvir o público ofendê-lo com palavras vexatórias.43 Se Diego de los Roeles havia oferecido aos clérigos de Ávila uma espécie de tratado sintético sobre a doutrina cristã para que eles o memorizassem e, por conseguinte, transmitissem aos leigos, Vicente Ferrer discorre, nas obras citadas, sobre os efeitos desses conhecimentos na alma do fiel, destacando a ação salutar da palavra retirada da Escritura na vida dos ouvintes dos sermões.

Esses textos atribuídos a Vicente Ferrer complementam o raciocínio dos bispos, pois afirma que a voz do pregador era uma ferramenta de divulgação da palavra de Cristo. Ensina aos ouvintes e aos leitores que as prédicas deveriam se basear nos textos bíblicos e, desse modo, remeter à doutrina sagrada. Trata-se de uma produção que salienta um elemento-chave de todo discurso eclesiástico voltado para a admoestação de um fiel católico: o papel atribuído ao Espírito Santo como motor da palavra salutar do clérigo ou religioso.

Tais justificativas dadas pelas recolhas de sermões castelhanas a respeito da intervenção da graça na pregação são o alvo da sequência deste estudo. Focando nas recolhas de sermões e tratados doutrinários, vejamos como essa produção procurou constranger o pregador com o objetivo de torná-lo peça de um plano pastoral.

A graça manifestada

Na Idade Média, vigorava a concepção de que a providência divina ordenava os rumos do universo,44 incluindo os passos dos fiéis que procuravam alcançar a salvação e, da mesma forma, os dos clérigos imbuídos da tarefa de orientá-los.45 Numa época em que o discurso de um representante da Igreja deveria passar por certos filtros e seguir um esquema-padrão a fim de impedir o crescimento de prédicas heréticas,46 bispos e pregadores não poderiam deixar de obedecer às recomendações dos Concílios Ecumênicos e preparar planos argumentativos baseados em textos bíblicos.47 Por isso, o pregador precisaria aprender a conduzir-se pelos conhecimentos contidos na Sagrada Escritura, e não exclusivamente por suas impressões sobre o mundo. É baseado nesse argumento de que o membro do clero deveria tomar a palavra sagrada como fonte de inspiração que o franciscano Álvaro Pais - na obra Colírio da fé contra as heresias,48 escrita no final da primeira metade do século xiv - afirma: “todo o leigo e todo o simples clérigo, tentado a pregar ou expor a Sagrada Escritura, é levado pela cobiça, pela soberba, e pela vanglória, e, por isso, cai em heresia”.49 Na visão desse autor, os simples clérigos, por não focarem “nas letras apostólicas” ou se importarem com os fiéis, seriam “mestres do erro”, semelhantes ao leigo que se propusesse a pregar.

O discurso apresentado por um bispo ou pregador não era reconhecido como uma construção criativa e unicamente produzido em razão do esforço pessoal, fruto de seus estudos, pois os méritos atingidos pela pregação eram atribuídos a Deus.50 Esse tema da ação da graça por meio da palavra apregoada em um sermão foi explorado por Juan López, dominicano do convento de Santo Estevão de Salamanca. Na obra Evangelios moralizados51 - escrita entre 1460 e 1468, inicialmente para a formação da condessa de Plasencia, Leonor Pimentel, e servindo, em um segundo momento, como fonte de consulta para confessores e pregadores -,52 o mendicante assevera:

Todas as pregações que se faziam aos infiéis eram tão virtuosas e tão eficazes que convertiam as gentes à fé de Nosso Senhor. E essa virtude dava Deus, como dizia Davi: “Dominus dabit evanvelizantibus, virtute multa” (O Senhor dará palavras aos evangelizantes com muita virtude). E, em outra parte, diz: “Ipse dabit voci sue vocem virtutis” (Ele dará ao pregador - que é voz de Deus - voz de virtude). E isso era que a voz da pregação dava outra voz de virtude, que era fazer milagres.53

Esse sermão recorre a um dos topoi da reflexão sermonística medieval acerca da atuação do pregador, o da incumbência dada por Cristo aos apóstolos de disseminarem a Sua palavra. Tal passagem esclarece que a graça divina age nas palavras do pregador dotando-as de uma virtude especial, entregue como dádiva aos homens, e que poderia operar milagres e converter infiéis. Além disso, a força da prédica estava sustentada pela palavra retirada da Bíblia e explorada diante de um auditório. No período de pouco mais de um século que separa a elaboração do livro Evangelios moralizados e a obra Colírio da fé contra as heresias, os reinos da Península Ibérica assistem ao revigoramento dessa incursão voltada à emenda dos simples clérigos e pregadores encarregados de disseminar a doutrina católica e combater a heresia.

Não foram poucas, portanto, as obras que denunciavam falhas na ação do clero e investiam na capacidade dos pregadores para serem representantes de Cristo, como os apóstolos, e colocarem as suas palavras ao Seu serviço.54 Uma dessas obras foi o livro de teor místico Enseñamiento del corazón, tradução da obra em latim De Doctrina Cordis e impresso na cidade de Salamanca em 1498. Seguindo o caminho das recolhas de sermões, a obra define o discurso do pregoeiro da seguinte forma: “as palavras de Deus, assim são como umas uvas que estão cheias de grande abastança de vinho. E assim como é mister que sejam bem pisadas e espremidas, as uvas para que o vinho delas saia, assim é” preciso anunciar “com diligência a palavra divina para que o vinho do entendimento espiritual possa” penetrar no coração.55 Esse tratado ascético-místico ainda afirma que o pregador deveria ser doce e manso não para repreender duramente o seu ouvinte, mas, sim, consolá-lo. No prólogo, uma espécie de roteiro de comportamentos reservados aos pregadores, a ação de “pregar” é vista como sinônima de “consolar”, reforçando-a como mecanismo de abrandamento e sensibilização. Por isso, o êxito da pregação estaria no potencial do pregador de atingir o coração dos ouvintes com as palavras extraídas da Sagrada Escritura, traçando caminhos a partir das orientações reveladas em tal livro. Conselhos não muito diferentes eram encontrados em outra obra também traduzida para o castelhano, o referido El espéculo de los legos, em que o pregador é ensinado a pregar com humildade, “chamando para a sua ajuda a graça divinal e conhecendo a própria míngua e enfermidade”. Essa é uma das qualidades esperadas do pregador catalogadas na obra que evidencia a crença de que a força da palavra pregada reside na bênção da graça.56

Para que pudessem ter essa qualidade e conhecer melhor o seu ofício, os pregadores tinham à sua disposição certos guias, como a recolha de sermões do manuscrito 1854 da Biblioteca Universitária de Salamanca, compilado no século xv.57 No sermão 16 dessa coleção, intitulado Sermón del lunes de las ochavas de Çinqüesma, e sendo o seu thema o versículo João 14: 26, lê-se: “Rogaremos ao Nosso Senhor Jesus Cristo que nos ordene os corações e as vontades, e nos ilumine o entendimento, e me dê e administre palavra e sermão”. Ao complementar esse rogo, o texto revela-se mais categórico: “e, outrossim, que nos envie a graça e virtude do Espírito Santo”, envie-a “a mim para dizer e a vós para ouvir e pôr por obra” o que será dito “a serviço e ao louvor da Trindade”.58 A voz que viesse dar vida a esse texto poderia não ser sempre a mesma e, provavelmente, mais de um clérigo ou religioso poderia tomá-lo com base para admoestar um grupo de fiéis.

A campanha de Vicente Ferrer em Castela legou reportationes que inspiraram outros pregadores. Em um dos sermões pregados em Castela entre 1411 e 1412, o célebre dominicano - conhecido por suas pregações itinerantes e defesa da fé católica ante as crenças judaicas - afirmou:

Sabei, boa gente, que ofício de pregar é propriamente assim como ofício de pregoeiro, porque assim como o pregoeiro, quando quer pregoar às gentes as ordenações reais do rei, com uma trombeta vai tocando de rua em rua e de praça em praça, assim é o ofício de pregar, pois o que prega é pregoeiro de Deus. E quando predica, denuncia às gentes as ordenações divinais com a trombeta da pregação, dando vozes, e assim as manifesta.59

Nesse sermão, intitulado Sermón que fabla cómo se deven vencer los siete pecados mortales, Vicente Ferrer aborda, entre outros assuntos, a missão dos pregadores e a estreita relação entre a função de “pregar” e de “denunciar”. Por meio do raciocínio metafórico em que a figura do pregoeiro, isto é, o porta-voz do rei, é comparada à do pregador, o verbo “pregar” torna-se sinônimo de “denunciar”60 porque revela a um determinado público certas verdades. É por isso que esse dominicano argumenta que “a pregação é comparada à trombeta denunciante, pois o pregador é pregoeiro de Deus”. Com base no texto bíblico de Isaías (Is 58:1), Vicente Ferrer ainda assevera que o pregador não pode ser preguiçoso para pregar, “assim como o pregoeiro, que não é preguiçoso, pois este diligentemente vai pregoando pelas ruas e praças”; da mesma forma, Deus quer “que as pregações andem por todo o mundo, de terra em terra, e de vila em vila e de lugar em lugar”.61 Em um sermão destinado - como o seu conteúdo permite deduzir - a religiosos, esse trecho tem como finalidade justificar o papel dos pregadores como emissores da palavra divina aos simples fiéis e como anunciadores dos caminhos que estes tinham de tomar.62 Como o tema do referido sermão é o texto bíblico de Lucas (Lc 8:8), Qui habet aures audiendi, audiat (Quem tem ouvidos para ouvir, ouça),63 possuindo como ênfase uma exclamação de Cristo, o dominicano abre uma fresta para dissertar a respeito do exercício da pregação aos fiéis.

Considerações finais

Juan López - um dos seguidores das orientações legadas por Vicente Ferrer, como antecipado acima - considera que os frutos de uma pregação não seriam colhidos apenas pelas mãos do pregador, mas também pela força do Espírito Santo.64 Desse modo, as palavras humanas se configurariam como um suporte em que Deus, por Sua misericórdia para com os pecadores, depositaria a Sua compaixão e forneceria respostas necessárias para o fiel reencontrar o caminho da salvação.65 Se o bispo celebrava um sínodo na expectativa de que a graça corrigiria os pecados e os excessos por meio das constituições, os pregadores tinham, então, a tarefa de abrir caminhos para a presença de Deus na vida dos homens, colocando as suas palavras ao serviço Dele. Esse pressuposto de que a palavra do pregador abrigaria a graça era um argumento comum a várias obras e havia sido alimentado pelo oitavo sermão em vernáculo conservado no códice 40 da Real Colegiata de San Isidoro. Na prédica, menciona-se que assim como os homens precisavam da ajuda do sol para enxergar qualquer objeto material, necessitariam do Espírito Santo para ver tudo o que é de natureza espiritual.66 Conforme clérigos e religiosos letrados admitiam que um bispo ou um pregador era porta-voz do Espírito Santo, reconhecia-se, como indicado no sermão de Vicente Ferrer, a obrigação de um representante da Igreja de saber colocar a própria boca a serviço de Deus.

As ponderações de tratados e recolhas de Castela serializadas neste estudo lançaram mão de diferentes instrumentos para justificar o pressuposto de que não se poderia “entender nenhuma coisa que de bem seja sem a graça do Espírito Santo”.67 O conhecimento era visto, desse modo, como dádiva divina, e a palavra do pregador tratava-se de uma das pontes criadas para o fiel alcançar tal dom. Entre os séculos xiv e xv, numa época em que o poder pastoral das dioceses da Coroa de Castela se consolidava, bispos e outros eclesiásticos foram os responsáveis pela criação de ferramentas que orientassem simples clérigos e religiosos de formação considerada deficitária a preparar sermões de acordo com as diretrizes de tratados do período sobre o assunto. Trata-se de uma missão, aos olhos desses letrados, que visava a ensinar não apenas um conjunto de condutas aos pregadores, mas igualmente lições a respeito da constituição sagrada de suas admoestações públicas, pelo fato de terem de estar ancoradas na Sagrada Escritura e se moverem pela força da graça ofertada aos homens por Deus. A prédica em vernáculo forneceu, desse modo, não apenas referências textuais mais acessíveis aos simples clérigos, mas, sobretudo, elementos para a construção de uma unidade da ação catequética na Coroa de Castela.

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* Este artigo é resultado de uma pesquisa desenvolvida no âmbito do projeto “O ensino da fé cristã na Península Ibérica (séculos xiv, xv e xvi)”, financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), na modalidade auxílio Jovem Pesquisador (Processo 2017/11111-9).

1José María Soto Rábanos, “Visión y tratamiento del pecado en los manuales de confesión de la baja Edad Media hispana”, Hispania Sacra 58, n.º 118 (2006): 412, doi: https://doi.org/10.3989/hs.2006.v58.i118.12

2José Sánchez-Herrero, “Alfabetización y catequesis en España y en América durante el siglo xvi”, em Evangelización y teología en América (siglo xvi). X Simposio Internacional de Teología de la Universidad de Navarra I, Edição dirigida por Josep-Ignasi Saranyana, Primitivo Tineo, Antón M. Pazos, Miguel Lluch-Baixaulli e María Pilar Ferrer (Pamplona: Servicio de Publicaciones de la Universidad de Navarra, 1990), v. 1, 237-263.

3Deriva do verbo “remedar”, que significa “imitar algo, hacerlo semejante a otra cosa”. Real Academia Española. Diccionario de la lengua española (Madrid: Real Academia Española, 2001), v. 2, 1940.

4el predicador deue ser remedador de la santidat”. José María Mohedano Hernández, El espéculo de los legos: texto inédito del siglo xv (Madrid: Consejo Superior de Investigaciones Científicas/Instituto Miguel de Cervantes, 1951), cap. LXXXIX, 446.

5el predicador de la palabra diuinal deue ser estudioso açerca de la sabeduría e escodrinnador dela”. Mohedano Hernández, El espéculo de los legos, cap. LXXXIX, 446.

6el predicador de la palabra diuinal deue derramar la simiente de la palabra en todo lugar a exenplo del Sennor del qual es escripto en el nono capítulo del euangelio de Sant Matheo, que çercaua todas las çibdades ensennando en las sinagogas”. Mohedano Hernández, El espéculo de los legos, cap. LXXXIX, 447.

7A respeito dos tipos de sermões na Idade Média, conferir: Jean Longère, La prédication médiévale (Paris: Institut d’Études Augustiniennes, 1983).

8As siete partidas são um código de direito ordenado pelo monarca Afonso X e elaborado entre 1256 e 1265. Trata-se de um compêndio em que não apenas se listam e comentam as leis, mas também se ensina sua aplicação. Mais precisamente, segundo Fernando Gómez Redondo, esse código toma o cuidado de justificar a função de grupos sociais, nomear leis e explicar a origem de seus nomes e destacar os valores naturalizados a partir de sua aplicação. Ver: Fernando Gómez Redondo, Historia de la prosa medieval castellana. La creación del discurso prosístico: el entramado cortesano (Madrid: Ediciones Cátedra, 1998), v. 1, 511-596.

9Otrosi el que pedricare non debe facer entender la gramática al pueblo como en manera de mostrárgela, nin debe otrosi quando sermonare contar ningua de las fabliellas que ha en los libros de la gramática que fecieron los gentiles, nin otras cosas semejantes destas en que alaban su creencia dellos; ca non es guisado que en los sermones que fecieren alaben su creencia nin de las otras gentes con la de nuestro señor Iesu Cristo”. Partida I, Título V, Ley XLIV. Rei Alfonso X, Las siete partidas del rey Don Alfonso El Sabio, cotejadas con varios códices antiguos por la Real Academia de la Historia (Madrid: en la Imprenta Real, 1807), v. 1, 229.

10Irène Rosier-Catach, “Regards croisés sur le pouvoir des mots au Moyen Âge”, em Le pouvoir des mots au Moyen Âge, coordenado por Nicole Bériou, Jean-Patrice Boudet e Irène Rosier-Catach (Turnhout: Brepols Publishers, 2014), 559.

11Nicole Bériou, Religion et communication. Un autre regard sur la prédication au Moyen Âge (Genève: droz, 2018), 29.

12Susana Guijarro González, “Enseñar y disciplinar. La misión pastoral de los canónigos en la Castilla Medieval (siglos xi al xiv)”, em Oeuvrer pour le le salut: moines, chanoines et frères dans la péninsule Ibérique au Moyen Âge, coordenado por Amélie de las Heras, Florian Gallon e Nicolas Pluchot (Madrid: Casa de Velázquez, 2019), 188-189.

13Susana Guijarro González, Maestros, escuelas y libros. El universo cultural de las catedrales en la Castilla medieval (Madrid: Instituto Antonio de Nebrija de Estudios sobre la Universidad/Universidad Carlos III de Madrid, 2004), 128-129. No que diz respeito à reforma do clero, não se pode deixar de destacar a importância do revigoramento das ordens mendicantes para a promoção da prática da penitência. María Dolores Fraga Sampedro e María Luz Ríos Rodríguez, “Santa María a Nova, un convento terciario en la Compostela medieval: fundación y benefactores”, Semata: Ciências Sociais e Humanidades, n.º 26 (2014): 129-173.

14Guijarro González, “Enseñar y disciplinar”, 201-202.

15Trata-se da conhecida coleção Synodicon Hispanum, dirigida por Antonio García y García. Não se pode deixar de comentar também a edição do Libro de las confesiones, de Martín Pérez. Libro de las confesiones. Una radiografía de la sociedad medieval española, editado e introduzido por Antonio García y García, Bernardo Alonso Rodríguez e Francisco Cantelar Rodríguez (Madrid: bac, 2002).

16Destacam-se especialmente as edições de recolhas de sermões, ver: Pedro Manuel Cátedra García, Sermón, sociedad y literatura en la Edad Media. San Vicente Ferrer en Castilla (1411-1412) (Salamanca: Junta de Castilla y León, 1994), 379; Pedro M. Cátedra García, Los sermones en romance del manuscrito 40 (siglo xv) de la Real Colegiata de San Isidoro de León (Salamanca: Seminario de Estudios Medievales y Renancentistas, 2002); Pedro M. Cátedra García, Los sermones atribuidos a Pedro Marín (Salamanca: Universidad de Salamanca, 1990).

17Isabel Beceiro Pita, ed., Poder, piedad y devoción: Castilla y su entorno (siglos xii-xv) (Madrid: Sílex, 2014).

18Outros trabalhos importantes desta historiadora: Guerra y paz en la Edad Media (Madrid: Sílex, 2013); La participación del clero en las cortes castellano-leonesas. Reconstrucción documental y evolución cronológica (1188-1473) (Saarbrücken: Editorial Académica Española, 2012); “Amores desordenados y otros pecadillos del clero”, em Pecar en la Edad Media, coordenado por Ana Isabel Carrasco Manchado e María del Pilar Rábade Obradó (Madrid: Sílex, 2008), 227-262.

19Francisco Javier Fernández Conde, Gutierre de Toledo, obispo de Oviedo (1377-1389): reforma eclesiastica en la Asturias bajomedieval (Universidad de Oviedo: Publicaciones del Departamento de Historia Medieval, 1978).

20O seu trabalho mais recente sobre o tema são os três volumes: La religiosidad medieval en España. Alta Edad Media (siglos vii-x) (Gijón: Trea, 2008); La religiosidad medieval en España. Plena Edad Media (siglos xi-xiii) (Gijón: Trea, 2010); La religiosidad medieval en España. Baja Edad Media (siglos xiv-xv) (Gijón: Trea, 2011).

21A pregação e a produção de sermões são temas explorados por autores citados neste estudo, como Nicole Bériou, Pedro M. Cátedra, Carlo Delcorno e Franco Morenzoni.

22Carlos Ayllón Gutiérrez, Iglesia rural y sociedad en la Edad Media (Alcaraz y Señorío de Villena) (Madrid: Sílex, 2015), 27.

23Este artigo foi planejado na sequência de outro estudo: Leandro Alves Teodoro, “Lições dos prelados de Castela sobre a doutrina cristã”, Mélanges de Casa de Vélazquez 50, n.º 2 (2020): 197-217, doi: https://doi.org/10.4000/mcv.13182

24O bispo de Segóvia, Pedro de Cuéllar, já havia elaborado um livro sinodal, promulgado em um sínodo celebrado no ano de 1325, que será citado a seguir. Além disso, o mesmo Gonzalo de Alba promulgou uma versão em latim do seu livro sinodal, a saber: o Liber Synodalis. A respeito dos livros sinodais de Castela, ver: Jaime Justo Fernández, “Los libros en los sínodos medievales de la Península Ibérica”, Revista Española de Derecho Canónico, n.º 71 (2014): 165-207.

25“Cunple de saber que entre los fieles catholicos ay departimiento de tres maneras: unos son dichos altos, e otros baxos, e otros medianeros. Los primeros son el papa e los obispos, e los segundos son los legos, los terçeros son los clerigos saçerdotes e los curados sinples. Los primeros son obligados de saber estos arthiculos de la fe que dichos son, non tan solamente claramente e expliçitamente quanto al seso literal, mas aun que sepan defenderlos contra los ereges, e declararlos a los fieles, e asignar razones por ellos a los que vieren inclinados para reçebir la fe de Jesuschristo. La razon para provar esto es esta: a los pastores pertenesçe criar el su ganado e acresçentarlo e defenderlo de los lobos; e pues asi es que el papa e los obispos son pastores de la Eglesia, por tanto a ellos pertenesçe criar los fieles christianos en la doctrina e ensennança de la fe, e acresçentarlos e defenderlos de los ereges e de los sus enganos [...] Los medianos en la Eglesia son los curados sinples e aquellos que han ofiçios de ensennar a los otros, asi commo son los pedricadores e los maestros e los doctores”. “Libro sinodal de Gonzalo de Alba”, 6 de abril de 1410, em Synodicon Hispanum (Ciudad Rodrigo, Salamanca y Zamora), IV, dirigido por Antonio García y García (Madrid: bac, 1987), cap. 6, 188.

26Ana Arranz Guzmán, “La buena fama del clero y el peligro de escándalo público: un tema de preocupación episcopal”, em Poder, piedad y devoción. Castilla y su entorno (siglos xii-xv), editado por Isabel Beceiro Pita. (Madrid: Sílex, 2014), 103-123.

27Peter Linehan, La iglesia española y el papado en el siglo xiii (Salamanca: Departamento de Publicaciones de la Universidad Pontificia de Salamanca, 1975), 4-5.

28Otrosi, dize el derecho que el que se ordena deve ser doctor, que deve castigar a otro por correction e por predicaçion”. “Libro sinodal de Pedro de Cuéllar”, 8 de março de 1325, em Synodicon Hispanum (Avila y Segovia), v. VI dirigido por Antonio García y García (Madrid: bac, 1993), cap. 38, 312.

29“Libro sinodal de Pedro de Cuéllar”, 8 de março de 1325, em Synodicon Hispanum, v. VI, cap. 71, cap. 341.

30Estableçemos et ordenamos que estas dichas ordenaçiones sobre los articulos de la fe, et de los mandamientos de la ley, et de los sacramentos de la Eglesia, et de las espeçies de las virtudes, et de los siete pecados, et de las obras de missericordia, que fueron por nos fechas, em cada domingo del Avento et en cada domingo de la Quaresma el capellan mayor de la nuestra eglesia de Avila o el que toviere sus vezes, et, outrosi, cada clerigo curado de la çibdat et del obispado de Avila, cada uno em su perrochia, o el que por cada uno dellos toviere sus vezes, en los dichos domingos, quando viniere el pueblo a la missa, lo deva dezir publicamente, a alta boz, em manera que lo oya el pueblo, quando viniere a missa en la manera que dicha es, por que el pueblo sea enformado de los dichos mandamientos et articulos de la fe et las cossas sobredichas”. “Sinodo de Diego de los Roeles”, Bonilla, 4 de julho de 1384, em Synodicon Hispanum, v. VI, const. 11, 19.

31“Sínodo de Diego de Anaya y Maldonado”, 30 de janeiro de 1396, em Synodicon Hispanum (Madrid: bac, 1987), v. IV, “proêmio”, 25.

32Para uma visão geral de tratados e outros sínodos em que se destaca o ensino de tabelas de doutrinas, ver: Luis Llorente Resines, La catequesis en España: historia y textos (Madrid: bac, 1997), 45-150. Outro importante sínodo sobre o assunto foi o celebrado por Gutierre Gómez de Toledo em 1381 em Oviedo. “Sínodo de Gutierre Gómez de Toledo”, 19 de dezembro de 1377, em Synodicon Hispanum (Astorga, León y Oviedo), dirigido por Antonio García y García (Madrid: bac, 1984), v. III, const. 1, 396.

33José Sánchez Herrero, “Catequesis y predicación”, em Historia de la acción educadora de la iglesia en España, editado por Bernabé Bartolomé Martínez (Madrid: bac, 1997), v. 1, 204-206.

34María José Lop Otín, La catedral de Toledo en la Edad Media. Trayectoria, funcionamiento, proyección (Toledo: Instituto Superior de Estudios Teológicos San Ildefonso, 2016), 178-179.

35Francisco Javier Fernández Conde, La religiosidad medieval en España. Baja Edad Media (siglos xiv-xv) (Gijón: Trea, 2011), 310-311.

36San Vicente Ferrer, “Tratado de la vida espiritual”, em Tratados espirituales de san Vicente Ferrer. De la vida Espiritual, Sobre las tentaciones de la fe, De la vida de Cristo en la misa (Madrid: Edibesa, 2005), cap. 14, 85.

37Rosa Vidal Doval, “Predicación y persuasión: Vicente Ferrer en Castilla, 1411-1412”, Revista de Poética Medieval, n.º 24 (2010): 233-234.

38Trata-se do códice em que se encontra a reportatio dos sermões de Vicente Ferrer editada por Pedro Manuel Cátedra. O documento está registrado com a cota de número 294 da Real Academia Española e foi copiado por ordem de Antonio Rodríguez ou Ruiz, cura de San Pedro de Latarce, em 1448.

39Buena gent, çerca esta palabra propuesta yo entiendo de predicar e declarar oy quales y quántas maneras son por las quales el nuestro Señor e Salvador Ihesú Christo saca las personas de peccado e las trae a buena vida, e a las personas que están en buena vida cómo las promueve a mejor e a acresçentamiento de méritos”. Vicente Ferrer, “Sermón de los quatro aguyjones que nos da Ihesú Christo”, em Pedro Manuel Cátedra García, Sermón, sociedad y literatura en la Edad Media. San Vicente Ferrer en Castilla (1411-1412) (Salamanca: Junta de Castilla y León, 1994), 379.

40Buena gente, esta palabra propuesta quyere dezir assí: ‘Dado es a mí aguijon de la mi carne’. Agora çerca desta palabra propuesta yo he buscado en la santa Scriptura por amor de vosotros e he fallado quatro aguijones con los quales nuestro Señor Ihesú Christo punge e aguijona a las personas que sson en mala vida e en pecado por que vengan a buena vida; e si están en buena vida que vayan adelante, mejorando todavía e acresçentando en méritos e en santas obras. E son éstos: el primero aguijón es dolor corporal; el segundo aguijón es doctrina spiritual; el terçero aguyjón es temor justiçial; el quarto aguyjón es amor çelestial”. Vicente Ferrer, “Sermón de los quatro aguyjones que nos da Ihesú Christo”, em Cátedra García, Sermón, sociedad y literatura en la Edad Media, 379.

41El segundo aguyjón con que nuestro Señor Dios aguyjona la criatura por que vaya a salvación digo que es doctrina spiritual. E este aguyjón traen aquellos que predican doctrina evangelical, assí como frayres e religiosos e otros que han offiçio de predicar. Éstos meten el aguijón a la criatura por la oreja e púnchales el coraçón, assí como agora en esta predicaçión que yo predico, que alguno se siente pungido deste aguyjón de la predicaçión e doctrina”. Vicente Ferrer, “Sermón de los quatro aguyjones que nos da Ihesú Christo”, em Cátedra García, Sermón, sociedad y literatura en la Edad Media, 385.

42Mas algunas doctrinas e predicaçiones ay que non pasan de las orejas, assí como la doctrina philosophical con allegaciones de poetas. Éstas van a las orejas, mas non llegan al coraçón, ca se fablan con una rethórica fermosa con sus cadençias, assí que tal doctrina como éstas non llega al coraçón de la criatura, nin passa de las orejas”. Vicente Ferrer, “Sermón de los quatro aguyjones que nos da Ihesú Christo”, em Cátedra García, Sermón, sociedad y literatura en la Edad Media, 385.

43Mas agora nosotros, desaventurados, en un sermón allegamos xxx actoridades de poetas, e por esto convertimos poca gent. ¡Mal peccado! E quando algún predicador ha fecho algún sermón déstos, luego dize la gente: — ‘¡O fi de puta de frayre, e qué cadençias tan rrectoricadas ha traídas en este sermón! E non lieven dende otra ganançia alguna nin el otro galardón sinon que le llaman fi de puta’”. Vicente Ferrer, “Sermón de los quatro aguyjones que nos da Ihesú Christo”, em Cátedra García, Sermón, sociedad y literatura en la Edad Media, 386.

44Étienne Gilson, A filosofia na Idade Média (São Paulo: Martins, 2006), 203.

45Nicole Bériou, “Un mode singulier d’éducation. La prédication aux derniers siècles du Moyen Âge”, em Communications. L'idéal éducatif, editado por François Flahault e Jean-Marie Schaeffer (Paris: Éditions du Seuil, 2002), 113-127.

46Bériou, Religion et communication, 27.

47A respeito do controle da palavra do pregador, ver: Carlo Delcorno, “Liturgie et art de bien prêcher (xiiie-xve siècle)”, em Prédication et liturgie au Moyen Âge: études réunies, organizado por Nicole Bériou e Franco Morenzoni (Turnhout: Brepols Publishers, 2008), 201-223.

48O Collyrium Fidei Adversus Haereses.

49Álvaro Pais, Colírio da fé contra as heresias (Lisboa: Instituto de Alta Cultura, Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, 1954), v. 1, Parte 1, erro 39º, 139.

50Carla Casagrande, “Le calame du Saint-Esprit. Grâce et rhétorique dans la prédication au xiiie siècle”, em La parole du prédicateur (v e -xv e siècle), organizado por Rosa Maria Dessì e Michel Lauwers (Turnhout: Brepols Publishers, 1997), 250.

51A obra foi escrita entre 1460 e 1468. Foi impresso em 1490 para ajudar outros religiosos em suas pregações.

52Arturo Jiménez Moreno, “Introducción”, em Evangelios moralizados de Juan López de Salamanca, (Salamanca: Ediciones Universidad de Salamanca, 2004), 50-51.

53todas las predicaçiones que se fazían a los infieles eran tan virtuosas e tan eficaçes que convertían las gentes a la fe de nuestro Señor. E aquesta virtud dava Dios, como dizía David: ‘Dominus dabit verbum evangelizantibus, virtute multa’ (‘El Señor dará palabras a los evangelizantes con mucha virtud’). E en otra parte diz: ‘Ipse dabit voci sue vocem virtutis’ (‘Ele dará al predicador — que es boz de Dios — boz de virtude’). E aquesto era que a la boz de la predicaçión dava otra boz de virtud, que era fazer miraglos”. Evangelios moralizados, 428.

54Isabella Iannuzzi, El poder de la palabra en el siglo xv: fray Hernando de Talavera (Salamanca: Junta de Castilla y León, 2009), 216-220.

55“[...] las palavras de Dios ansi son como unas vuas que estan llenas de gran abastança de vino. E ansi como es menester que sean bien pisadas y espremidas las vunas para que salga el vino dellas, ansi es menester de declarar con diligencia la palavra divinal porque el vino del entendimento spūal pueda entrar a la bodega del coraçon”. Enseñamiento del corazón (Salamanca: Impr. de Nebrissensis, Gramatica, 1498), f. 1.

56No capítulo LXXXIX, o referido livro aborda o perfil ideal de pregador, como deveria pregar, como se tinha de ouvir a pregação e, por fim, os benefícios promovidos por esse ofício. No início desse capítulo, é referido que: “Tres cosas són de ver e tratar açerca de la predicaçión de la palabra diuinal; la primera quien la deue predicar, la segunda en que manera se deue predicar, la terçera en que manera deue ser oyda, la quarta quales són los bienes que fazen el oyr e el predicar la palavra diuinal”. Mohedano Hernández, El espéculo de los legos, cap. LXXXIX, 446.

57Manuel Ambrosio Sánchez Sánchez, Un sermonario castellano medieval (Salamanca: Ediciones Universidad de Salamanca, 1999), v. 2.

58“E por ende dize em comienço del sermón... Rogaremos al nuestro Señor Jhesuchristo que nos ordene los coraçones e las voluntades, e nos alunbre el entendimiento, e me dé e aminist[r]e palavra e sermón, e otrosí que nos enbíe la graçia e la virtud del Spíritu Sancto a mí para dezir e a vós para oír e poner por obra, por que aquellas cosas que oy el día de oy aqui dixere sean dichas a serviçio e a loor de la Trinidat, que es Padre e Fijo e Spíritu Sancto, sean otrossí dichas a onra de los nuestros cuerpos e a salvaçión de nuestras almas”. Sermón del lunes de las ochavas de Çinqüesma, em Sánchez Sánchez, Un sermonario castellano medieval, v. 1, 388.

59‘Quy habet aures audiendi, audiat’ (Libro et capitulo sicud ante). Por declaraçión desta palabra propuesto e introduçión de la materia que tengo de predicar, sabed, buena gente, que ofiçio de predicar es propriamente assí como offiçio de pregonero. Ca así como el pregonero, quando quiere pregonar a la gente las ordenaçiones rreales del rey, con un tronpeta va tañiendo de calle en calle e de plaça en plaça, assí el ofiçio de predicar, ca el que predica es pregonero de Dios. E quando predica denunçia a las gentes las ordenaçiones divinales de Dios con la tronpa de la predicaçión, dando vozes, e assí las magnifiesta”. Vicente Ferrer, “Sermón que fabla cómo se deven vencer los siete pecados mortales”, em Cátedra García, Sermón, sociedad y literatura en la Edad Media, 525.

60“Pregonar: Publicar, hacer notoria en voz alta una cosa para que venga a noticia de todos”, em Diccionario medieval español. Desde las Glosas Emilianenses y Silenses (s. x) hasta el siglo xv, editado por Martín Alonso (Salamanca: Universidad Pontificia de Salamanca, 1986), v. 2, 1516.

61E cata cómo la predicaçión es comparada a la tronpa denunciante, ca el predicador es pregonero de Dios. E por esto diz el nuestro Señor Dios al propheta Ysayas a los VIII capítulos: ‘Clama, ne cesses, quasi tuba exatal vocem tuam’. Diz: ‘Llama fuertemente e non çesses e ensalça tu voz así como tronpa’. Esto dize por que non seamos perezosos para predicar, así como el pregonero, que non es perezoso, que diligentemente va pregonando por las calles e plaças, assí quiere nuestro Señor Dios que las predicaçiones anden por todo el mundo de tierre en tierra e de villa em villa e de lugar en lugar”. Vicente Ferrer, “Sermón que fabla cómo se deven vencer los siete pecados mortales”, em Cátedra García, Sermón, sociedad y literatura en la Edad Media, 526.

62Bériou, Religion et communication, 36.

63Vicente Ferrer, “Sermón que fabla cómo se deven vencer los siete pecados mortales”, em Cátedra García, Sermón, sociedad y literatura en la Edad Media, 525.

64Si el Spíritu Santo no enseña dentro en el coraçon a la criatura, en vano trabaja de fuera qualquiera otro predicador e maestro —dicho es de sant Gregorio—, e por tanto, qualquier cosa que entiende el coraçón del oyente non lo atribuyan al diziente ni al fablante, mas al Spíritu Santo de dentro enseñante, que si de dentro no es el Spíritu Santo enformante, en vano trabaja de fuere la lengua del predicante”. Evangelios moralizados, 447.

65Para compreender essa dinâmica da pregação e como ela se formou a partir do século XIII, conferir: Carla Casagrande, “Sermo potens. Rhétorique, grâce et passions dans la prédication médiévale”, em Le pouvoir des mots au Moyen Âge, editado por Nicole Bériou, Jean-Patrice Boudet e Irène Rosier-Catach (Turnhout: Brepols Publishers, 2014), 230.

66“Natural cosa es de los omes que non pueden ver sin el ayuda del sol material, ca non pueden ver por muy buenos e claros ojos que ayan tan bien como con el ayuda del sol; pues bien así, spiritualmente, del ánima, que non puede ver ninguna cosa spiritual si non es alu[m]brado de la gracia del Spíritu Santo. E por tanto dixo David propheta: ‘Lumen occulorum meorum, et ipsum non est mecum’ (Ps 117, 11); ‘cosa es que non abasta la lumbre de mis ojos’ sin la luz de la gracia de Dios”. Pedro Manuel Cátedra García, Los sermones en romance del manuscrito 40 (siglo xv) de la Real Colegiata de San Isidoro de León (Salamanca: semyr, 2002), sermón 8, 153.

67non podemos entender ninguna cosa que de bien sea sin la graçia del Spíritu Sancto”. Sermón del lunes de las ochavas de Çinqüesma, em Manuel Ambrosio Sánchez Sánchez, Un sermonario castellano medieval, v. 1, 387.

Como citar: Teodoro, Leandro Alves. “A graça manifestada e a pregação na Castela dos séculos xiv e xv”. Historia Crítica, n.° 81 (2021): 3-20, doi: https://doi.org/10.7440/histcrit81.2021.01

Recebido: 11 de Julho de 2020; Aceito: 02 de Fevereiro de 2021

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