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Avances en Enfermería

versão impressa ISSN 0121-4500

av.enferm. vol.32 no.2 Bogotá jul./dez. 2014

https://doi.org/10.15446/av.enferm.v32n2.46220 

http://dx.doi.org/10.15446/av.enferm.v32n2.46220

Uso de contraceptivos por puérperas adolescentes

Use of birth control by teenage who have just given birth

Uso de anticonceptivos por parturientas adolescentes

Fernanda Schulz da Rosa1, Diana Cecagno2, Sonia Maria Könzgen Meincke3, Simoní Saraiva Bordignon4, Marilu Correa Soares5, Ana Cândida Lopes Corrêa6

1 Enfermeira. Especialista em Urgência, Emergência e Trauma, Pelotas. Brasil. E-mail: fer_nandarosa@hotmail.com

2 Enfermeira. Professor Assistente da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Pelotas, UFPel. Doutoranda do Programa de Pós Graduação em Enfermagem, FURG, Pelotas. Brasil. E-mail: cecagnod@yahoo.com.br

3 Enfermeira. Docente Adjunto II da Faculdade de Enfermagem da Universidade de Pelotas. Doutora em Enfermagem pela Universidade Federal de Santa Catarina, Pelotas. Brasil. E-mail: meinckesmk@gmail.com

4 Enfermeira. Mestranda do Programa de Pós Graduação em Enfermagem, UFPel, Bolsista, Pelotas. Brasil. E-mail: simoni_bordignon@yahoo.com.br

5 Enfermeira Obstetra. Docente Adjunto II da Faculdade de Enfermagem da Universidade de Pelotas. Doutora em Enfermagem em Saúde Pública pela EERP-USP, Pelotas. Brasil. E-mail: nfmari@uol.com.br

6 Enfermeira. Mestranda do Programa de Pós Graduação em Enfermagem, UFPel, Pelotas. Brasil. E-mail: analopescorrea@hotmail.com

Recibido: 07/02/2013 Aprobado: 14/03/2014


Resumo

Objetivo: Averiguar a utilização dos métodos contraceptivos pelas puérperas adolescentes a fim de relacionar o seu (des)uso com a gravidez na adolescência.

Método: Estudo transversal, descritivo, realizado por meio de instrumento estruturado com 181 puérperas adolescentes que tiveram seus partos no hospital participante da pesquisa. Os dados foram coletados no período de dezembro de 2008 a dezembro de 2009.

Resultados: 64,1% das puérperas faziam uso de algum método contraceptivo antes de ficarem grávidas e os métodos mais utilizados foram anticoncepcional oral 51% e o preservativo masculino 29%. Para 75% das adolescentes a gravidez foi planejada e justificada pelo desejo e a vontade própria de vivenciar a maternidade.

Conclusão: Considerando que quase metade das adolescentes entrevistadas desejavam a gestação, aponta-se que pesquisar e discutir apenas o uso ou não dos métodos contraceptivos não é adequado. É necessário aprofundar as investigações acerca dos significados de ser mãe na adolescência.

Palavras-chave: Adolescente; Gravidez na Adolescência; Anticoncepção (Fonte: DeCS BIREME).


Abstract

Objective: To investigate about the use of birth control by teenagers who have just given birth, to relate their lack of use with teenage pregnancy.

Method: Transversal descriptive research, made by a structured instrument with 181 teenagers who had just given birth in the hospital that participated in the investigation. The data was collected since December 2008 to December 2009 period.

Results: 64,1% of the teenagers who had just given birth used some contraceptive method prior to their pregnancy; the most used methods were oral birth control pills (51%) and male preservative (29%). For the 75% of the teenagers their pregnancy was planned and justified by the desire and will of experimenting motherhood.

Conclusion: Considering that almost half of the interviewed teenagers wanted to get pregnant, it is deduced that investigation of only the use of contraceptives it is not appropriate. It is necessary to make deeper investigations about the meaning of being a mother during adolescence.

Keywords: Adolescent; Pregnancy in Adolescence; Contraception (Source: DeCS BIREME).


Resumen

Objetivo: Indagar el uso de métodos contraceptivos por las puérperas adolescentes a fin de relacionar su (des)uso con el embarazo en la adolescencia.

Método: Estudio transversal, descriptivo, realizado por medio de un instrumento estructurado con 181 puérperas adolescentes que tuvieron sus partos en el hospital participante de la investigación. Los datos fueron recolectados en el período de diciembre de 2008 a diciembre de 2009.

Resultados: El 64,1% de las puérperas usaba algún método contraceptivo antes del embarazo; los métodos más utilizados fueron el anticoncepcional oral (51%) y el preservativo masculino (29%). Para el 75% de las adolescentes el embarazo fue planeado y justificado por el deseo y la voluntad propia de experimentar la maternidad.

Conclusión: Considerando que casi la mitad de las adolescentes entrevistadas deseaba el embarazo, se deduce que investigar y discutir apenas el uso o no de los métodos contraceptivos no es adecuado. Es necesario profundizar las investigaciones acerca de los significados de ser madre en la adolescencia.

Palabras clave: Adolescente; Embarazo en Adolescencia; Anticoncepción (Fuente: DeCS BIREME).


Introdução

A adolescência compreende o tempo entre a infância e a fase adulta, marcada por um complexo processo de crescimento e desenvolvimento biopsicossocial e configurase como o período em que se pode iniciar o contato com o mundo externo sem que se tenha que assumir claramente as responsabilidades da vida adulta (1). Esta ocasião pode ser considerada bastante conflituosa, pois, se por um lado não é exigido que os adolescentes assumam tais responsabilidades, por outro não, é permitido que se comportem como criança.

Mesmo que muitas mudanças tanto sociais quanto culturais tenham acontecido nas últimas décadas no que se refere à sexualidade, o início da vida sexual na adolescência e juventude ainda continua sendo tratado por muitos como uma atividade de risco, sendo frequentemente associado às doenças sexualmente transmissíveis (dsts) e gravidezes imprevistas (2).

Dessa forma, o assunto sobre sexualidade sofre grandes influências externas, isto é, fora do ambiente familiar, evidenciando a relevância acerca da qualidade das informações que os profissionais de saúde, professores e comunidade oferecem aos adolescentes, que podem ser determinantes nas condutas e comportamentos futuros neste contexto (3). A gravidez na adolescência é enfrentada como importante problema social (4, 5) e, de modo geral, é enfrentada com dificuldade, pois significa uma rápida passagem do papel de filha para mãe. Nessa transição abrupta do seu papel de filha, ainda em formação, para o de mulher- mãe, a adolescente vive uma situação conflituosa, ocasionando, muitas vezes, uma situação de (des)ajustamento social, familiar e escolar (6, 7).

Acredita-se que a maternidade adolescente ainda pode ser resultado da falta de qualidade das informações sobre as formas de preveni-la, pois, muitas vezes os jovens não dominam os conhecimentos claros e consistentes acerca de informações sobre sexo, métodos anticoncepcionais e dsts. Embora ocorra uma pulverização de informações, muitas vezes, é repleta de conceitos equivocados, carregados de tabus, os quais não garantem a conscientização e a eficácia nas condutas de proteção promovendo um ciclo vicioso (8, 9, 10).

Assim, este estudo tem como objetivo averiguar a utilização dos métodos contraceptivos pelas puérperas adolescentes a fim de relacionar o seu (des)uso com a gravidez na adolescência.

Metodologia

Estudo quantitativo, descritivo, transversal, realizado a partir de um recorte da pesquisa multicêntrica Redes Sociais de Apoio à Paternidade na Adolescência (rapad) (11), desenvolvida nas instituições de ensino: Universidade Federal de Pelotas (UFPel-coordenação geral do projeto), Universidade Federal de Florianópolis (ufsc) e Universidade Federal da Paraíba (ufpb). Os dados apresentados, neste artigo, referem-se aos coletados na UFPel.

A amostra foi constituída por 181 puérperas adolescentes, que tiveram seus partos realizados em uma unidade obstétrica de um hospital de ensino da cidade de Pelotas- rs, no período de dezembro de 2008 a dezembro de 2009. Foram utilizados como critérios de inclusão: estar internada na maternidade; ser puérpera com idade inferior a vinte anos, realizar seu processo de parturição no hospital participante do estudo, no período da pesquisa. Os critérios de exclusão foram: patologias maternas graves que interferissem na comunicação, óbito fetal e dificuldades de comunicação.

Todos os preceitos da Resolução 196/96 que trata sobre a pesquisa envolvendo seres humanos foram observados e respeitados. O projeto da pesquisa rapad foi aprovado pelo Comitê de Ética da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal de Pelotas (parecer nº 007/2008). Após as orientações/esclarecimentos acerca dos objetivos e metodologia da investigação, as puérperas adolescentes ou responsáveis assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. À adolescente com idade inferior a 18 anos foi também solicitada autorização dos pais ou responsáveis.

Para a coleta de dados foi aplicado um instrumento estruturado, as variáveis que enfocavam os dados sociodemográficos referem-se à idade, cor, estado civil, escolaridade, trabalho, fontes de renda, renda mensal; e abordavam as características gineco-obstétricas com a história obstétrica e métodos contraceptivos —menarca, sexarca, a utilização ou não de método contraceptivo, o tipo, o porquê da escolha, quem indicou, o tempo de uso, se houve ou não planejamento da gravidez, número de gestações, partos e abortos pregressos.

A análise dos dados foi realizada por meio dos instrumentos no software epi-info 6.04 e apresentados em forma de tabela a fim de proporcionar melhor visualização e entendimento.

Resultados e Discussão

Caracterizando a população estudada, observou-se que a faixa etária das puérperas adolescentes entrevistadas predominou entre 17 a 19 anos 76,8%, seguidos da faixa de 12 aos 17 anos 21,5%. As adolescentes se autoatribuíram de cor branca 60,8%, parda/mestiça 19,3%, preta 19,9%.

Em relação ao estado civil 76,8% classificaram-se como casadas ou mantinham união estável com o companheiro, 23,2% relataram estarem solteiras. Das 42 puérperas que relataram estarem solteiras no momento da entrevista, 30,9% estavam namorando o pai do seu filho, 45,3% não tinham nenhum vínculo com o pai de seu filho a não ser o da gravidez, 11,9% mantinham vínculo esporádico e 11,9% mantinham vínculo de amizade com o pai de seu filho. Desta forma, há a necessidade de elaborar intervenções por meio de programas comunitários com jovens casais grávidos, tendo em vista as inúmeras dificuldades que estes poderão enfrentar em função do início da vida conjugal e da parentalidade, somadas à vivência da adolescência, auxiliando nos enfrentamentos advindos destas situações (12).

Quanto à escolaridade, das 181 puérperas adolescentes participantes do estudo, 80,1% não frequentavam a escola. Destas, 5,2% haviam concluído o ensino fundamental e relataram que almejavam continuar seus estudos no ano seguinte e 7,6% haviam concluído o ensino médio.

O baixo nível escolar e o fato de mais da metade não estar estudando, torna-se preocupante visto que a maioria das adolescentes concentrava-se na faixa etária dos 17 a os 19 anos, período no qual ocorre a conclusão dos estudos. Desta forma, os baixos níveis de escolaridade e socioeconômicos apresentados pela maioria das puérperas adolescentes, influenciam na obtenção de ações preventivas de saúde, tornando a adolescente mais vulnerável (6).

Os dados do presente estudo mostram que 36,4% das puérperas adolescentes abandonaram as escolas motivadas pela gestação, 23,5% referiram o abandono por vontade própria e 4,8% devido à mudança de cidade que dificultou a adaptação à nova escola e nenhuma relatou ser incentivada pela família a permanecer estudando. Acredita- se na importância da educação como fator de inclusão social, que se torna mais relevante quando relacionamos gravidez na adolescência e evasão escolar (13, 14).

No que diz respeito ao perfil socioeconômico da população estudada, observou-se que 95% das entrevistadas não exerciam nenhuma atividade remunerada. A principal fonte de renda das puérperas adolescentes provinha do cônjuge/companheiro/namorado em um total de 55,8%, seguida pela renda da família com 33,7%, pensão 6,01%, emprego 1,7% e 2,7% entre outros como beneficio social.

Desta maneira, pode-se perceber que as adolescentes pouco contribuem, ou não contribuem com a renda familiar, sendo dependentes da família ou do parceiro, assim, ser mãe na adolescência mostra-se uma causa da dificuldade de melhorar a renda familiar. Conhecer a origem da renda familiar facilita o conhecimento das condições do contexto econômico e cultural que determinam desde os significados como a aceitação, por parte das famílias e gestantes adolescentes (15).

A maternidade na adolescência agrava sobremaneira a dependência familiar, em todos os sentidos, desde o apoio financeiro ao afetivo, no intuito de auxiliar na superação dos obstáculos e desafios referentes à carreira escolar, profissional e de convivência com o parceiro (16).

Características gineco-obstétricas

O perfil gineco-obstétrico das puérperas deste estudo reafirma que além da menarca estar sendo antecipado, o início da atividade sexual (sexarca) também está ocorrendo de forma precoce, isto é, em torno dos 15 anos de idade, igualando-se assim aos resultados apontados em outras investigações (13, 17) e não diferindo da média nacional. Estudos mostram que a diminuição da idade da menarca pode estar associada às mudanças no contexto ambiental, a fatores genéticos e a variáveis como etnia, nível socioeconômico e condição nutricional (18, 19).

Em relação ao número de gestações, 145 das puérperas adolescentes eram primigestas, 23 secundigestas, 11 tercigestas e 2 eram quartigestas. Ainda, 12 puérperas relataram episódio de aborto pregresso, destes 10 foram referidos como espontâneos. Torna-se relevante destacar que no período da pesquisa ocorreram 834 partos no hospital pesquisado sendo que destes 181 eram de adolescentes, representando um porcentual de 21,7% dos partos.

No que se refere à utilização de métodos contraceptivos, 64,1% utilizavam algum método antes de ficarem grávidas e 35,9% não utilizavam nenhum método. Entre os motivos citados para o não uso dos métodos contraceptivos pelas puérperas adolescentes, 31,9% estavam relacionados com a falta de informação/descuido.

Um dado interessante advindo da presente pesquisa é que, apesar da maioria das puérperas adolescentes estar utilizando algum método contraceptivo, estas acabaram por engravidar. A literatura pesquisada aponta que o uso correto e frequente da contracepção não tem, necessariamente, uma relação direta com o conhecimento das adolescentes sobre os métodos (5, 20).

Nota-se, portanto, que existe uma lacuna entre o conhecimento e o uso regular e efetivo dos métodos contraceptivos por parte das adolescentes. Torna-se fundamental considerar a atividade sexual e a vontade de ter filhos que essas adolescentes veem como normal e como partes da vida às quais têm direito (21). O que poderia caracterizar uma fala diferente da realidade quando questionadas acerca do uso de métodos anticoncepcionais, o que suscita uma discussão sobre o real desconhecimento dos métodos e do desejo de se tornar mãe.

As puérperas adolescentes que relataram não fazerem uso de qualquer método contraceptivo justificaram pela falta de conhecimento/descuido. Dessa maneira, os autores (6) assinalam que quanto mais precoce ocorrer à iniciação sexual na adolescência, maiores serão as chances de gestação neste período, devido ao não uso dos métodos contraceptivos, seja pelo não poder de compra, ou por acreditar em um mundo mágico, no qual nada acontece com elas, ou receio na busca pelo serviço de saúde bem como pelo desconhecimento de práticas preventivas.

Ao serem questionadas sobre o método utilizado e a frequência, a Tabela 1 mostra que os contraceptivos mais citados foram a pílula com n = 51 e o preservativo masculino n = 29, das puérperas adolescentes. Com base nestes dados destaca-se o descuido das adolescentes, no que diz respeito à prevenção das dsts, já que menos da metade relatou utilizar o preservativo como forma de prevenção.

Algumas questões quanto à utilização dos métodos contraceptivos foram relacionadas ao contexto do relacionamento, a descontinuidade do uso do método (pílula) por parte da adolescente diante de conflitos provocados pela interrupção temporária do namoro, além da imprevisibilidade dos encontros casuais (2). A relação com a família, medo ou vergonha de revelar o início da vida sexual, sua exposição na família, também foram questões apontadas pelas adolescentes sendo que a falta de diálogo acaba por dificultar a gestão da contracepção.

Em contra partida, as adolescentes simplesmente não acreditam na existência do risco de gravidez e doenças desde as primeiras relações, considerando-se indestrutíveis e inatingíveis em seu pensamento mágico (8).

Já a Tabela 2. mostra a indicação na utilização dos métodos contraceptivos, o que mais se destacou foi por familiar, referida por 45,7% das puérperas adolescentes e por profissionais enfermeiros foi evidenciado apenas 1,7%.

Das adolescentes que referiram outros, 1,7% citou a escola como fonte de informação para a escolha do método contraceptivo. Cabe ressaltar que segundo alguns autores (3, 22), a escolaridade das mães das adolescentes também interfere nessa escolha e na busca por serviços de saúde, pois a educação sexual e reprodutiva é, em parte, dependente da educação familiar.

Desta forma, a orientação sexual constitui grande desafio, com foco na participação da família, da escola, dos profissionais da saúde e da sociedade em geral, no processo de educação, considerando o número crescente de adolescentes iniciando sua vida sexual e as consequências atreladas à atividade sexual desprotegida (23).

Conforme a Tabela 3., a investigação de (24) sobre os motivos que levaram das puérperas adolescentes a planejarem gravidez com dados da pesquisa rapad, apontou que 40,3 % das puérperas adolescentes planejaram a gravidez. Os motivos referidos estavam relacionados ao desejo e a vontade própria de vivenciar a maternidade precocemente em 75,34% das adolescentes, seguidamente pela vontade do casal 17,8%. Pesquisa realizada por (6) apresentou dados semelhantes, no qual 44,9% das adolescentes referiram como motivo da gestação o desejo de ser mãe.

A adolescente que vive em um meio social carente de recursos materiais, financeiros e emocionais satisfatórios, poderá observar na gravidez uma expectativa de futuro, ou até mesmo única, e com isto, acaba vulnerabilizada (6).

Ao considerar que quase metades das adolescentes entrevistadas desejavam a gestação, não se deve inferir que gravidez na adolescência torna-se necessariamente um transtorno na vida destas adolescentes, já que cada uma apresenta expectativas diferenciadas quanto ao seu futuro.

As adolescentes, muitas vezes, planejam sua gravidez que pode ser referida como parte do projeto de vida, a possibilidade de ingresso feminino no mundo adulto e assim galgar um novo status social para a família além de provavelmente representar para essas jovens efetividade de sua identidade feminina, bem como uma via de acesso à feminilidade e, a união à um parceiro estável poderia representar independência da família de origem (25, 26).

Contudo, a análise do fenômeno da gravidez na adolescência não pode se resumir aos impactos negativos quanto às perspectivas de vida, uma vez que depende do ângulo sob o qual se analisa a questão. Assim, pensar a gravidez na adolescência como algo não desejado ou fora do esperado corresponde a uma perspectiva normativa da adolescência que exclui a maternidade precoce como uma alternativa de vida (27).

Conclusão

É possível perceber que a tendência de queda da idade da menarca aliada à antecipação da idade da sexarca e práticas contraceptivas errôneas estão associadas à gestação na adolescência. Por tanto, embora as adolescentes estejam cientes da necessidade de utilizar os métodos contraceptivos, ainda continuam mantendo relações sexuais desprotegidas estando cada vez mais expostas a riscos.

Logo, no cenário da anticoncepção na adolescência destaca-se a necessidade dos profissionais da saúde e da educação estarem preparados e engajados para realizarem uma abordagem eficaz deste tema junto aos adolescentes e incluindo a participação da família nesse processo de educação.

É preciso ir além, entrar no mundo dos adolescentes para ao lado deles construir de forma ativa o conhecimento sobre educação sexual, buscando entender as particularidades da gravidez na adolescência e o seu contexto perante a sociedade, para que estes possam desfrutar desta fase da vida de maneira saudável.

A gestação na adolescência não é um fato novo, visto os elevados índices apresentados nas últimas décadas. Considerando que quase metade das adolescentes entrevistadas desejavam a gestação, não se mostra adequado pesquisar e discutir somente o uso ou não dos métodos contraceptivos, e sim o significado de ser mãe na adolescência, já que cada uma apresenta expectativas diferenciadas quanto a essa temática e ao seu futuro.

Dentro desta perspectiva, espera-se que os achados deste estudo possam servir de subsídio para a formulação de ações de educação sexual e saúde do adolescente, proporcionando adequação na abordagem e no atendimento no que se refere à utilização de contraceptivos. É salutar que os profissionais de saúde conheçam novas abordagens dentro desta perspectiva de transformações e incertezas que vivem os adolescentes e que envolvem também sua família e a comunidade.


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