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Revista Med

versão impressa ISSN 0121-5256

rev.fac.med vol.20 no.1 Bogotá jan./jun. 2012

 

EDITORIAL

OBESIDADE INFANTIL: OUTRO PROBLEMA DE MÁ-NUTRIÇÃO

ESPERANZA FAJARDO BONILLA, ND, MSca

a Correspondencia: esperanza.fajardo@unimilitar.edu.co - Dirección Postal: Trav. 3 No. 49-00. Facultad de Medicina, Universidad Militar Nueva Granada. Bogotá, Colombia.


A desnutrição infantil na Colômbia é um tema de grande relevância e que tem recebido grande atenção das entidades governamentais; tais esforços têm tido resultados positivos já que, em diferentes estudos populacionais, demonstra-se uma diminuição na prevalência deste problema nutricional não só em nosso país, mas também em outros países latinoamericanos.

Os estudos do estado nutricional realizados na Colômbia durante os últimos anos, com representação nacional, têm enfatizado a diminuição dos índices de desnutrição nas crianças. A porcentagem de baixo peso para a idade em crianças menores de 5 anos diminuiu de 21,1% em 1965 para 6.7% em 2000 e a 3,4% segundo a Pesquisa Nacional da Situação Nutricional na Colômbia em 2010 (ENSIN). Situação similar apresenta-se com a desnutrição crônica (tamanho/ idade): 21% em 1990, 15% em 1995, 13.5% em 2000 e 13,2% em 2010.

Graças ao Plano Nacional de Nutrição, desde 1999 observa-se uma mudança importante da situação nutricional da criança ao propender por uma adequada alimentação e nutrição tanto a nível individual como coletivo e o desenvolver ações de segurança alimentar orientadas aos lares e grupos mais vulneráveis. A tudo isso deve-se acrescentar que a presença de todos os tipos de desnutrição diminuiu à medida que aumenta o nível de educação formal e o nível econômico das mães.

Porém, na Colômbia e nos países latino-americanos agregaram-se aos problemas originais de deficiência nutricional na população infantil, problemas de sobrepeso e obesidade associados com o alto consumo de alimentos ricos em energia derivada dos carboidratos e do alto consumo de gorduras acompanhados de sedentarismo. Isto é conhecido como carga dupla de má-nutrição ou transição nutricional.

As Estatísticas Sanitárias Mundiais apresentadas pela Organização Mundial da Saúde confirmam que a prevalência de sobrepeso e de obesidade aumentou não só nos Estados Unidos e nos demais países desenvolvidos mas também no mundo inteiro, o que levou a que a obesidade fosse declarada uma doença, com uma preocupação especial pela obesidade abdominal e afirme-se que os efeitos adversos da obesidade e a adiposidade abdominal começam na infância e na adolescência.

A obesidade considerada na época antiga como sinal de status social, bem-estar e até beleza, é hoje em dia uma doença crônica não transmissível e contribui de forma importante com o aumento na prevalência de fatores de risco para doenças cardiovasculares e metabólicas que representam a primeira causa de morte na sociedad atual. Além disso, está associada com uma maior ocorrência de diferentes tipos de câncer, transtornos osteoarticulares, complicações respiratórias, imunológicas e gástricas, bem como alterações na conduta e perda da autoestima. Todo isto afeta de forma significativa a saúde e o bem-estar físico e mental de crianças e adultos.

A carga dupla de má-nutrição na população infantil (desnutrição / obesidade) implica que as crianças e adolescentes enfrentam-se com consequências que redundam em baixo rendimento escolar, problemas de aprendizagem, absentismo escolar, bem como riscos em sua saúde e bem-estar em etapas posteriores da vida. Para a sociedad implica no solo o alto custo da atenção em saúde, sino uma diminuição na produtividade e a qualidade vida da população.

Panorama Latino-Americano

De acordo com as Pesquisas Nacionais de Saúde e Nutrição do México com relatórios oficiais desde 1988 até 2006, o sobrepeso e a obesidade aumentaram nas crianças, jovens e adultos mexicanos nos últimos anos de maneira alarmante. No caso das crianças em idade escolar, entre 5 e 11 anos, de 1999 a 2006 a obesidade passou de 18.4% a 26.2% e em 2011 a 31,7%; entre adolescentes, de 1988 a 2006, passou de 9% a 28,5%; e em adultos, nos mesmos 18 anos passou de 34.5% a estar muito próxima de 70%.

Na Argentina, o Ministério da Saúde informa que os números referentes à obesidade e sobrepeso em crianças de 5 a 11 anos de idade entre 1999 e 2006 subiram de 18,6% a 26%. Nos adolescentes a prevalência de obesidade varia entre 5% e 8% com tendência ao aumento. Sendo que se diz que neste país 7 de cada 10 crianças nascem na pobreza e muitos chegam à obesidade; os últimos relatórios indicam que 7,3% das crianças menores de 5 anos apresentam obesidade.

No Chile também se observou nos últimos anos um aumento importante da obesidade caracterizandose como país em transição nutricional. Segundo os relatórios do Ministério da Saúde do Chile, o sobrepeso e a obesidade nas crianças escolares passou de 16% a 19,4% desde 2000 a 2009. Em 2005, os pré-escolares que iam aos jardins infantis da Junta Nacional de Jardins Infantis (JUNJI), apresentavam uma prevalência de 22,7% de sobrepeso e 10,6% de obesidade, mostrando que a obesidade infantil constitui o problema nutricional mais importante nas crianças das classes média-baixa e baixa do país.

Hoje sabemos que a Colômbia não está alheia a este problema e os relatórios assinalam que já em 1995 2.6% das crianças pré-escolares apresentavam sobrepeso. Na Pesquisa Nacional sobre a Situação Nutricional e de Consumo de Alimentos na Colômbia (ENSIN) de 2005, observou-se que 4.3% das crianças entre 5 e 9 anos e 10,3% das crianças entre 10 e 17 anos apresentava sobrepeso levando em consideração o peso para a estatura, sem observar-se diferença por gênero, idade nem região. A ENSIN 2010 informa que a nível nacional, 13,4% da população entre 5 e 17 anos apresenta sobrepeso e 4,1% obesidade, observando-se que a obesidade é mais frequente no grupo de 5 a 9 anos de idade, o sobrepeso predomina nas meninas e nos meninos a obesidade.

Os diferentes estudos por países informam um baixo consumo de frutas e verduras com alto consumo de alimentos fonte de carboidratos e gordura, indicando, além disso, o aumento no consumo de comidas rápidas, refrigerantes, sucos artificiais, refrescos e bebidas açucaradas que só contribuem com energia e nada de vitaminas, minerais ou proteínas.

De outra parte, a obesidade deixou de ser um problema de populações de classes socioeconômicas altas, como demonstrou-se nos diferentes países. Vale a pena mencionar que foi proposta a associação entre insegurança alimentar e obesidade infantil, que ainda não foi demonstrada, mas este pode ser um ponto de interesse a ser estudado dado que cada vez observamse mais casos de excesso de peso em populações de classes socioeconômicas baixas.

Uma das razões que podem explicar isso consiste em que os alimentos ricos em energia e que produzem maior saciedade, com altos níveis de gorduras e carboidratos, são encontrados a preços mais baixos; desta maneira, as pessoas compensam os períodos em que o alimento é escasso com um aumento no consumo, tanto em frequência como em quantidade, quando há disponibilidade. Este comportamento favorece mudanças cíclicas de peso corporal, o que provoca mudanças metabólicas que fazem mais eficientes os mecanismos para acumular gordura corporal, dando lugar a um aumento do peso.

Aos maus hábitos alimentares se soma o sedentarismo nas crianças que passam várias horas na frente da televisão ou do computador tendo cada vez menos oportunidades para realizar atividades esportivas ou de recreação, seja pela baixa renda ou pelo temor dos pais à violência urbana na rua, a insegurança nos parques, ou simplesmente pelo estilo de vida familiar que impede que as crianças tenham um maior gasto energético.

Na Colômbia, a ENSIN 2010 mostra que 57,9% das crianças de 5 a 12 anos assistem televisão ou jogam videogame 2,4 horas ou mais por dia e os adolescentes, 2,8 horas por dia. Evidenciou-se que as crianças com sobrepeso ou obesidade tinham uma prevalência maior de ver televisão ou brincar com videogame, comparado com as crianças com Índice de Massa Corporal normal. As recomendações da Organização Mundial da Saúde indicam que as crianças em idade escolar devem praticar diariamente 60 minutos ou mais de atividade física e estima-se um máximo de duas horas de televisão por dia para este grupo de população com o objetivo de não tirar tempo destinado a realizar atividades vigorosas.

Intervenção

A prevenção da obesidade deve começar desde a infância, incluindo a promoção de hábitos de vida saudáveis. Esta é a chave do sucesso. Deve-se estimular o consumo de alimentos como frutas e verduras, evitando o excesso de gorduras e massas. Foi demonstrado que é mais fácil ensinar que modificar hábitos, pois desta maneira geram-se maiores custos nas intervenções e maiores fracassos.

A idade escolar é um período importante para promover e consolidar habilidades em todas as áreas do desenvolvimento e para reafirmar hábitos de alimentação saudáveis. Assim, as crianças e jovens podem ter uma excelente qualidade de vida e garantem as reservas necessárias para cobrir o gasto de energia que demandam as novas atividades assumidas durante esta época da vida.

É necessário então, que a sociedade em seu conjunto, os governos, a indústria e os meios massivos de comunicação, se comprometam para unir esforços na luta contra a obesidade infantil, abordando o problema do excesso de peso nas etapas precoces desde uma perspectiva de saúde pública.

A atividade física como componente chave na prevenção da obesidade infantil deve abranger atividades que possam persistir no tempo, apropriadas para o desenvolvimento da criança, tão agradáveis que permitam aproveitar a atividade e evitar aquelas que sejam intensas ou difíceis de manter como usualmente se pretende com o adulto.

Combater a obesidade através de uma alimentação saudável e um estilo de vida ativo é uma tarefa que envolve a comunidade inteira. As consequências não são somente na saúde, mas sim sociais e econômicas, e é primordial gerar mudanças na mente das pessoas responsáveis pela saúde em nosso país, aonde ainda faz falta assumir a obesidade como um problema sério de saúde pública.

Em vista do aumento do sobrepeso e da obesidade a nível mundial, em diferentes países foram feitas intervenções efetivas a nível escolar com o objetivo comum de melhorar os padrões de alimentação e atividade física e desta maneira prevenir as doenças que se associam com a obesidade e o sedentarismo. Também se conta com os guias e arcabouços para aumentar os níveis de atividade física nas crianças emitidas pela Organização Mundial da Saúde.

É preciso atuar mais ativamente com a população infantil para combater este flagelo da obesidade com o fim de integrar os esforços nacionais prévios, presentes e futuros para gerar evidência suficientemente contundente no nível da população colombiana. Lembremos que a Organização Mundial da Saúde fez uma estimativa da prevalência de obesidade na população adulta (com IMC ≥30), onde se considera que a Colômbia terá entre 30 a 45,5% de obesos para 2015. A Colômbia possui a Lei 1355 de 2009 em que são definidas a obesidade e as doenças crônicas não transmissíveis associadas a mesma como uma prioridade de saúde pública e são adotadas medidas para seu controle, atendimento e prevenção. Requer- se então aplicá-la e apoiar intervenções de saúde na comunidade para a prevenção primária da obesidade, que sirvam a sua vez para diminuir a prevalência de doenças crônicas na população.