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Nómadas

Print version ISSN 0121-7550

Nómadas  no.42 Bogotá Jan./June 2015

 

CORPO, ESPORTE E BIOTECNOLOGIAS: UM ENSAIO INSPIRADO EM PETER SLOTERDIJK*

CUERPO, DEPORTE Y BIOTECNOLOGÍAS: UN ENSAYO INSPIRADO EN PETER SLOTERDIJK

BODY, SPORTS AND BIOTECHNOLOGIES: AN ESSAY INSPIRED BY PETER SLOTERDIJK

George Saliba Manske** y Luís Henrique Sacchi Dos Santos****

* Este texto é resultado de uma série de movimentos realizados no âmbito do projeto guarda-chuva "Medicalização da Escola e da Sociedade: dispositivo de medicalização e produção contemporânea dos corpos", realizado junto ao PPGEDU/UFRGS desde 2012. Entre esses movimentos, cabe destacar o desenvolvimento da tese de doutorado em Educação ("Da educação de atletas biotecnológicos: modos de governo sobre os esportes e doping contemporâneos"), por parte do primeiro autor, e a realização de um estágio de pós-doutorado Sênior - CAPES, junto ao King's College - London/UK, entre fevereiro e julho de 2013, por parte do segundo autor.

** Educador Físico, Mestre e Doutor em Educação pelo Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (PPGEDU/UFRGS). Professor do curso de Educação Física e do Mestrado em Saúde e Gestão do Trabalho da Universidade do Vale do Itajaí (Univali), Itajaí (Brasil). E-mail: gsmanske@yahoo.com.br
*** Biólogo, Mestre e Doutor em Educação pelo PPGEDU/UFRGS. Professor da Faculdade de Educação e do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (FACED/PPGEDU-UFRGS), Porto Alegre (Brasil). E-mail: luishss2009@gmail.com

Original recibido: 09/02/2015. Aceptado: 14/04/2015


Resumo

Problematizamos os saberes e os usos das biotecnologias contemporâneas na conformação de atletas de alto rendimento, especialmente no que tange à construção de novas subjetividades esportivas, valendo-nos, sobretudo, de análises e reflexões de Peter Sloterdijk. Tomando as condições biotecnológicas atuais como pontos de partida das transformações dos seres humanos, e, em especial, fazendo este recorte no campo esportivo, apresentamos como, na atualidade, novas subjetividades esportivas estão sendo forjadas, por meio da otimização das capacidades físicas, na direção de aberturas do futuro pelo presente.

Palavras-chave: esportes; doping; otimização; biotecnologias; biopolítica; políticas da própria vida.


Resumen

Problematizamos los saberes y los usos de las biotecnologías contemporáneas en la conformación de atletas de alto rendimiento, especialmente en lo que se refiere a la construcción de nuevas subjetividades deportivas, valiéndonos, sobretodo, de los análisis y reflexiones de Peter Sloterdijk. Tomando las condiciones biotecnológicas actuales como puntos de partida de las transformaciones de los seres humanos, y en especial, haciendo un corte en el campo deportivo, presentamos cómo en la actualidad nuevas subjetividades deportivas están siendo forjadas por medio de la optimización de las capacidades físicas, en la dirección de aperturas del futuro por el presente.

Palabras clave: deportes, doping, optimización, biotecnologías, biopolítica, políticas de la propia vida.


Abstract

Based mostly on Peter Sloterdijk analyses, we problematize the knowledge and uses of contemporary biotechnologies in the training of high performance athletes, with a special focus on the ways in which new athlete subjectivities are constructed. By taking the current biotechnological conditions as a starting point for the transformations of human beings in the sports field, we show how new sports subjectivities are being shaped today by optimizing physical skills in the direction of openings of the future by the present.

Keywords: sports, doping, optimizing, biotechnologies, biopolitics, politics of own life.


O BLADE RUNNER OSCAR PISTORIUS: UMA BREVÍSSIMA BIOGRAFIA EM TOM DE INTRODUÇÃO

Oscar Pistorius tornou-se um dos atletas mais amplamente conhecidos do cenário esportivo contemporâneo, tanto dentro quanto fora das pistas de corrida, seja porque se tornou um símbolo para o esporte Olímpico e Paralímpico, seja porque se envolveu num crime passional divulgado mundialmente. Sul-africano, nascido em Johanesburgo, filho de uma família de muitas posses, teve suas pernas amputadas, abaixo dos joelhos, antes do primeiro ano de idade, por ter nascido sem as fíbulas. Mesmo antes do primeiro ano de idade Pistorius já utilizava próteses para se deslocar. Sua história -contada de muitas formas, em diferentes lugares- refere que seu pai investiu recursos no desenvolvimento tecnológico de diferentes tipos de próteses que lhe permitissem ter uma mobilidade considerada o mais próximo possível do que se considerasse normal. Embora tenha sempre se interessado por esportes, foi apenas por volta dos 16 anos que Pistorius começou a ganhar notoriedade como atleta paralímpico, atingindo marcas impensáveis para um atleta em suas condições (Pistorius, 2014). Suas próteses de titânio, desenvolvidas a partir de uma estreita conexão entre a pista de provas e os laboratórios, foram consideradas por análises realizadas em diferentes locais, como capazes de oferecer um rendimento até 25% superior em relação aos atletas considerados "normais" (Moores, 2011).

Em 2011, na prova mundial dos 400m do atletismo, Pistorius atingiu a marca necessária para competir na Olimpíada de Londres, em 2012. Contudo, a questão que se colocava dizia respeito se Pistorius, até então considerado um atleta paralímpico, poderia (mesmo com os índices suficientes) participar dos Jogos Olímpicos -ou seja, dos jogos para atletas considerados "normais"-. Como se acompanhou no Jogos Olímpicos de Londres, Pistorius tanto participou das Olímpiadas quanto disputou uma final olímpica no revezamento 4 x 400m com sua equipe, a África do Sul, tornando-se o primeiro atleta biamputado a disputar uma final olímpica.

Pistorius não se tornou um ícone do esporte mundial à toa. Sua figura, em princípio considerada frágil e deficiente, em razão da biamputação, veio a desafiar os limites instituídos do que se considerava como capacidades "normais" para atletas considerados "normais", ou seja, sem deficiências. Nesta direção, seu corpo e sua condição não apenas ultrapassaram, mas, igualmente, violaram, permearam e ameaçaram os limites do que era instituído como normalidade para os Jogos Olímpicos. Pistorius (suas próteses de alta tecnologia, bem como as práticas de treinamento), navegava entre as fronteiras de um atleta "normal" e "paralímpico", apontando, assim, para os próprios limites do que se considerava como normal (Paiva, 2007) - se o "normal" para uma atleta paralímpico era estar abaixo dos escores dos atletas considerados "normais", Pistorius estava acima desses escores desafiando, assim, o que estava instituído como normalidade.

ATLETAS BIOTECNOLÓGICOS: UMA TERCEIRA VIA PARA O DUALISMO "NORMAL"/"DEFICIENTE"

Sloterdijk, em Conferência proferida na Universidade de Harvard, discutiu o "apocalipse do homem" moderno a partir das tecnologias da vida que hoje se apresentam, ou, dito a partir de suas palavras, "o Ser está desaparecendo sob uma profusão de bases epistemológicas" (2006: 2). Para o autor, o atual estado de desenvolvimento da cultura tecnológica está "produzindo um novo estado de agregação da linguagem e da escritura, estado que tem pouco em comum com as interpretações tradicionais por parte da religião, da metafísica e do humanismo" (Sloterdijk, 2006: 2), as quais deram sustentação às bases da Modernidade. Assim, a era dos "códigos digitais e das transcrições genéticas" tem imposto ao ser humano uma condição que não está mais posta no plano da transmissão/assimilação de conhecimentos do exterior para o interior humano, numa relação de apropriação e incorporação de saberes tradicionalmente concebidos numa relação dualista, mas está marcada e organizada num plano de hibridação entre exterior e interior, numa configuração completamente diferente daquela até então experimentada pelo ser humano em sociedade (Sloterdijk, 2006).

Em outras palavras, entendemos que é possível inferir que as condições culturais contemporâneas aludidas por Sloterdijk (2006) possibilitam novas formas de subjetivação1, propiciando a emergência de novas posições de sujeito, as quais constituem ou atravessam, de modo concomitante, os corpos nos esportes de alto rendimento, incluindo-se os olímpicos -nosso principal objeto em discussão aqui-. No limite, elas oferecem novas possibilidades de ser sujeitos atletas. Assim, tomando como referência as possibilidades de subjetivação contemporâneas, marcadas por pressupostos que não transitam mais apenas em classificações de pares opostos, mas operam para além desses, como sugere Sloterdijk (2006), em terceiras e mais vias de classificação de sujeitos, poderíamos pensar que o esporte olímpico2 concebe, mais recentemente, os atletas a partir de um pensamento dualista: de um lado, os atletas tidos como normais (na norma), "sem deficiências" e, de outro, os atletas tidos como fora da norma, deficientes3, ou seja, os paralímpicos4. Essa perspectiva dualista de pensamento e de linguagem, que organiza e constitui as formas de se ser normal/ anormal, capaz/incapaz, apto/não-apto, e que também posiciona os corpos e suas capacidades, não está presente apenas na hierarquização entre os corpos tidos como normais. Ela está, igualmente, entre os atletas paralímpicos, pois esses se constituem como tais atletas a partir dos diferentes tipos de acoplamentos que seus corpos podem fazer -portanto, a "categoria" paralímpico não os iguala numa suposta normalidade perdida, tampouco os aproxima dos atletas ditos normais5, mas os inclui e os distingue entre si-.

Nesta direção, como uma terceira via, em oposição, a esse frequente dualismo entre os atletas, poder-se-ia inserir os atletas que aqui chamamos de "biotecnológicos". Esses, diferentemente dos atletas paralímpicos, não se configuram por acoplamentos de objetos exteriores (como pernas ou braços mecânicos), mas pelo fato de se criar "objetos-sujeitos" como fruto da junção de diferentes porções biológicas a um corpo. Disso resulta um ser orgânico (porém híbrido) que não pertence a nenhuma categoria promulgada -e, o que é pior aos "olhos" da racionalidade que institui e regulamenta o doping, não pode ser identificada ou é dificilmente identificada- pelo esporte olímpico. Esta seria a "síntese do homem com a máquina, do natural com o artificial. É a coexistência ou justaposição desses elementos até então considerados incompatíveis ou conceitualmente ilegítimos" (Couto, 2001: 94). Portanto, é como um ser ilegítimo (turbinado, melhorado, aprimorado por diferentes biotecnologias) que essa terceira via de atletas, em tudo igual aos atletas olímpicos (em termos daquilo que se considera como uma normalidade corporal), emerge como um corpo que reúne em si diferentes procedimentos de ordem biológica que podem torná-lo mais capaz, mais preparado, mais adequado para competir no próprio esporte olímpico.

A noção de impostura, tal como trabalhada por Sander Gilman, no caso da sífilis, e apropriada por Edmonds (2010), para problematizar a cirurgia plástica no Brasil, é bastante produtiva, aqui, para pensarmos essa terceira via ocupada pelo atleta biotecnológico. Isso porque essa noção de impostura parte do princípio de que aquele que quer "se passar" pelo que ele/a não é (corrigir o nariz "atacado" pela sífilis para "esconder" as marcas da doença -no caso de Gilman- ou fazer uma cirurgia plástica facial para parecer mais jovem -no caso de Edmonds) está, de algum modo, trapaceando- um termo muito empregado nas discussões sobre doping com substâncias químicas no esporte. Em outras palavras, e no limite, embora esse atleta pareça "normal" (de nível olímpico/alto rendimento), ao alterar suas próprias condições biológicas por meio de recursos biotecnológicos, ele está se tornando, como refere Rose (2013), não menos, mas mais biológicos. Justamente por serem biológicas, e, assim, se "misturarem" com o "próprio corpo" do atleta, essas alterações não são vistas como doping, não sendo, portanto, identificadas nos exames antidoping. Neste sentido, o atleta biotecnológico pode se passar por um atleta "normal", mas está, em certos níveis, acima dele em termos de desempenho. É importante sinalizarmos que não se trata, aqui, de fazer um juízo de valor deste novo sujeito atleta, mas, antes, de mostramos como as fronteiras entre o que é "normal" e "anormal" -tantas vezes marcada no âmbito do esporte- hoje se tornaram mais confusas e borradas.

Os modos de organização do mundo a partir dos dualismos tradicionais, tais como cultura/natureza, sujeito/ objeto, corpo/alma, espírito/matéria, não podem mais ser usados para configurar esse sujeito emergente, híbrido, com capacidade de fazer a si mesmo de maneira diferente daquela "naturalmente dada". Assim, a separação e a relação entre natureza e cultura na constituição do Ser deixam de ser o ponto de análise de construção das subjetividades. O ponto das análises passa a ser a hibridação do próprio ser enquanto fabricante de si e do mundo, naquilo que construiu enquanto conhecimento para compreender e fabricar as coisas ao seu redor e a si mesmo, como, por exemplo, os "princípios de informação" (Sloterdijk, 2006). Esses princípios se referem aos sistemas, culturas, recordações, inteligências artificiais que atuam na organização do mundo e na maneira como nos entendemos nele. Eles se organizam como se houvesse não mais uma distinção entre corpo e pensamento ou matéria e informação, mas uma organização que é da ordem da "matéria informada". Como ele bem exemplifica, "a afirmação 'há genes' só pode ser entendida como o produto de uma situação nova: mostra a transferência exitosa do princípio da informação para a esfera da natureza" (Sloterdijk, 2006: 8).

Para Sloterdijk (2006), os "princípios de informação" estão na base do conhecimento contemporâneo, pois transitam entre os pensamentos e as coisas, atravessam transversalmente o que antes era um "par" (dualismo) de polo a polo (binarismo), agindo como um terceiro valor ou vetor, como outra rota ou alternativa para compreender e produzir o mundo e os sujeitos. Desse modo, ao colocar em xeque as concepções tradicionais, o autor procura fundir as categorias tradicionalmente usadas pelos sujeitos para compreender o mundo e a si mesmos. Na mesma direção, Fagot-Largeault (2004) indica que as questões contemporâneas de subjetividade não estão mais na incorporação mecânica de peças nos corpos humanos, tal como a robótica/mecanização, mas na intelectualização do corpo e do humano, a partir de princípios informativos sobre o mesmo.

Machado e Silva (2008) chama a atenção para a compreensão do ser humano no âmbito da biotecnologia. Para a autora, "na biotecnologia, a categoria humano se expressa na sua identificação como 'ser vivo', como no projeto genoma humano, nas técnicas de fertilização in vitro, nas reparações clínicas e estéticas" e outros. Segundo ela, esta concepção de ser vivo é diferente da concepção de organismo vivo ou ser humano. Quando ela se refere a organismo vivo argumenta que tal termo remete a todo e qualquer organismo vivo despossuído de subjetividade. A categoria ser humano, por sua vez, remete a um ser oriundo da concepção moderna de sociedade, fabricado pela natureza e alterado pela cultura. Na categoria "ser vivo" o "humano-vivo" se torna um tipo de sujeito múltiplo, manipulável, assimétrico, flexível, sem limites.

A fundição das categorias dualistas citada por Sloterdijk (2006) ganha força nos argumentos de Sibilia (2002). Para a autora, ao analisarmos as alterações promovidas pela biotecnologia através de recorrências contemporâneas percebemos, claramente, a "intenção de superar a condição humana, as falências do corpo orgânico, os limites espaciais e temporais ligados à sua materialidade. Em síntese: busca-se transcender a humanidade" (Sibilia, 2002: 87). E o campo em que a busca da transcendência do humano ou da fundição das categorias dualistas tradicionais se revela mais promissor e espetacular é o das tecnologias gênicas (Sloterdijk, 2006). Esse campo abre possibilidades e condições de manipulação do homem por si mesmo, a partir de uma série de interferências artificiais, isso porque a biotecnologia gênica tende a "identificar a mente, o corpo e suas partes às matérias primas manipuláveis e controláveis" (Machado, 2008: 52).

A articulação entre "princípios da informação" e possibilidades de polivalência constitui os vetores de força da constituição de novas subjetividades, a partir das quais se abre espaço e possibilidades para um ser humano enquanto composição, fluído, operável, manipulável e transformável a partir de seus próprios interesses e das capacidades tecnológicas ofertadas. Sloterdijk (2006) corrobora com este pensamento quando argumenta que nesta nova configuração de ser humano não se trata da subjugação ou escravização do material/objeto pelo humano/sujeito (dualismo), mas de uma abordagem não dominante, para a qual o autor sugere o termo "homeotecnologia".

A "homeotecnologia" não compreende a matéria/objeto como algo em que se apoiam ou se colocam outras coisas, tal como se concebe a matéria-prima, ou ainda, o corpo do ser humano, mas compreende a matéria/ objeto enquanto informação existente, que atua em cooperação (e não em oposição) com o sujeito. Dito de outro modo, a "homeotecnologia" opera a partir de estratégias "co-inteligentes e co-informativas", criando novos estados de inteligência a partir das qualidades dos corpos (Sloterdijk, 2006). Esse parece ser o caso da transferência de genes, em que se usa um vírus inócuo para transferir genes de um corpo para outro. Aliás, esse procedimento pode ser compreendido enquanto estratégias co-inteligentes e co-informativas na medida em que o vírus da transferência genética, ao aportar no corpo destinatário, "descarrega os genes anormais, os quais podem começar a funcionar e produzir as proteínas e enzimas necessárias" (WADA-AMA, 2005: n. 1, p. 3) automaticamente, ou melhor, natural-artificialmente. Portanto, o sujeito homeotecnológico seria aquele que rompe com as fronteiras dualísticas, que agrega a dispersão de fronteiras em si mesmo. No caso deste estudo, o atleta biotecnológico (ou a partir das inferências de Sloterdijk, "homeotecnológico") incorporaria todo o espaço de indefinição promulgado pelos órgãos controladores do esporte6, ocuparia o não-lugar ou, melhor ainda, os lugares nos quais os conhecimentos e modos de compreensão dualistas, instaurados pela Modernidade, não puderam dominar. Na esteira destes argumentos, Fagot-Largeault (2004) analisa, a partir da noção de "geneticização do humano", as novas subjetividades associadas a estas emergentes condições humanas. A autora toma de empréstimo o uso deste termo, a partir do sociólogo canadense Abby Lippman, para se referir à forma ideológica que a engenharia genética assumiu na cultura ocidental nos últimos anos, especialmente na maneira como se configurou num determinismo genético. Essa geneticização, para ela, implica, a nosso ver, na constituição de subjetividades através de uma molecularização do humano, tal como proposto por Rose, que "considera a vida no nível molecular como uma série de mecanismos vitais inteligentes entre entidades moleculares que podem ser identificadas, isoladas, manipuladas, mobilizadas, recombinadas em novas práticas de intervenção" (2013: 19). Assim, seja um humano homeotecnológico ou geneticamente concebido e pré-determinado naturalmente, mas passível de modificação, as novas condições biotecnológicas alteram os olhares ontológicos sobre a subjetividade humana, incluindo aqui, em especial, os atletas de alto rendimento.

Porém, a partir da noção de doping contemporâneo7, a concepção de atleta configurado nesta era biotecnológica sofre dificuldades de posicionamentos. Isso porque o "atleta homeotecnológico", ou biotecnológico, ao ter conformações diferentes daquelas de seus concorrentes, a saber, o atleta normal e o paratleta, não poderia ser entendido como recebendo vantagens em relação aos seus concorrentes, independentemente do tipo de competição que participasse, seja da ordem dos atletas normais ou dos paratletas. Tal maneira de pensar, se ocorresse, seria limitada, pois este tipo de atleta não pode ter como referente um par binário para comparações, tendo em vista que sua constituição está em outra ordem de organização, produção e pensamento. Entretanto, a WADA-AMA, ao posicionar-se sobre o uso do doping genético, por exemplo, o condena e repreende a partir do pensamento dualista, na medida em que argumenta que o uso do doping genético "para uso ou melhoramento das habilidades atléticas é tão repreensível como qualquer tipo de dopagem tradicional" (WADA-AMA, 2005: n. 1, p. 1, destaque nosso).

Assim, as relações modernas baseadas em pressupostos dualistas e organizadas a partir de lógicas binárias entre natureza e cultura, ou ainda, natural e artificial, tornam-se problemáticas a partir dos saberes e práticas biotecnológicas, pois essas vêm con-fundir as antigas relações existentes entre esses entes, como o caso do novo tipo de atleta emergente. O ser humano atleta, que se encontra nestas condições é, por assim dizer, fruto também desta polivalência, tornando-se um ser que está além e aquém do atleta normal ou do paratleta, não se situando mais neste dualismo desportivo, mas encontrando-se num atravessamento entre eles, como uma terceira via, outra opção. Talvez seja por esses fatos que Pistorius, caso descrito na introdução deste estudo, acabe ocupando um não-lugar, ou ainda, um lugar que não pertence mais a um polo (positivo, completo, como o atleta normal) ou outro (negativo, incompleto, deficiente, como o do paratleta), mas pertence às possibilidades de abertura e configuração de um novo lugar, a ser ocupado por um novo sujeito. Aqui, quiçá, resida a terceira via, o outro vetor, ou ainda, apenas mais uma das possibilidades de ser atleta.

As possibilidades de alteração do humano a partir das biotecnologias na busca de seu aperfeiçoamento, melhoria ou superação da condição humana, são analisados por Rose (2013) a partir do termo otimização. Por otimização Rose sugere o "controle do processo vital do corpo e da mente" (2013: 16-17) através das biotecnologias contemporâneas. Assim, as biotecnologias enquanto tecnologias de otimização buscam um controle total do processo vital do humano. Pode-se dizer, a partir desse conceito de otimização, que, frente às possibilidades de manipulação do ser humano por ele mesmo, as finalidades do uso das biotecnologias não residem mais em curar doenças ou melhorar a saúde, mas em maximizar, realçar e incrementar as funções do seu próprio organismo a partir dos interesses e critérios de seus "clientes". Rose (2013: 37) ressalta que os sujeitos que aderem a essas possibilidades de intervenção são "consumidores, fazem escolhas na base de desejos que podem parecer triviais, narcisistas ou irracionais, realizados não por uma necessidade médica, mas por um mercado e cultura consumidora". Estas possibilidades biotecnológicas, como ilustra Fagot-Largeault, "colocam nas cabeças das pessoas os fantasmas da artificialização da vida, da esperança de crianças perfeitas sob encomenda" (2004: 167), desde a ótica da alteração do corpo internamente, geneticamente, molecularmente.

Poder-se-ia inferir, contudo, que essa dimensão biotecnológica não está na ordem do acoplamento da robótica ou do computador no humano, tal como num pressuposto dualista ou bivalente (Sloterdijk, 2006). Antes, ele está em outro marco, em nível molecular. Essas alterações ocorrem "no nível orgânico, para refazer a vitalidade por dentro", pois o ser humano não se torna menos biológico (como no caso do acoplamento de máquinas no corpo), mas justamente ao contrário disso, tornando-se "mais biológico"8 (Rose, 2013: 37).

Embora não atenda plenamente a todos os argumentos citados por Rose (2013) no que se refere à otimização, como, por exemplo, ter sido uma escolha do próprio sujeito, o caso de Pistorius parece ocupar, aqui, um lugar privilegiado para refletir sobre a concepção adotada pelo autor. Embora o atleta tenha acoplado as próteses em seu corpo, tal como num paradigma bivalente, essas próteses são denominadas de "inteligentes", pois percebem o movimento do atleta e se adaptam às exigências desse movimento. Inclusive atletas normais reclamam das vantagens que as pernas de Pistorius lhe proporcionariam. Desse modo, Pistorius não é um atleta deficiente que apenas adaptou pernas mecânicas para sanar suas deficiências, ele tornou suas deficiências em maximização de suas potencialidades.

O doping genético funciona também nesse marco de otimização, na medida em que se "injetariam genes específicos no corpo a fim de incrementar a função de uma célula normal" (WADA-AMA, 2005: n. 1, p. 4). Ele opera, portanto, em outro nível, mais interno, invisível - por assim dizer -, inteligível apenas para alguns poucos experts, qual seja, o nível molecular. A otimização não se dá pela junção ou acoplamento de algo (por mais que esse algo, ao ser acoplado, passe a ser um novo corpo-sujeito), mas opera no nível da potencialização daquilo que já existia, funcionando na direção do aprimoramento do biológico e "possibilitando calcular novamente -ou esperando poder recalcular- os próprios processos vitais, a fim de maximizar seu funcionamento e incrementar seus resultados" (Rose, 2013: 34). Nesse caso, a otimização não se dá pelo acoplamento de partes mecânicas ao corpo, elas ocorrem em nível molecular, com a inserção de novas informações que, com o tempo, passam a ser do próprio corpo do atleta. Aliás, a molecularização da vida é um dos caminhos pelos quais Rose (2013) afirma podermos compreender as mudanças em nosso momento tecnológico atual.

Miah (2008), ao tecer reflexões sobre esses aspectos, argumenta que antes de se debater acerca dos usos das tecnologias no aumento da performance humana, julgando tais aprimoramentos como auxílios artificiais no desempenho e, por isso mesmo, passíveis de serem considerados doping, é necessário se debater o que se entende, justamente, por ser humano, pois é a partir dessas premissas que se pode averiguar, de forma mais ponderada, os usos das tecnologias nos corpos e sujeitos. Questões que procuram responder sobre a ética do uso de determinados métodos ou substâncias (e aqui especificamente sobre as possibilidades genéticas) devem ser precedidas por reflexões acerca "do que significa ser humano? O que constitui a prosperidade humana no esporte?", a fim de desconstruir o argumento antidoping baseado na premissa do natural versus artificial, que limita o avanço de discussões mais amplas não somente sobre o esporte, mas igualmente sobre as condições sociais e humanas como um todo (Miah, 2008). Tais considerações, se postas nas agendas de discussões acerca do tema, abririam novas possibilidades de reflexão e tomadas de direção, pois, ao tentar "entender o que seria ser um humano geneticamente modificado no esporte, teremos um contexto rico no qual será possível ver como os humanos geneticamente modificados se inserem em práticas sociais como o esporte" (Miah, 2008: 71).

Outro apontamento que merece destaque sobre estas discussões, pois parece incrementar ainda mais o debate, é o fato de que além da terapia gênica, e de suas várias possibilidades de uso no ser humano, outro campo promissor parece estar apontando no horizonte de possibilidades biotecnológicas. Esse ramo de descobertas e conhecimentos também se desenvolve no nível molecular, mas não é do tipo da codificação e aprimoramento genético, mas da compreensão e manipulação das proteínas. A proteômica é, assim, a designação que se dá para uma nova área da ciência que tem como objeto o estudo das proteínas e "é defendida por muitos como crucial para entender como seria possível alterar as características humanas" (Miah, 2008: 89). Segundo Rabilloud, essa nova área "é considerada por alguns como uma ciência mais complexa e eticamente alarmante, por suas possibilidades de adulteração de proteínas que podem levar à interferência direta nas capacidades do indivíduo" (2001, apud Miah, 2008: 89). Assim, o sequenciamento do genoma pode ficar "para trás" no tocante às realizações das tão sonhadas promessas biotecnológicas, na medida em que "deve haver, no mínimo, cinco vezes mais proteínas do que genes", e é possível que as proteínas tenham maior papel decisivo nas alterações humanas do que se tinha imaginado em relação aos genes.

Tais descobertas e/ou promessas parecem alarmantes nas potenciais alterações dos seres humanos e, concomitantemente, nos atletas que buscam aumentar seus rendimentos. Mesmo que ainda não tenham sido comprovados, e ainda não sejam passíveis de serem detectados, tais fatos levaram a WADA-AMA a chamar "a atenção da comunidade científica para o fato de pesquisadores usarem atletas para desenvolver substâncias e métodos para o incremento da performance, os quais estão claramente em contradição com a ética esportiva" (WADA-AMA, 2002: n. 2, p. 1). Além do mais, essa mesma Agência também indicou a necessidade de as associações de profissionais da área médica desenvolverem regras éticas quanto a esses procedimentos, assim como de buscarem a atenção da indústria farmacêutica para estes fatos, pois uma série de produtos farmacêuticos com potenciais usos para aprimoramento gênico tem sido adquiridos não apenas para propósitos terapêuticos, mas, também, para doping. No escopo desta discussão, a WADA-AMA sugere que sejam criados mecanismos de regulação para evitar tais acontecimentos (WADA-AMA, 2002: n. 2, p. 18). Ou seja, mesmo não havendo confirmações, parece que há uma iminente ameaça. E, sem saber como retardar ou resguardar o esporte desses acontecimentos, é necessário à WADA-AMA municiar e atacar por todos os lados, especialmente no sentido de prevenir e construir um imaginário de possíveis riscos a todos envolvidos.

O alarme feito pela WADA-AMA, para que estejamos atentos às possibilidades biotecnológicas gênicas no esporte, alertando indústrias farmacêuticas, associações médicas e outras entidades acerca do doping genético, acaba por não considerar que estas transformações já fazem parte das novas possibilidades de ser humano disponíveis na atualidade. Na esteira dessas argumentações, e procurando trazer a discussão do plano do alarme dos riscos para as possibilidades reais e existentes do uso das tecnologias sobre a vida e as tentativas de compreendê-las, Miah argumenta que "é importante reconhecer que os atletas geneticamente modificados nada mais são do que o próximo estágio do uso de outros meios tecnológicos, que estão lentamente aumentando as possibilidades do que os homens podem fazer" (2008: 34, destaques do autor). Além do mais, ressalta o autor, há uma grande diferença entre o doping enquanto estratégia de trapaça e as tecnologias de melhoramento da performance humana, essas largamente utilizadas em diferentes escalas pela humanidade (Santos y Manske, 2015).

Não devemos nos esquecer, contudo, que o próprio princípio do esporte é a busca da superação de limites, de transgressão de recordes, de exacerbação dos resultados. Se esse é, então, o princípio da competição esportiva, e as diferentes técnicas e tecnologias podem e são usadas para esse fim, com o intuito de melhoria do desempenho do desportista, e na medida em que muitas dessas tecnologias já estão disponíveis em larga escala, inclusive para os indivíduos não-atletas, especialmente para aqueles que, de uma forma ou outra, se incluem nas denominadas culturas físicas, o que se esperar das possibilidades emergentes de ampliação da vitalidade humana por meio das tecnologias gênicas? O mínimo que se espera é que se use tais tecnologias. É deste ponto de convergência que os diferentes tipos de atletas se conformam. É a partir da necessidade de superar as condições humanas "naturais" de desempenho, seja através de objetos acoplados ao corpo, seja através de terapia gênica no incremento do desempenho "por dentro", que novas subjetividades esportivas são forjadas. Assim, não é difícil compreender o porquê de as biotecnologias contemporâneas serem uma tentação aos desportistas de alto rendimento, tornando-os sujeitos não apenas enquanto possíveis usuários destas materializações, mas também -e de modo complementar- sujeitos das capacidades e promessas enunciativas destas condições biotecnológicas, na medida em que prometem a "superação dos limites do humano".

Vaz (2005) alude a estas prerrogativas quando reitera o caráter superlativo do esporte, no qual, mediante o atual estado da cultura contemporânea, a "ilimitada ultrapassagem de limites" se mostra cada vez mais necessária "aos sentidos dos consumidores esportivos", construindo diariamente a prerrogativa da espetacularização e superação dos extremos por parte dos atletas. No entanto, seria enganoso inferir que tais acontecimentos fazem parte somente do estado atual de nossa sociedade. Tal como descrito por Rose, a superação dos limites por parte dos humanos sempre os constituiu, pois

[...] na maior parte dos lugares e tempos que se tenha o cuidado de investigar, [eles] tentaram incrementar seus si-mesmos corporais usando oração, meditação, dieta, fórmulas encantatórias, exercícios físicos e espirituais, e muito mais para aumentar sua saúde, fertilidade, proezas esportivas, longevidade, acuidade, e quase o tudo mais (2013: 36).

Perera e Gleyse reiteram esta afirmação ao revisarem a história do doping no esporte francês, destacando que "há milênios e em todos os domínios, o homem procura ultrapassar suas próprias performances naturais com a ajuda de substâncias artificiais tendo por finalidade ir mais rápido, mais longe e por mais tempo" (2005: 56). Desse modo, novamente, o que está em pauta são as técnicas e tecnologias utilizadas, e não a finalidade, tendo em vista que são essas tecnologias que constituem subjetividades.

Assim, é possível indicar, de modo a encerrar este ensaio e abrir algumas frentes de discussão, a noção de tecnologia, tal como enunciada por Rose (2013). Em sua acepção, a tecnologia não envolve apenas técnicas ou aplicação de conhecimentos, mas configura, para além desses, formas de pensar e de agenciar estruturas sociais mais amplas, como, por exemplo, as relações sociais entre esportistas, o doping, as biotecnologias e as agências reguladoras; os modos como estes elementos serão articulados aos laboratórios e consórcios envolvidos com a engenharia genética; bem como organizações civis, tais como grupos de desportistas a favor ou contra o uso de doping, etc. Assim, é a partir dessas diferentes tecnologias disponíveis para o aumento do desempenho esportivo que diferentes subjetividades esportivas podem ser configuradas. É a partir dessas tecnologias que são possibilitadas formas de agenciamento e subjetivação que fogem da categorização tradicional e dualista normalmente referente aos atletas normais e deficientes, ou olímpicos e paralímpicos. É no interior e a partir dessas tecnologias que terceiras ou mais vias de constituição de sujeitos são forjadas. Nestas possibilidades surgem novos lugares a serem ocupados por sujeitos - é aqui que reside o sujeito homeotecnológico proposto por Sloterdijk (2006). São nestes interstícios ainda não regulados, não plenamente compreendidos e não totalmente normatizados que o atleta biotecnológico, como uma terceira (ou ainda outra) via, pode emergir. E emerge!


NOTAS

1 Entendemos "subjetivação", aqui, como aquelas "práticas e processos heterogêneos por meio dos quais os seres humanos vêm a se relacionar consigo mesmos e com os outros como sujeitos de um certo tipo" (Rose, 2001: 36).

2 O esporte olímpico é aqui entendido como parte de um dispositivo, de ordem discursiva e institucional, que estabelece os limites e as verdades para o que vem a ser o esporte, desde a reinvenção das Olimpíadas da Era Moderna.

3 Na falta de palavras para poder minar a própria lógica dualista em que estamos constituídos pela linguagem, fazemos uso das aspas, nestes dois termos ("normal" e "deficiente"), para marcar a insuficiência da linguagem em fornecer palavras que possam descrever ao mesmo tempo em que permitam escapar à racionalidade dualista. Como refere Fausto-Sterling (2002), o dualismo é uma maneira de pensar originada e originária da modernidade, na qual se concebe o mundo e o ser humano a partir da separação e oposição das coisas - incluindo aqui conceitos, sistemas de pensamentos, objetos - em pares opostos (Fausto-Sterling, 2002).

4 Apesar de sabermos que a linguagem é constituidora das categorias, dando-lhes existência e lugar no mundo, optamos, aqui, por não nos adentrarmos na discussão acerca das práticas de categorização e dos termos considerados como "politicamente corretos", pois queremos, precisamente, enfatizar a "grande cisão" que vem operando no âmbito dos esportes entre aqueles capazes para realizar/praticar/competir um dado esporte em razão de suas condições físicas e aqueles considerados inaptos por não possuírem tais condições. Na mesma direção, também estamos cientes de que há um conjunto de discussões que situam esta ideia de normalidade na divisão entre aqueles que praticam exercícios regularmente e aqueles que não o fazem, denominados na literatura especializada (Fraga, 2006; Bagrichevsky et al., 2007) de "sedentários", mas, como um recurso heurístico, estabeleceremos como "grande divisão" os corpos dos atletas de alto rendimento (em alguns casos, Olímpicos) e aqueles também de alto rendimento (em alguns casos Paralímpicos), mas cujos corpos escapam aos parâmetros tidos como normais. Aliás, temos ciência também que tais categorizações são falhas na medida em que não levam em consideração os múltiplos vetores que traspassam as possibilidades de ampliação, retificação, reparos e potencialização das capacidades humanas, que na maior parte das vezes borram as fronteiras entre as classificações tradicionais utilizadas para os seres humanos, especialmente os atletas.

5 Quando referimos que "tampouco os aproxima dos atletas ditos normais" queremos apenas dizer que, embora suas marcas possam se aproximar dos atletas olímpicos, como o corredor Pistorius, nas Olimpíadas de Londres, em 2012, eles continuam sendo vistos como atletas diferentes.

6 Como, por exemplo, a Agência Mundial Antidoping (WADA-AMA). Essa agência é uma organização mundial baseada num modelo híbrido de gestão, sendo público-privada, pois é mantida tanto pelo Comitê Olímpico Internacional (COI) como pelos Governos dos diversos países do mundo. A WADA tem como missão "promover, coordenar e monitorar a luta contra o doping no es-porte em todas as suas formas" (WADA-AMA, 2014).

7 Para a Organização Mundial Antidoping (WADA-AMA, 2009: 18), o doping é definido "como a ocorrência de uma ou mais violações do regulamento antidoping".

8 É neste sentido que Rose (op. cit.) também refere que esta noção de otimização, na direção da constituição de um corpo "mais biológico" (ampliar as próprias características biológicas), é diferente da noção de ciborgue (acoplamento à máquina, à tecnologia informática, etc.) inaugurada por Donna Haraway e extensivamente conhecida por diferentes campos de conhecimento no âmbito das ciências sociais e humanas.


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