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Hacia la Promoción de la Salud

Print version ISSN 0121-7577

Hacia promoc. Salud vol.20 no.1 Manizales Jan./June 2015

https://doi.org/10.17151/hpsal.2015.20.1.4 

DOI: http://dx.doi.org/10.17151/hpsal.2015.20.1.4

ENTRE BATALHAS E PEDRAS: HISTÓRIAS DE VIDA DE MORADORES DE RUA, USUÁRIOS DE CRACK

BETWEEN BATTLES AND ROCKS: LIFE STORIES OF HOMELESS CRACK USERS

ENTRE BATALLAS Y PIEDRAS: HISTORIAS DE VIDA DE INDIGENTES USUARIOS DE CRACK

Jaime Alonso Caravaca-Morera*
Maria Itayra Padilha**

* Máster y Especialista en Salud Internacional del Fenómeno de las Drogas. Universidad de Costa Rica. San José, Costa Rica. Autor para correspondencia. Correo electrónico: jacamorera@hotmail.com
** Ph.D en Enfermería. Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis. Santa Catarina, Brasil. Correo electrónico: padilha@nfr.ufsc.br

Recibido en julio 13 de 2014, aceptado en marzo 13 de 2015


Citar este artículo así:
Caravaca JA, Padilha M. Entre batalhas e pedras: histórias de vida de moradores de rua, usuários de crack. Hacia promoc. salud. 2015; 20(1): 49-66.



Resumo

Objetivo: Descrever as experiências cotidianas dos moradores de rua e os significados atribuídos ao crack. Materiais e Métodos: Pesquisa qualitativa, descritiva, de cunho sócio-histórico, foram realizadas entrevistas com 20 moradores de rua no período de janeiro a abril de 2013 nos principais fumódromos da cidade de Florianópolis, Santa Catarina, Brasil. Utilizou-se como referencial teórico, a teoria do Estigma do sociólogo Erving Goffman e as histórias de vida como técnica para coletar os dados. Os dados foram analisados segundo a Análise de Conteúdo de Bardin, a partir da qual surgiram duas categorias: "Vida na rua: entre batalhas e sobrevivência" e "Crack: a maldição que fascina". Resultados: Os resultados ressaltam que a rua foi concebida como um espaço urbano, fugaz, repleto de lutas, estigmas e liberdades simbólicas, onde a tarefa principal a ser desempenhada é a sobrevivência. Com relação ao crack, este tem um significado dicotômico: vida versus morte. Conclusão: A multifatoriedade da dependência ao crack e a moradia na rua, assim como a busca de soluções devem ser aplicadas com um olhar interdisciplinar e desestigmatizante às diversas dimensões envolvidas: pessoal, física, psicológica, social, econômica, familiar e jurídicas.

Palavras chave

Histórias de vida, crack, morador de rua (sem-teto), enfermagem, saúde pública (fonte: DeCS, BIREME).

Abstract

Objective: To describe the everyday experiences of homeless people and the meanings they give crack Materials and Methods: Qualitative, descriptive and exploratory research with a socio-historical approach. Data collection was conducted using direct interviews with 20 participants carried out from February to April 2013 in the main smoking areas in the city of Florinopolis, Santa Catarina, Brazil. Sociologist Erving Goffman's Stigma Theory was used as theoretical framework and life stories were used as the technique to collect data . Later data was analyzed using Bardin's content analysis from which two categories emerged: "Life on the street: between battles and survival" and "Crack: the curse that fascinates". Results: The results highlight that the street was conceived as an urban space, fleeting, full of struggles, stigmas and symbolic freedom where the main task is related to survival. With regard to crack, this had a dichotomous meaning: life versus death. Conclusions: The multifactorial aspect of the phenomena of addition to crack and the living on the streets must be seen under the execution of interdisciplinary and woth no stigmatization answers which take into consideration the different dimension immerse in their personal, physical, psychological , social, economical, family and legal conceptions.

Key words

Stories of life, crack, homeless, nursing, public health (source: DeCS, BIREME).

Resumen

Objetivo: Describir las experiencias cotidianas de personas que viven problemas de callejización y los significados que ellos atribuyen al crack. Materiales y Métodos: Investigación cualitativa, descriptiva y exploratoria, de cuño sociohistórico; la recolección de los datos se dio por medio de entrevistas directas con 20 participantes, realizadas durante los meses de febrero a abril de 2013 en los principales fumódromos de la ciudad de Florianópolis, Santa Catarina, Brasil. Se utilizó como referencial teórico, la teoría del Estigma del sociólogo Erving Goffman y las historias de vida como técnica para recolectar los datos; posteriormente, esos datos fueron analizados según el Análisis de Contenido de Bardin, a partir del cual surgieron dos categorías: "Vida en la calle: entre batallas y sobrevivencias" y "Crack: la maldición que fascina". Resultados: Los resultados revelan que la calle fue concebida como un espacio urbano, fugaz, lleno de luchas, estigmas y libertades simbólicas, donde la principal tarea está relacionada con la sobrevivencia diaria. Con relación al crack, este tuvo un significado dicotómico: vida vs muerte. Conclusión: La multifactorialidad de los fenómenos de la adicción al crack y la callejización debe ser contemplada en la ejecución de respuestas interdisciplinares y desestigmatizantes, que consideren las varias dimensiones inmersas en sus concepciones personales, físicas, psicológicas, sociales, económicas, familiares y legales.

Palabras clave

Historias de vida, crack, indigentes, enfermería, salud pública (fuente: DeCS, BIREME).



INTRODUÇÃO

Desde o início do processo de integração social, se reforça no imaginário coletivo, que o lar é a representação mais pura de proteção, amor e cuidado, por esse motivo é que devemos sempre habitar dentro desse núcleo, uma vez que o perigo fora dele parece iminente (1). É dentro do núcleo familiar onde se cruzam as muitas histórias individuais, coletivas e culturais que nos convertem em seres particulares e individuais. Por outro lado, as ruas se tornam em um espaço para revelar os nossos conflitos sociais e defender os nossos interesses, assim como para expressar a diversidade cultural, aquilo que somos (ou pensamos que somos) e em muitos casos, é nas ruas onde desvelamos as nossas (in)estabilidades, medos e alternâncias pessoais.

Pensando dessa forma, é possível conceber a rua como um lugar não apto para ser habitado, e sim para ser transitado. A apropriação desse espaço concorre com as disposições regulamentares sociais que definem o correto (adequado) do incorreto (inadequado), gerando diferentes formas de marginalização, medo e exclusão social (2, 3).

As pessoas que vivem nas ruas são indivíduos que algum dia deixaram suas casas como produto de uma decisão pessoal ou por algum desequilíbrio em suas histórias de vida familiares, socioeconômicas ou culturais que os obrigou (implícita ou explicitamente) a se apropriar desse espaço público (3).

Com o passar do tempo, os moradores de rua aprendem e criam estratégias para sobreviver nessa floresta de concreto. Algumas dessas pessoas adotam as ruas como suas casas desde a tenra idade, outras o fazem durante a juventude ou já adultas, isso pode ser explicado por diversas razões, como: a neo-globalização e a própria questão social (a pobreza) denominada por Marx e outras determinantes tais como o alcoolismo, dependência química, violência familiar ou algumas doenças mentais.

Neste contexto urbano, a satisfação das necessidades básicas como dormir, comer, trabalhar, estudar ou a realização da higiene pessoal se tornam lutas e tarefas quase impossíveis de serem realizadas. A vida se desenha no meio do abandono, rejeição, discriminação, estigmas e solidão que são enfrentados cotidianamente.

Definir a situação de rua é um problema complexo. Existem visões heterogêneas quanto a percepção desse fenômeno, algumas delas reduzem o problema apenas à falta de moradia, e outras o configuram como uma situação não-transitória que vai muito além disto (4-6).

Em 2007, com a publicação do Censo sobre a população em situação de rua realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística e o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, o Estado brasileiro reconhece a existência de mais de 300 mil pessoas acima de 18 anos, em 71 municípios, que carregam junto à sua carência material, uma história de solidão, esquecimento e obstáculos ao acesso às oportunidades para uma melhor qualidade de vida. Isto representa 0,15 % da população total, o que gera uma referência importante para compreender as particularidades dessa população (7).

Os moradores de rua são um grupo diverso de indivíduos que compartilham a característica da sobrevivência em um ambiente hostil através de diferentes atividades. São pessoas que pernoitam em lugares públicos ou privados, que não possuem uma infraestrutura fixa, regular e adequada (que pode ser caracterizada como moradia), que têm uma desfiliação marcante (pouco sentido de pertencimento) e que adotam a rua como lar (6).

As condutas realizadas por este segmento populacional são diversas, porém muitas delas estão relacionadas ao consumo de substâncias psicoativas, dentre delas o crack. Na atualidade, esta droga é considerada como um problema emergente (e relativamente recente) na Saúde Pública. Embora os primeiros registros de sua chegada ao Brasil sejam do final da década de 1980, o crescimento exponencial dos usuários da droga nos últimos anos tem sido alarmante (5).

Consideramos que as instabilidades do consumo de crack, merecem uma cuidadosa apreciação crítica de suas condições de surgimento e recrudescimento no cenário contemporâneo. Assim sendo, se faz pertinente problematizar sobre os significados que são atribuídos nos discursos dos próprios consumidores, no sentido de (re)conhecer quais seriam as melhores medidas a serem adotadas para o enfrentamento da questão.

Desta forma, os problemas que envolvem estes fenômenos (a moradia na rua e o consumo de crack) são complexos devido ao fato de que seu uso compulsivo gera desastrosas repercussões nas dimensões individuais, comprometendo suas relações familiares, fragilizando seus vínculos sociais e levando o indivíduo a adotar um processo de marginalização (8).

Este estudo é motivado pelo aumento significativo da indigência, especialmente no que se refere aos usuários de crack e tem como objetivo descrever as histórias de vida dos moradores de rua, assim como suas experiências diárias e os significados atribuídos ao crack.

MATERIAIS E MÉTODOS

Pesquisa de natureza qualitativa elaborada dentro de delineamentos sócio-históricos que utilizou as histórias de vida como técnica para capturar as experiências de moradores de rua usuários de crack do município de Florianópolis, Santa Catarina, no período de fevereiro a abril de 2013.

As histórias de vida investigadas para este estudo foram selecionadas do grupo de moradores de rua que frequentavam os "fumódromos" localizados na região central da cidade. A composição dos casos estudados foi realizada a partir da verificação de critérios de inclusão tais como: ser morador de rua da cidade de Florianópolis há pelo menos dois anos (este período garantiu uma aproximação maior do sujeito com o cenário em estudo e uma experiência maior com as ruas); idade igual ou superior a 18 anos; ser usuário de crack (porém não devia estar sob o efeito do crack no momento da entrevista). A amostra foi constituída por 20 moradores de rua, todos usuários de crack, de ambos os sexos (15 de sexo masculino e 05 de sexo feminino), com idades entre 18-35 anos. Após a aproximação inicial e o esclarecimento de possíveis dúvidas sobre o estudo, em especial sobre a confidencialidade das informações oferecidas, os indivíduos aceitaram participar e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) e o Termo de Cessão da Entrevista, cumprindo assim com todos os princípios éticos fundamentados nas Normas e Diretrizes que regulamentam a Pesquisa que envolve Seres Humanos, conforme Resolução nº 466, de 12 de dezembro de 2012, do Conselho Nacional de Saúde (CNS). O projeto deste estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UFSC (CEP/UFSC) em 22 de fevereiro de 2013, conforme certificado nº 202.673.

As entrevistas, guiadas por um roteiro semi-estruturado, foram realizadas individualmente, nos lugares nos quais se encontravam os participantes, ou seja, nas ruas, dentro dos fumódromos, praças, debaixo de marquises, sob pontes e viadutos. Em média, tiveram uma duração de 60 minutos. Esse tempo esteve determinado principalmente com as singularidades do estilo de vida dos sujeitos do estudo (síndrome de abstinência à droga, sua vida nómade e sem horários pre-estabelecidos). Algumas das perguntas geradoras desta entrevista foram: como chegaste morar nas ruas?, poderias me falar sobre teu cotidiano aqui nas ruas? e, quais são as principais dificuldades que enfrentas diariamente? Dada a especificidade da metodologia, as entrevistas foram gravadas por meio de um gravador digital, e na sequência foram cuidadosamente transcritas. Adotou-se a técnica de saturação de dados como forma para delimitar a amostra deste estudo, que diz respeito à repetição continua de discursos dos sujeitos pesquisados. Os nomes atribuídos nas falas são fictícios para não comprometer a identidade dos sujeitos participantes.

Para a análise do material coletado foi utilizada a técnica de análise de conteúdo, de Lawrence Bardin a qual expõe e sistematiza o conteúdo das mensagens e a expressão das informações obtidas seguindo as seguintes etapas: coleta e preparação das informações; unitarização do conteúdo em unidades; classificação das unidades em categorias; descrição e interpretação. A interpretação dos dados realizou-se utilizando o referencial teórico do Estigma de Erving Goffman (9), com o intuito de revelar como os processos de estigmatização são vivenciados cotidianamente pelos moradores de rua.

RESULTADOS

A partir da análise realizada surgiram as seguintes categorias "Vida na rua: entre batalhas e sobrevivência" e "Crack: a maldição que fascina", as quais refletem os sentimentos e as experiências que são elaboradas pelos moradores de rua no convívio cotidiano com seu habitat. Os participantes da pesquisa possuíam histórias de vida preenchidas de singularidades, entretanto, adotaram a mesma saída para a resolução dos conflitos vivenciados: morar na rua.

Existem teorias e princípios que classificam em três grupos as causas que levam à moradia na rua, levando em consideração as influências micro, meso e macro estruturais. As influências microestruturais estão relacionadas com o conjunto de características pessoais (emocionais e psicológicas) e familiares, que interferem na decisão de morar na rua (2).

As investigações nesta vertente definem a chegada à rua e a permanência nela devido principalmente aos desequilíbrios individuais, psicoemocionais e familiares; destacando que a maioria dos atuais moradores de rua provém de famílias vulnerabilizadas, com carências emocionais explícitas e onde a imposição de regras foi limitada como pode ser observado nas emissões a seguir:

Quando eu tinha 12 anos minha mãe perguntou: –Você já fumou maconha? – Eu falei: -Já fumei, sim. – Ela me olhou e nem ficou preocupada, meus pais nunca se preocuparam na verdade [...] dai eu achei chato continuar morando em casa porque nunca recebia atenção e foi quando decidi ir pra rua, tinha acho que uns 16-17 anos [...] aqui tudo é diversão [...] tu não sentes nada. (Wellington, 2013)
Eu decidi morar na rua quando comecei a pegar o crack [...] meus pais nem ligaram para isso, eu era como se fosse um fantasma lá em casa [...] eu não existia [...] daí um dia fiquei de saco cheio e me joguei na rua [... aqui eu posso ser eu mesmo e fazer o que eu quero com minha vida. (Francisco, 2013)

Já as características mesoestruturais defendem a postura de que as causas da moradia na rua estão relacionadas com à falta de oportunidades a educação, o aumento populacional sem planejamento, a violência social, o desemprego e todas as outras deficiências que caracterizam um sistema comunitário precário (10, 11):

Depois de um tempo a casa começou a ficar pequena para mim, vivendo sempre na beira da miséria, sem "trampo", sem dinheiro [... eu gostava mais era de ficar na rua, pensando e olhando as pessoas que passavam [...] eu gostei da sensação de grandeza que a rua me deu. (Cristiano, 2013)

Finalmente encontramos o terceiro grupo que explica as causas da moradia na rua; este grupo é o das características macroestruturais que considera como agente causal os processos de globalização, urbanização e neoliberalismo. Graeff indica que estes processos estão excluindo dos seus processos de desenvolvimento o correspondente a dois terços da população mundial e, por conseguinte, as oportunidades estão ficando limitadas a uma elite cada vez mais restrita (12).

Por outro lado, no caso dos participantes desta pesquisa o consumo de drogas foi uma causa explícita que impulsionou o início da vida na rua. Segundo os mesmos, o contato com as drogas ocorreu na infância, incialmente com drogas lícitas como o tabaco e o álcool, posteriormente com drogas ilícitas como a lança perfume, a cola de sapateiro, os cogumelos, as anfetaminas, a maconha, o ácido lisérgico dietilamida (LSD), a cocaína e, por fim, o crack. Foi a partir do consumo desta última droga, que os sujeitos tomaram a decisão de iniciar sua vida como moradores de rua:

Cheguei aqui porque não queria morar mais em casa por causa desta merda (referindo-se ao crack) [...] as paredes começaram a me apertar, entendeu? [...] a droga te faz isso, querer ficar na rua, querer morrer, não querer viver mais [...]. (João, 2013)

1) Vida na rua: entre batalhas e sobrevivência

Falar sobre a dinâmica das relações cotidianas existentes entre as pessoas que habitam na rua é uma tarefa complexa, no entanto, se faz importante desvelar de forma clara o seu cotidiano com a finalidade de compreender como é constituído seu mundo a partir das vivências e das experiências individuais e coletivas.

A rua é um espaço caraterizado como um fenômeno social com vários significados dicotômicos. Os discursos dos participantes deste estudo, apresentaram-se marcados por duas palavras que, segundo os mesmos, descrevem claramente suas vivências cotidianas: batalhas e sobrevivência. A capacidade de se virar (nas palavras dos moradores de rua) e de definir estratégias para garantir seu espaço dentro da rua fazem parte das tarefas a serem realizadas com a finalidade de garantir um dia a mais nas vidas destas pessoas.

As batalhas aqui relacionadas com o combate às adversidades diárias, à sobrevivência, ao trabalho ou esforço que os moradores de rua fazem para vencer os obstáculos e satisfazer as suas necessidades como seres humanos, ou seja, não se trata de batalhas relacionadas à violência física, mas sim à luta contra a fome, o crack, o estigma e as condições climáticas, por exemplo.

Com relação à palavra sobrevivência, o conceito esteve relacionado ao processo de se manter vivo diariamente, já que os participantes são conscientes das condutas de risco que realizam e do perigo que os rodeia, como ilustrado nas falas a seguir:

Rua é ter coragem, para sobreviver, a gente não vive, a gente sobrevive [...] cada dia que passa é uma vitória para a gente [...] viver na rua é viver sem proteção [...] uma vez um cara me deu "3 furadas" aqui (sinalizando para o abdômen) e nem soube porque [...] eu estava deitado e só senti o frio do sangue [...] mas normal, faz parte [...] aqui na rua eu fico sentado em um canto esperando a morte chegar. (Marcelo, 2013)
A gente tem que batalhar na rua, aqui a vida não tem um significado [...] a gente está sozinho, a gente não tem amigos, não tem família, não tem trampo, a gente vive como mortos-vivos [...] de dia quando não estamos dormindo estamos fumando, de tarde quando não estamos fumando estamos roubando e de noite quando não estamos fumando estamos fazendo confusão. (Pedro, 2013)

Diante destes relatos, o cotidiano parece ter uma rotina já estabelecida: dormir, acordar, sair para batalhar e procurar algum dinheiro para comer ou comprar o crack (seja pedindo esmolas, roubando ou fazendo programas), drogar-se durante às noites e se manter acordados, pois segundo os participantes, a noite na rua é mais perigosa que o dia, aparentemente o medo de dormir à mercê das condições climáticas e ambientais noturnas cria um jogo de sentimentos que mexem com estes corpos marcados pela precariedade.

Assim se estabelece o cotidiano neste espaço, deixando claro que algumas atividades diferentes podem fazer parte dessa rotina, mas não como fatores definidores. A dinâmica da rua parece estar já pré-estipulada por rotinas nada elaboradas, como por exemplo:

Bom, minha vida é bem simples [...] basicamente a gente acorda de tarde, faz alguma "parada", pede comida ou cata do lixo [...] tudo para sustentar o vício [...] a gente não mede esforços para se drogar principalmente durante as noites, a gente faz o que é preciso ser feito. (Jorge, 2013)
Na maioria do tempo tenho que fazer programas1 para comer ou para comprar as pedras [...] quase nunca tenho sorte [...] ontem fui fazer com um velho, mas minha intenção era de "fazer à mão" (roubar) [...] aí me quebrei porque ele descobriu que eu ia roubar e dai me bateu e roubou os únicos dez reais que eu tinha ganhado por catar papel [...] que ódio! (Luiza, 2013)

Os participantes referiram não contar com horários pré-estabelecidos para o café da manhã, o almoço ou o jantar e eles se alimentam na medida em que sentem fome. A batalha contra a fome acaba impondo alguns hábitos que passam a compor o cotidiano de quem se encontra na rua. Nas ações exercidas com regularidade encontramos o ato de pedir esmolas como recurso para apelar aos sentimentos caritativos das pessoas que transitam nesse perímetro, como apresentado a seguir:

A gente tem que batalhar, quando a gente é vítima das pedras fica à mercê de tudo [...] quando bate uma vontade de fumar uma pedra, nessa hora vale qualquer coisa, o principal que eu faço é pedir às velhinhas [...] é complicado, nem sempre a gente consegue dinheiro. (Eloisa, 2013)
A rua me transformou, deixei de ser o que eu era [...] nunca imaginei que pudesse chegar ao ponto em que estou, pedindo comida ou dinheiro nas ruas, fedendo, malvestido e sem rumo [...] eu não sei quem sou, não me reconheço mais [...] com essa droga você esquece quem é. (Jonas, 2013)

Constata-se também que a prática de pedir esmolas, torna-se uma das estratégias da batalha diária, porém os participantes reconhecem a dificuldade em conseguir dinheiro por meio deste método, por essa razão devem utilizar outras estratégias como, por exemplo, roubar ou assaltar ou mesmo se prostituir com a finalidade de sobreviver na rua:

Eu acordo e falo para mim que hoje vou fumar tudo o que eu puder [...] como não tenho dinheiro, às vezes peço esmolas ou até pego alguma bolsa de menina na rua [...] é o jeito [...] e com esse dinheiro que consigo eu tento sobreviver. (Murilo, 2013)
Minha namorada fazia programas para conseguir o crack para a gente [...] eu às vezes fazia programas também, com homens, mulheres, sei lá [... eu não sou "viado", mas eu necessitava conseguir a droga para nós dois [...] quando a gente faz isso a gente não se cuida, a gente só dá o cú e não se importa se tem ou não camisinha [...] aí ela pegou a AIDS e morreu há dois anos [...] por isso eu te falei que quando me apresentaram o crack me apresentaram a morte [...] já vi muitos amigos morrerem por causa desta bosta. (Jacks, 2013)

Outra batalha encontrada nas histórias de vida dos moradores de rua foi a batalha contra a violência. A totalidade deles referiu a convivência com atos de agressão física no seu dia a dia; como apanhar, bater, matar e morrer, os quais são comportamentos constantes utilizados como estratégias de sobrevivência neste ambiente hostil. Na maioria das vezes as brigas ocorrem por causa do dinheiro para comprar alimentos e principalmente o crack. Este comportamento antissocial não só poderia estar relacionado com a violência familiar e comunitária que foi experimentada desde criança, ou seja, é a reprodução da violência da qual foram vítimas na infância em seus lares ou comunidades, como também se convertem em uma das principais ferramentas de aprendizado que as pessoas mais experientes transmitiram para eles como forma de obter dinheiro para satisfazer suas necessidades diárias:

Olha, até três meses atrás eu tinha todos os dentes normais, deram mais de 20 chutes na minha cabeça e na minha cara e quebraram todos meus dentes para me levar um celular que tinha roubado. (Daniel, 2013)
Tem muita gente agressiva aqui, de chegar e bater em você quando você está de boa, tranquilão [... na rua tem pessoas que usam crack e se transformam, querem te matar, querem te bater. (Raul, 2013)

A rua é um espaço que gera muitas ilusões, dá a impressão de que tudo é acessível e que nela tudo pode, porém a liberdade que a rua possibilita é relativa. O cotidiano nas ruas é marcado pelas constantes caminhadas sem um rumo definido, pelo consumo de crack, pela violência e pela busca diária da sobrevivência. Nesta forma de existir e (sobre) viver, o que interessa é o presente, sendo o passado e o futuro desconsiderados pelo consumo de crack: Eu não tenho medo do amanha, nem penso no que vem para mim no futuro [...] o futuro para mim não é uma possibilidade [...] a rua e o crack tiraram minha esperança [...] o crack foi o demônio que roubou minha vida. (Claudia, 2013)

O futuro? O quê é isso? [...] a vida na rua é difícil de ser explicada [...] aqui a gente só está para fumar, é uma coisa difícil de te explicar [...] a pedra me tirou o sentido de viver [...] a gente não vive, sobrevive [...] a gente tem que batalhar para conseguir o mínimo. (Rafael, 2013)

São muitos os significados que os participantes atribuem à rua, mas todos estão condensados e amalgamados na palavra liberdade, que na realidade é uma liberdade condicionada, pois embora percebam que não tem horários nem regras a cumprirem, estão presos ao verdugo que eles consideram a maior maldição: o crack.

Rua é liberdade! Como te falei. A rua é liberdade, você não tem hora pra chegar, você não tem hora pra sair, você faz o que você quer, porque você não deve satisfações a ninguém! É liberdade, quem busca liberdade vai para rua mesmo. (Ana, 2013)
Morar na rua para mim é liberdade [...] é ter os meus horários, poder fazer o que eu tenho vontade, poder fazer todas as coisas que eu quero [...] a rua pra mim é minha casa [...] casa não é ter uma estrutura, casa para mim é uma coisa mais sentimental ...] eu posso estar em um parque fumando e me sentir em casa ou posso estar cá ou lá e me sentir em casa [...] a rua é minha casa. (Diego, 2013)

A rua para eles é, portanto, um espaço líquido e fugaz que não tem uma forma definida, adota a forma da sociedade onde se encontra. É um espaço público-urbano sem função nem legislação, um espaço de todos transformado em terra de ninguém, destinado a ser habitado e não só transitado. A vida na rua se converte em uma mistura de emoções, tristezas, saudades, medos, riscos, prazeres e liberdade.

2) Crack: a maldição que fascina

Nesta pesquisa os participantes, definiram que o crack foi o motivo pelo qual iniciaram a construção da vida na rua e reconheceram que sua relação com a droga era evidentemente patológica; a droga está sempre presente no seu cotidiano como elemento primordial para a permanência dentro deste espaço. O contato constante com o crack fez com que seus sonhos, motivações, aspirações e projetos de vida se transformassem em fumaça e ilusão e se convertessem em um executor que os tortura diariamente:

Quando fumei e queimei a pedra pela primeira vez eu perdi minha vida (referindo-se ao crack) [...] aos 17 anos eu descobri o céu [...] foi uma sensação muito louca, assim ó [...] não consigo nem te falar o que foi isso [...] o crack é essa pedrinha maldita que me levou a morar aqui (na rua). (Daniela, 2013)
No caminho para o parque a gente bebia uma garrafa e no parque a gente bebeu mais ainda [...] a sensação da bebida começou a ficar fraca para mim [...] aí foi quando meus amigos me apresentaram a morte: o crack [...] esta puta droga que me prende aqui [...] eu me lembro de que nunca experimentei nada melhor do que isto [...] o crack é morte, é morrer dia após dia. (Samuel, 2013)

O crack na visão dos moradores de rua tem um significado dual: por um lado é a sensação mais prazerosa e o motor da vida; e por outro é interpretado como o morrer diariamente. Alguns participantes afirmaram que a rua só é boa porque tem o crack, deixando de lado todos os males e prejuízos que já foram abordados:

Ninguém imagina como o crack é maravilhoso e ruim ao mesmo tempo [...] o crack te dá euforia, sei lá [...] a gente não sente fome e tu acha que tens superpoderes, tens mais força, mais energia [...] se tu queres caminhar tu consegues caminhar até chegar ao Rio de Janeiro [...] a sensação é muito gostosa, sabe? [...] sei lá a gente fica de bem com a vida, bem com tudo, podendo curtir a vida ao máximo [...] eu me lembro que o crack me ajudou a conhecer muitas pessoas, mas ao mesmo tempo me ajudou a perder as pessoas que eu amava. (Murilo, 2013)
O crack é uma forma de libertação, se eu estou triste eu fumo, se estou feliz eu fumo, se eu estou pensativo eu fumo, se eu estou com fome eu fumo, se eu comi eu fumo [...] o crack para mim é um prazer [...] se eu preciso pensar em alguma coisa eu acendo a pedra e pronto consigo resolver ou adiar meus problemas com o crack [...] se tu tens algum problema tu vais lá e compras uma pedra e resolves [...] o problema é que eles vendem essa pedra com um brinde à morte. (Marcelo, 2013)

O crack é uma tecnologia de consumo associada ao cenário de alívio, êxtase e diversão, assim, em múltiplas ocasiões essa droga é percebida como o anestésico que ameniza as dores emocionais e físicas que a territorialidade não fixada, a perambulação constante e olhares estigmatizantes. A experiência sideral que o crack oferece faz com que os riscos e os perigos sejam banalizados, o importante no dia a dia se configura na representação prazerosa do crack, como demonstra o depoimento a seguir:

O crack te afunda mais porque te faz ser consciente da tua própria ruína, mas eu fumo para liberar um pouco e curtir a vida [... com o crack tu já não sentes nada, não sentes dor, sono, fome, não queres viver [...] não queres fazer nada. (Eloisa, 2013)

Os moradores de rua vivem apenas o dia a dia, o crack faz com que não se preocupem com o amanhã. A consciência do seu estado atual revela também a morte com um sentido e significado profundo, por um lado eles sabem que o consumo crônico da droga provoca danos significativos na saúde que os leva a acelerar seu processo de morte e morrer ao tempo que já observaram muitas pessoas falecerem escravas deste vicio.

O crack é uma droga que te leva a isso: sujeira, merda, bosta (menção ao local da entrevista) [...] o crack te leva à morte [...] é uma doença que nem a AIDS [...] é uma droga sem sentido, você usa e usa e não se sacia nunca. (Francisco, 2013)
Já vi muitos amigos morrerem [...] e já vi a minha namorada morrer por causa desta merda [...] o crack é o diabo. (Cristiano, 2013)
A droga mexeu no meu corpo [...] quando eu fumei crack me senti eu, senti que não precisava de nada no momento me senti vivo, que coisa né? [...] nesse momento me senti vivo e agora me sinto morto [...] que desgraça!!! [...] agora deixei de ser eu mesmo [...] a única coisa que tenho certeza é que eu saí de casa, para não voltar ...] sai de casa para morrer. (Jonathan, 2013)
Foi numa festa que conheci o crack [...] o melhor que já experimentei [...] o crack é 10 vezes a sensação do amor, imagina 10 vezes o amor [... o amor acaba contigo, te deixa triste, te da raiva, te mata, imagina 10 vezes isso [...] cara, com o crack a gente morre, morre todos os dias, a morte convive com a gente [...] a gente vive caminhando à beira da morte. (Jorge, 2013)
A morte é uma parceira, é uma companheira [...] quando tu és pedreiro (usuário na gíria dos moradores de rua) a morte fica sempre contigo [...] está agora com a gente [...] ela está sempre presente [...] se eu vou queimar (fumar crack) ela vai, se eu vou comer ela vai comer comigo, ela sempre está te olhando (silêncio) [...] o crack é morte [...] na verdade é uma coisa meio estranha [...] o crack é uma viagem transitória entre a vida e a morte ...] com o crack tu estás totalmente morto, totalmente triste, ascende a pedra aí tu te sentes viva [...] quando o crack acaba tu te sentes morta de novo, com vontade de se sentir viva [...] aí tu descobres que tudo aquilo não passou de uma ilusão [...] na verdade eu não aconselho ninguém a fumar crack [...] eu não dou crack pra ninguém porque eu não gostaria que ninguém morresse como eu estou morrendo. (Luiza, 2013)

O consumo do crack na visão dos moradores de rua é um ato suicida, que responde à satisfação das necessidades de gratificação imediata e à debilitada interiorização do autocontrole, fatos que estimulam o uso da droga, embora saibam as consequências que produzirá no futuro próximo.

DISCUSSÃO

A questão da moradia na rua, longe de ser um fenômeno social novo e particular na América Latina, é um processo recorrente no contexto do pós-industrialização e do desenvolvimento urbano constituindo, portanto em uma preocupação social não recente, sendo, por isso, objeto de estudo há décadas na tentativa de despertar uma consciência social sobre as particularidades dessa população.

Há uma imagem construída através do discurso social e reproduzida no cotidiano da sociedade, onde o morador de rua está associado no imaginário social ao medo, alcoolismo, mendicância, vadiagem, toxicodependência e delinquência. Sendo assim, os rótulos anteriormente mencionados oferecem símbolos de desqualificação real ou ilusória que quebram a imagem do morador de rua e os (des)identificam como pessoas (9).

Como mencionado anteriormente, não existe um consenso real dos fatores que incitam a moradia na rua, já que esta situação é multifatorial, envolvendo causalidades que misturam os conceitos preconizados por várias abordagens. Sendo assim, pode-se concluir que algumas pessoas optam pela rua como lar, provavelmente, porque houve falhas em alguns espaços de socialização como a família, o grupo de pares, a escola e a comunidade nos quais elas encontram-se inseridas. A escassez de emprego, a pobreza, a violência e as drogas, não são por si as causas que promovem o abandono do lar, mas a conjunção dessas problemáticas e as especificidades de cada indivíduo, são as que determinam o momento no qual a tolerância é esgotada e se opta pelo abandono da casa.

Cada sociedade exerce mecanismos de controle para garantir que a maioria de seus membros atuem de acordo com as normas, nessa lógica as pessoas que não obedecem as regras ou as quebrantam são excluídas e estigmatizadas socialmente, neste caso os moradores de rua fogem (no imaginário real e coletivo) das normativas estipuladas, pelo qual se convertem em alvo do estigma. Este estigma permanece vigente quando certos elementos de rotulação, estereotipização, perda de status, discriminação e desqualificação convivem simultaneamente em uma relação intra ou interpessoal (9).

Percebeu-se que a moradia na rua e o consumo de crack colaboram com a fixação prematura de rótulos impostos pela sociedade e ajuda no processo da autoisolação social, e baixa autoestima. Goffman (9) afirma que a estigmatização é uma construção dinâmica que pode aparecer devido a três situações específicas: as abominações do corpo (deformidades físicas, amputações, doenças mentais, etc.); culpas de caráter individual (vontades fracas como o consumo de crack e a moradia na rua) e estigmas tribais de raça, nação e religião; e que são transmitidos pelas interações diárias com os demais atores sociais através da linguagem. Nessas três tipologias pode-se encontrar uma característica convergente relacionada com a presença de uma pessoa que poderia facilmente fazer parte de uma relação social, porém esta é afastada por causa desse traço que chama a atenção e não é socialmente aceito, preponderando o estigma sobre outros atributos positivos.

Por outra parte, a rua é um contexto urbano que passa ser o palco de múltiplos acontecimentos, fatos e representações que são construídos pelas diversas subjetividades e especificidades dos agentes que nela transitam. Algumas pessoas só caminham pela rua sem desvelar um significado próprio para ela, mas tem outras que se apropriam deste espaço urbano para torná-lo seu habitat, seu lar e a partir disso atribuem sentidos, constroem sentimentos, elaboram códigos, identificações e apegos.

O conceito de população de rua evidencia uma relação polarizada onde se subjuga o sujeito (homem-mulher) ao objeto (rua). Sob esta concepção considero importante colocar o sujeito sobre o objeto, ou até pensaria em criar uma analogia onde a rua está para o sujeito da mesma forma em que ele está para a rua, e ambos se constroem a partir da relação que estabelecem, algumas vezes se colocando como sujeito e algumas outras como objeto.

A interiorização da rua como um lugar de múltiplos significados, possibilita aos moradores de rua a construção de saberes que facilitam a mobilidade, o poder e o conhecimento empírico, ou seja, a medida em que eles significam e constroem a rua, a rua constrói neles uma personalidade repleta de significados (13).

Ao reconstruir a história de vida destes sujeitos através de seus relatos é perceptível notar que desde idades prematuras foram pessoas privadas da educação e do acolhimento da instituição social mais importante: a família, pois sempre viveram em um ambiente de pobreza e estiveram marcados pelos mais diversos estigmas de menino malandro, drogado, delinquente e perigoso.

A desqualificação, os rótulos e estereótipos são processos que promovem a gênese e perpetuação dos estigmas, caracterizando-se por escolher um determinado atributo considerado como anormal e aplicá-lo a alguém, não contemplando o conjunto de outras características positivas que o sujeito possa ter, por exemplo, o morador de rua não é só o que os rótulos de "malandro, vagabundo e crackeiro" definem que são. Os rótulos que desqualificam e descrevem pejorativamente uma pessoa promove a divisão de dois grupos definidos "nós" e "eles". O grupo dos "nós" é caracterizado pelo conjunto de valores que edificam uma visão de uma pessoa "normal" expresso sob a visão dominante da sociedade. O grupo dos "eles" é caracterizado por todas as pessoas que são diferentes de "nós", e portanto rotuladas e diminuídas. É a partir da desqualificação e rotulação utilizadas às pessoas estigmatizadas que os estereótipos são criados, fomentando consigo o processo da estigmatização (9).

Claramente os participantes, sempre tiveram dificuldades para aceitar o processo de constituição e acatamento de regras, leis e normativas impulsionadas por qualquer pessoa ou instituição. A estigmatização aqui aparece como uma situação totalmente condicionada pelo acesso ao poder social, econômico e político, gerenciado por algumas instituições sociais que reforçam a identificação das diferenças, a construção de estereótipos, exclusão, rejeição e desaprovação de pessoas rotuladas e colocadas dentro de uma categoria de anormal aqueles que não estudam ou não possuem um vínculo familiar forte (9).

Existe entre os entrevistados o reconhecimento da rua como escola informal, transmissora de conhecimentos principalmente relacionados à sobrevivência. Nela se dá uma transmissão de saberes que colaboram com o combate das adversidades que a rua como ambiente hostil significa. As batalhas que devem enfrentar diariamente dizem respeito, principalmente, ao combate do seu principal inimigo/amigo o crack e algumas vezes da fome. As atividades realizadas pelos moradores de rua são diversas e complexas, as particularidades das experiências individuais e as formas como cada pessoa reage aos diferentes desafios que a rua impõe impedem de elaborar generalizações que abranjam o universo de todos os moradores de rua, porém é claro que existem condutas que são comuns à maioria dos sujeitos que precisam ser analisadas.

Como explicitado em alguns depoimentos, a vergonha do estigmatizado é uma realidade que surge quando a pessoa começa perceber que algum dos seus atributos é impuro, segundo o que a sociedade considera como normal. Deste modo, aparecem outros sentimentos como o medo de que outras pessoas possam feri-los pelas ações que estão sendo realizadas, significando que o estigmatizado a maioria do tempo se sente inseguro no seu contato com os outros.

A estigmatização pode ser compreendida como a ausência de características considerados importantes por um grupo social, e faz com que os indivíduos estigmatizados se tornem rapidamente cientes da forma em que os outros os veem, interiorizem esse estigma, se isolem do resto da sociedade ou criem grupos com atributos semelhantes (9).

As práticas de mendicância explicitadas nos relatos entram em consonância com o estipulado por Goffman (9) quando alerta que alguns indivíduos estigmatizados podem (em algumas situações) utilizar seu estigma como meio para obter ganhos secundários, principalmente se valem de atributos diferenciados e vergonhosos para movimentar os sentimentos e as emoções das outras pessoas principalmente dos sábios (indivíduos que compreendem a existência estigma).

A prostituição, o roubo e a mendigagem, tornaram-se estratégias de sobrevivência à medida que possibilitam a aquisição de dinheiro e é claro que o crack se converteu em uma parceira de convivência contínua. Muitas vezes é ele quem incita ou até provoca a consumação de atos que vulnerabilizam e estigmatizam os corpos destes sujeitos. Na análise do estigma percebido nas relações interpessoais dos moradores de rua com os outros membros da sociedade eles reconheciam que as ações que realizavam diariamente colaborava com a fixação de rótulos e estigmas de "ladrão", "malandro(a)" e "prostituto(a)". Segundo Goffman (9) essas informações tomadas das interações cotidianas têm diferentes propriedades e são informações sociais quase permanentes, provenientes dos fazeres diários, em oposição aos sentimentos ou estados do espírito que são transitórios.

Refletindo a situação relacional entre as condutas de risco realizadas pelos moradores de rua (catar comida do lixo, a prostituição sem proteção), a ausência de atenção de saúde e o que é preconizado na Lei nº 8080, de 19 de setembro de 1990, observam-se ambiguidades e contradições substanciais. É evidente que o Sistema Único de Saúde (SUS) do Brasil, longe de atender aos moradores de rua sob os conceitos gerais de universalidade, integralidade e equidade, aparta estes sujeitos e os exclui do seu lócus de atendimento. A ausência destes atendimentos foi uma das principais denuncias geradas nos discursos dos participantes, por esta razão considera-se pertinente que o Estado e o Sistema de Saúde atual elaborem e executem estratégias de ação orientadas à atenção das condutas anteriormente citadas colaborando da mesma forma com o tratamento de outras condições de precariedade que a rua suscita.

Nos relatos dos moradores de rua, foi reconhecida a indesejável presença nas praças e outros lugares públicos por parte da maioria da população. Goffman (9) declara que isso acontece porque os "normais" constroem uma teoria social do estigma, que justifica ideologicamente os atos de violência/discriminação que são realizados com o intuito de comprovar o perigo (as vezes inexistente) que eles representam; acreditando taxativamente que alguém com um estigma merece ser excluído ou maltratado. Deste modo, o construto social anula a individualidade e determina o modelo que interessa para manter o padrão de poder de alguns, anulando todos aqueles que fogem do modelo social. Os estigmatizados possuem uma marca (imaginária ou física), que significa que, sua identidade social é deteriorada para conviver com os outros.

Ao conviver diariamente com o vazio das ruas e o consumo de pedras, o morador preenche de significados, singularidades e sentidos que nascem a cada dia. A principal tarefa do dia além de sobreviver aos olhares estigmatizantes e aos outros desafios é a de amaciar o concreto frio com o calor do próprio corpo. Eles devem converter um não lugar em um lugar e devem preencher com esperança a sua existência anormal/desviante no meio da sua viagem nômade e itinerante (14).

Goffman (9) considerou na sua teoria os conceitos de normalidade e desvio, sendo assim a normalidade para ele é a palavra que descreve a relativa e coletiva natureza do estigma, já que existe um perfil com atributos sociais para demarcar o que uma pessoa ideal deve ser e fazer. As pessoas que não se enquadram nessa lista tendem a ser desvalorizadas, e as pessoas desvalorizadas são estigmatizadas porque não se constituem pessoais ideiais dentro das normativas sociais o que limita de forma exponencial a interação social com os outros. Para ele as visões e os rótulos de "normais" e "estigmatizados" são geradas durante os contatos sociais, em virtude de normas cumpridas versus não cumpridas.

A questão da moradia na rua se entrecruza e associa também com a convivência diária com os circuitos de marginalidade, estigmatização, desqualificação e exclusão social. "Estar sem rumo", "desconhecer os horários" e "não ter fixado um projeto de vida" são mais do que recursos de linguagem que vão além da situação de não possuir um lar onde morar e geram estigma aos olhos do resto da sociedade (9).

Para os participantes a rua é um espaço que ninguém quer e muitos temem. É nas esquinas, nas rodoviárias ou nas praças que os considerados por algumas pessoas como "descartáveis urbanos" mostram aos outros, sua presença desconfortável. É neste desvalido e vão espaço público repleto de entulho e lixo, que estes habitantes constroem, singularizam e significam seu eu.

Por outra parte, o crescimento do consumo do crack entre os moradores de rua, tornou-se um fenômeno social e de Saúde Pública alarmante, sendo considerado na atualidade uma epidemia. A alta prevalência de usuários de crack tem exercido modificações significativas no panorama sociopolítico brasileiro, trazendo consigo o dever de compreender melhor quais são as vivências diárias destes sujeitos na rua e quais são os significados que estas pessoas atribuem para ele.

O crack é uma droga relativamente nova, com alto poder dependógeno e está associada com vários problemas de Saúde Pública. Apesar de dispormos de algum conhecimento sobre esse fenômeno, ele ainda é insuficiente, tanto para o atendimento eficaz de seus usuários (moradores de rua) quanto para nortear políticas públicas e estratégias de atenção, prevenção e redução de danos.

O crack gera um bem-estar subjetivo que está relacionado com todas as sensações e experiências agradáveis que o consumo da droga proporciona. Corroborando com essa questão alguns autores ressaltam que neste estado de satisfação, o indivíduo coloca maior ênfase e importância na preponderância dos estados emocionais prazerosos sobre os estados afetivos negativos (15, 16). Este bem-estar subjetivo é claro um construto multidimensional no qual influenciam variáveis como o estado de ânimo contextual, a visão de mundo, o projeto de vida não estabelecido, a autoestima e a autopercepção.

Conforme os relatos, é possível perceber que os moradores de rua sabem que a morte é uma realidade explícita que virá, já que convivem com ela diariamente. Assim, eles reconhecem que a morte faz parte do ciclo de vida humano, que pode vir em qualquer momento, porém que o consumo do crack aproxima o encontro com ela, não só pelas condutas de risco e vulnerabilidade que realizam no dia a dia, senão que significam com dor e tristeza o crack como a morte silenciosa.

O anterior concorda com algumas pesquisas que reconhecem que os usuários de crack estão certos da própria morte, embora não saibam o dia nem a hora, eles significam o crack como a morte; e a vida para eles é só uma viagem passageira que revela desesperança e melancolia cotidianas (8).

O crack é significado como refúgio diante à frustração existencial, frente ao vazio dos olhares estigmatizantes da sociedade. É o resultado de toda uma constelação de elementos (alguns deles imprevisíveis) que gravitam sobre o morador de rua. O crack é a somatória do vazio existencial, a falta de sentido de vida e a tristeza. Sendo assim, se a vida não tem um sentido claro e não existem expectativas para o futuro, a realização de atos prejudiciais é iminente.

A estigmatização que estes indivíduos vivem como usuários de crack colabora com o processo de deterioração da identidade, já que faz com que as pessoas sejam consideradas como seres estragados e diminuídos, interferindo com a formulação do seu projeto de vida (9). É claro que para a formulação de um projeto de vida é necessário possuir pelo menos uma visão dos objetivos a serem realizados no futuro, porém uma condição sine qua non para pensar no futuro é ter um autoconceito e uma autoimagem definidas. A estigmatização por meio das avaliações dos outros e a interiorização dessas críticas produz efeitos devastadores no autoconceito, na autoestima e na autoimagem que obstaculizam no pensamento de um futuro.

Os estigmas de "crackeiro" formam identidades deterioradas pela visão social, que representam algo perverso dentro da sociedade e, como tais, devem ser evitados. A estigmatização percebida por eles é um processo estabelecido pelo social diante a relação entre o normal, o estigmatizado e as regras existentes no momento.

De acordo com a visão de Goffman (9), sendo o crack uma droga ilícita, todas aquelas pessoas que fazem uso dela, serão estigmatizadas já que estão infringindo uma lei social. Portanto, as pessoas normais categorizam os atributos destes corpos estranhos usuários de crack e elaboram preconcepções, que são transformadas em expectativas normativas, em exigências apresentadas de modo rigoroso e estabelecem os meios de isola-los já que contam com atributos considerados como antinaturais ou anormais (9).

Evidenciou-se que esses estigmas produziram um impacto negativo sobre a vida dos moradores de rua, usuários de crack, então além da sobrevivência das devastadoras e conhecidas conseqüências da rua e do crack, eles devem lutar contra o estigma que está sendo imposto pela sociedade. Compreender esta prática da estigmatização, julga-se importante nesta sociedade em que ele é tão vívido, com a finalidade de atender os danos e os sentimentos que causa na vida destes corpos estigmatizados.

CONCLUSÕES

Viver na rua modifica todos os processos de socialização e (re)cria novas redes sociais, esse estar na rua é a consequência e o reflexo das fragilidades institucionais (sociais e econômicas). O fenômeno da moradia na rua e sua relação com o consumo de crack encontra-se solidamente vinculado às determinantes micro e macroestruturais. É importante que os profissionais na área da saúde e educação sejam conscientes no seu ser, fazer, saber e pensar cotidiano sobre as dimensões e repercussões que esta problemática representa, visualizando e executando matizes e possibilidades de transformação.

A rua e o crack são metáforas dicotômicas que não possuem um significado restrito. A rua e o crack são plurais e singulares, são vida e são morte, são liberdade e escravidão, são conceitos existenciais e subjetivos que dependem da percepção contextual e da pessoa que olha para eles nesse momento e nesse lugar. Suas definições e construções linguísticas vão além do incômodo. O que no início parece ser antagônico, casa e rua se tornam sinônimos complementares nas vidas dos participantes desta pesquisa.

A existência de um modelo econômico desigual leva os moradores de rua a executarem tarefas relacionadas à sobrevivência e a batalha em busca da satisfação de necessidades básicas. O crack para eles é significado a partir da construção de uma dicotomia: positivo versus negativo. Ele é quem provê energia, forças e as sensações mais surpreendentes que já foram percebidas, ao mesmo tempo em que também é o responsável pelo qual os moradores de rua se encontrarem à beira da morte, o responsável pela perda da esperança e da construção de um projeto de vida. Essa concepção deve ser valorizada no momento de formular programas de atenção a esta parcela da população.

É necessária a elaboração de propostas de atenção e intervenção à população moradora de rua usuária de crack, que orientem técnica e pedagogicamente as instituições de ensino e de saúde para a formulação de programas e projetos consistentes que visem a reinserção social e atenção das necessidades básicas desta população. A atenção que este grupo social necessita, requer profundas reflexões e ações integrais que contemplem a ampliação da cobertura de atenção à saúde física e emocional, inovações metodológicas de intervenção e integração socioeducativa. Os modelos de atenção devem ser plurais e diversificados, atingindo às necessidades específicas da população em questão.

Os corpos dos participantes formam parte de um grupo excluído e vulnerável e não são suficientemente contemplados pelas políticas públicas. Estas pessoas demandam, por meio de gritos silenciosos uma atenção diferenciada e especial, por esta razão é fundamental melhorar o acolhimento nos serviços públicos de saúde (SUS) e educação e implementar programas de atenção para esta população.

A multifatoriedade da dependência ao crack e a moradia na rua, assim como a busca de soluções devem ser aplicadas com um olhar interdisciplinar às diversas dimensões envolvidas: pessoal, física, psicológica, social, econômica, familiar, questões legais e qualidade de vida. Essa abordagem interdisciplinar é imprescindível, para isso se faz necessário contar com uma rede integrada de atenção psicossocial que trabalhe com ações preventivas de sensibilização e capacitação dos profissionais de saúde e educação, identificação precoce e encaminhamento adequado dos usuários de crack-moradores de rua, tratamento de comorbidades, estratégias de psicoeducação que visem reduzir os fatores de risco e promovam os fatores de proteção, acompanhamento das Estratégias de Saúde da Família nos usuários no seu processo de reabilitação e é preciso trabalhar com estratégias de redução de danos.

Futuras pesquisas relacionadas com a temática, sobre os significados, sentidos, perspectivas ou representações sociais atribuídas à moradia na rua e ao consumo de crack com uma população mais homogênea em termos de gênero são necessárias.



Notas de Rodapé

1 É importante esclarecer que a expressão que os interlocutores utilizaram em várias ocasiões de "fazer programar" esteve relacionada com a realização de prestação de serviços sexuais.



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