Apresentação

No presente número de Memoria y Sociedad, correspondente ao primeiro semestre de 2014, é grato nós entregar para a comunidade acadê-mica e pesquisadora e para o nosso vasto público em geral um novo número dedicado a Temas avulsos, com que continuamos a abordar de maneira formal e rigorosa importantes problemáticas sobre Ibero América e suas múltiplas regiões, conforme as nossas diretrizes e planos editoriais dos últimos anos.

Assim, a revista que apresentamos hoje abrange amplos temas que analisam desde as relações políticas entre a Cuba e a Europa através do fascismo italiano na década do trinta, até problemas coloniais neogranadinos dos séculos XVII e XVIII relacionados com questões sobre representações da Sagrada Família ou da circulação monetária; passamos por pesquisas sobre, por exemplo, as pastoras pentecostais no Chile, ou o estudo dos mecanismos de espionagem soviéticos, britânicos e estadunidenses durante a Guerra Fria, abordados pela historiografia espanhola.

Neste sentido, no artigo "Cuba: Jornal dos Marines, os 'missionários de Mussolini' e a intelectualidade cubana pró-italiana durante o segundo conflito ítalo-abissínio (1935-1936)", Alberto Consuegra Sanfiel demonstra como frente da polarização gerada por este conflito em uma escala global, embora houvessem vozes em favor da liberdade e do respeito de Abissínia, houve também vozes «em favor do fascismo que apoiaram a agressão armada». Na América, uma turma de intelectuais cubanos simpatizantes da emigração italiana pró-fascista promulgaram uma série de critérios favoráveis às ações de Mussolini neste conflito e ainda que não fosse o caso mais representativo, tiveram grande difusão e ressonância.

O texto seguinte intitulado «Tinta vermelha: o jornalismo liberal em Bogotá, 1890-1900», de Shirley Tatiana Pérez Robles, retoma o problema da censura à imprensa de oposição na Colômbia através da análise do conteúdo ideológico de quatro periódicos liberais durante o período da Regeneración (Regeneração). As conclusões destacam as principais contribuições realizadas por este se-tor de jornalistas liberais no marco de um país dominado pelos conservadores.

Ángela Isabel Rodríguez Leuro, em «Problemática da higiene e superlotação em Bogotá no fim do século XIX e início do século XX e primeiro bairro operário», apresenta valiosa contribuição para a história urbana da capital. A autora reconstrói as diversas problemáticas que o crescimento de Bogotá trouxe consigo, as quais estimularam o aparecimento de bairros operários com melhores condições higiénicas e de saúde.

No entanto, o texto "O grupo 'Cruzada' - 'Tradição, Família e Propriedade' (TFP) e outros empreendimentos laicais tradicionalistas contra os sectores terceiro-mundistas. Aproximação das suas práticas e estratégias de difusão nos anos sessenta", escrito por Elena Scirica, reflete sobre o relacionamento entre igreja e política na Argentina dos anos sessenta. Isso é feito através de aguda análise de diversos dispositivos utilizados por grupos laicais como TFP -tais como livros, publicações periódicas, panfletos e folhetos- e que estiveram encaminhados a afrontar o avanço dos setores "rotulados" de progressistas, de terceiro--mundistas e de aquilo considerado como a irrupção do marxismo dentro da Igreja.

Miguel Ángel Mansilla Agüero e Luis Orellana estudam os importantes e fundamentais papeis sobre a liderança feminina nos movimentos re-vivalistas e pentecostais, principalmente a partir das metáforas construídas pelos pentecostais chilenos sobre o papel das pastoras. Desta forma, em "As pastoras pentecostais: metáforas sobre a liderança feminina na Igreja Evangélica Pentecostal (1972-2001)", os autores centram sua análise nos relatos mortuários publicados na revista Fuego de Pentecostés, entre os anos 1972 e 2001, dentro dos quais encontram-se representações sobre os diferentes papeis das pastoras: mulher de pastor, predicadora, copastoras, mães e visitadoras sociais.

O texto "A pintura da Sagrada Família. Manual de relações familiares no mundo da Santafé do século XVII", de Juan Pablo Cruz Medina, persegue avaliar os discursos contidos nas pinturas da Sagrada Família realizadas na Santafé Colonial do século XVII. A análise das imagens evidencia o uso de tais pinturas como ferramentas políticas destinadas à configuração de uma sociedade articulada por famílias regidas sobre princípios como «piedade», "castidade" e "mortificação". O autor concentra sua análise sobre a construção de um sujeito colonial, através da estilização política das imagens de Cristo, a Virgem e os diferentes santos.

James Vladimir Torres Moreno no seu artigo "Moedas de antigo e novo cunho: aviltamento e re-cunhagem no Vice-Reino de Nova Granada na segunda metade do século XVIII", analisa, a partir de fontes primárias, as diferentes variações monetárias acontecidas no período sob o regímen Bourbon dentro do sistema colonial neo-granadino. Assim estuda dois elementos centrais da política monetária durante o regime: o aviltamento e a recunhagem. O resultado da pesquisa demonstra, de uma parte, que ambas as medidas alteraram a composição sem afetar concretamente o comprimento da oferta monetária e, de outra parte, que embora a nova cunhagem reduziu os custos operacionais, no mesmo sentido o aviltamento evitou a unificação do numerário circulante. O texto consegue evidenciar que as anteriores medidas afetaram o comportamento de variáveis tais como inflação, moeda de pequena denominação e Lei de Gresham.

Por fim, "O Congresso pela Liberdade Cultural, avistado desde as dinâmicas da Guerra Fria", de Francisco Ruíz, problematiza os mecanismos de espionagem decorrentes da Internacional Comunista, especificamente no que diz respeito a operações encobertas de propaganda e manipulação dos intelectuais. Dentro da mesma linha, reconstroem-se as estratégias e respostas orquestradas pelos serviços de inteligência estadunidense e britânico durante a Guerra Fria, encaminhados a combater a influência ideológica do bloco soviético. Ressalta-se, aliás, a importância política e cultural que o Congresso pela Liberdade Cultural teve, na medida em que, graças à significativa quantidade de revistas, exposições, bolsas de estudo, concertos, congressos e palestras realizadas no marco deste congresso, ocidente conseguiu implementar dentro do seu espaço a concepção de uma política de "Esquerda Não Comunista" que, em última instancia, e nas palavras do autor, "fundamentou a socialdemocracia dentro do 'bando' ocidental".

Esperamos os leitores desfrutem a leitura deste novo número tanto como nós desfrutamos fazê-lo.

Equipe editorial