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 número13SOTO ARANGO, Diana; PUING SAMPER, Miguel Ángel y CUÑO BONITO, Justo. (2009): Ilustración y Educación: Comentario de Textos, Tunja, Universidad Pedagógica y Tecnológica de Colombia, pp.251. ISBN 978-958-660-140-5REVISTA LATINOAMERICANA DE ESTUDIOS EDUCATIVOS Volumen 2, Nº 1, Enero-Junio de 2006, Doctorado en Ciencias de la Educación RUDECOLOMBIA Área Pedagogía y Currículo. Universidad de Caldas, ISSN 1900-9895 índice de autoresíndice de materiabúsqueda de artículos
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Revista Historia de la Educación Latinoamericana

versión impresa ISSN 0122-7238

Rev.hist.educ.latinoam.  no.13 Tunja dic. 2009

 

RESEÑAS DE LIBROS Y REVISTAS

JARDILINO, José Rubens. (2009):
Lutero & a Educação. Brasil, Belo Horizonte Autêntica Editora, p 124


José Rubens L. Jardilino retoma, neste livro, as preocupações que estiveram presentes em sua formação como pesquisador, apresentando-nos um escrito em estrutura lúcida como a de um historiador, sem sê-lo, mas pautado pelo olhar de sociólogo, que é. O resultado é uma sociologia da história. É a partir dessa perspectiva que Jardilino irá se concentrar no reformador Martinho Lutero. O enfoque em Lutero propicia- lhe uma análise da Reforma Protestante, sem que se restrinja, todavia, ao aspecto religioso da reforma – assunto sobre o qual temos grande profusão de textos. Jardilino amplia perspectivas em um caminho até então pouco percorrido: o pensamento educacional da Reforma. Com isso, consegue dialogar com dois de seus temas mais caros: a educação e o fenômeno religioso. Este não é considerado o objeto principal do livro, mas é justamente a competência do autor na área das ciências da religião que lhe permite extrair do movimento emaranhado pela religião aquilo que é específico do movimento educacional.

Na introdução, justifica a escolha do personagem Lutero, "expressão mais ousada e moderna" da Reforma, pois evidencia que o ato educativo dos reformadores não é relegado à educação religiosa. A atuação política do reformador e a direção de boa parte de seus escritos revelam sua preocupação com o movimento educacional como ato político, o qual constitui "o melhor e mais rico progresso para uma cidade", palavras de Lutero que podemos ler na epígrafe. Jardilino lamenta a falta de destaque às idéias educacionais protestantes nos compêndios de História da Educação, preocupação já manifestada em outros escritos. Ainda na introdução, o autor esclarece que Lutero é tomado na perspectiva de um clássico, devido à sua extensa obra, que percorre as mais variadas temáticas. No primeiro capítulo, Jardilino apresenta uma breve análise sobre o contexto da Reforma Protestante.

O leitor ganhará muito, ao não ver reforçadas perspectivas romantizadas e maniqueístas: o fenômeno religioso é encarado como "coisa eminentemente social"; o olhar crítico do pesquisador predomina nas páginas que se seguem. A Reforma parece ser o ápice de uma série de movimentos sociorreligiosos que, desde o século XIV, já preludiavam a Era Moderna. O autor contribui grandemente, para os estudos no campo educacional, também ao mostrar como a Reforma Protestante não apenas apresenta uma ruptura religiosa, como também faz parte de importantes e fundamentais rupturas socioeconômicas e políticas no edifício medieval, que formataram uma nova sociedade e, consequentemente, uma nova era. Nela, as antigas estruturas sociais, caracterizadas pela transcendentalização do mundo, dão lugar à racionalização e à moralização da vida religiosa. Essas novas estruturas sociais garantem destaque à Reforma Protestante na arquitetura do edifício do mundo moderno.

No segundo capítulo, apresenta-nos uma síntese das principais ideias da pedagogia dos humanistas, que influenciaram a Reforma e lhe foram contemporâneas, com aproximações e conflitos. Dois personagens são evidenciados como marca dos ideais pedagógicos do humanismo renascentista: Rabelais e Erasmo. Estes, juntamente com Lutero, são considerados os críticos mais tenazes da Escola Medieval. O autor enfatiza que a reconstrução das concepções pedagógicas da Renascença somente se fez possível em consonância com as mudanças ocorridas nos meios social, político e econômico. Essa reconstrução deveria ter início com a destruição do escolasticismo característico da pedagogia medieval, pois, no julgamento desses críticos, a escolástica era uma praga que impedia o acesso à razão. O tema da liberdade – um dos principais temas que marcaram o debate religioso da Reforma – foi a pauta do novo modelo pedagógico que se desejava e que se estava forjando: para desenvolver todas as suas potencialidades, o homem moderno deveria se ver livre dos obstáculos que o prendiam por meio de obrigações, disciplina e regulamentos. Jardilino pontua as duas tendências determinantes no modelo pedagógico do humanismo renascentista. A primeira é enfatizada com Rabelais, em cujos ideais pedagógicos buscava-se o homem universal, que deve receber uma formação integral, aplicando-se nas habilidades físicas, nas artes e no conhecimento de tudo, tanto prático quanto teórico.

A segunda tendência é enfatizada por Erasmo, para quem a destreza literária, o saber das letras clássicas e o entendimento desses conhecimentos por meio de processos cognitivos devem pautar o modelo pedagógico, que privilegia um conhecimento enciclopédico. O autor destaca a conturbada relação entre Lutero e Erasmo, transcrevendo trechos da correspondência do reformador direcionada ao humanista. A relação, em princípio afável, conturba-se no debate de temas teológicos. Jardilino conclui que o pensamento pedagógico da Reforma é herdeiro das fontes pedagógicas humanistas, todavia aponta naquele algo de específico, que de certa forma anuncia o pensamento pedagógico da modernidade. Rabelais e Erasmo rompem com os métodos medievais e redesenham o pensamento educacional da modernidade, contudo pensaram uma educação fundamentalmente aristocrática. Calvino e Lutero, por outro lado, elaborando uma nova concepção teológica, vão orientar uma educação para a vida. À pedagogia humanista do renascentismo Lutero acrescentou outros condimentos sociais que fizeram da escola o verdadeiro lema de sua Reforma. Mesmo reconhecendo que não há unanimidade quanto às contribuições de Lutero para a educação, havendo quem denuncie o edifício educacional da reforma como antagônico ao projeto humanista, Jardilino compreende que as contribuições de Lutero possibilitaram a criação de um novo sistema educacional que defenda o direito universal à educação.

No quarto capítulo, Jardilino analisa aqueles que considera os principais temas pedagógicos da Reforma, a partir dos escritos de Lutero. Essa análise se dá a partir da consideração de que o projeto de expansão da Reforma Protestante se deu com base em um sólido projeto pedagógico, o que pode ser constatado na influência e na tradição herdada nos países em que o Protestantismo chegou, inclusive no Brasil. Segundo Jardilino, "o protestantismo, por onde quer que tenha chegado, carregando consigo o ideal de mudanças sociais, tinha a educação como seu principal aliado". Com essa análise, o autor mostra a impossibilidade de se reduzir a Reforma Protestante ao tema da reforma religiosa, jogando luzes sobre sua dimensão social. Para reforçar mais esse argumento, Jardilino organiza na obra de Lutero temas importantes que estarão na pauta do projeto educacional da modernidade. O primeiro é questão de gênero. Esse é um tema de preocupação singular do reformador, de forma que advoga a criação de escolas para mulheres em todas as cidades. Não se pode afirmar precipitadamente que se tratava de uma compreensão moderna sobre a igualdade de gênero, todavia a preocupação de Lutero é animada pela consistência teológica da doutrina do sacerdócio universal do cristão, que abrangia a mulher. Esse preceito faz com que a mulher seja igualada ao homem no direito à educação, com base no mesmo currículo e quadro de professores, ainda que ela devesse se dedicar menos tempo à educação para que pudesse também se dedicar aos trabalhos domésticos. Se a preocupação com a educação da mulher não era possível na estrutura social do mundo medieval, Lutero expressa, também aqui, uma sociedade com mobilidade social.

O tema da educação infantil também ocupa lugar de destaque no pensamento de Lutero, com uma novidade impensada para a época: a ludicidade na educação. A dedicação ao tema é anacrônica, num tempo em que a criança era pouco considerada, tida com um adulto em miniatura. Jardilino cita o historiador Ariès para mostrar que as crianças e os jovens conheciam jogos e brincadeiras, mas enfatiza que o universo lúdico estava por demais afastado da prática educativa. Incluí-lo no processo de aprendizagem foi a pretensão de Lutero. Jardilino ainda cita autores mais recentes, como Freud, Winnicott e Vigotski, que se dedicaram ao tema, para compreender as assertivas da proposta de Lutero sobre o lúdico na educação.

Os novos contornos sociais que tomavam a sociedade moderna exigiam uma educação cidadã, devendo orientar os estudantes humanisticamente para o trabalho e para a vida urbana. Para possibilitar esse projeto pedagógico, a formação de professores deveria ser encarada com grande seriedade: para eles, o estudo deveria ser prolongado e intensivo. No quinto capítulo, dedica-se a analisar as influências do projeto pedagógico da Reforma nos sistemas educacionais dos períodos que se seguiram. Segundo ele, "a divisão de classes escolares por faixa etária, a nova compreensão sobre essas faixas, o novo currículo e a nova ordenação dos graus escolares representam um conjunto de modificações que, além de romper definitivamente com a Escola medieval vai dando o formato da educação da modernidade". Embora ainda envolto na religião, essa nova ênfase pedagógica chega à maturidade ao desenvolver, aquilo que já era reclamado por Lutero, uma educação que buscava preparar o homem para a vida concreta. Com base nesse princípio, e fortemente influenciado pelo projeto educacional da Reforma, Comênio desenvolverá sua obra-prima, a Didática Magna. No final de seu texto, Jardilino considera oportuno um aviso de posfácio, para aclarar, com rara sinceridade, que considera ter muito ainda a aprender sobre e com Lutero. Confessa, ainda, que a falta de domínio do idioma falado pelo reformador se constitui  numa fragilidade no empreendimento a que se propôs, ressaltando que o livro é destinado aos leitores iniciantes sobre o tema ainda pouco conhecido. Também é oportuno considerar que o olhar competente do cientista social permitiu uma análise enriquecedora sobre o pensamento educacional de Lutero e da Reforma Protestante. Jardilino soube extrair daquilo que não é especificamente religioso aquilo que é especifico da educação.


Leandro de Proença Lopes
Grupo de Investigación HISULA
Universidad Nove Julho- UNINOVE