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Revista Historia de la Educación Latinoamericana

versión impresa ISSN 0122-7238

Rev.hist.educ.latinoam. vol.14 no.18 Tunja ene./jun. 2012

 

Eccos - Revista Científica, Nº 28 - Educação e Arte. Brasil: UNIVOVE (2012)


Não se pode tornar integral a formação humana se seu processo formativo não incluir em suas matrizes curriculares mediações que viabilizem o afinamento de sua sensibilidade estética. O estético, envolvido na dinámica pedagógica, não se refere unívocamente à vivência do belo artístico; ao contrário, abrange o amplo espectro da sensibilidade humana, mediatizada pelo todo da experiência do nosso sentir. Certamente, a arte é a expressão mais objetiva e concreta dessa vivência unificadora em que corpo e mente se fundem; ela é a sua linguagem simbólica. Embora muito mais impactante, ao afetar todo nosso ser, ela é mais difícil de expressar, de se traduzir em termos concretos de ação e de reflexão. Talvez se encontre aí a razão de sua ausência nos currículos formadores...

A experiência estética, em seu sentido abrangente é, pois aquela que desencadeia a pulsão emotiva, que envolve nossa subjetividade pelos sentimentos, pelas emoções, que faz vibrar a emotividade. É nessa esfera em que afloram pulsantes e intensos, harmoniosos, às vezes, caóticos e contraditórios, outras vezes, o desejo, o prazer, a dor, a angústia, estranhos a qualquer logicidade.

Com toda essa força e energia vital, a dimensão estética impregna e atravessa todo o nosso existir concreto e é a fonte dinamizadora da ação, sempre com o risco de empurrá-la para um agir puramente impulsivo, deixando-se levar por avaliação muito parcial, pouco ponderada. Nessa condição, ela recorta, integralmente, a relação pedagógica. Tão presente e tão ausente em nossas iniciativas e intervenções educativas, acaba sendo relegada às abordagens transversais do currículo, deixada às suas manifestações espontâneas. Mas como a intervenção pedagógica do educador poderá ser fecunda se ignorar essa dimensão? Certamente, precisa ser trabalhada e desenvolvida sistematicamente nos currículos, com competência e criatividade.

Não que a educação desconheça essa pulsão, mas ela é difícil de ser equacionada nos parâmetros da logicidade racional, que prevalece na esfera do educacional. É bem verdade que o campo psicológico tem procurado fazer essa abordagem, já que seu objeto específico tem uma densa interface com as vivências da sensibilidade humana, mas mesmo assim não conseguimos ainda dar plena conta de toda sua vitalidade sem comprometer sua especificidade como experiência original do ser humano.

Certa vez, Gramsci (1979) assinalou que os intelectuais, os artistas, que sempre existiram na história, sempre gozaram de certa autonomia. Como se flutuassem num vazio histórico e tivessem a possibilidade de estarem presentes por si mesmos, isolados do contexto histórico, em qualquer tipo de sociedade.

Esta, certamente, seria a primeira tentação que nós, preocupados com uma educação transformadora, deveríamos saber evitar, e, colocando os pés no chão da escola, deveríamos assumir que, como criadores da cultura, seja qual for o contexto social ou o contexto histórico que nos caiba criar, não são mais que justamente o resultado desta circunstância social, desta circunstancia histórica, da qual somos produto e produtores.

Por isso mesmo, ponderamos valer a pena dedicar mais um dossiê da revista a essa temática, abrindo mais espaço aos estudiosos da comunidade educativa que se dedicam, com insistência, a fazer uma hermenêutica dessa relação tão fecunda entre o estético e o educacional. Não se trata, obviamente, de diminuir a importância da necessária formação técnico-científica, mas de reiterar a igual relevância da arte e a necessidade da construção de um olhar estético que amplie as possibilidades de ler e de sentir a realidade.

A produção do estético integra um processo epistêmico igualmente significativo e emancipador, pelo que tem de força criativa, contribuindo assim para a explicitação/criação do sentido. Daí sua fecundidade pedagógica, sua força formativa. Como dinâmica educativa, impulsionada pela criatividade, explora e exercita o perceber, o imaginar, o sentir, até mesmo o pensar o mundo e nossa inserção nele, numa perspectiva diferente de um frio relacionamento lógico. E desse modo, contribui, e muito, para a educação dos sujeitos em processo de formação, tal o seu impacto na constituição de sua autonomía como sujeita. Dá assim mais integralidade à condição cultural das pessoas, horizonte de toda formação. Além disso, quanto mais profundamente desenvolvida e vivenciada a experiência estética, mais os sujeitos vitalizam e consolidam sua pertença ao universo cultural de sua comunidade, pelo que cimenta sua cidadania. Por esse ângulo, a experiência estética se articula com as sensibilidades éticas e política, de novo lançando laços de integração das pessoas, o que representa valioso apoio na condução dos destinos comuns.

À escola cabe, pelas mediações pedagógicas em que se especializa, trazer aos aprendizes caminhos e meios para o domínio das ricas linguagens mediadoras, sígnicas e simbólicas, destinadas a expressar a vivência estética. Como, ao nascer, não dispomos desses recursos, também aí necessitamos da aprendizagem.

Com a palavra, então, vários pesquisadores que trazem às páginas desta revista os resultados de suas experiências, análises, reflexões e sínteses, explicitando e aprofundando essas diferentes linguagens e as vivências de onde elas nasceram e que elas buscam traduzir. Todas as modalidades de artes, a dança, o teatro, o cinema, a literatura, a pintura, a arquitetura, e tantas outras transformam-se em focos de suas preocupações, especificamente, naquelas dimensões que tecem a interface das mesmas com a educação.

Toda essa discussão não deixa escapar a necessária vigilância crítica, a atenção cuidadosa em identificar e denunciar os desvios induzidos pela indústria cultural e seus desdobramentos, ao submeter às leis do mercado a criação e a fruição dos bens simbólicos que dão expressão concreta e objetiva às vivências estéticas. Cuidado que também precisa habitar o lócus educativo, pois é aí que se opera a formação do sujeito.

As pesquisas e as concepções filosóficas, as reflexões teóricas e metodológicas aqui apresentadas procuram compreender, criticamente, o rico universo das relações entre as múltiplas modalidades da expressão artísticas e a sua conexão com a práxis educacional. São eles: Experiência estética como experiência formativa a partir da ontologia de Hans-Georg Gadamer, de autoria de Clenio Lago; O ensino da recepção estético-literária e a formação humana, obra coletiva de Newton Duarte, Nathalia Botura de Paula Ferreira, Maria Cláudia da Silva Saccomani e Mariana de Cássia Assumpção; La estética y la formación en valores en el escenario de la educación superior. (La conformación de la antropoética), contribuição estrangeira dos pesquisadores mexicanos Manjarrez Betancourt Martín, Aguilar Rodriguez Emilio e Alvarado Hernández Víctor; No centro de uma outra história: a busca da emergencia de novos espaços arte-educativos, dos professores Denise Marcos Bussoletti e Cleber José Silveira Costa; O encontro com a arte: formando e transformando o repertório de professores, de autoria Márcia Maria Strazzacappa Hernandez; Arte e Educação em Ilustrações de "Branca de Neve"; dos pesquisadores Giovana Scareli e Ane Rose de Jesus Santos Maciel; por fim, fechando o presente dossiê temático Educação e Arte, temos O auto do bumba meu boi do Maranhão e a lei n. 11.645/2008: contribuições didáticas, de Denise Maria Soares Lima e Marcelo Nicomedes dos Reis Silva Filho.

Na consumação do presente número da revista também publicamos os seguintes manuscritos, que nos foram enviados, espontaneamente, pelos seus autores: A linguagem, cognição e cultura: uma leitura em fenomenología da prática educativa, de autoria da professora Jucimara Rojas; O embate modernidade/pós-modernidade e seu impacto sobre a teoria e a prática educacionais, contribuição de Pedro Goergen; Um estudo sobre o "bom aluno" na perspectiva das representações sociais, dos pesquisadores Andreza Maria Lima e Laêda Bezerra Machado; O papel da escola na promoção da saúde - uma mediação necessária, dos professores Dartel Ferrari de Lima, Vilmar Malacarne e Dulce Maria Strieder e, finalmente, o artigo Indisciplina e afetividade: um enfoque antropológico, dos professores Francisca Eleodora Santos Severino e Alfredo Salun.

A versão on line de Eccos - Revista científica está disponível através do portal www.uninove.br/revistaeccos

Aos autores, pareceristas e demais colaboradores, nossos sinceros agradecimentos. Aos leitores, boa leitura!


Antônio Joaquim Severino
Carlos Bauer
Editores