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Revista Historia de la Educación Latinoamericana

versión impresa ISSN 0122-7238

Rev.hist.educ.latinoam. vol.24 no.39 Tunja jul./dic. 2022  Epub 07-Jun-2023

https://doi.org/10.19053/01227238.15639 

Artículos de revisión

A trajetória da Rede de Estudos sobre Implementação de Políticas Públicas Educacionais1

La trayectoria de la Red de Estudios sobre la Implementación de Políticas Públicas Educativas

The trajectory of the Network of Studies on the Implementation of Educational Public Policies

Breynner Ricardo de Oliveira2* 
http://orcid.org/0000-0003-0956-4753

Fabiana Silva Fernandes3** 
http://orcid.org/0000-0002-3458-9963

Ana Cristina Prado de Oliveira4*** 
http://orcid.org/0000-0002-0367-6669

Naira da Costa Muylaert Lima5**** 
http://orcid.org/0000-0001-5161-0501

*Universidade Federal de Ouro Preto, Brasil Grupos de Pesquisa GPPublica[e]s e LAP2D.

**Fundação Carlos Chagas, Brasil

***Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, Brasil Grupos de pesquisa POGEFE e GESQ

****Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Brasil Grupo de pesquisa LAEd


Resumo

Objetivo:

apresentar a trajetória de desenvolvimento de uma rede de pesquisadores que surgiu no Brasil para aprofundar e ampliar uma vertente de análise de políticas públicas educacionais mais recente, a análise de imple mentação de políticas. A REIPPE é uma rede social que reúne pesquisadores e, mais recentemente, gestores, demais profissionais da educação e estudantes de pós-graduação interessados em determinado campo do conhecimento.

Originalidade/contribuição:

A contribuição é o compartilhamento de uma experiência de organização de rede, que pretende estimular estudos mais aprofundados sobre as diferentes formas de agrupamento de pesquisadores, que tem se fortalecido, nos últimos anos, com a criação de grupos de pesquisa, pes quisas em grupo, redes de colaboração, redes de pesquisadores e observatórios.

Método:

trata-se de um relato de experiência, com abordagem história, que buscou resgatar os motivos pelos quais a rede se formou e como ela vem se constituindo, desde 2014, ano de sua criação. O percurso de existência da rede foi elaborado a partir de sua criação; sua dinâmica e identidade; estratégias para institucionalizar-se; mecanismos de governança; a promoção de atividades voltadas para o fortalecimento do campo no Brasil; a disseminação de conteúdos e o engajamento do público interessado.

Estratégias/coleta de informações:

foi feito o levantamento documental com base nas seguintes fontes: (1) dois relatórios de gestão produzidos pela rede (2019-2020) e (2020-2021); (2) acessos ao seu sítio eletrônico; (3) acessos à sua página no Facebook e no seu canal no Youtube; (4) a produção acadêmica vinculada às pesquisas associadas a seus membros (teses, dissertações e artigos indexados); (5) Atas de reuniões e (6) Registros Pessoais.

Conclusões:

A análise dos dados compilados revela que, desde sua fun dação, a rede tem se fortalecido e se tornado uma referência para pesquisado res que tratam do tema da implementação, reunindo perspectivas teóricas e metodologias de pesquisa para os estudos de políticas e programas no campo da educação. Os dados também informam que a atividade da rede tem cres cido (acessos, cliques e número de inscritos), juntamente com sua produção acadêmica, refletindo no aumento do engajamento do público interessado, incluindo organizações que financiam e implementam programas educacionais.

Palavras chave: Redes; Redes sociais; Implementação de políticas educacionais; Políticas educacionais; Pesquisa educacional.

Resumen

Objetivo:

presentar la trayectoria de desarrollo de una red de investigadores que surgió en Brasil para profundizar y ampliar una corriente más reciente de análisis de las políticas públicas educativas, el análisis de la implementación de políticas. REIPPE es una red social que reúne a investigadores y, más re cientemente, a directivos, otros profesionales de la educación y estudiantes de posgrado interesados en un determinado campo del conocimiento.

Originalidad/contribución:

La contribución es la puesta en común de una experiencia de organización en red, que tiene como objetivo estimular más estudios sobre las diferentes formas de agrupar investigadores, lo que se ha fortalecido en los últimos años con la creación de grupos de investigación, inves tigación en grupos, redes colaborativas, redes de investigadores y observatorios.

Método:

se trata de un relato de experiencia, con enfoque histórico, que buscó rescatar las razones por las cuales se formó la red y cómo se ha constituido desde 2014, año de su creación. El curso de existencia de la red fue elaborado desde su creación; su dinámica e identidad; estrategias para institucionalizar; mecanismos de gobernanza; la promoción de actividades destinadas al forta lecimiento del campo en Brasil; la difusión de contenidos y la captación del público interesado.

Estrategias/recopilación de información:

se realizó un levantamiento documental a partir de las siguientes fuentes: (1) dos informes de gestión elaborados por la red (2019-2020) y (2020-2021); (2) visitas a su sitio web; (3) visitas a su página de Facebook y canal de YouTube; (4) producción académica vinculada a investigaciones asociadas a sus miembros (tesis, disertaciones y artículos indexados); (5) Actas de Asambleas y (6) Registros de Personal.

Conclusiones:

El análisis de los datos recopilados revela que, desde su fundación, la red se ha fortalecido y se ha convertido en un referente para los investigadores que tratan el tema de la implementación, reuniendo pers pectivas teóricas y metodologías de investigación para el estudio de políticas y programas en el campo de la educación. Los datos también indican que la actividad de la red ha crecido (accesos, clics y número de suscriptores), junto con su producción académica, reflejándose en la mayor participación del público interesado, incluidas las organizaciones que financian e implementan programas educativos.

Palabras clave: Redes; Redes sociales; Implementación de políticas educa tivas; Políticas educativas; Investigación educativa.

Abstract

Objective:

this article presents the trajectory of the development of a network of researchers that emerged in Brazil to deepen and expand a more recent strand of analysis of educational public policies, the analysis of policy implementation. REIPPE is a social network that brings together researchers and, more recently, managers, other education professionals, and graduate students interested in a particular field of knowledge.

Originality/contribution:

The contribution is the sharing of a network organization experience, which aims to stimulate further studies on the different ways of grouping researchers, which has been strengthened in recent years with the creation of research groups, research in groups, collaborative networks, networks of researchers and observatories.

Method:

this is an experience report, with a historical approach, which sought to rescue the reasons why the network was formed and how it has been constituted since 2014, the year of its creation. The course of existence of the network was elaborated from its creation; its dynamics and identity; strategies to institutionalize; governance mechanisms; the promotion of activities aimed at strengthening the countryside in Brazil; the dissemination of content and the engagement of the interested public.

Strategies/information collection:

a documentary survey was carried out based on the following sources: (1) two management reports produced by the network (2019-2020) and (2020-2021); (2) visits to your website; (3) visits to your Facebook page and YouTube channel; (4) academic production linked to research associated with its members (theses, dissertations and indexed articles); (5) Minutes of Meetings and (6) Personnel Records.

Conclusions:

The analysis of the compiled data reveals that, since its foundation, the network has been strengthened and become a reference for researchers who deal with the issue of implementation, bringing together theoretical perspectives and research methodologies for the study of policies and programs in the field of education. The data also indicate that the ne tworks activity has grown (accesses, clicks, and the number of subscribers), along with its academic production, reflecting in the increased engagement of the interested public, including organizations that finance and implement educational programs.

Keywords: Networks; Social networks; Implementation of educational policies; Educational policies; Educational research.

Introdução

O envolvimento de pesquisadores de diferentes instituições, regiões e países em redes de pesquisa tem sido uma tendência entre os profissionais que atuam em áreas de conhecimento comum e convergentes, compartilhando interesses conjuntos em abordagens, perspectivas teóricas, metodologias, técnicas e objetos de investigação. É nesse sentido que esse artigo se inscreve, tendo como objetivo discorrer a respeito da trajetória de uma rede de pesquisadores brasileiros que tem experimentado um crescimento importante a partir de 2018 - a Rede de Estudos sobre Implementação de Políticas Públicas Educacionais (REIPPE).

O artigo apresenta esse percurso a partir das seguintes dimensões: criação da rede; sua dinâmica e identidade; estratégias para institucionalizar-se; mecanismos de governança; a promoção de atividades voltadas para o fortalecimento do campo da implementação no Brasil; a disseminação de conteúdos e o engajamento do público interessado. Para tal, analisamos: (1) dois relatórios de gestão produzidos pela rede (2019-2020) e (2020-2021); (2) acessos ao seu sítio eletrônico, sistematizando informações relevantes; (3) acessos à sua página no Facebook e ao seu canal no Youtube, compilando dados importantes; (4) a produção acadêmica vinculada às pesquisas associadas a seus membros, disponíveis no sítio da rede (teses, dissertações e artigos indexados); (5) Atas de reuniões e (6) Registros Pessoais.

Fundada em 2014, a REIPPE se constituiu a partir de um pequeno grupo de pesquisa dores de diferentes instituições brasileiras que tinham em comum o interesse em estudar a implementação de políticas públicas educacionais a partir de um referencial teórico oriundo dos campos da Ciência Política e da Sociologia. Desde então, a rede tem se fortalecido e se tornado uma referência para pesquisadores que tratam do tema da implementação, reunindo perspectivas teóricas e metodologias de pesquisa para o estudo de políticas e programas no campo da educação.

A concepção de rede surge como um constructo teórico para explicar fenômenos sociais em que indivíduos estreitam suas relações em torno de um propósito comum. O compar tilhamento de conhecimentos é uma atribuição importante das instituições de pesquisa, impulsionando mudanças na sociedade e é nesse contexto que as redes de pesquisa vão se constituindo.6 Assim, a REIPPE é uma rede social, que poderia ser denominada também como uma rede de relacionamento, ou rede de pesquisadores, cujos membros possuem vínculos institucionais diferentes.

O conceito de rede social é recente, tendo surgido na primeira metade do século XX, assumindo uma natureza mais analítica e explicativa na segunda metade do referido século, no campo da sociologia, especificamente na antropologia social7. Adquiriu um caráter mais explicativo de sistemas sociais em contextos mais complexos, quando o foco em sistemas culturais, fundamentado em modelos teóricos estrutural-funcionalistas clássicos, deslocou-se, ou ampliou-se para os sistemas de redes de relações sociais.

Até então, os pesquisadores têm se organizado em grupos e redes de pesquisa interinstitu- cionais para o desenvolvimento de projetos de investigação comuns. Esses grupos possuem uma natureza mais formal e se constituem para a concretização de metas compartilhadas, dentro de um prazo definido e com financiamento externo promovido por agências de fomento.

Para além das redes dessa natureza, as redes sociais de pesquisadores possuem, pelo menos no início de sua constituição, um caráter mais informal, e visam suprir a necessidade de um ambiente especializado em determinado campo, seja para explorar temáticas de estudo ainda pouco abordadas, seja para aprofundar conhecimentos, ou mesmo compartilhar resultados de investigação, discutir temáticas de interesse e criar uma comunidade científica com interesses comuns. Essas redes são formadas, não para dar conta de uma proposta de investigação, mas reúnem um conjunto de pessoas de instituições diferentes e que não necessariamente trabalham em um mesmo projeto de pesquisa, mas compartilham seus objetivos e resultados de investigação.8 Bulgacov e Verdu afirmam que a reunião de pesquisadores de organizações diferentes, de natureza mais formal e com um propósito de ação definido, tem sido analisada por perspectivas variadas, como redes de pesquisa, ecologia populacional, institucionalismo e dependências de recursos. No entanto, as redes informais são complexas e desafiadoras do ponto de vista da análise, pois significa trabalhar com um conjunto de pessoas independentes, que pertencem a diferentes organizações e cuja fluidez nas relações tornam a compreensão desses grupos mais difícil.

Em artigo sobre o Observatório Nacional de Educação Especial, Eniccéia Gonçalves e outros autores (2016) explicitam o potencial das redes de pesquisa e grupos de colaboração, destacando seu poder investigativo, formativo e de disseminação. Ainda que as autoras não CT conceituem as diferentes formas de organização dos pesquisadores, elas tratam de redes de colaboração em pesquisa e justificam a importância desses grupos para o fortalecimento das interações entre os cientistas e o exercício da ciência como uma instituição que é social e que, portanto, deve ser compartilhada. Além disso, destacam que há poucos estudos que ainda se propõem a avaliar essas redes, o que, de certa forma, explica a falta de uma definição mais clara entre as diferentes formas de organização dos pesquisadores em redes e grupos de colaboração ou parcerias em pesquisa.

Destaca-se também que na produção acadêmica brasileira, há a avaliação sistemática dos produtos produzidos por grupos de pesquisa, mas pouco se sabe sobre os processos de geração desses produtos. Em relação a redes de pesquisadores, as informações são ainda mais escassas, revelando desconhecimento sobre os percursos para a constituição dessas redes e os mecanismos de interação entre seus membros e de articulação para a produção de conhecimento9. O surgimento dessas redes de pesquisadores é um fenômeno em evidência e tem chamado a atenção da comunidade científica, pois são grupos que criam oportunidades, parecem estimular agendas de pesquisa específicas e fortalecer relações de cooperação para o enfrentamento de desafios e obstáculos teórico-metodológicos. Segundo Portugal10 , há estudos que se debruçam sobre redes e a contribuição da teoria das redes sociais revela-se no estabelecimento de interseções entre os níveis macro e microestrutural, mediante a análise das interações entre os indivíduos em uma determinada rede a que pertencem. No entanto, ainda há poucas evidências sobre o funcionamento dessas redes, conforme afirmado por Leite e outros autores (2014), sendo importante, portanto, que as redes de pesquisa compartilhem suas experiências para a produção de dados empíricos que permitam compreender e avaliar a dinâmica desses grupos.

A inexistência de conhecimento sobre as diferentes formas de organização dos pesquisadores tem como consequência a falta de clareza sobre os diversos grupos de investigação. Ainda assim, é possível perceber algumas distinções que necessitam ser mais bem exploradas a partir dos estudos empíricos e relatos de experiência que tragam evidências sobre os processos de investigação e as relações estabelecidas entre os pesquisadores.

O primeiro ponto a se destacar são as redes de pesquisa, cujo objetivo é implementar processos de trabalho interinstitucionais para desenvolver ações de investigação em uma determinada área temática. Geralmente, a existência desses grupos está condicionada à investigação conduzida por eles, possuindo, portanto, um prazo de vida definido. Esses grupos se formam para buscar financiamentos externos ou atender demandas existentes e, no Brasil, agências de fomento à pesquisa têm estimulado essas parcerias entre instituições e entre pesquisadores brasileiros com pesquisadores estrangeiros para o desenvolvimento de investigações de maior porte, e que atentam interesses governamentais.

Já as redes sociais, ou redes de colaboração são os grupos que se formam para a consolidação de um campo de estudo, ou para aprofundamentos temáticos, sem que exista, inicialmente, algum vínculo financeiro com agências de fomento. Dentro dessas redes, cujas relações são mais dinâmicas, fluidas e menos sistemáticas, há pesquisadores que seguem uma trajetória de trabalho mais individual ou com pesquisadores que não pertencem ao grupo; há grupos de pesquisa dos pesquisadores envolvidos com a rede e há pesquisas em rede, nos moldes das redes de pesquisa, financiadas pelas agências de fomento. Assim sendo, as redes sociais de pesquisadores ou redes de colaboração são complexas e agregam uma diversidade de interações e relações sociais que precisam ser estudadas para se chegar a definir com mais clareza os diferentes modelos de organização da pesquisa acadêmica.

Uma rede como a REIPPE possui uma realidade própria e a sua influência sobre seus membros não se reduz a normativas, representando um tecido social que se refaz continua mente pela interação entre seus membros e o compartilhamento de interesses individuais e coletivos. A rede se tece com elementos heterogêneos que se integram na produção de um conjunto de estudos e investigações com objetos diversos, dentro de perspectivas de análise que dialogam entre si e contribuem para a ampliaçao e o fortalecimento de um campo de conhecimento na área da educaçao.

Considerando-se a REIPPE como uma rede de colaboração no campo da pesquisa, da formação e da incidência, que congrega pesquisadores e demais profissionais da educação, esse artigo trata das ações que têm sido desenvolvidas pela REIPPE ao longo de seus oito anos de existência, além de fornecer evidências que informam como a rede tem incidido no campo e induzido discussões sobre implementação nas diversas regiões brasileiras.

Para o desenvolvimento desse artigo, que trata de um relato de experiência, procedeu-se, mediante uma abordagem metodológica qualitativa e histórica, ao levantamento de diferentes fontes documentais para a elaboração de uma narrativa que explicita a trajetória da rede, do ponto de vista de membros do grupo, que ocuparam a coordenação da REIPPE nos anos de 2019 e 2021, mas que vêm acompanhando o desenvolvimento da rede desde a sua criação. As fontes são: (i) dois relatórios de gestão produzidos pela rede (2019-2020) e (2020-2021); (ii) relatório de acessos ao seu sítio eletrônico; (iii) relatório de acessos à sua página no Facebook e no seu canal no Youtube; (iv) a produção acadêmica vinculada às pesquisas associadas a seus membros (teses, dissertações e artigos indexados) e (v) atas de reuniões e Registros Pessoais dos autores.

A reconstituição de sua trajetória se deu a partir das seguintes dimensões: o marco da criação da rede; sua dinâmica de funcionamento e identidade; as estratégias para institucionalizar-se; os mecanismos de governança; a promoção de atividades voltadas para o fortalecimento do campo da análise de implementação no Brasil, a disseminação de conteúdos e o engajamento 90 do público interessado.

O texto está organizado em três seções, além da Introdução e das Considerações Finais. - Na primeira seção, discorremos sobre a trajetória da rede, apresentando o processo de formalização a que ela tem se submetido, devido à sua ampliação. A seção dois traz as ações desenvolvidas pela REIPPE e a produção acadêmica associada a seus membros. Finalmente, a terceira seção analisa a atuação da rede e sua inserção no ciberespaço, por meio de suas redes sociais e do consequente engajamento alcançado.

A Trajetória da REIPPE: criação, motivações e institucionalização

Ainda que a grande maioria dos estudos realizados sobre políticas educacionais no campo da Educação fundamenta-se no modelo teórico metodológico do ciclo de políticas, elaborado por Stephen Ball e Richard Bowe11 (1992), outros referenciais teóricos e metodológicos passaram a ser mobilizados para a análise de implementação de políticas públicas educacionais. Embora esse modelo ainda seja uma referência importante, que oferece relevantes contribuições para a compreensão das políticas públicas, ampliar o debate e o diálogo com outras referências, teorias, epistemologías e metodologias em outros campos e áreas do conhecimento voltadas para os estudos das políticas públicas têm sido uma demanda decorrente e derivada das pesquisas empíricas sobre as políticas educacionais. 11

Foi com o objetivo de compreender mais e melhor esses referenciais, que pesquisadores do campo educacional12, ligados a universidades públicas e privadas, reuniram-se para estudar a literatura sobre implementação de políticas públicas, a partir de referências dos campos da Ciência Política e da Sociologia. Essas reuniões, iniciadas em 2014, foram desenvolvidas de maneira informal e sempre contavam com a participação de convidados especialistas para uma breve apresentação - geralmente de cunho mais teórico do que empírico -, seguida de debates.

O público frequentador eram os próprios membros fundadores da REIPPE, pesquisadores pertencentes à rede, pesquisadores convidados para esses encontros, e estudantes de Iniciação Científica, de Mestrado e Doutorado, muitos deles orientandos e membros integrantes de grupos de pesquisa dos membros fundadores da rede. A divulgação dos encontros era informal e por meio das redes de trocas disponíveis - grupos de e-mails e grupos de pesquisa com interesses aproximados. Os encontros aconteciam nas instituições onde os membros fundadores estavam vinculados, concentrando sua inserção na região Sudeste, nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro.

As primeiras reuniões da REIPPE foram marcadas pela presença de referências brasileiras do campo da Ciência Política, para aprofundar questões conceituais sobre Estado, perspectivas teórico-metodológicas de análise de políticas e implementação de políticas. Normalmente, as reuniões seguiam a dinâmica de uma palestra e, ao final, os membros fundadores, à época denominada Equipe de Articulação da REIPPE e demais pesquisadores interessados, reuniam-se internamente para planejar o próximo encontro. Embora a maioria das reuniões tivesse esse formato, algumas assumiram outras características, com apresentação de trabalhos em andamento ou finalizados, realizados no âmbito da REIPPE. Nos primeiros anos de existência da rede, os primeiros passos para um processo de institucionalização já foram dados, com a criação de um site (https://www.reippe.com/) para agregar, primeiramente, referências bibliográficas sobre o tema da implementação de políticas públicas educacionais e notícias dos encontros da rede. Com o passar dos anos, a própria rede foi se fortalecendo com a produção de pesquisas de seus membros e orientandos, precisando ser a página da internet reconfigurada para abrigar as novas produções.

Nos primeiros anos de existência, não havia um plano de ampliação da REIPPE, pois o interesse não era expandir a rede, mas constituir um grupo pequeno de pesquisadores interessados em estudar a fase de implementação de políticas públicas. No entanto, os seminários realizados, a circulação das informações entre os grupos de pesquisa e os trabalhos produzidos pelos membros da rede começaram a circular pelo campo acadêmico educacional, despertando interesse de outros pesquisadores e instituições. Sendo assim, entendeu-se que seria necessário pensar na ampliação da rede e esse processo foi planejado, de modo a garantir que a rede não se descaracterizasse, mantendo seus propósitos originais de investigação.

Foi nesse momento, em meados de 2019, que a configuração e a atuação da REIPPE passaram a ganhar novos contornos. Primeiro, a Equipe de Articulação da REIPPE renovou-se, e quatro integrantes da rede foram convidados para substituí-los na coordenação de grupo. Ainda em 2019, a Fundação Itaú Social (FIS), vinculada ao Banco Itaú Unibanco, manifestou interesse em oferecer apoio financeiro à rede visando o fortalecimento institucional da rede, uma vez que é de interesse da instituição o desenvolvimento de análises e avaliações de implementação dos programas desenvolvidos por eles em estados e municípios brasileiros.

Nesse sentido, a FIS tem patrocinado a rede, mediante a celebração de uma parceria que guarda pertinência com os objetivos de aperfeiçoamento dos instrumentos de acompanha mento e monitoramento de programas sociais e educacionais. Tal iniciativa viabilizou ampliar e diversificar suas atividades acadêmicas, exigindo maior e mais detida reflexão sobre sua identidade, além de estimular um processo de formalização da rede, que ainda está em curso.

A rede, que antes tinha um formato livre e pouco institucionalizado, passou a ganhar outras características, constituindo-se em três instâncias: (1) Conselho Consultivo - composto pelos membros fundadores, com mandato de dois anos; (2) Equipe de Coordenação (antiga Equipe de Articulação) - composta por quatro integrantes convidados pelos membros fundadores, com mandato de dois anos; (3) Secretaria Executiva - composta por uma secretária e uma comunicadora, responsáveis, respectivamente, pelos expedientes administrativos internos e externos e pela divulgação das ações conexas à rede.

Assim, desde setembro de 2019 até outubro de 2021, a REIPPE assumiu essa configuração. Sua gestão ficou sob a responsabilidade da Equipe de Coordenação, com o apoio direto da Secretaria Executiva, e o Conselho Consultivo assumiu a tarefa de, quando acionado, opinar e aconselhar sobre os encaminhamentos das atividades acadêmicas e/ou administrativas.

Se, por um lado, o interesse era a constituição de uma rede pequena, por outro, os trabalhos produzidos começavam a ganhar relevância e a impactar o campo, levando a REIPPE a ter mais visibilidade. Coube à então Coordenação (vigência 2019-2021) liderar o primeiro planejamento estratégico da rede nesses novos contornos. Isso exigiu uma nova reflexão sobre sua identidade, razão pela qual uma consultora foi contratada para conduzir o planejamento estratégico da rede, realizado por meio de uma imersão de três dias, em outubro de 2019.

Por meio de oficinas, o planejamento abarcou as seguintes temáticas: objetivos da rede; público-alvo; concepções; motivações; ações estruturadoras; projetos estratégicos; planejamento orçamentário e ordenamentos práticos que contribuíssem para a sua governança. Ao final desse processo, a REIPPE redefiniu-se como um foro de articulação de pesquisadores, aberto à participação de gestores de políticas públicas, profissionais da educação, estudantes e demais interessados na produção de conhecimento socialmente relevante sobre implementação de políticas públicas educacionais.

Os dois anos e meio de atuação dessa equipe de coordenação da REIPPE foram atravessados pela pandemia do Coronavírus, o que exigiu o replanejamento e a revisão das atividades e do uso dos recursos. Devido aos inúmeros desafios que se colocaram e com o fim do mandato da segunda gestão, o Conselho Consultivo e a Equipe de Coordenação resolveram fazer uma nova reflexão sobre a identidade da rede, com a mediação da mesma consultoria que, em 2019, fez avançar o processo de institucionalização da rede.

Como produto das reuniões e atividades realizadas via consultorias, foi elaborado o Regimento Interno da REIPPE, disponível na página da rede. Composto por 14 capítulos, o documento estabelece, dentre outras coisas, as finalidades e princípios da rede, o quadro de afiliados, os processos de ingresso, permanência e desligamento, as eleições, os fluxos de decisão e comunicação. O Quadro 1 apresenta a trajetória de institucionalização da rede em três momentos, desde sua fundação.

Quadro 1. Três momentos de constituição e institucionalização da gestão da REIPPE 

2014-2019 2019-2021 2021 -
Equipe de Articulação da REIPPE Conselho Consultivo Coordenação Secretaria Executiva Assembleia de membros Conselho Deliberativo Conselho Fiscal Coordenação Secretaria Executiva

Fonte: Produzido pelos autores.

Conforme disposto no Quadro 1, desde 2021, a REIPPE assumiu uma nova estrutura, que passou a ser composta por cinco instâncias: (1) Assembleia de membros - instância decisória, formada por membros pesquisadores; (2) Conselho Deliberativo - tem como principais funções acompanhar, analisar, aprovar e deliberar junto com a Coordenação, sendo uma instância que compartilha com a Coordenação as tarefas de gestão da rede; (3) Conselho Fiscal - órgão de fiscalização e apoio à sustentabilidade financeira da REIPPE; (4) Coordenação - planeja e coordena as atividades fim da rede, com o apoio do Conselho Deliberativo e da Secretaria Executiva; (5) Secretaria Executiva - instância responsável pela operacionalização administrativa e de comunicação das atividades da rede.

Um elemento novo, a Assembleia de membros, caracteriza a nova organização institucional da REIPPE e evidencia sua ampliação e a necessidade de garantir que a rede seja organizada por princípios de democracia e participação. Se, até então, as decisões eram tomadas pela Coordenação e, quando necessário, em conjunto com o Conselho Consultivo, nesta nova configuração as decisões são tomadas em Assembleia, com a participação de todos os membros. Isso se fez necessário, justamente, porque a rede vem ampliando seu espaço de atuação e, como consequência, novos membros passaram a integrá-la.

A Coordenação eleita assumiu a gestão da REIPPE no meio do processo de elaboração do Regimento Interno, em outubro de 2021. Por isso, não se convocou processo eleitoral - como define o documento. Esta Coordenação foi formada pelos mesmos trâmites que a equipe anterior: por meio de indicações do Conselho Consultivo e da antiga Coordenação. Nesse ciclo de gestão, a REIPPE tem o desafio de operacionalizar as disposições do Regimento Interno e de planejar suas atividades acadêmicas, num contexto educacional e sanitário ainda desafiador.

A rede em ação: um elo de articulação, produção e disseminação

A rede sempre teve por objetivo disseminar conhecimento sobre abordagens teóricas e metodológicas no campo das políticas públicas, em especial sobre a análise de implementa ção. Tendo em vista que, em seus primórdios, a REIPPE não contava com apoio financeiro, os seminários promovidos foram realizados de forma voluntária, sem nenhum tipo de financiamento ou ajuda de custo.

O site da rede, que teve sua primeira versão construída em 2015, foi mantido com recursos de pesquisa de um membro fundador e elaborado por um aluno de pós-graduação que tinha algum domínio sobre a criação de websites. Foi em 2019, com o apoio financeiro da Fundação Itaú Social, que a rede pode diversificar suas atividades, aprimorar sua página na internet, manter uma conta atualizada em rede social e promover uma divulgação mais institucionalizada e profissional de seus eventos. Também foi a partir de 2019 que a rede passou a financiar o deslocamento de palestrantes e membros da coordenação em eventos, além de outras atividades que serão discutidas nas seções seguintes. Os recursos captados, portanto, foram imprescindíveis para que a rede ampliasse seu escopo de ação, consolidando sua vocação como um hub de atuação e disseminação.

Reuniões anuais

Desde o início, o processo de conformação e dinamização da rede ancora-se nas reuniões anuais. Realizadas desde sua fundação, as reuniões, abertas à comunidade acadêmica 94 interessada, acontecem duas vezes ao ano, organizadas pelos seus membros. As reuniões têm três objetivos: (1) por meio da exposição feita por pesquisadores convidados, debater temas associados ao campo da implementação de políticas educacionais; (2) apresentação de pesquisas concluídas e/ou em andamento e (3) avaliação e planejamento das ações futuras.

Até o ano de 2021, foram organizadas 11 reuniões. A primeira reunião da rede aconteceu em 2014. A primeira reunião com os recursos captados junto à FIS aconteceu em março de 2019, na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro - UNIRIO. O encontro, ainda presencial, teve como tema “Concepções de Estado, Políticas Públicas Educacionais e Gestão Pública” e sua programação contou com duas mesas em que as convidadas discutiram “as relações entre estado e sociedade para a definição de agendas e propostas de ação” e “as relações públicas entre Gestão pública e políticas educacionais”, seguidas de um amplo debate. Ao A final da reunião, as equipes de Coordenação e do Conselho Consultivo, acompanhados de alguns membros interessados, reuniram-se para atualizar as pesquisas em andamento e planejar a 11a reunião, prevista para março de 2020. Por causa da pandemia, essa reunião, que seria na Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP Minas Gerais) e abordaria a temática “Implementação de Políticas Educacionais e Desigualdades Escolares”, foi remarcada para o segundo semestre de 2022. Essa seria a segunda reunião financiada por meio da parceria com a Fundação Itaú Social.

No entanto, os eventos não cessaram apesar da pandemia: a coordenação anterior realocou verba para assinatura de software de videoconferência e, ao longo de sua gestão, organizou vários seminários, que se tornaram uma marca da rede - o REIPPE Convida!, que será discutido na seção seguinte. Além dos eventos online, a 11a. Reunião da REIPPE também foi realizada virtualmente, em outubro de 2021, tendo como tema “Federalismo e implementação de Políticas Públicas Educacionais: um olhar a partir dos governos estaduais e municipais”.

Parcerias e participação em eventos

Além das reuniões anuais, a REIPPE vem realizando eventos em parceria com outras instituições de pesquisa. O I Seminário Brasileiro sobre Implementação de Políticas Públicas aconteceu em Brasília, em maio de 2018 e foi organizado em uma parceria entre a REIPPE, a Escola Nacional de Administração Pública (ENAP), a Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) e a Fundação Getúlio Vargas (FGV/SP). Contou com a presença de importantes referências internacionais no campo da implementação de políticas públicas, entre eles Michael Lipsky e Vincent Duboi), e teve a participação de cerca de 300 pessoas.

O II Seminário Brasileiro sobre Implementação de Políticas Públicas aconteceu em outubro de 2019, na Fundação Getúlio Vargas (FGV) do Rio de Janeiro, e contou com a participação de especialistas de diversas áreas, dentre eles, a cientista social dinamarquesa Marie 0stergaard M0lle. Desta vez, além de atuar na organização e planejamento (em parceria com a FGV-Rio, a PUC-Rio e o Insper), a REIPPE patrocinou parte do evento incluindo o deslocamento e a estadia dos convidados e membros.

O III Seminário Brasileiro sobre Implementação de Políticas Públicas estava sendo pla nejado, em parceria com as mesmas instituições, para acontecer em São Paulo em maio de 2020. O evento já contava com a confirmação de dois convidados internacionais e reservava na agenda uma mesa para apresentação de pesquisas locais. Contudo, precisou ser cancelado em consequência da Pandemia de Covid-19.

Tradução e difusão de artigos científicos e apoio à formação de pesquisadores

Com o intuito de favorecer a divulgação das pesquisas realizadas, a REIPPE tem apoiado a tradução de artigos de seus membros e a organização de dossiês temáticos sobre o tema da implementação. A partir dessas iniciativas e do compartilhamento das pesquisas de seus membros, a discussão sobre a análise de implementação de políticas na educação tem se ampliado e levado em consideração temas importantes para o cenário educacional dos países latino-americanos, como a desigualdade social e educacional e os princípios de justiça no acesso e permanência dos estudantes nos sistemas de ensino.

Dois dossiês foram organizados por membros da rede e publicados em revistas nacionais indexadas. Os artigos escritos por seus membros foram apoiados pela rede e sua tradução para o inglês e o espanhol foi custeada por meio da parceria com a FIS. Os números especiais foram publicados nas revistas Educar em Revista (A1), em 2021 e Ibero-Americana de Estudos em Educação (A2), em 202213.

A produção acadêmica produzida e compilada: teses, dissertações e artigos

Desde o início da rede, antes mesmo de ter registrado os seus objetivos e propósitos, a REIPPE tinha presente a preocupação em fomentar a realização e divulgação de pesquisas sobre a implementação de políticas educacionais. Neste sentido, considerando a atuação dos pesquisadores que compõem a rede em seus respectivos programas de pós-graduação, muitas teses e dissertações foram defendidas e muitos artigos publicados sobre o tema, consolidando o papel da REIPPE enquanto espaço de interlocução e divulgação de pesquisas sobre a implementação de políticas educacionais.

Buscando dar visibilidade a essa produção, foi construído no sítio eletrônico da rede um repositório deste material, atualizado constantemente, considerando, principalmente, a produção vinculada aos membros participantes das equipes que compõem a gestão da REIPPE (Conselhos e Coordenações), uma vez que a organização das diferentes modalidades de participação na rede foi recentemente estruturada, como apresentado na seção anterior. Assim, partindo deste recorte e considerando o período de existência da REIPPE, a produção em pesquisa - teses, dissertações e artigos publicados - da rede pode ser sintetizada no Gráfico 1.

Fonte: Elaborado pelos autores. Informações disponíveis no site da REIPPE (reippe.com)

Gráfico 1. Síntese da produção acadêmica da REIPPE: 2014-2021 

O Gráfico 1 sintetiza as publicações por categoria, entre 2014 e 2021. Destaca-se, no período analisado, o aumento no volume de dissertações defendidas nos últimos anos, apontando uma expansão da produção que coincide com os primeiros trabalhos orientados por parte do grupo de pesquisadores da REIPPE que compunham a equipe de gestão da rede. Em relação às temáticas abordadas nestas produções, apontamos a diversidade de políticas/programas e contextos analisados nas teses e dissertações defendidas, como podemos ver no Quadro 2:

Quadro 2. Políticas/Programas analisados nas Teses e Dissertações  

Fonte: Produzido pelos autores.

Em relação aos artigos publicados, destacamos que as temáticas abordadas se concentram, especialmente, nas seguintes categorias: (1) implementação e avaliação de políticas públicas educacionais; (2) implementação e burocracia de nível de rua/burocracia de médio escalão; (3) implementação de políticas curriculares; (4) implementação de políticas de avaliação da aprendizagem; (5) implementação de políticas educacionais e qualidade/equidade; (6) implementação da educação remota na pandemia. Destaca-se que as recentes publicações levantadas articulam, de maneira mais consistente, o referencial teórico-analítico dos cam pos da Ciência Política, da Sociologia e da Administração Pública para os estudos sobre a implementação de políticas educacionais.

Ainda que se note uma tendência de concentração dos campos de pesquisa na região Sudeste do Brasil - localização das instituições a que estão vinculados a maior parte dos pesquisadores da REIPPE -, alguns dos trabalhos exploraram outros contextos, especialmente considerando o estado do Ceará, no Nordeste brasileiro.

Parte dos trabalhos realizados são produtos de duas pesquisas importantes que se desen volveram no âmbito da REIPPE e que marcaram seu processo de ampliação. Coordenadas por uma pesquisadora-membro, as pesquisas Implementação de políticas educacionais e equidade em contexto de vulnerabilidade social e A implementação do Programa São Paulo Integral e a Qualidade da Educação no Ensino Fundamental: análises e proposições, receberam o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) e da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), respectivamente, e envolveram a participação de vários de seus integrantes. Em particular, a pesquisa apoiada pela FAPESP pode ser considerada um marco importante de ampliação territorial e acadêmico da REIPPE, 98pois a pertinência e relevância do estudo - que focalizou os estados do Ceará e de São Paulo-, catalisou pesquisadores de outras universidades e instituições de pesquisa nacionais e - internacionais, sendo que alguns deles passaram a integrar a rede após sua inserção.

A REIPPE a partir da pandemia da COVID-19 e sua inserção no ciberespaço

Em função da pandemia, os eventos presenciais organizados e apoiados pela REIPPE ou m com a participação de membros financiados pela rede, previstos para acontecer em 2020 e 2021, foram suspensos. Por causa do distanciamento social imposto pela pandemia da COVID-19, a REIPPE também alargou seu escopo como rede. O ambiente virtual emergiu A como estratégia para ampliar sua atuação e alargar a articulação com outras redes, atores, instituições, regiões e espaços.

Essa questão tem relação direta com Castells14 ao afirmar que o século XXI inaugura um novo tempo - a sociedade em rede. Segundo o autor, trata-se de uma era marcada por profundas transformações econômicas, políticas, sociais e culturais impulsionadas por massivos, interligados e contínuos avanços no campo das tecnologias, por meio da internet e da emergência das redes digitais. O surgimento de dispositivos e artefatos de comunicação e interação materializam essas dinâmicas, alterando profundamente os processos de produção e disseminação da informação. Da mesma forma, as dinâmicas associadas à produção do conhecimento também são modificadas.

Ao analisar essas questões para o caso da educação virtual, Oliveira e autores (2017) recorrem às contribuições de Lévy15 (2009). Os autores afirmam que a flexibilização dos tempos, a relativização das distâncias, a adoção de novas formas de socialização e padrões de comportamento definem múltiplas combinações. Segundo os autores, tais dinâmicas provocam sucessivas mudanças nas relações sociais quando outra dimensão de espaço passa a fazer parte do cotidiano das interações - o ciberespaço. Para Lévy16 (1999), afirmam, “o ciberespaço é a dimensão que agencia, articula, conecta, processa, potencializa e relativiza a pluralidade de ideias, processos e saberes que transitam a partir dos dispositivos digitais e em rede” (p.4). Como a REIPPE é uma rede do seu tempo - uma rede que não nasceu virtual, mas foi induzida a incorporar a virtualidade às suas práticas e dinâmicas -, a próxima subseção trata de apresentar e discutir as ações empreendidas pela rede no ciberespaço, a partir de 2019.

REIPPE Convida!

Em 2020, foi criado o REIPPE Convida!, uma série de eventos virtuais com a presença de convidados, cuja finalidade principal foi dar continuidade, no formato remoto, às discussões acadêmicas sobre o tema da implementação de políticas públicas, focalizando o campo da educação . Entre junho de 2020 a novembro de 2021, foram realizados 17 encontros virtuais com temas e convidados relevantes para o campo, organizados por meio da plataforma Zoom.

Todos os eventos foram gravados e, posteriormente, disponibilizados no canal da rede no Youtube (@redereippe1714) que se tornou importante repositório desta trajetória. O Quadro 3 consolida as informações sobre cada um dos eventos e informa que, ao todo, quase 1600 pessoas participaram dos eventos virtuais da rede no período de 2020 e 2021.

Quadro 3. Eventos virtuais realizados pela REIPPE em 2020 e 2021 

Os registros também informam que os inscritos atuavam em 340 instituições brasileiras pertencentes aos setores público, privado e ao público não estatal - universidades, escolas, secretarias municipais e estaduais de educação, superintendências, Tribunais de Contas, Câmara dos Deputados, Senado Federal, fundações, associações, partidos políticos, redes de pesquisas, organizações não governamentais e sindicatos. Portanto, a rede tem atingido um amplo conjunto de pessoas, incluindo gestores, técnicos e acadêmicos que trabalham, investigam ou possuem interesse na temática da implementação de políticas públicas educacionais.

Ainda que o público participante seja, majoritariamente, da região Sudeste, todas as regiões brasileiras foram alcançadas com essa iniciativa. Reside nesse ponto uma questão importante: a descentralização e desconcentração do debate para além das instituições e cidades/regiões mais desenvolvidas. Redes - e redes de pesquisas - podem contribuir para que o debate qualificado seja mais abrangente, inclusivo, diverso, horizontal e, consequentemente, mais democrático.

Por isso, a virtualidade é uma dimensão importante para a dinâmica de redes, razão pela qual o REIPPE Convida seguirá como atividade regular, mesmo com o fim da pandemia. Em um país tão heterogêneo e extenso quanto o Brasil, estratégias de discussão virtuais são um canal importante para a mobilização dos diversos atores e regiões que integram o campo educacional, descolonizando saberes e práticas.

Comunicação em rede: mídias sociais e canais de divulgação

Nesse processo, a rede abriu-se para outros atores, incluindo gestores públicos e profissionais da educação básica. Além disso, foram definidas a missão, visão e princípios de pesquisa e de rede. Nesse percurso, o diálogo com a comunidade interessada, o engajamento, a comunicação, a disseminação de conteúdos e a divulgação de ações e publicações passaram a fazer parte do cotidiano da rede, no escopo da atuação da Secretaria Executiva. Dessa forma, a página da rede na Internet foi reformulada e um perfil foi criado no Facebook e no Youtube17.

A ampliação da rede é percebida pelos números de acesso às plataformas digitais. De acordo com o Relatório anual produzido pela REIPPE desde 2020, entre janeiro e novembro 0 de 2021 o site teve mais de 26 mil impressões e 700 cliques18, no Brasil e em outros países, como Portugal, Itália, Chile e Estados Unidos, indicando que a rede está ganhando projeção internacional. A Figura 1 evidencia essa movimentação. O acesso ao Facebook, por sua vez, cresceu 14,3% em 2021, indicando que a divulgação dos eventos tem alcançado e engajado mais pessoas, conforme disposto na Figura 2.

Fonte: Relatório REIPPE (2020-2021).

Figura 1. Impressões e visitas ao sítio eletrônico da REIPPE (janeiro/2020 e novembro /2021) 

Fonte: Relatório REIPPE (2020-2021).

Figura 2. Impressões e visitas à página no Facebook (janeiro/2020 e novembro /2021) 

Embora a rede esteja se ampliando, a grande maioria do acesso às plataformas digitais ainda se concentra na região Sudeste, em especial no Rio de Janeiro e em São Paulo, seguida da região Nordeste. Nesse sentido, a REIPPE ainda enfrenta o desafio de ampliar seu alcance internamente, em outras regiões do país e, também, de expandir interlocuções com parceiros de pesquisa internacionais.

Conclusões

O propósito do artigo foi apresentar a trajetória e as estratégias e ações empreendidas pela Rede de Estudos sobre Implementação de Políticas Públicas Educacionais desde sua criação, em 2014. A rede foi criada para atender aos pesquisadores do campo educacional interessados em se aprofundar teórica e metodologicamente sobre o campo da implementação de políticas educacionais - uma vertente de análise de política pública pouco explorada na produção educacional, no Brasil.

Ao longo de oito anos, a rede assumiu novos contornos com a ampliação de seus membros, o aumento da produção científica em análise de implementação de políticas educacionais e a visibilidade adquirida entre associações da educação, universidades e pesquisadores.

Importante observar que a rede continua se transformando rumo a um processo de insti tucionalização que não tinha sido vislumbrado anteriormente. Isso se deve ao seu crescimento e, principalmente, à captação de recursos financeiros, que permitiu o desenvolvimento e o apoio de várias ações no campo acadêmicos. Ao mesmo tempo, as ações promoveram sua visibilidade e ampliação.

Entende-se que, futuramente, a rede não estará ocupada somente com as abordagens e perspectivas teórico-metodológicas, mas com as dinâmicas e problemas que agências públicas e privadas enfrentam na implementação de políticas, programas e projetos. Seu caminho passa pelo fortalecimento desse processo de institucionalização, iniciado com a elaboração 104 de seu estatuto e a parceria com a Fundação Itaú Social.

Nota-se, por meio da descrição desse processo de constituição da rede e de suas ativi dades, um movimento dialético em que ações, financiamento e visibilidade se articulam e se reforçam, permitindo que a rede adquira novos contornos: a REIPPE tem se deslocado de um espaço informal e espontâneo para outro, em que as ações passam a ser planejadas e as relações sociais internas à rede, reguladas por pactos estabelecidos entre seus membros.

Segundo Castells (2000), o ciberespaço e a sociedade em rede modificam as interações sociais, alterando as dinâmicas entre o real e o virtual. Tal processo faz com que os tempos se tornem mais fluidos, uma vez que os aparatos tecnológicos estimulam um transitar 0 entre mundos e lógicas. A consequência, para o autor, é a formação e potencialização de comunidades virtuais. Ainda que essa não seja a identidade plena da REIPPE, ao adotar as tecnologias como uma estratégia de disseminação e mobilização em função da pandemia, a rede alargou sua atuação, dialogando com outros atores e instituições. A virtualidade da rede também alargou sua inserção em outros espaços para além dos territórios físicos, contribuindo para seu crescimento.

Nessa direção, concordamos com Oliveira e autores (2017), ao retomarem Silva (2012): “essas interações conformam uma rede de trocas de informações, compromissos, promessas, aceitações, reclamações e atos de comunicação onde o mundo privado da experiência pessoal e privada é diluído no mundo das interações que ali se materializam” (p.18). Essa também passa a ser uma vocação da REIPPE, destacada em seu planejamento e nas ações que, já consolidadas, continuarão na agenda de trabalho na Coordenação eleita para o biênio 2021-2023.

Finalmente, cabe ressaltar que os resultados alcançados pela REIPPE são importantes porque mostram como a rede se fortaleceu como referencia na produção de estudos sobre a análise de implementação de políticas públicas educacionais no Brasil. Descrever e analisar a trajetória da rede a partir de sua atuação, o que tem feito, o que isso significa em termos de produção acadêmica no país e como tem sido capaz de incidir no campo fornece ao leitor evidencias importantes sobre a constituição de redes que podem auxiliar outras redes de pesquisa a se organizar e se consolidar.

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1O artigo decorre da análise da gestão da Equipe de Coordenação da Rede de Estudos sobre Implementação de Políticas Públicas Educacionais (2018-2021).

6Abadía de Altina da Silva, Claudia Tavares de Amaral, Luciana Barros de Amaral, "Redes de Pesquisa em Educação e Colaboração Científica”, Ensino Em Re-Vista Vol.13, No. 29 (2022): e002. https://doi.org/10.14393/ER-v29a2022-2

7Sônia Cristina Vermelho, Ana Paula Machado Velho, e Valdecir Bertoncello, "Sobre o conceito de redes sociais e seus pesquisadores”, Educação e Pesquisa [online] Vol. 41, No. 4 (2015): 863-881. https://doi.org/10.1590/s1517-97022015041612

8Sergio Bulgacov, Fabiane Cortez Verdu, "Redes de pesquisadores da área de administração: um estudo exploratório”, Revista de Administração Contemporânea [online] Vol. 5, No. spe (2001): 163-182. https://doi.org/10.1590/S1415-65552001000500009

9Denise Leite, "Avaliação de redes de pesquisa e colaboração", Revista da Avaliação da Educação Superior (Campinas) Vol. 19, No. 1 (2014): 291-312. https://doi.org/10.1590/S1414-40772014000100014

10Silvia Portugal, Contributos para uma discussão do conceito de rede na teoria sociológica (Coimbra: Centro de Estudos Sociais, 2007), 36. https://www.ces.uc.pt/publicacoes/oficina/271/271.pdf

11Stephen Ball, Richard Bowe, "Subject departments and the 'implementation' of national curriculum policy: an overview of the issues”, Journal of Curriculum Studies Vol. 24, No. 2 (1992): 97-115. https://doi.org/10.1080/0022027920240201

12Redde Reippe. O início da rede se deu a partir da reunião de pesquisadores interessados na literatura sobre implementação e que foram considerados os fundadores da rede: Alicia Bonamino (PUC-Rio), Adolfo Calderón (PUC-Campinas), Cynthia Paes de Carvalho (PUC-Rio) e Vanda Ribeiro (UNICID). A informação está disponível no endereço eletrônico: https://www.reippe.com/. Acesso em: 07/03/2022.

13Dossiê publicado na Educação em Revista (2021), disponível em https://revistas.ufpr.br/educar/issue/view/3143; Dossiê publicado na Revista Ibero-americana de Estudos em Educação, disponível em https://periodicos.fclar.unesp.br/ibe-roamericana/issue/view/869.

14Manuel Castells, "A Sociedade em Rede”. A era da informação: economia, sociedade e cultura Vol. 3, 1(2000).

15Pierre Lévy, Cibercultura (São Paulo: Editora 34, 2009).

16Lévy Pierre, A inteligência coletiva: por uma antropologia do ciberespaço. 2. ed. (São Paulo: Loyola (2009).

18Impressões: indica a frequência com que alguém viu o link do site no Google e Cliques: representa o número de vezes que um usuário clicou no seu site.

Financiamento Sem financiamento

Cómo citar este artículo:De Oliveira, Breynner Ricardo; Silva Fernandes, Fabiana; Prado de Oliveira, Ana Cristina; Muylaert Lima, Naira da costa. “A trajetória da rede de estudos sobre implementação de políticas públicas educacionais” Revista Historia de la Educación Latinoamericana vol .24 no.39 (2022).

2Doutor em Educação, Universidade Federal de Ouro Preto. Grupos de Pesquisa: GPPublica[e]s e LAP2D. Correio eletrônico breynner@ufop.edu.br;

3Doutora em Educação. Fundação Carlos Chagas. Correio eletrônico: fsfernandes@fcc.org.br.

4Doutora em Educação, Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro. Grupos de pesquisa: POGEFE e GESQ, Correio eletrônico ana.oliveira@unirio.br

5Doutora em Educação. PUC-Rio. Grupo de pesquisa: LAEd, Correio eletrônico: naira@puc-rio.br.

Recebido: 04 de Fevereiro de 2022; Revisado: 28 de Março de 2022; Aceito: 26 de Julho de 2022

Conflito de interesses

Os autores declaram que não têm conflito de interesses.

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