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 ISSN 0123-4870

        27--2024

https://doi.org/10.17227/folios.58-15905 

Artigos

Homofobia internalizada: revisão sistemática de estudos em contextos universitários (2000-2020)

Internalized Homophobia: A Systematic Review of Studies in University Settings (2000-2020)

Homofobia interiorizada: revisión sistemática de estudios en entornos universitarios (2000-2020)

José da Silva Oliveira Neto* 
http://orcid.org/0000-0002-5125-3513

James Júnior Ferreira Moura** 
http://orcid.org/0000-0003-0595-5861

*Mestre em Psicología. Universidade Federal do Ceará (UFO). Correo electrónico: netooliveirapsi@gmail.com

**Doutor em Psicología. Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB-CE). Correo electrónico: james.mourajr@unilab.edu.br


Resumen

La homofobia internalizada (HI) es un fenómeno psicosocial complejo que afecta a la vida de los jóvenes gays y lesbianas en diversos contextos, incluido el universitario. Este artículo es una revisión sistemática de la literatura sobre el tema de la homofobia internalizada en contextos universitarios con jóvenes, teniendo como objetivo principal realizar un SLR sobre el tema presentado. Para ello, se realizó una búsqueda de artículos producidos entre los años 2000 y 2020 en una plataforma nacional y otra internacional, a saber, respectivamente: Scielo y Scopus. Se analizaron artículos científicos en portugués, inglés y español que trataban sobre la homofobia interiorizada en contextos universitarios o con jóvenes, no incluyendo contribuciones como disertaciones, libros y tesis. Después de aplicar los criterios de inclusión y exclusión, llegamos a 22 artículos. A partir de los resultados, concluimos que existe una mayor concentración de producciones sobre HI en el eje norte global, aunque en los últimos años se ha producido un importante crecimiento de las producciones en el eje sur global. Además, observamos una disonancia sobre el significado del término HI, que variaba desde significados más individualistas hasta perspectivas más contextualizadas. Por último, cabe destacar que un número importante de las producciones presentaron alternativas prácticas a los problemas explorados y presentados.

Palabras clave: homofobia; homofobia interiorizada; juventud; universidad

Resumo

A homofobia internalizada (HI) é um complexo fenômeno psicossocial o qual afeta a vida de jovens gays e lésbicas nos mais variados contextos, inclusive na universidade. Este artigo se trata de uma revisão sistemática de literatura sobre a temática da homofobia internalizada em contextos universitários com jovens, tendo como objetivo principal realizar uma revisão sistemática de literatura sobre a temática apresentada. Para tal, realizamos uma busca por artigos produzidos entre os anos de 2000 e 2020 em uma plataforma nacional e em outra internacional, a saber, respectivamente: Scielo e Scopus. Foram analisados artigos científicos em português, inglês e espanhol que tratassem sobre homofobia internalizada em contextos universitários e/ou com jovens, não incluindo contribuições como dissertações, livros e teses. Após da aplicação dos critérios de inclusão e exclusão, chegamos a 22 artigos. A partir dos achados, concluímos haver uma maior concentração de produções sobre HI no eixo do norte global, ainda que os últimos anos tenham assistido a um importante crescimento de produções no eixo do sul global. Ademais, notamos haver uma dissonância quanto ao significado do termo HI, o qual variou desde acepções mais individualistas a perspectivas mais contextualizadas. Por fim, cabe notar que um número significativo das produções apresentou alternativas práticas frente aos problemas explorados e apresentados.

Palavras-chave: homofobia; homofobia internalizada; juventude; universidade

Abstract

Internalized homophobia (IH) is a complex psychosocial phenomenon that affects the lives of young gays and lesbians in various contexts, including the university. This article is a systematic review of literature on the theme of internalized homophobia in university contexts with young people. It has as its main objective to perform an RSL about the theme presented. To achieve this, we conducted a search of articles produced between the years 2000 and 2020, on a national and an international platform, namely Scielo and Scopus. We analyzed scientific articles in Portuguese, English and Spanish that dealt with internalized homophobia in university contexts and/or with young people. Thus, contributions such as dissertations, books and thesis studies were not included. After applying the inclusion and exclusion criteria, we collected 22 articles. Based on the findings, we concluded that there is a higher concentration of research on ih in the global north, although in recent years there has been an important growth of research in the global south. Moreover, we noticed a dissonance about the meaning of the term IH, which varied from more individualistic meanings to more contextualized perspectives. Finally, it is also worth noting that a significant number of the productions presented practical alternatives to the problems explored and presented.

Keywords: homophobia; internalized homophobia; youth; higher education

Introdução

A homofobia deve ser entendida como um conjunto de práticas e de expressões (sociais, comportamentais, emocionais etc.) de aversão, medo e ódio à homossexualidade nos âmbitos macro e microssocial. Ela possui uma história social profunda, deixando marcas na forma como as pessoas se expressam nas relações sociais (Borrillo, 2015). A homofobia impacta a qualidade de vida e o bem-estar pessoal de gays e lésbicas (Ceará e Dalgalarrondo, 2010; Bastos, García e Sousa, 2017), levando a uma maior probabilidade de esse indivíduo não conseguir ter uma vida com acessos equitativos à saúde (Ferreira, Pedrosa e Nascimento, 2018), à educação (Reis, 2015), a oportunidades de trabalho (Diniz et al., 2013) e até mesmo ao direito de poder expressar sua sexualidade, sua identidade e sua afetividade na vida púbica de forma segura (Feitosa, 2016). A homofobia internalizada é um processo psicossocial de internalização da homofobia, gerando uma autoavaliação negativa (Pereira e Leal, 2005). Esse processo pode se tornar ainda mais intenso para a população gay e lésbica nos contextos universitários, afetando de forma significativa a saúde mental e comprometendo trajetórias de vida em formação (Amaral, 2013; Sampaio e Viana, 2014)

Alguns autores, tais como (Hardin 2000; Cerqueira-Santos e Azevedo 2020), discutem que homossexuais estão submetidos a condições específicas de estresse ao longo de toda a sua vida, o que contribui para a produção de mal-estar e não pertencimento a uma cultura heterossexista e homofóbica. De acordo com Vigotski (2005), a maneira como as relações sociais e a história da humanidade estão configuradas implicam em formas de vida específicas. Quando pensamos sobre o fato de a homofobia ser um elemento presente nas relações humanas de aprendizagem, levando à construção de uma visão estereotipada e homofóbica acerca da homossexualidade, é inevitável que cheguemos à conclusão de que pode haver impactos sobre a saúde mental de gays e lésbicas via homofobia (Albuquerque e Williams, 2015). Alguns autores, tais como Paveltchuck e Borsa (2019), apontam para fatores externos e internos homofóbicos aos quais homossexuais estão submetidos dentro da cultura homofóbica. Aqui, chamamos atenção especificamente para um desses fatores, a saber: a homofobia internalizada.

Em linhas gerais, a homofobia internalizada costuma ser apresentada como o formato interno/ internalizado das mensagens homofóbicas com as quais nos deparamos, desde a mais tenra idade, através das interações sociais, seja com nossos pares, com a mídia, com as práticas educacionais, dentre outras plataformas sociais (Antunes, 2017). Essas percepções e esses conceitos negativos internalizados acerca da homossexualidade, conforme apontam Pereira e Leal (2002; 2005), têm no self sua morada; constituindo, assim, a identidade da pessoa homossexual (gays e lésbicas).

A homofobia internalizada, nesse contexto, é um processo psicossocial geralmente adoecedor no que diz respeito da saúde mental de gays e lésbicas (Antunes, 2017; Blais et al., 2014; Baker, 2013; Borrillo, 2015; Cerqueira-Santos et al., 2016; Paveltchuk, Borsa e Damásio, 2019; Pereira e Leal, 2002; 2005). Em consonância com a literatura de base, a homofobia internalizada se encontra relacionada com maior incidência aos problemas de ordem inter e intrapsicológica, tais como: índices mais elevados de ansiedade e pânico (Francisco et al., 2020), depressão (Mongiovi e Araújo, 2018), escarificação e suicídio (Teixeira-Filho e Rondini, 2012), escassez de habilidades para a manutenção de relações amoras saudáveis (Cerqueira-Santos et al., 2016), uso abusivo de ácool e de outras substâncias (García et al., 2017), baixo desempenho escolar (Antônio et al., 2012), além de também estar relacionada com comportamentos sexuais de risco, como, por exemplo, o sexo anal (receptivo e/ou insertivo) sem o uso de preservativo (Nunan, 2017).

Apesar do crescimento nas pesquisas sobre o tema (Souza et al., 2019), notamos que produções sobre contextos mais particulares, como a universidade, são mais escassas no que tange a pensar os efeitos da homofobia internalizada. Há, entretanto, alguns estudos que se dedicam a discutir a homofobia na/da universidade, sem, contudo, debruçar-se sobre o tópico específico da homofobia internalizada, ficando suas discussões imersas nas manifestações públicas do processo homofóbico. Ainda que seja fundamental discutir essa dimensão, entendemos que há outros estressores de central importância para a compreensão da homofobia presente nas relações sociais das universidades. Pensando na problemática apresentada, este estudo objetiva realizar uma revisão sistemática de literatura acerca da temática da homofobia internalizada em contextos universitários com jovens.

Método

Este estudo se inscreve dentro do espectro das pesquisas qualitativas em Psicologia. Em conformidade com o exposto por Yin (2016), a pesquisa qualitativa permite ao pesquisador aproximar-se do processo de interesse com mais acuidade e sensibilidade, notando as contradições e iminências presentes no processo analisado. Este estudo é também de natureza teórico-bibliográfica, uma vez que visita a literatura de base acerca da homofobia internalizada. De acordo com Creswell (2014), a pesquisa teórico-bibliográfica permite ao pesquisador a organização e a sistematização do conhecimento sobre um determinado processo, tópico ou relação, subsidiando intervenções, reflexões e proposições dentro de um campo temático do saber.

De forma mais específica, utilizamos a Revisão Sistemática de Literatura (RSL) como caminho dentro do processo de apropriação da literatura de base acerca da temática indicada (Brizola e Fantin, 2016). De acordo com pesquisas na área (Facchini, 2018; Silva Júnior, 2014), as últimas duas décadas foram palco de transformações e contradições importantes no que tange à sexualidade humana e aos processos de violência que a atravessam. Assim, limitamos o período de 2000 a 2020 nesta análise. Por mais fácil acesso, restringimos a busca a artigos que tratassem sobre homofobia internalizada; assim, livros, dissertações, teses e outras produções não foram considerados no processo de busca.

Foram selecionados dois indexadores, um nacional e outro internacional, a saber: Scielo e Scopus. Para a busca, decidimos incluir somente artigos disponibilizados integralmente nos idiomas português, espanhol e inglês. Assim, artigos em outros idiomas como também textos não completos (somente com o resumo disponível, por exemplo) não compuseram esta revisão. Estabelecemos ainda alguns critérios: 1) de exclusão: não compuseram este estudo artigos de natureza teórico-bibliográ-fica, fossem de revisão de literatura ou abordando a temática da homofobia internalizada somente de forma teórica; 2) de inclusão: os artigos desta revisão deveriam tratar da temática da homofobia internalizada no que tange ao cenário universitário e/ou ao período da juventude.

No que diz respeito ao detalhamento do processo de pesquisa dos artigos, primeiramente, foram realizadas buscas gerais com os descritores "homofobia" AND "internalizada" (português), "homofobia" AND "internalizada" (espanhol) e "internalized" AND "homophobia" (inglês) nas bases indexadoras Scielo e Scopus, ao passo que foram encontrados, respectivamente, 25 (vinte e cinco) e 105 (cento e cinco) artigos. Em seguida, foram excluídas as produções de natureza eminentemente teórico-bibliográfica, o que resultou na exclusão de 01 (um) artigo da Scielo e 48 (quarenta e oito) artigos da Scopus, restando, respectivamente, 24 (vinte e quatro) e 57 (cinquenta e sete) produções.

Por fim, foram incluídos à busca final, os estudos empíricos sobre homofobia internalizada que se relacionavam ao contexto universitário e/ ou tratavam sobre o período da juventude. Desse modo, aplicando o critério de inclusão, ficaram, no conjunto final de produções, 08 (oito) artigos provenientes da Scielo e 15 (quinze) artigos provenientes da Scopus, totalizando 23 (vinte e três) produções. Entretanto, ao compararmos os artigos de ambas as plataformas de pesquisa, notamos haver a duplicação de um artigo; assim, ao final, restaram 22 (vinte e duas) produções.

A análise dos artigos se deu a partir de três perguntas: 1) Quais são as características gerais dos estudos encontrados (ano de publicação, onde foram produzidos, delineamento de pesquisa e caracterização da amostra)?; 2) Com qual conceito de homofobia internalizada os estudos encontrados trabalham?; 3) Quais são os resultados e as contribuições práticas dos artigos provenientes do processo de RSL?

Conhecendo as produções sobre homofobia internalizada produzidas ao longo dos últimos 20 anos

Apesar de as buscas terem sido feitas entre o período de 2000 e 2020; não foram encontradas produções sobre homofobia internalizada em conjugação com os critérios aqui estabelecidos nos anos de 2000, 2001 e 2020. Nesse cenário, somente identificamos artigos entre os anos de 2002 e 2019. Os quatro anos que contaram com o maior número de publicações foram: 2017 (n=4), 2013 (n=4), 2019 (n=3) e 2016 (n=3). Nos demais anos, só foi encontrado um artigo para cada ano, de modo que houve descontinuidade na produção sobre o tema, já que os anos de 2003, 2004, 2007, 2010, 2015 e 2018 não apresentaram publicações relacionadas.

Apontamos a descontinuidade na produção sobre homofobia internalizada, a qual se revela no fato de, em seis dos anos que compuseram as últimas duas décadas, não haver sequer uma produção. Essa análise pode encontrar resposta nas contradições que temos vivido na área da diversidade sexual, porquanto, ao mesmo tempo em que concordamos com o fato de que houve avanços sensíveis no respeito e na conquista de direitos, houve também a proliferação de discursos conservadores em diversas partes do mundo (Albuquerque e Williams, 2015; Cerqueira-Santos et al., 2016; Feitosa, 2016; Francisco et al., 2020; García et al., 2017; Mongiovi e Araújo, 2018; Nunan, 2017; Reis, 2015; Teixeira-Filho e Rondini, 2012).

No que diz respeito aos lugares do mundo em que os estudos foram realizados, os países produziram na seguinte quantidade: EUA (n=7), México (n=3), Colômbia (n=2), Itália (n=1), Turquia (n=1), Chile (n=1) e Canadá (n=1). Apesar de haver maior concentração no eixo do norte global, percebemos uma contribuição crescente e significativa do sul global, em específico, da América do Sul e Central, o que faz sentido quando consideramos os índices de violência homofóbica dessas regiões. Carrol e Mendos (2017) e Mendos e Peña (2019) revelam que os dois países que mais matam pessoas LGBT no mundo se localizam nas Américas do Sul e Central, a saber: em primeiro lugar, o Brasil, e em segundo lugar, o México. Devemos ainda apontar que não foi possível identificar em 06 dos estudos os lugares onde foram produzidos, embora todos tenham sido escritos em língua inglesa.

Há estudos brasileiros (Amaral, 2013; Sampaio e Viana, 2014) que já denunciam as práticas homo-fóbicas no contexto universitário, apontando, por exemplo, para os prejuízos na dinâmica emocional e de aprendizagem de jovens universitários gays e lésbicas, sem, contudo, explorarem essa relação por meio do conceito de homofobia internalizada, mas de outros como homofobia, discriminação e preconceito, atendo-se ao formato externo dessa violência. Nesse sentido, apontamos a necessidade de que pesquisadores brasileiros observem a realidade através do conceito de homofobia internalizada, cujo potencial heurístico é evidenciado em uma série de estudos da área (Antunes, 2017; Blais, Gervais e Hérbert, 2014; Baker, 2013; Borrillo, 2015; Cerqueira-Santos et al., 2016; Paveltchuk, Borsa e Damásio, 2019; Pereira e Leal, 2002; 2005).

Adentrando a seara metodológica, olhamos agora para o delineamento de pesquisa utilizado na construção dos estudos. Notamos haver diversidade de delineamentos, sendo presentes estudos com delineamentos mistos, quantitativos e qualitativos. De todo modo, apontamos o número de estudos por delineamento: quantitativo (n=17), qualitativo (n=3) e misto (n=2). Os estudos quantitativos encontrados propuseram as mais diversas estratégias de análise, as quais podem ser consultadas nos textos integrais (Blais et al., 2014; Crosby et al., 2016; Dawson et al., 2019; Delonga et al., 2011; Inglogia et al., 2019; Lozano-Verduzco et al., 2017; Okutan et al., 2017; Peterson e Gerrity, 2006; Piñeda-Roa, 2019; Pucket et al., 2016a; 2016b; 2017; Rubia et al., 2013a, 2013b; Rubia e Valle, 2013; Warriner, Nagoshi e Nagoshi, 2013).

No que tange aos estudos feitos com delineamento quantitativo, os autores trabalharam com amostras, basicamente, selecionadas por conveniência. No que diz respeito aos estudos de delineamento qualitativo encontrados, os autores empregaram estratégias como entrevistas e estudo de caso (Aguirre e Castelar 2012; Bobbe, 2002; Delgado et al., 2016). Notamos que os estudos de delineamento qualitativo geralmente objetivaram encontrar respostas pontuais para problemas locais. No caso dos estudos mistos, houve o emprego de ferramentas multimétodo para elucidar a natureza da homofobia internalizada. Assim, nesses casos, os autores realizaram primeiramente uma etapa quantitativa com uma amostra mais expressiva de gays, lésbicas e heterossexuais e uma segunda etapa, para a qual selecionam alguns participantes da primeira etapa, com o objetivo de aprofundar os sentidos produzidos pelos participantes acerca da homofobia internalizada (Kelley e Robertson, 2008; Kubiceck et al., 2009).

Identificamos certa heterogeneidade no que diz respeito à caracterização das amostras. Nesse sentido, há estudos que se dedicaram à análise de amostras exclusivamente homossexuais (Blais, Gervais e Hérbert, 2014; Okutan, Sunal e Ugurlu, 2017) e aqueles que conseguiram realizar comparações entre grupos heterossexuais e homossexuais (Rubia et al., 2013a, 2013b), tendo uma perspectiva mais ampliada sobre o problema da homofobia internalizada. Também, houve preocupação quanto a um olhar mais acurado sobre a relação entre os marcadores sociais de orientação sexual, raça e etnia, havendo alguns estudos voltados a uma percepção indiscriminada no que diz respeito às influências desses marcadores (Pucket et al., 2016a), enquanto outros despenderam foco sobre a relação que outras formas de violência, como racismo e xenofobia, impactam na homofobia internalizada (Dawson et al., 2019).

O debate em torno do conceito de homofobia internalizada: consonâncias e dissonâncias

No caso dos artigos encontrados, notamos desde perspectivas mais individualistas quanto à percepção da homofobia internalizada até construções que tendiam a levar em consideração a participação do contexto social homofóbico na internalização da homofobia, havendo uma gradação da importância dada à relação pessoa-mundo. Como exemplo inicial, apontamos o estudo realizado por Piñeda-Roda (2019) no qual o autor conceitua a homofobia internalizada como os sentimentos negativos que uma pessoa homossexual tem face à própria homossexualidade, o que, em sua visão, provoca um conflito entre o querer ser e o dever ser sobre a forma como experimenta a própria sexualidade. Apesar de estudos na área (Crosby et al., 2016; Dawson et al., 2019; Delonga et al., 2011) apontarem para a vivência de desconforto com a própria sexualidade tendo em vista níveis mais agudos de homofobia internalizada, parece-nos que o autor situa o problema a nível do indivíduo, como se se tratasse unicamente de um problema intrapsicológico, um traço de personalidade.

À semelhança do proposto por Piñeda-Roda (2019), alguns dos estudos achados também abordam o problema da homofobia internalizada situando-o exclusivamente na dinâmica intrapessoal/intrapsicológico. Alguns exemplos são os estudos realizador por Rubia et al. (2013a) e por Gaines Jr (2005). Neste último, o autor se refere à homofobia internalizada como um conjunto de atitudes negativas face à própria homossexualidade ou do outro; naquele, por sua vez, os autores a consideram como a homofobia presente em pessoas com condutas homossexuais dirigida para o próprio desejo interno. Os três estudos não problematizam a homofobia como um problema social; portanto, não percebem que a homofobia internalizada é uma realidade que está colocada independente da orientação sexual. Mais um exemplo desse tipo de raciocínio descontextualizado é o estudo desenvolvido por Pucket et al. (2017a), no qual, os autores discutem a homofobia internalizada como a situação em que uma pessoa de minoria sexual tem sentimentos negativos e atitudes homofóbicas face a si mesma ou a outras pessoas dessa minoria.

Em contrapartida, percebemos um conjunto de estudos que se inserem na tentativa de apontar para outros caminhos de compreensão do conceito. Percebemos nas seguintes produções uma aproximação mais contextualizada sobre a gênese social da homofobia internalizada (Blais, Gervais e Hérbert, 2014; Delonga et al., 2011; Lozano-Verduzgo, Fernández e Baruch-Domínguez, 2017; Okutan, Sunal e Ugurlu, 2017; Peterson e Gerrity, 2006; Pucket et al., 2016). No caso do estudo desenvolvido por Lozano-Verduzgo, Fernández e Baruch-Domínguez (2017), os autores entendem o conceito de HI como a relação que a pessoa LGBT estabelece com as premissas e crenças negativas acerca da diversidade sexual.

Os autores parecem dar alternativas a essa compreensão mais essencialista sobre homofobia internalizada. Para os primeiros, a HI figura como o direcionamento do estigma anti-LGBT para o self; enquanto os segundos a apresentam como o conjunto de crenças negativas construídas acerca da atração por pessoas do mesmo sexo. Aqui, há dois aspectos importantes a serem destacados: 1) ambos os autores sinalizam a existência de processos de preconceito os quais contribuem para a internalização da homofobia, seja por pessoas homossexuais, seja por pessoas heterossexuais, o que para nós representa um avanço; 2) entretanto, o segundo grupo de autores associa a homofobia à dimensão do sexo biológico. Nesse sentido, restringir à homossexualidade ao campo do sexo biológico é restritivo e transfóbico.

Sinalizamos ainda alguns estudos que, em nossa percepção, caminham para um entendimento mais psicossocial da HI. Okutan, Sunal e Ugurlu (2017), Peterson e Gerrity (2006) e Pucket et al. (2016) discutem o conceito de HI, respectivamente, como: 1) sentimentos negativos sobre quem se é, de maneira que a internalização das crenças sociais negativas em direção à homossexualidade por parte de homens gays e lésbicas são o caminho para a expressão da homofobia internalizada; 2) internalização de atitudes negativas face à homossexualidade e a pessoas homossexuais por gays e lésbicas; e 3) internalização de repertórios negativos por pessoas que fazem parte de uma minoria sexual acerca da própria vivência como minoria. Os três estudos dimensionam a homofobia internalizada a partir da internalização de algum aspecto despotencializador.

Antes de passarmos aos artigos que, em nossa análise, encaixaram-se na perspectiva psicossocial sobre homofobia internalizada aqui adotada, cabenos sinalizar que alguns dos estudos encontrados trataram do conceito de HI, mas se debruçaram mais sobre termos correlatos, advogando seu uso em detrimento de homofobia internalizada, tais estudos foram (Aguirre e Castelar, 2012; Crosby et al., 2016; Dawson et al., 2019; Ignoglia et al., 2019 e Rubia et al., 2013a). Nessa ordem, Rubia et al. (2013a) e Aguirre e Castelar (2012) não trabalham diretamente com o conceito de homofobia internalizada, mas sim, respectivamente, como os conceitos de homonegatividade internalizada e endodiscriminação. Ambos os grupos de pesquisadores advogam pelo uso desses conceitos explicando que os conceitos de homofobia e de HI carregam consigo uma forte experiência de patologizaçao das identidades gays e lésbicas. Entretanto, amparados em Borrillo (2015) e Antunes (2017), entendemos que o conceito de homofobia - e, por sua vez, o de homofobia internalizada - passou por profundas transformações no último século, distanciando-se de acepções biologizantes.

No que diz respeito aos artigos produzidos por Crosby et al. (2012), Dawson et al. (2019) e Ignoglia et al. (2019), apontamos que os três grupos trabalham com o conceito de HI, todavia, durante a leitura, percebemos que os autores não dão explicações sobre do que se trata o conceito, utilizando-o como uma categoria a priori. Por fim, encontramos, durante os processos de busca e de revisão, algumas produções que, em nossa avaliação, partiam de uma perspectiva mais contextualizada sobre a relação da homofobia internalizada no contexto universitário e/ou durante o período da juventude, a saber (Bobbe, 2002; Delgado et al., 2016; Kubicek et al., 2009; Pucket et al., 2017; Kelley e Robertson, 2008; Rubia e Valle, 2013; Warriner et al., 2013). Iniciando pelo estudo de Bobbe (2002), a autora, olhando especificamente para como a HI é vivida por uma mulher lésbica alcoólica, define homofobia internalizada como o medo de ser visto como lésbica, de forma que se estabelece uma sensação de ser o "outro" em uma sociedade heterossexista. Delgado et al. (2016), por sua vez, compreende a HI como as aprendizagens e a internalização dos significados negativos associados à homossexualidade e à transgressão dos papéis de gênero, o que poderia provocar recusa da sua própria orientação sexual.

Nesse cenário, Kubicek et al. 2009) entende o conceito como uma atitude social anti-gay orientada para o self, levando à desvalorização do self, conflitos internos e autoconfiança empobrecida; enquanto Pucket et al. (2017) aponta para homofobia internalizada como a internalização das visões negativas acerca da própria sexualidade em uma sociedade heterossexista. Por sua vez, Kelley e Robertson (2008) sinalizam que a HI deve ser vista como a internalização do preconceito experienciado em uma sociedade heteronormativa e de cultura ocidental. Quanto a essas produções, chamamos atenção para algumas expressões empregadas nas definições, a saber: "atitude social", "sociedade heterossexista", "sociedade heteronormativa" e "cultura ocidental". Em nossa análise, todas essas expressões revelam faces da experiência social homofóbica no sentido dos mecanismos que a constituem, o que permite que dessencializemos os discursos sobre homofobia internalizada.

Por fim, deparamo-nos com as contribuições de Rubia e Valle (2013) e Warriner, Nagoshi e Nagoshi (2013). Os primeiros definem homofobia internalizada como sendo o conjunto de sentimentos negativos que o indivíduo tem em relação a si mesmo por ter fantasias, sonhos ou desejos de relacionar-se íntima e afetivamente com pessoas do próprio sexo, sendo um processo mediante o qual o ódio cultural face a pessoas não heterossexuais é internalizado. O segundo grupo de autores trabalha com a ideia de que a HI se trata das atitudes homofóbicas da sociedade, as quais são internalizadas por lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros. Ao olhar para esses artigos, percebemos o reconhecimento de que o modus operandi da sociedade em que vivemos produz relações sociais homofóbicas, as quais poderão servir como mediadoras da vivência de gays, lésbicas e heterossexuais na modernidade.

As contribuições práticas dos resultados dos estudos encontrados frente à homofobia internalizada

No geral, em nossa análise, doze estudos (n=12) propuseram intervenções práticas frente aos problemas e relações explorados, enquanto que dez dos estudos (n=10), apesar de terem se pautado em estratégias mais empíricas para a execução das pesquisas, não propuseram estratégias contextualizadas frente à realidade explorada. Os estudos de Piñeda-Roa (2019) e Lozano-Verduzgo, Fernández e Baruch-Domínguez (2017) apontaram para efeitos negativos da HI sobre a dinâmica emocional de pessoas LGBT+. O primeiro estudo concluiu que, quando os níveis de HI são mais altos em gays e lésbicas, o risco de cometer suicídio é duplicado quando comparados a níveis mais baixos em seus pares homossexuais. O segundo, por sua vez, encontrou que, em situações em que a rede de relações sociais (conectividade comunitária), está prejudicada, a homofobia internalizada aumenta a presença de sintomas depressivos, além de contribuir com consumos mais elevados de álcool e outras drogas. Nesse cenário, o estudo de Lozano-Verduzgo, Fernández e Baruch-Domínguez (2017) sugere como estratégia de fortalecimento dos vínculos comunitários o fomento de propagandas que comuniquem representações positivas sobre a homossexualidade na mídia.

Nesse mesmo caminho, Pucket et al. (2017), em um estudo quantitativo realizado com 450 jovens negros que fazem sexo com homens, averiguaram que há uma relação significativa entre homofobia internalizada, uso de álcool e sexo anal sem uso de preservativo, sugerindo como estratégia de enfren-tamento à homofobia internalizada a criação de programas de prevenção quanto ao uso abusivo de álcool e quanto à prática de sexo anal sem proteção voltados para homens jovens negros que fazem sexo com homens. Piñeda-Roa (2019), apesar de mostrar como a HI e o suicídio estão relacionados, não aponta para caminhos resolutivos da relação estabelecida em sua pesquisa. À semelhança da preocupação de Pucket et al. (2017a), Bobbe (2002), em um estudo qualitativo realizado junto a uma paciente lésbica alcoolista, descobriu que experiências ligadas à vergonha quanto à orientação sexual aumentam os níveis de homofobia internalizada, o que, no estudo de caso conduzido, encorajava o uso abusivo de álcool. A autora defende que estratégias clínico-psicoterápicas, como meditação e relaxamento, são centrais para ensinar o paciente a regular o estresse oriundo do contexto homofóbico, moderando o uso abusivo de álcool.

Alguns dos estudos analisados apontaram para uma forte relação entre maiores níveis de HI e maior incidência de comportamentos sexuais de risco em amostras homossexuais, como fazer sexo sem preservativo. Na pesquisa conduzida por Dawson et al. (2019), com 228 homens negros homossexuais e bissexuais da cidade de Nova York, os autores descobriram que a homofobia internalizada afeta a resiliência e a habilidade para dizer não a situações em que lhes é proposta atividade sexual sem uso de preservativo. Como alternativa a esse problema, os autores sugerem que sejam estruturadas intervenções comportamentais que atuem, por exemplo, no sentido de diminuir a prevalência de sexo anal sem preservativo por parte de homens negros gays e bissexuais.

Por sua vez, Pucket et al. (2017b) mostram, em um estudo feito com 820 jovens homens entre 16 e 23 anos que fazem sexo com homens, que níveis mais elevados de homofobia internalizada e de percepção de HI refletem em uma maior prevalência de infecções sexualmente transmissíveis (ISTS). Tanto Dawson et al. (2019) como Pucket et al. (2019b) discutem que a experiência de fazer parte de um grupo minoritário prejudica a forma como pessoas homossexuais se enxergam, fazendo com que percebam potenciais encontros sexuais como indispensáveis, uma vez que gays e lésbicas tendem a se ver negativamente. Entretanto, diferente de Dawson et al. (2019), Pucket et al. (2017b) não sugerem estratégias contextualizadas para a atenuação do impacto negativo da HI sobre o comportamento sexual de risco.

Nessa esteira de investigação, Delonga et al. (2011) pesquisaram, junto a uma amostra de 49 adolescentes gays, bissexuais, trans e de orientação sexual não especificada entre 14 e 19 anos, a relação entre homofobia internalizada, uso compulsivo de internet e comportamentos sexuais de risco. Os autores averiguaram que o uso compulsivo da internet está associado com homofobia internalizada e com sensação de solidão. Frente a essa realidade, propuseram que houvesse a estruturação de programas que trabalhem a sensação de solidão entre pessoas LGBT a fim de que comportamentos sexuais de risco sejam reduzidos.

Também, Crosby et al. (2016) encontraram uma relação positivamente significativa entre HI e comportamentos sexuais de risco em seu estudo realizado com 600 jovens, homens negros entre 15 e 29 anos que fazem sexo com homens, sem conduto também demostrar alternativas práticas para a questão. A homofobia internalizada também tem impactos significativos sobre os relacionamentos afetivo-amorosos construídos por gays e lésbicas. Um exemplo dessa relação foi a pesquisa conduzida por Okutan, Sunal e Ugurlu (2017), com 187 homens e mulheres homossexuais e heterossexuais da Turquia. O estudo resultou na informação de que a homofobia internalizada está relacionada com respostas destrutivas de gays e lésbicas em relacionamentos afetivo-amorosos. De modo semelhante, Gaines Jr. et al. (2005), em um estudo conduzido com 1.119 homens e mulheres heterossexuais e homossexuais, relatam que a homofobia internalizada está positivamente associadada a atitudes de acomodação nos relacionamentos amorosos de gays e lésbicas, contribuindo para um relacionamento menos prazeroso. Vale apontarmos que ambos os estudos (Gaines Jr., 2005; Okutan, Sunal e Ugurlu, 2017) não sugeriram elementos resolutivos para a realidade que exploraram, o que, em última análise, dificulta que projetos, intervenções e ações sejam pensados para intervir sobre o impacto da HI nas relações conjugais homossexuais.

Ainda dentro do campo dos relacionamentos amorosos, Kelley e Robertson (2011) pesquisaram em uma amostra de 15 homens gays entre 18 e 24 anos, do sudeste dos Estados Unidos, possíveis relações entre HI e permanência em relacionamentos abusivos. Nesse processo, os pesquisadores concluíram que a homofobia internalizada está positivamente correlacionada com posturas de vitimização e com a permanência em relacionamentos agressivos entre homens gays. Como estratégias, os autores sugerem um trabalho preventivo com jovens gays escolares; assim, sugerem que escolas criem espaços de aprendizagem e desenvolvimento mais seguros para a comunidade LGBT+, de tal modo que consigam desenvolver redes de suporte social para conseguir amparo em situações despotencializadoras, tais como relacionamentos abusivos.

Blais, Gervais e Hérbert (2014) também dialogam sobre esse nível de intervenção. Os autores realizaram uma pesquisa sobre a relação entre bullying homofóbico, autoestima e HI em uma amostra de 300 jovens pertencentes a minorias sexuais entre 14 e 22 anos. Nesse sentido, encontraram que a relação entre bullying homofóbico, seja ele verbal e/ou psicológico, e autoestima é parcialmente mediada pela homofobia internalizada. Considerando esse panorama, recomendam a estruturação de programas de combate ao bullying para prevenção do bem-estar de jovens pertencentes a minorias sexuais.

Saindo desse campo de análise, Delgado et al. (2016) analisam, em um estudo qualitativo, a vivência de 08 Jovens gays entre 18 e 29 anos de idade, residentes de uma região rural do Chile. Sem apontar para soluções práticas, os autores revelaram que a homofobia internalizada está ligada à construção e à internalização de papéis rígidos de gênero, o que, conforme investigaram, contribui para a manutenção de práticas de autodiscriminação entre jovens homossexuais. Assim como Delgado et al. (2016), algumas outras pesquisas também trabalham a relação do estigma com a saúde mental de jovens gays e lésbicas. Um exemplo desse tipo de investigação é o estudo qualitativo desenvolvido por Aguirre e Castelar (2012), junto a 10 jovens homens homossexuais da cidade de Cali na Colômbia, sobre os impactos da linguagem de ódio na construção da HI. Os autores mostraram que a linguagem de ódio reafirma uma masculinidade desejada, o que pode fomentar a autodiscriminação. Também, Aguirre e Castelar (2012) não sugerem estratégias de enfrentamento.

Atitudes públicas homofóbicas também contribuem para índices mais elevados de homofobia internalizada. Conforme Rubia et al. (2013a), em uma investigação feita com 231 estudantes de medicina e psicologia (121 mulheres e 103 homens) homossexuais e heterossexuais, encontrou-se que atitudes públicas de refutação à homossexualidade, mesmo quando a refuta é sutil, contribuem para o adoecimento psicológico de gays e lésbicas. Nesse sentido, os autores veem como necessária a construção de grupos para a conscientização sobre diversidade sexual, para que seja desenvolvida a empatia por quem sofre homofobia. Pensando no adoecimento psicológico de gays e lésbicas, em outro estudo, Rubia e Valle (2013), sem indicativos práticos de intervenção, descobriram que homens heterossexuais e homossexuais costumam ter índices mais elevados de HI.

Entretanto, quando comparados, homens homossexuais pontuam mais alto que homens heterossexuais e bissexuais quando pensamos nos níveis de homofobia internalizada. Essa diferença fica nítida no estudo conduzido por Rubia, Cirilo e Cadena (2013) com 231 estudantes de ciências da saúde heterossexuais, homossexuais e bissexuais. Por outro lado, contrastando com esse dado Warriner, Nagoshi e Nagoshi (2013) confirmam que homossexuais costumam construir vieses cognitivos menos conservadores quando comparados a homens e mulheres heterossexuais. Sabemos, entretanto, de modo geral, que a homofobia internalizada afeta a saúde mental, como apontam Peterson e Gerrity (2006) em uma pesquisa construída com 35 mulheres lésbicas, bissexuais e heterossexuais universitárias. Os autores descobriram, por exemplo, que, quanto mais altos são os níveis de HI, menor é a autoestima e menos provável é o desenvolvimento de uma identidade saudável. Para os autores, é necessário que esses dados se reflitam na estrutaração de condutas clínico-psicoterápicas.

A homofobia internalizada promove efeitos deletérios na dinâmica emocional de gays e lésbicas. No estudo realizado por Pucket et al. (2016), com um grupo de 450 jovens homens gays e bissexuais que fazem sexo com homens (HSH), descobriram que padrões disfuncionais de vida emocional, tais como vitimização e neuroticismo, afetam a saúde psicológica de gays e lésbicas em uma triangulação com a homofobia internalizada. Em conformidade com os achados de Ignoglia et al. (2019), em uma pesquisa feita com 105 homens e mulheres gays e lésbicas entre 18 e 30 anos, os contextos de desenvolvimento infantil desfavoráveis ao respeito a gays e lésbicas também podem contribuir para maiores níveis de homofobia internalizada na vida adulta. Religiões com sistemas mais rígidos quanto à diversidade sexual, também costumam atuar como ambiente adoecedor, como concluíram Kubicek et al. (2009).

Os autores apontam para intervenções que vão desde a sugestão de serem estruturados programas preventivos para o desenvolvimento de bem-estar e segurança de gays e lésbicas ao longo do seu desenvolvimento pessoal até a sugestão de que sejam estruturados grupos comunitários que ajudem jovens homens que fazem sexo com homens a elaborar e integrar de forma mais saudável as vivências de religião e sexualidade. Também, Pucket et al. (2016) propõem que sejam construídos programas sociais que deem suporte para pessoas que sofrem com o estigma da homofobia internalizada.

Entretanto, vale a pena a lembrança de que há fatores que podem mediar relações mais saudáveis entre gays e lésbicas. Apesar de não se tratar de uma relação de causa e efeito, Maranhão et al. (2014) apontam que a presença de fatores de proteção pode facilitar a construção de condutas mais ativas e transformadoras frente ao cenário social, engajando o indivíduo em posturas de enfrentamento à violência. Por exemplo, Braga et al. (2017) evidenciam que a experiência de inserção e de participação ativa e efetiva em uma comunidade pode se configurar em um elemento protetor para o desenvolvimento de jovens homossexuais. De acordo com Paveltchuk e Borsa (2019), indivíduos homossexuais podem disfrutar da construção de uma autoimagem positiva quando inseridos em uma comunidade com semelhantes que não correspondem aos estereótipos de fracasso e infelicidade socialmente vinculados a homens gays (Hardin, 2000).

Considerações finais

Identificamos a necessidade de estudos que discutam profundamente as dimensões de impacto da homofobia internalizada em contextos universitários, porque as pesquisas que se deram nesse contexto assim transcorreram tendo em vista maior facilidade quanto ao acesso de possíveis participantes da pesquisa. No que tange ao enfoque dos estudos sobre homofobia internalizada no período da juventude, notamos em certos autores e grupos de trabalho uma preocupação sobre como a homofobia internalizada afeta a saúde mental e a qualidade de vida durante esse período do desenvolvimento. Vale denotar ainda que as pesquisas sobre homofobia internalizada não apresentam consensos sobre a definição do conceito, de modo que há consonâncias e dissonâncias a depender dos grupos e autores que consideramos. Os estudos concordam, todavia, com o fato de a homofobia internalizada ser um fator de risco quando falamos sobre saúde mental e bem-estar de gays e lésbicas. Nesse sentido, em uníssono, apontam a homofobia internalizada como um inviabilizador da vivência digna e integral de gays e lésbicas em uma sociedade heterossexista e homofóbica. Por fim, apontamos para o fato de que nem todos os estudos discutem em termos práticos como intervir sobre os efeitos da homofobia internalizada, sendo necessária, em última análise, dar-se maior importância à dimensão prática desses efeitos, uma vez que elas atravessam vidas reais de gays e lésbicas na contemporaneidade em todo o mundo.

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Para citar este artículo Oliveira Neto, J. e Moura Júnior, J. (2023). Homofobia internalizada: revisão sistemática de estudos em contextos universitários (2000-2020). Folios, (58), 3-16. https://doi.org/10.17227/folios.58-15905

Recibido: 24 de Diciembre de 2021; Aprobado: 13 de Febrero de 2023

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