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Literatura: Teoría, Historia, Crítica

Print version ISSN 0123-5931

Lit. teor. hist. crit. vol.22 no.1 Bogotá Jan./June 2020  Epub Apr 13, 2020

https://doi.org/10.15446/lthc.v22n1.82298 

Artículos

“Eldorado, Babel e faroeste”: a Londrina de Rodrigo Garcia Lopes, em O trovador

"Eldorado, Babel y western": la Londrina de Rodrigo Garcia Lopes en O trovador

"Eldorado, Babel, and Far West": Rodrigo Garcia Lopes' Londrina in O trovador

Marilu Martens Oliveira1 

1Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Paraná, Brasil marilu@utfpr.edu.br


RESUMO

O norte do Estado do Paraná é uma região brasileira de colonização recente, com pouco material a respeito, principalmente no que tange a obras de ficção. Portanto, este artigo está centrado em O trovador, de Rodrigo Garcia Lopes, que, partindo de um poema provençal, delineia um panorama desse período e, precipuamente, da cidade de Londrina. À moda de Umberto Eco, ele escreve um romance histórico-policial no qual literatura e história mantêm um diálogo intenso, erudito e jocoso. Apresenta, criticamente, o espírito colonialista inglês, informando e divertindo o leitor, visto que autentica seu discurso ficcional com elementos da realidade. Assim, este artigo focará a obra em pauta como um novo romance histórico, bem como as características que a inscrevem como tal (seguindo diretrizes apontadas por Esteves, entre outros pesquisadores), e evidenciará o conhecimento da "biblioteca" do autor, conforme Samoyault, além do exame da cartografia londrinense descrita, tanto a humana quanto a geográfica.

Palavras-chave: biblioteca; história e cartografia de Londrina; novo romance histórico; O trovador; Rodrigo Garcia Lopes

RESUMEN

El norte del departamento de Paraná es una región brasileña de colonización reciente, con poca literatura, principalmente en lo que se refiere a obras de ficción. Así, el artículo está enfocado en O trovador, de Rodrigo Garcia Lopes, que, a partir de un poema provenzal, establece un panorama de su periodo y, en particular, de la ciudad de Londrina. Al estilo de Umberto Eco, él escribe una novela histórico-policiaca en la que literatura e historia mantienen un diálogo intenso, erudito e irónico. Presenta, de forma crítica, el espíritu colonialista inglés informando y divirtiendo al lector, una vez que autentica su discurso ficcional con elementos de la realidad. Por lo tanto, el artículo enfoca la obra como una nueva novela histórica, así como las características que la inscriben como tal (siguiendo directrices apuntadas por Esteves, entre otros investigadores), y evidencia el conocimiento de la "biblioteca" del autor, de acuerdo con Samoyault, además del examen de la categoría londrinense descrita, tanto humana como geográfica.

Palabras clave: biblioteca; historia y cartografía de Londrina; nueva novela histórica; O trovador; Rodrigo Garcia Lopes

ABSTRACT

The northern part of the department of Paraná, Brazil is a recently colonized region, with scarce literary production, particularly with respect to fiction. The article focuses on O trovador, by Rodrigo Garcia Lopes, which provides an overview of the period, specifically of the city of Londrina, on the basis of a Provencal poem. In the style of Umberto Eco, the author writes a historical-detective novel in which literature and history enter into an intense, erudite, and ironic dialogue. It provides a critical view of the English colonial spirit, in a manner that informs and entertains the reader, while authenticating its fictional discourse with elements of reality. The article addresses the work as a new type of historical novel and discusses the features that make it such (following guidelines suggested by Esteves, among other researchers), discusses the author's knowledge regarding the "library", according to Samoyault, and examines Londrina as a human and geographic category.

Keywords: library; history and cartography of Londrina; new historical novel; O trovador; Rodrigo Garcia Lopes

Iniciando a viagem

Para estudar o passado de um povo, de uma instituição, de uma classe,

não basta aceitar ao pé da letra tudo quanto nos deixou a simples tradição

escrita. É preciso fazer falar a multidão imensa dos figurantes mudos que

enchem o panorama da história e são muitas vezes mais interessantes e

mais importantes do que os outros, os que apenas escrevem a história.

Sérgio Buarque de Holanda

SOMENTE HÁ UM TEMPO RELATIVAMENTE recente, começou-se a discutir o conceito de originalidade, estando ligados a ele estudos de Bakhtin (dialogismo e polifonia), Kristeva (intertextualidade) e Genette (palimpsesto). A intertextualidade como "um jogo de referências múltiplas a outros textos e contextos -na forma de influências, citações, alusões, paráfrases, reescrituras etc. [...]" (Jobim 47)- firmou-se conceitualmente e até o rapsodo Mário de Andrade, já preocupado com o tema, e como sempre avant la lettre, afirmou em correspondência dirigida a Carlos Drummond de Andrade: "Em última análise, tudo é influência" (Drummond 31).

Hodiernamente, Tiphaine Samoyault debruçou-se sobre a intertextualidade, ligando-a à memória da literatura e colocando, de uma forma praticamente borgiana, que "o universo é uma biblioteca" (123). Assim, a literatura está ligada à biblioteca, com a qual "mantém uma relação de repetição", constituindo esta "um filtro entre o texto e o mundo" (Samoyault 123). Para a autora, há uma relação de repetição da literatura em relação à biblioteca que exerce uma modelização sobre o texto, com o escritor que aciona, ao escrever, seu repertório -sua biblioteca- consciente ou inconscientemente. E, em relação ao modelo, poderá demonstrar diferentes posições -admiração, denegação ou subversão (Samoyault 129), inclusive sentindo o que Harold Bloom (1991) chamou de "angústia da influência".

Será, portanto, calcado em Samoyault o olhar dialógico a ser lançado sobre O trovador que também sofrerá, principalmente, a influência dos estudos literários de Antonio R. Esteves sobre o romance histórico contemporâneo no Brasil e na América Latina. O pesquisador afirma que "houve uma intensificação de publicações de narrativas híbridas, que, rompendo as barreiras dos tradicionais gêneros, privilegiam ações que se desenvolvem no passado ou tratam diretamente de temas históricos", havendo, por conseguinte, um "movimento pendular entre tradição e ruptura", que busca ler os "signos da história" sob suas diferentes "facetas identitárias" (Esteves, "O romance" 53).

Além dos brasileiros Esteves, Trouche e Weinhardt, Hutcheon, Menton, Aínsa e Jameson estiveram na base dos estudos que imbricam literatura e história, aporte teórico para a leitura do romance O trovador (corpus deste artigo), escrito em 2014 pelo londrinense Rodrigo Garcia Lopes, sob o viés de romance histórico, com diferentes interfaces. Trata-se de uma narrativa policial do século XXI, sobre a história de Londrina, cidade paranaense e brasileira, que dialoga com o passado recente (século XX) e ficcionaliza eventos históricos acontecidos em 1933. Desse modo, o painel para a trama narrativa é o Brasil do período varguista (Presidente Getúlio Vargas governou o Brasil de 1930 a 1945, após um golpe que depôs o presidente Washington Luís), com seus migrantes e imigrantes, a Guerra Civil espanhola, Hitler e a ascensão do nazismo, o nacional-socialismo na terra verde e amarela, a colonização do norte do Paraná e a Inglaterra de Churchill e do rei Edward VIII.

E, para encarar tanta diversidade, por conseguinte, faz-se necessário um olhar multifacetado. "Os anos 80 consagraram, definitivamente, uma grande abertura no modelo crítico-teórico em direção à interdisciplinaridade e à desconstrução de fronteiras e categorizações" (Trouche 26). Logo, por que não haver a leitura e a apropriação (ainda que indireta) de textos do escritor Ítalo Calvino sobre as cidades, do semiólogo/ficcionista Umberto Eco a respeito de romances históricos, da geógrafa Ana Fani Alessandri Carlos, a qual afirma que o espaço é um produto histórico, ligado ao modo de produção capitalista, estando sujeito às mudanças por que passa a sociedade? Mas, em especial, textos/documentos (inclusive iconográficos) sobre a cidade de Londrina, provavelmente consultados pelo autor: Tony Hara, José Granado et al., Raimunda de Brito Batista, José Miguel Arias Neto, Carlos Francovig, Ivone Baioni Garcia, Nelson Dacio Tomazi, Paulo César Boni, Rosana R. Unfried e Omeletino Benatto, entre outros.

Para escrever seu livro, Lopes esteve embasado em profunda investigação realizada por ele, tanto em bibliotecas do Brasil quanto dos Estados Unidos da América do Norte, e em diferentes fontes: sites, museus, jornais, fotografias antigas, filmes, além de livros sobre a técnica de escrever romances policiais, conforme Portella.

Seria, portanto, sua obra um "novo romance histórico" (Esteves, Menton e Ainsa), ou, ainda: "narrativa de extração histórica" (André Trouche), "me-taficção historiográfica" (Hutcheon), "ficção histórica" (Weinhardt), além de "narrativa histórica", "romance histórico", "romance histórico pós-moderno", "romance histórico latino-americano contemporâneo", conforme outros pesquisadores. Então, como acontece em vários híbridos de literatura e história, há também o cruzamento com a narrativa policial. Acrescente-se que, pelo fato de essa região paranaense ter uma colonização relativamente recente, sua história, sobretudo no veio em que o escritor escolheu (ficcionalizando-a), é pouco publicizada, justificando-se o interesse pelo tema.

Para Esteves, pode-se "traçar uma genealogia" do gênero, "buscando suas origens no romance histórico do século XIX, como fazem vários estudiosos da questão", a exemplo de González Echevarría, Raymond Souza, Fernando Aínsa, Alexis Márquez Rodríguez, Seymour Menton, Peter Elmore, María Cristina Pons, Celia Fernández Prieto, Gloria da Cunha, André Trouche e Marilene Weinhardt; "ou de se circunscrever o fenômeno diretamente na pós-modernidade, usando o conceito de metaficção historiográfica de Linda Hutcheon (1991)" (Esteves, "O romance" 1).

Na linhagem da tradição brasileira, José de Alencar é um dos precursores do romance histórico (clássico), destacando-se suas obras As minas de prata (1862), Iracema (1865), O Guarani (1857), A Guerra dos Mascates (1873?). Sobressaem ainda Machado de Assis, Paulo Setúbal, Érico Veríssimo, Viriato Corrêa, Jorge Amado, dentre outros. Dessa forma, o "romance ofereceu, pois à literatura a dimensão de sua historicidade. Trata-se de momentos privilegiados em que a ficção assume a consciência política da sociedade" (Chaves 26).

Há, portanto, uma confluência da literatura com a história, como já o haviam feito Walter Scott e Alessandro Manzoni nos primórdios do século XIX, acontecendo então o modelo narrativo conhecido como romance histórico tradicional (ou clássico), após a teorização de Lukács ao analisar a obra scottiana Ivanhoé (1819). Essa literatura usava a história e personagens reais como pano de fundo para a ficção, buscando delinear um caráter nacional, procurando dar maior veracidade aos fatos narrados e pintando grandes painéis laudatórios que retratavam determinado momento histórico, de forma cronológica. Em suma, para a existência do romance histórico, dois fatores são essenciais: feitos históricos e ficcionalidade/invenção. É pela união desses dois componentes que a ficção histórica se concretiza (Márquez Rodríguez 24).

Mas há uma reviravolta nesse olhar sobre a história, com o romance O reino deste mundo, do argentino Alejo Carpentier, publicado em 1949. Assim, principalmente a partir dos anos 1970, autores da América Latina revisarão e reescreverão acontecimentos históricos, questionando passado, presente e futuro, lançando olhares sobre as culturas ex-cêntricas (periféricas), com destaque para as obras de Isabel Allende, Carlos Fuentes, Mario Vargas Llosa, Gabriel Garcia Márquez, Maria Rosa Lojo, Augusto Roa Bastos, Ana Miranda, Márcio Souza, Luiz Antonio de Assis Brasil e Silviano Santiago. E "não se trata de substituir a história pela ficção, mas possibilitar uma aproximação poética de todos os pontos de vista, contraditórios mas convergentes" (Esteves, "O romance" 18). Trata-se, pois, da combinação de "poesia e verdade", como dizia Goethe, da realização de "uma arte refinada e discreta, [...] que borra seus vestígios, dissimula seus procedimentos e se torna invisível, uma combinação em que literatura, isto é, a fantasia, mistura-se e se confunde com a lenda histórica corroborada pelo documento e o relato verídico" (citado em Duran 291). As personagens tornam-se, portanto, humanas; deixam de ser marmóreas (Aínsa 85).

É Esteves ainda, no livro O romance histórico brasileiro contemporâneo (1975-2000), apoiando-se em Menton, que postula como características dos novos romances históricos a impossibilidade de se determinar a verdade histórica pelo discurso, questionando-a e, em consequência, acontecendo a distorção consciente da história; a metaficção; a intertextualidade; a ficcio-nalização de personagens históricos e, muitas vezes, a dessacralização deles e de eventos reais (via ironia e procedimentos paródicos e carnavalizadores); a ruptura da linearidade temporal.

Assim, "[a]o se valer dos mesmos recursos narrativos que a historiografia o novo romance histórico não [...] fez com que a história ficasse obsoleta; no entanto, ela está sendo repensada -como uma criação humana" (Hutcheon 34). Logo, a narrativa historiográfica não é objetiva e abre-se a múltiplas possibilidades discursivas. E é a mesma autora que afirma sobre trabalhos de White, Veyne, Certeau, LaCapra, Mink, Jameson, Gossman e Said, que esses estudiosos, entre outros, apontaram nos discursos histórico e literário, em diálogo, as questões também apontadas pela metaficção historiográfica, como a forma narrativa e a função da linguagem, as relações intertextuais, as estratégias de representação, a relação entre o fato histórico e o acontecimento real, além das "consequências epistemológicas e ontológicas do ato de tornar problemático aquilo que antes era aceito pela historiografia -e pela literatura- como uma certeza" (Hutcheon 14).

Mas qual o motivo do escritor londrinense ter optado pelo novo romance histórico? Talvez a resposta esteja em Hutcheon e também em Menton, para quem é bastante difícil a captação da verdade histórica. Dessa forma, a ficção, por meio da recriação livre de fatos históricos, alerta para o que houve, mostra as diferentes facetas dos acontecimentos e dos sujeitos neles envolvidos. Leva o leitor ingênuo (ou distraído) a ficar mais atento e a questionar seu presente, via observação do passado. E isso fica bastante evidente na maneira como Lopes vai desenrolando a trama ficcional, ao efetuar uma releitura crítica da história, aguçando a curiosidade do leitor que se vê compelido a procurar saber mais sobre o que está lendo.

Assim, apenas a título de exemplos, Lopes assinala que houve atividades do partido nazista no norte paranaense e a "operação triangular" aconteceu. Explica-se: ao vir se estabelecer no Brasil, o alemão -que não poderia sair da sua pátria com muito dinheiro- pagava para a Companhia de Terras Norte do Paraná (CTNP), inglesa, um título -cartas de terra- que lhe daria direito à propriedade no novo país. Como a CTNP, empresa colonizadora, precisava de material para a construção de ferrovias no Paraná (ela era uma das acionistas da estrada de ferro), comprava o que necessitava da Alemanha (Castilho 33). Mas, infelizmente, nem sempre ao chegar o germânico recebia seu pedaço de terra, tornando-se empregado de alguém já proprietário de um chão para plantar. Também Anderson teoriza sobre a retomada e o boom do romance histórico contemporaneamente, "fabricando períodos e verossimilhanças intoleráveis" [...] numa "tentativa desesperada de nos acordar para a história, em um tempo em que morreu qualquer senso real dela" (219).

Em suma, utilizando diferentes autores de diferentes áreas, será alvo de análise, no corpus apontado, a questão do espaço e da historicidade. O foco maior será, por conseguinte, estudar O trovador como novo romance histórico que se vale também da narrativa policial, uma junção bastante proveitosa desde o clássico O nome da rosa, estabelecendo o feitio daquele gênero, bem como seus diálogos intertextuais. Ressalve-se que o veio policial ficará para outro momento, aqui sendo abordado apenas en passant.

Já em terras vermelhas: o trovador Rodrigo Garcia Lopes, seu canto, sua cidade

Figura poliédrica, Rodrigo Garcia Lopes é poeta, Accionista, tradutor, foi professor (mestrado em Interdisciplinary Humanities; doutorado em Letras), cantor, violonista, compositor, editor, roteirista, curador e autor consagrado pela academia, com inúmeras premiações. E, ao escrever seu romance, Lopes teve como painel principal os primórdios do antigo Patrimônio Três Bocas, cuja colonização começou por volta de 1904-1908, quando paulistas e mineiros vieram para a região de Cambará, enquanto os fazendeiros "do chamado Paraná tradicional" partiam do Sul, segundo Hara (21). Assim, em 1919, foi fundado o Patrimônio de São Roque (atual Tamarana), que serviu de base para os avanços sobre o local onde foi instalado o Patrimônio, região na qual vivia o grupo indígena Kaingang e por onde, já em 1910, circulavam caboclos que viviam em ranchos de palmito, criavam porcos e eram conhecidos como "safristas", porque também plantavam milho, abóbora e batata-doce (Hara 22). Desse modo, as florestas da região aos poucos foram derrubadas pelos "machadeiros" para o plantio de subsistência, na terra fértil, de forte coloração (Hara 24).

Portanto, a partir do Três Bocas, surgiu a cidade de Londrina, que data de 1929, tornada município em dezembro de 1934, situada no norte do Estado do Paraná, e conhecida também como "pequena Londres" (Prefeitura de Londrina; Lopes 22). Sua fundação está unida ao escocês Simon Joseph Fraser, o 14° Lord Lovat, 1871-1933 (Lopes 16), ligado à Paraná Plantations Limited e sua subsidiária -a ctnp-, colonizadora da região (Lopes 22, 14; Arias Neto 4), e que é uma das principais personagens do livro enfocado.

Londrina, a exemplo de outras "cidades-jardim" planejadas (Lopes 57), do norte e do noroeste paranaense, seguiu o modelo inglês de pequenas cidades, não muito distantes umas das outras, com um cinturão verde protegendo as nascentes, desenvolvendo-se às margens da estrada de ferro, como informa Motta Araújo (citado em Melo). O trem foi avançando pelas grandes extensões de terra, antes pertencentes a Antônio Barboza Ferraz Júnior e adquiridas pela Companhia de Lovat, sendo, então, vendidas em pequenos lotes a agricultores que se dedicaram, posteriormente, ao cultivo do café, chamado, por muito tempo, de ouro verde, visto a riqueza que proporcionou às regiões em que crescia, atraindo aventureiros de inúmeras espécies. Alexandre Razgulaeff, também personagem do livro de Lopes, e Ludovic Surjus, agrimensor francês cujos diários foram resgatados em obra importante de Batista, significaram bastante, como técnicos, para o traçado urbanístico e mapeamento da cidade e da região.

Assim, a urbe, hoje a segunda do Paraná em população, teve sua colonização iniciada nas primeiras décadas do século XX, quando ainda era uma região de mata espessa, chamada de sertão, destacando-se a vinda da famosa Missão Montagu, liderada por Edwin Samuel Montagu, para verificar se o país poderia responder ao empréstimo solicitado aos cofres ingleses de acordo com informações de Abreu, de Arias e da CTNP.

No romance de Lopes, com a vinda do tradutor Adam Blake à terra brasilis, que se surpreende com o cenário que encontra, também a terra roxa (chamada pelos italianos colonizadores de rossa -vermelha), "livre de saúvas" (como anunciava a propaganda), torna-se personagem destacada, dando origem -por razões óbvias- ao epíteto "pés vermelhos" àqueles que nela nasceram ou a adotaram. Como destacou na orelha do livro de Lopes o escritor Joca Reiners Terron: "O cenário importa tanto a esta trama quanto seus personagens". É de Terron, ainda, os vocábulos "Babel", "faroeste" e "Eldorado" em referência à Londrina de então, "babelizada" por diferentes etnias (aproximadamente 33), terra que seduzia pela promessa de se tornar um novo Eldorado, visto seu solo fértil e muita madeira - perobas, figueiras, guapuruvus, cedros, paus-d'alho (Lopes 117, 91) -que incitavam ao trabalho e à sua extração (Lopes 355). Mas essa mesma riqueza era chamariz de aventureiros, pequenos e grandes malandros, que a tornavam um faroeste caboclo. Em função disso, também o índice de homicídios cresceu: "Além do mais, os homens usavam armas nas ruas como se fossem pentes" (Lopes 46).

Assim, dessa terra de cowboys e de sua matriz (a grande Londres), pularam para as páginas de Rodrigo Garcia Lopes, além de ingleses bastante conhecidos (Edward VIII, Lord Lovat e sua família, os políticos Winston Churchill, Walter Monckton e Stanley Baldwin), o escocês Adam Blake (figura ficcional); os japoneses (Ikoma Udihara, agente da Companhia de Terras para os imigrantes nipônicos e cineasta amador, que realmente fez os primeiros registros da cidade e seus moradores, assim como o fotógrafo Haruo Ohara também figura londrinense; a família do lavrador Sadao Suzuki; um japonês gordo, jogador de baralho, que usava tapa-olho); os alemães (o fotógrafo Hans Hoffman -quase homônimo do verdadeiro Hans Kopp-, o casal que morou em Londrina Magdalene e Kurt-Peter Müller, Hans Henning Von Cossel chefe-geral do partido Nacional-Socialista no Brasil, o intelectual de origem judaica Emil Levy-autor real de um dicionário provençal-francês- e sua sobrinha Sarah, o padre Helmut Braun, a hoteleira Frieda Flõringer, a costureira Anna Wolkof, o fazendeiro Ernest Günter e sua filha Angelika, Max -o guarda-costas conhecido como o Sombra, a cafetina Lorinda- nome de guerra de Martha Shrõeder, o austríaco Erick Nussbaum (contador e dublê de trovador); os italianos Giuseppe Giuliani e sua esposa Antonella (ele inspirado em José Juliani, que registrou com suas lentes a cidade incipiente) e a família do colono Victorio Mancini; o vizinho espanhol de Miranda; o russo Razgulaeff; os americanos Wallis Simpson (que se casou com o rei inglês) e Booker Pittmann (1909-1960), músico chamado pelos amigos de Buca, que morou em inúmeras cidades paranaenses (por uma década, aproximadamente: de 1949 a 1957) e tocava em prostíbulos (Lopes 108), dos quais pintava também as paredes, recebendo moradia ou alguns trocados.

Dentre os brasileiros, são destaques os políticos paranaenses Manoel Ribas e Mário Tourinho, e Getúlio Vargas, assim como personagens ficcionais, possivelmente inspiradas em pessoas da região: o delegado Ubirajara Silva (lembrando que seu nome, oriundo do tupi, significa "senhor da lança", um guerreiro), a meretriz Regina -mais conhecida como Miranda, a afável cozinheira Glória, e Nilson Garden, filho de mãe brasileira e pai inglês, prefeito e diretor da ctnp (ficção que remeteu a fato real acontecido na cidade no período aventado, indagando-se se haveria conflito de interesses, devido às funções que ele exercia na área pública e na vida particular e profissional).

Mas o leitmotiv de O trovador, para prender o leitor, é um assassinato que remete a fato verídico: o primeiro caso de homicídio registrado na delegacia de Londrina, cometido pelo médico alemão Kurt Müller contra um compatriota (Júlio von Schütz), com motivação passional (Oberdiek 69; Lopes 77). Outros crimes virão a seguir, todos ligados a um poema creditado ao poeta provençal Arnaut Daniel (de Ribérac), trovador dos séculos XII e XIII, que escreveu sua obra em occitano. A palavra-chave? Noigandres, que, segundo Antonio Risério (citado em Miranda), "seria uma denominação poética para a invenção", para aquele que inaugura algo, um certo tipo de fazer, como o que foi realizado por Daniel. Vale ressaltar a vivência de Rodrigo Garcia Lopes como poeta e tradutor, o que talvez tenha sido o estopim para o desenvolvimento da trama e para essa invenção, por alguém que nunca havia escrito um romance, mas que lidava há muito com o labor poético e a tradução, tendo inclusive traduzido o poema "Treze", de Daniel, ora em pauta.

Entretanto, a explicação dada por Risério não é a única. Para outros pesquisadores, trata-se de um trocadilho e noigandres seria a flor que espanta o tédio (ennui); ainda uma flor com olor à noz-moscada, usada como especiaria afrodisíaca na comida; e também um fruto da moscadeira (myristica fragrans), que, em alta dosagem, teria efeito alucinógeno, podendo mesmo ser mortal, quando consumido de forma excessiva (Hower 161-163).

Dessa forma, Nussbaum, o trovador criado por Lopes, utiliza a polissemia do vocábulo: assassina Lovat com a myristica fragrans, deixa a noz-moscada como assinatura, também usa a palavra noigandres no seu contexto poético (versos deixados nas vítimas ou enviados a alguém) e ainda para denominar uma operação delituosa: "Noigandres é o nome de um esquema secreto, uma operação criminosa internacional envolvendo desvio de dinheiro da Paraná Plantations e remessas de madeira e dos lucros para a Alemanha?" (Lopes 354). E ele seria o "trovador" -criminoso apaixonado pela "dama" (Wallis) casada com o "nobre" (dentro do espírito da "vassalagem" trovadoresca), mistério só revelado nas páginas derradeiras do romance, policial bem escrito (Lopes 372-375).

Logo, em face de tantos conflitos, justifica-se a presença do tradutor Blake -indicado por Lord Lovat- que veio trabalhar para a Paraná Plantations Limited e teve um delegado brasileiro a auxiliá-lo a desvendar os crimes, a exemplo do célebre Sherlock e seu companheiro Watson, criados por Arthur Conan Doyle, e de Guilherme de Baskerville e Adso de Melk, personagens de Umberto Eco.

No palco dessa Londrina dos anos 1930, descoberta com olhos espantados por Adam, e que crescia a olhos vistos graças à madeira e depois ao café (Prefeitura Municipal citada em Arias Neto XII), estavam aventureiros de todos os quilates: fazendeiros de chapéus na cabeça, com seus ternos brancos respingados de lama e armas na cintura; matadores de aluguel sem escrúpulos; madames proprietárias de bordéis e suas meninas; donos e trabalhadores de serrarias e de propriedades agrícolas; pequenos comerciantes e seus funcionários; proprietários de pensões e hotéis; "picaretas" vendendo terrenos "grilados" ou não; além de estrangeiros -intelectuais e pessoas de profissões variadas- fugidos das guerras na Europa e na Ásia. A se destacar, pois, a participação de imigrantes das mais variadas nações, muitos com um passado obscuro o qual queriam esconder e também esquecer.

Enfim, um caldeirão que irá ferver, volta e meia, e também alimentará o progresso e as histórias contadas ao pé do ouvido sobre o Príncipe de Gales -que se tornaria o rei inglês Edward VIII- e sua vinda ao norte paranaense, para cuidar de interesses pessoais ligados à Paraná Plantations, e que o excesso de chuva impediu de chegar a Londrina, o que não acontece no romance. Sua amada Wallis estará também envolvida na trama, a qual se desloca de Londres para Londrina e vice-versa, e liga o nobre e sua Companhia às mortes que ocorrem, relacionando o casal aos nazistas da Alemanha e do Brasil, e ao fornecimento de madeira para uso na guerra.

São figuras reais, históricas, entrelaçadas com personagens fictícias que lhes dão uma outra dimensão, marcadas pela natureza (Lopes 117) -vento que sopra, canto dos pássaros e gritos dos macacos na mata, calor úmido-, pela poeira e pela lama, pelo som das serrarias, pelos insetos que atazanam (Lopes 237), pelas danças e músicas e brigas dos lupanares (Lopes 108-115), pela algaravia dos mascates (Lopes 60) e pelo ranger das rodas de charrete e relinchos dos cavalos pelas ruas (Lopes 60).

Narrativa sensorial, que faz das cidades e suas adjacências (em especial Londres, Londrina, Rolândia, Nova Danzig/Dantzig depois conhecida como Cambé, Jathay/Jataizinho) elementos indispensáveis, impregnando-se tal atmosfera naqueles que por elas circulam. Dessa forma, a história e a literatura estão imbricadas na trama do romance escrito pelo londrinense que questiona a história oficial de maneira espirituosa, iluminando fatos desconhecidos ou pouco conhecidos, levando o leitor a repensar o passado de sua região, e também indicando direções teóricas a serem percorridas pelos estudiosos de ambas as áreas.

Literatura e história: águas da mesma fonte?

Esteves realiza um levantamento minucioso, do ponto de vista de diferentes estudiosos, sobre o profícuo diálogo entre literatura e história, mostrando que ambas estão calcadas na memória, portanto, intimamente ligadas no novo romance histórico que se caracteriza pela dessacralização da história oficial, procedimento realizado por Lopes, que coloca em situações nada ortodoxas importantes figuras históricas (17-43). Essa modalidade de romance está marcada pela intertextualidade e "distorção consciente da história, mediante anacronismos, omissões ou exageros, associada à utilização de metaficção ou comentários do narrador sobre o processo de criação" (Esteves e Milton 17-18).

Há, então, distorções conscientes de certos fatos, como a ida de Edward a Londrina, em primeiro de abril (dia da mentira). Trata-se de uma boutade do escritor, posto que o nobre nunca lá esteve (por cansaço ou devido a fortes chuvas na região que dificultavam a travessia do rio, em Jataizinho), assim como a casa da cafetina Diana (sucesso nos anos 60-70 do século XX), citação anacrônica como a de Pittman, que encantava a todos com seu saxofone, mas esteve na região nos anos 1950.

Observa também Le Goff a importância da memória coletiva, que, além de conquista, é "um instrumento e um objeto de poder" (435). E é pela via da memória que se busca um elemento essencial do que se convencionou chamar de identidade, individual ou coletiva. Assim, Lopes mostra as origens da "identidade pé vermelha", com seus diversos "bandeirantes", os chamados pioneiros -louvados em discursos ufanistas- que desbravam corajosamente a terra dos perobais, e estabelece um diálogo contrapontístico com fontes distintas. Muitas vezes, isso se faz de forma paródica e exagerada, marca do novo romance histórico, com o propósito de criticar e desconstruir uma imagem criada pelo marketing das empresas colonizadoras, como quando descreve a mata e dá à seção o título de "Inferno Verde" (Lopes 117), epíteto em geral ligado à Amazônia. E ainda quando Lord Lovat enumera as maravilhas da Pequena Londres para Blake, recém-chegado à região: "-Apenas no Canadá vi tamanho potencial, meu jovem. Isso aqui é a nova Califórnia. O novo Eldorado!". Comentário recebido com um olhar cínico, e logo depois com uma resposta mordaz, aludindo ao livro de Joseph Conrad: "Direto da Escócia para o coração das trevas'1 (Lopes 35). Lembramos que essa obra enfoca a selva africana e as atrocidades da exploração colonialista por parte do branco europeu: o assassínio, a mutilação e a escravização dos semelhantes em troca de riqueza. "O horror! O horror!". Logo, é somar e concluir: aconteceu o mesmo com a terra roxa brasileira, mas em muito menor grau de carnificina.

Vale ressaltar a consulta efetuada aos escritos de Nelson Dacio Tomazi, nos quais o pesquisador estabelece a oportunidade de se repensar o chamado discurso Norte do Paraná (que recupera vozes e silêncios), edificado a partir da (re)ocupação/exploração da região norte paranaense, construção que mostra um paraíso terreal -Éden, Eldorado, Canaã- bastante atrativo, para nacionais e estrangeiros. "[A] Paraná Plantations já colhia os frutos de seu empreendimento, o que significava mais dinheiro circulando na 'Nova Canaã'. A Terra da Promissão" (Lopes 57).

São essas as imagens divulgadas por jornais e folhetos de propaganda que entrelaçam riqueza, abundância, prosperidade, ocupação planejada e pacífica, terra de trabalho e pioneirismo, tendo a mata virgem e, posteriormente, as plantações de café como cenário demarcado pela fértil terra roxa. Tal discurso, consequentemente, para Tomazi, é pleno de "fantasmagorias" com o apagamento dos problemas, como as mortes acontecidas durante a construção da ferrovia e as derrubadas da mata, não só por acidentes, mas pela "malária, ou 'maleita', que, segundo alguns, 'dava até em árvore'" (Lopes 57).

E a esse discurso ufanista, Sonia Maria Sperandio Lopes Adum chama de discurso da felicidade, que é de exaltação da terra e do progresso e também da ocupação pacífica (4-5). Segundo essa autora, o foco de tal alocução está na satisfação daquele que compra, depreciando o lucro de quem vende, ou seja, as vantagens auferidas pela ctnp. E Adum encontrou esse discurso tanto nos álbuns comemorativos da cidade como em crônicas escritas sobre Londrina. Essa visão jactanciosa somente sofrerá transformações, de forma tímida, a partir das décadas de 1970 e 1980 com os escritos de Marinósio Filho, sobre o submundo londrinense e os fatos policiais, e de Edison Maschio sobre os "escândalos da província" (em livro homônimo). Maschio inclusive cita uma placa que foi, a título de brincadeira ou de provocação na entrada da cidade -"Igual a você já temos 10 mil. Volte"- que crescia tão rapidamente que não conseguia absorver os que chegavam. Tal episódio também será reportado por Lopes (76) em seu romance: "Volte! Igual a você já temos 30 mil".

A respeito do "discurso oficial", ainda coloca Arias Neto que ele se esquece das brigas pela terra, dos conflitos entre posseiros, grileiros, safristas que viram seus títulos de posse invalidados com a compra das terras pela CTNP. O autor é secundado por Tomazi o qual cita o uso de força, de jagunços chamados de limpa-trilhos ou quebra-milhos para expulsar os caboclos, que passaram a ser considerados invasores. Isso fica evidente no discurso do fotógrafo italiano Giuseppe Giuliani (calcado no verdadeiro José Juliani, fotógrafo da CTNP): "Não concordei com certos métodos usados. Esse negócio de 'limpa-trilhos' e 'quebra-milhos', por exemplo, para convencer posseiros a sair das terras, não é justo. Pelo menos eu não chamaria de cortesia britânica" (Lopes 273). Quando o detetive Blake indaga o significado de limpa-trilho, Juliani esclarece:

É o nome que dão à polícia particular da Paraná Plantations. [...]. -Tem o problema dos que se apossam das terras que eles consideram sem dono. Para espantar esses posseiros e avançar a ferrovia, a companhia adota o terror, a estratégia de terra devastada. Pior que tem gente da elite desta cidade que já prestou esse tipo de serviço sujo. Uma barbaridade. Claro que não se pode falar no assunto. Boca chiusa. (Lopes 273)

Também Chies e Yokoo apontam a ação desenvolvimentista impulsionada pelas companhias colonizadoras, quando muitas famílias puderam comprar seu pedaço de terra. Entretanto, pontuam negativamente as questões ecológica (queimadas, dizimação da floresta, contaminação da água e do solo) e social: "conflitos entre nativos e 'capangas' das empresas colonizadoras, grilagem de terras, exploração do trabalho e lucros exorbitantes com a venda das terras pelas companhias colonizadoras" (28). Assim é que personagens do romance comentam sobre a vinda do antropólogo Lévi-Strauss, que percorreu a cavalo a região para estudar os indígenas, antes de ir para o Mato Grosso, e sobre algo apontado por Joffily: o extermínio dos índios Coroados "que armaram uma emboscada para cima dos ucranianos ali em São Jerônimo da Serra. Dizem que estão no direito, que estão em suas terras. De vez em quando encontram umas ossadas por aí" (Lopes 113).

Cabem aqui as palavras de Esteves e Milton: "A memória é frágil e as formas de registrá-la são permeadas pela linguagem e, certamente, pela imaginação" (12). Logo, toda construção discursiva é impregnada pela subjetividade e o discurso oficial em geral "esquece" vozes que não são importantes, que não têm força para se fazerem escutar. E a sua reprodução (a da história oficial), geralmente com as brechas preenchidas pela imaginação, tende a repetir o que foi dito, e no mesmo tom. Daí a importância do novo romance histórico e da sua ação demolidora em relação ao propugnado pelo establishment.

E um outro recurso lembrado ainda pelos pesquisadores unespianos, em relação ao novo romance histórico, é "a utilização de metaficção ou comentários do narrador sobre o processo de criação" (Esteves e Milton 17), o que acontece quando há a explanação -que informa o leitor, mas não o aborrece- sobre o trovadorismo, as cantigas, a sextina, a questão da tradução literal ou da transcriação, os anagramas, enfim, tudo que envolve o trovador Arnault Daniel e o seu poema "Treze", bem como o professor Emil Levy, também tradutor, autor do Petit Dictionnaire Provençal-Français e que auxiliará Blake em suas buscas intelectuais que o conduzirão à resolução dos mistérios.

O trovadorismo foi um movimento literário que floresceu no século xii, na Provence, região meridional da atual França (que fez parte da Occitânia), na qual se falava a langue d'oc. Ele foi bastante importante e estendeu-se a outras regiões da Europa, sendo que o professor Spina explicita que, no norte francês, se fazia poesia épica, guerreira, e que, no sul, o trovador (troubadour) produzia a lírica, cortês e refinada, voltada ao amor -fin'amors. Havia, por conseguinte, a lírica amorosa (cançon/canso), caso do poema "Treze", e também a poesia satírica (siventês). Arnaut Daniel foi um representante do trobar ric, conforme Spina: caracterizado pela riqueza de vocabulário e de rimas difíceis; de ornamentos e imagens em excesso; tendendo ao sensorial, com preocupação pela sonoridade e pelos efeitos sugestivos. Ainda, para os estudiosos portugueses Saraiva e Lopes (1969?), o trovador não poderia ultrapassar certos limites (a mesura ou autodomínio), para não expor a dama fulcro de sua atenção. A mulher era um ser idealizado, assim como o amor a ela dedicado.

Ressalte-se que Arnaut Daniel foi bastante admirado por poetas e críticos, como Dante Alighieri, Petrarca, Ezra Pound e Augusto de Campos. Desse modo, Rodrigo Garcia Lopes, tradutor premiado, parece ter sido inspirado pelo poema "Treze" (ou Er vei vermeills, vertz, blaus, blancs, guocs), de Daniel, a escrever seu romance. O poema original, em occitano, aparece na página 7 de O trovador, lembrando uma epígrafe, e a tradução feita pelo londrinense dos versos de Daniel está presente nas páginas 2223 do romance. O próprio escritor pé vermelho reflete sobre o ofício do tradutor, comparando-o ao do detetive: ambos buscam algo. O detetive busca a resolução do enigma; e o poeta busca a palavra certa, aquilo que os franceses denominam de le mot juste.

E a narrativa, centrada em mistérios e crimes, envolve o leitor e faz com que ele deixe de ser um voyeur e se torne cúmplice de Adam, o tradutor-detetive, esmiuçando as pistas lançadas discretamente, muitas tão sutis que somente em uma segunda leitura da obra serão percebidas. Se houvesse uma reflexão maior sobre um chiste lançado por Alexandre Dumas -"cherchez la femme..." / "procure a mulher" (Lopes 104)-, metade do mistério estaria desfeito. A sra. Simpson é o pomo da discórdia: o rei inglês e o trovador assassino são por ela apaixonados. Além disso, tudo gira em torno do poema escrito por um trovador, uma cantiga de amor na qual há também um triângulo.

Lopes recupera a teoria trovadoresca, discorrendo sobre o senhal, a senha secreta para o compromisso assumido pelos envolvidos na "operação noigandres" e reforça que se trata de uma cantiga de amor, nela presente a vassalagem amorosa, própria das cantigas medievais (com a dama: Wallis; o nobre/suserano: Edward; e o vassalo enamorado/o trovador: Nussbaum); sobre a construção poética, na qual é utilizada a sextina, sistema estrófico dos mais difíceis e raros, atribuída sua criação a Daniel; e ainda há o envoi ou tornada: versos dirigidos ao jogral, pelo trovador, que interpretará suas cantigas, quando ele mesmo não puder fazê-lo. E, às vezes, o trovador neles se revela, mostra quem é (Lopes 213-219, 232-236).

Ressalte-se ainda que, por se tratar de uma obra escrita por alguém muito letrado, também do leitor é exigido um repertório bastante razoável para que melhor possa usufruir das alusões presentes no texto, que remetem a inúmeros autores. Assim, explícita ou implicitamente, há referências a Umberto Eco, Arnaut Daniel, Arnaut de Mareuil, U. A. Canello, Joseph Conrad, Conan Doyle, G. K. Chesterton, Sinclair Lewis, Agatha Christie, Levi-Strauss, Emil Levy, William Blake, Ezra Pound, Augusto de Campos, Rainer Maria Rilke, Dante Alighieri, J. M. Rayounard, Johann Wolfgang von Goethe, Karl Marx, Nostradamus, entre outros.

Tudo isso é embalado por excelente trilha sonora, que leva o leitor a ter vontade de cantar, dançar e sonhar: "Night and Day", de Cole Porter (Lopes 101); "Oh Susana", em versão jazzística de Booker Pittman (Lopes 108), "Luar do sertão", de Catulo da Paixão Cearense e provavelmente de João Pernambuco (Lopes 111); sucesso de Carmen Miranda (Lopes 115); os saraus de Frau Flöringer (Lopes 74); óperas (Lopes 253); "A última estrofe", de Cândido das Neves (Lopes 291-292). E o pano de fundo para essas melodias é a Londrina vermelha, de pó e de barro, de paixão e de crime.

Cartografando Londrina

A "Pequena Londres" hoje tem uma nova feição, bem diferente da retratada por Lopes. Numa área de aproximadamente 1.651,809 quilômetros quadrados, há uma população estimada de 558.439 habitantes de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (ibge), que têm à sua disposição áreas verdes e um lago, o Igapó. Possui como distritos administrativos Espírito Santo, Guaravera, Irerê, Lerroville, Maravilha, Paiquerê, São Luiz e Warta, tendo se tornado um polo bastante atrativo nas áreas da educação, cultura, saúde, indústria, comércio e serviços, com destaque para os festivais internacionais de teatro, música, dança e corais. Mas e seu início?

Lopes efetuou um levantamento precioso tanto geográfico quanto histórico, para efeitos de verossimilhança, ainda que use da licença poética, e sua obra instiga ao estudo e à busca das fontes reais. A antiga Capital do Café expandiu-se a partir do alto de um espigão, com nascentes de vários córregos e a construção de dois ranchos de palmito, numa clareira aberta com a derrubada de árvore sob a liderança do português Alberto Loureiro, que veio na expedição de colonos comandada pelo paulista descendente de ingleses George Craig Smith. A data fundadora é 21 de agosto de 1929 e o local hoje conhecido como "marco zero" foi estabelecido por Razgulaeff, como informa Paulo Briguet.

A mata cercava esse pequeno núcleo de civilização e, segundo Hoffmann, logo foi construído o escritório da ctnp, o Hotel Campestre (em 1930) para abrigar os trabalhadores, pequenos comércios surgiram nas avenidas Paraná, Duque de Caxias e Pernambuco, assim como passaram a existir o Hospitalzinho da Companhia (em 1933, e dirigido pelo Dr. Kurt Müller), a agência dos Correios (em 1934), a estação ferroviária (em 1935), a primeira jardineira (a Catita, dos Garcia: caminhão Ford adaptado para transportar passageiros, em 1934), a agência da Caixa Econômica Federal (em 1936).

E, no céu azul, voavam os aviões, marcando o progresso, observados com encanto pelos alunos das primeiras escolas: a alemã do Heimtal, em 1931, e a japonesa, em 1933. Ainda é a mesma pesquisadora, Hoffmann, que conta sobre a diversão de então: o Clube Redondo, fundado em 1934 ou 1935 e frequentado pelos ricos (que faziam os ternos na Alfaiataria Luppi), e o Clube Quadrado frequentado pelos pobres e negros, o que evidenciava a distância social já existente naquela época; além das casas das madames e dos cinemas, muito populares.

Claude Lévi-Strauss comentou, em sua obra Tristes trópicos, a ação da CTNP que determinava o modo de vida ordenado da população, devido aos traçados dos seus projetos (as cidades-jardim), que, entretanto, desordenavam a mata, com as derrubadas. E deixou a interrogação sobre a consequente destruição da fertilidade da terra, dali a dez, vinte, trinta anos.

Nessa Londrina que vai se expandindo, é que as personagens de O trovador irão viver suas aventuras, realizando compras nas Casas Catharinenses e Fuganti; buscando medicamentos nas Farmácias Maria Izabel e São João; adquirindo o pãozinho quente e o cigarro Yolanda na Padaria Esmeralda, parando para um cafezinho no Bar Líder. Poderiam trabalhar nas Serrarias Mortari e Siam, que contribuíam para o desenvolvimento da urbe, assim como na Cerealista José Bonifácio e Cia. Ltda. Portanto, é desse período, considerado heroico, que o livro focalizado tratou. E retratou. Retrato de uma terra molhada pelo suor do trabalho incessante, mas também pela cachaça e pela cerveja vertidas prazerosamente no chão poeirento. Terra molhada pelo sangue de muitos e pelo whisky bebido por poucos. Terra que foi paraíso, mas também inferno.

Finalizando a saga londrinense

Nos relatos sobre Londrina, a cidade é lembrada como o Eldorado paranaense, sendo comparada ao oeste americano e o que ele representou para os estadunidenses. Pioneiros, considerados novos bandeirantes, foram louvados em prosa e verso, e essa saga, essa etapa da história paranaense, precisava de alguém que levantasse o véu que a cobria para que as novas gerações se inteirassem dos fatos passados, mas de uma forma leve, atraente, divertida.

E Rodrigo Garcia Lopes, em seu livro, valendo-se de acurada pesquisa histórica, cria um enredo policial que prende o fôlego do leitor até o desfecho. Ele foi bastante hábil ao optar pela escritura de um novo romance histórico, que cumpre bem tal papel, descontruindo mitos, fazendo uso de procedimentos paródicos, dialogando com diferentes obras, em uma teia intertextual que instiga a buscas e descobertas sobre a região e sobre quem era o trovador misterioso, mescla de amante e assassino.

No mosaico criado por Lopes, as peças, por mais esdrúxulas que pareçam, vão se conectando e dando forma ao passado de uma região rica em fantasmagorias, narrativa em que há uma rememoração de eventos do passado esclarecidos por outros fatos, decorrentes de outras motivações, como lembra Hutcheon. Assim, o rei Edward, com grandes interesses econômicos na região paranaense, não abdica do trono inglês devido à pressão sofrida em função do seu amor por Wallis, americana e divorciada. O motivo é bem mais forte: seu envolvimento em negócios escusos e aproximação com a Alemanha nazista, o que, se divulgado, seria considerado alta traição ao Império Britânico, segundo Churchill e Mr. Monckton (Lopes 382-390).

Esse, portanto, é o olhar sobre a Londrina revivida pelos escritos de Lopes, que não se esqueceu da balbúrdia do dia a dia laborioso, nem daquela dos bordéis, das casas onde o divertimento começava cedo e terminava tarde. Portanto, de forma crítica, o escritor paranaense identifica o branco europeu com a civilização, expondo os senhores ingleses e o colonialismo exploratório em relação aos capiaus brasileiros, realizando reflexões éticas e sociais inseridas no discurso das personagens, o que seria monótono se saíssem da boca do narrador.

Em suma, numa narrativa de 403 páginas, recheada de verdades e mentiras bem-elaboradas e bem-conduzidas, descobrimos muito sobre a terra vermelha paranaense e seu passado, mergulhando naquilo que Isaías Pessotti chamou de turismo temporal: muita aventura em um tempo distante, nos anos de 1930, época do far west londrinense.

E é valendo-se de uma narrativa sensorial que esse faroeste pé vermelho é recuperado e mostrado: os ruídos, os odores e as percepções da mata molhada; os perfumes baratos e os risos das prostitutas; a poeira e a lama das ruas e das estradas; o cheiro forte da serragem; o café em floração; o "Luar do sertão", entoado melancolicamente, tão bonito quantos os versos provençais de Arnaut Daniel. A Londrina de Lopes é tudo isso e muito mais, marcando indelevelmente a memória do leitor, com os ecos nostálgicos do passado.

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1Grifo nosso.

Cómo citar este artículo (MLA): Martens Oliveira, Marilu. "'Eldorado, Babel e faroeste': a Londrina de Rodrigo Garcia Lopes, em O trovador". Literatura: teoría, historia, crítica, vol. 22, núm. 1, 2020, págs. 219-242.

Sobre a autora Profesora titular en la Universidade Tecnológica Federal do Paraná (JITFPR) y profesora jubilada de la Universidade Estadual do Norte do Paraná (UENP). Docente en el programa de maestría profesional de la UTFPR, Londrina. Doctora y posdoctora en Letras (Literatura y vida social), máster en Letras (Literaturas vernáculas), con especialización en Lengua Portuguesa: descripción y enseñanza. Graduada en Letras Franco-Portuguesas, en Derecho y em Pedagogía. Líder del Grupo de Investigación Editec - Educación en diálogo: sociedad, arte y tecnología. Experiencia en las áreas de Letras, Pedagogía, Arte, con énfasis en Literatura y Enseñanza, con actuación, principalmente, en los temas: formación docente; incentivo a la lectura y formación del lector; literaturas (brasileña, portuguesa, comparada, infanto-juvenil), historia y memoria; teatro; interartes; cine noir/novela noir; música popular brasileña; Gil Vicente; Ariano Suassuna; Chico Buarque de Hollanda.

Sobre o artigo Minha gratidão ao prof. dr. Antonio R. Esteves pela leitura generosa e acurada de meus artigos sobre Literatura e História, bem como pelas sugestões apresentadas. Gratidão também ao amigo Jair Ferreira dos Santos, o qual me apresentou o romance O trovador.

Recebido: 30 de Novembro de 2018; Aceito: 26 de Junho de 2019

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