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Literatura: Teoría, Historia, Crítica

versão impressa ISSN 0123-5931

Lit. teor. hist. crit. vol.23 no.1 Bogotá jan./jun. 2021  Epub 05-Abr-2021

https://doi.org/10.15446/lthc.v23n1.85018 

Artículos

Entre as margens da estória e da história: ressignificação da história paraguaia no conto "Esses Lopes" (1967)

Entre las fronteras del cuento y la historia: resignificación de la historia paraguaya en "Esses Lopes" (1967)

Between the Intertextual Margins of a Tale and History: Remeaning of the History of Paraguay in "Esses Lopes" (1967)

Hugo Eliécer Dorado Mendez1 

1 Universidade Federal da Integração Latino-americana, Foz do Iguaçu, Brasil hugo.mendez@unioeste.br


Resumo

No presente texto propomos a leitura e análise do conto "Esses Lopes" (1967), sob a perspectiva de uma reconstrução ficcional da história do Paraguai, no seu primeiro período como nação livre (1811-1870). Com as referências, interligações e interpretações apresentadas no artigo, buscamos viabilizar uma nova vereda de análise para o conto, não pretendendo totalizar os sentidos, mas abrindo espaços para novas perspectivas de leitura.

Palavras-chave: Guimarães Rosa; história do Paraguai; literatura e história; ressignificações do passado

Resumen

En el presente artículo proponemos la lectura y el análisis del cuento "Esses Lopes" (1967), bajo la perspectiva de una reconstrucción ficcional de la historia de Paraguay, en su primer periodo como nación libre (1811-1870). Con las referencias, interconexiones e interpretaciones presentadas en el artículo, buscamos viabilizar una nueva vereda de análisis para el cuento, sin la pretensión de totalizar los sentidos, sino de abrir espacios para nuevas perspectivas de lectura.

Palabras clave: Guimarães Rosa; historia de Paraguay; literatura e historia; resignificaciones del pasado

Abstract

The paper proposes a reading and an analysis of the tale "Esses Lopes" (1967) under the perspective of a fictional reconstruction of the Paraguayan war in its first period as a free nation (1811-1870). Through the references, interrelations, and interpretations given in the study, we pretend to enable a new path of analyzing the tale. This without the intention of totalizing senses but to open breaches to new reading perspectives.

Keywords: Guimarães Rosa; history of Paraguay; literature and history; remeaning of the past

A estória não quer ser história. A estória, em rigor, deve ser contra a História. A estória, às vezes, quer-se um pouco parecida à anedota.

Joōo Guimarães Rosa, Tutaméia

AO ADENTRARMOS NO UNIVERSO LITERÁRIO rosiano, articulado rigorosamente e cabalmente pelo escritor brasileiro, nos deparamos com a portentosa imagem das múltiplas veredas significativas que cada uma de suas obras nos outorga. Ante cada narrativa, curta ou longa, o leque interpretativo se estende de maneira formidável, singular e, muitas vezes, imprevista. Eis a conveniência de nos referir ao "universo ficcional" de Rosa: um conjunto de criações que se encontra em constante movimento, transformação e mutação; tudo relacionado entre si. Rosa morreu em 1967, mas a sua obra pervive (na perspectiva do fortleben benjaminiano), como apontam Marinho e da Silva (2019).

No presente texto propomos a leitura e análise do conto "Esses Lopes" (1967), sob a perspectiva de uma reconstrução ficcional da história do Paraguai, no seu primeiro período como nação livre (1811-1870). Com as referências, interligações e interpretações apresentadas a seguir, buscamos viabilizar uma nova vereda de análise para o conto, não pretendendo totalizar os sentidos, mas abrir espaços para novas perspectivas de leitura. A incursão histórica através da ficção não é novidade na obra de Rosa. "A história dentro da estória",1 ou o entrecruzamento de discursos e perspectivas filosóficas, históricas, artísticas, etc., é uma característica inata da produção do literato brasileiro. Por citar um exemplo, refiramo-nos ao seu conto "Páramo" (1969),2 no qual é tecida uma narrativa que transita entre as margens do real e da ficção, que pode ser lido como uma revisitação e ressignificação dos acontecimentos do Bogotazo,3 na Colômbia.

Além disso, Rosa não estava isento à realidade política e histórica do Paraguai. Durante o período em que foi chefe da divisão de demarcação de fronteiras, entre 1956 e 1967 (ano da sua morte), demostrou o amplo conhecimento que possuía a respeito das problemáticas históricas, políticas e econômicas do país vizinho, até o ponto de ser um dos principais negociadores que levariam ao estabelecimento do acordo assinado na Ata das Cataratas, em 1966, projeto que resultaria na construção da Usina Binacional de Itaipu.4

Tutaméia - Terceiras Estórias veio ao público meses antes da morte do autor, sendo uma das suas últimas obras publicadas em vida. A sua composição "minimalista", como aponta Galvão, representa uma quebra no seu estilo literário. A obra compõe-se de 40 estórias e 4 prefácios, que são dispostos em ordem alfabética - excetuando três dos contos, que formam as siglas jgr. Já no início da obra, Rosa adverte, numa epígrafe extraída da obra de Schopenhauer, a necessidade de uma leitura atenta e crítica: "Daí, pois, como já se disse, exigir a primeira leitura paciência, fundada em certeza de que, na segunda, muita coisa, ou tudo, se entenderá sob luz inteiramente outra" (Rosa, Tutaméia 5).

O conto "Esses Lopes", décimo conto do primeiro conjunto, apresenta em três páginas a narrativa em primeira pessoa de Flausina, mulher que sofre o infortúnio de encontrar-se com os homens da família Lopes. Quatro são os Lopes que chegam em diferentes momentos da vida de Flausina, e ela, inocente no começo da narrativa, pouco a pouco adquire um caráter vingativo e selvagem que a leva a assassinar cada um deles.

Como dito, propomos uma leitura analógica do conto (estória) de Rosa (obra literária ficcional) com a história do Paraguai (discurso historiográfico) durante seu primeiro período como nação livre. Para tanto, é necessário expor, grosso modo, os sucessos desse período, principalmente em referência aos homens que tomaram o poder do território. Paraguai declarou sua independência da coroa espanhola em 1811 e desde esse período até a fatídica "Guerra Guasú" ou Guerra da Tríplice Aliança (1865-1870), a qual dizimou 2/3 da sua população, o poder do território passou pelas mãos de 4 homens. Partamos, assim, para um "resumo interpretante" de "Esses Lopes", texto ficcional, em diálogo paralelo com a história paraguaia desde 1814 (ano em que é eleito o primeiro "governador" da nação) até 1870 (ano em que culmina a Guerra Guasú).

A história de Flausina começa com o que, na verdade, seria o seu final. A mulher, vítima e vitimária, adverte sobre a malícia dos Lopes, "má gente, de má paz; deles, quero distantes léguas" (Rosa, Tutaméia 55). Em seguida, passa a recontar sua própria história, os sucessos que a marcaram profundamente e desencadeiam a violência dos seus atos: Flausina mata um a um os homens da família Lopes.

Flausina e Paraguai diante de Zé Lopez e Zé Francia

O primeiro Lopes chegou à vida da personagem ainda na mocidade, quando menina, "vestida de flores". Dos Lopes "nenhum presta; mas esse, Zé, o pior, rompente sedutor" (Rosa, Tutaméia 55), é um homem bravo, de caráter cruel e violento, características que marcam o início da vida "adulta" de Flausina. Zé Lopes vem de "outra ribeira" (Rosa, Tutaméia 56), de outro lugar, e conquistou, com o seu poder e autoridade, os pais de Flausina, a qual lhe foi dada como mulher, como objeto, sem assinaturas nem casamento; o que pelo menos teria sido um alívio para Flausina. A violência e a hostilidade, tanto físicas como psicológicas, vivenciadas por Flausina, permeiam a primeira parte da narrativa, na qual pouco a pouco se forja nela o caráter rebelde e feroz, que a levará a sua primeira ação decisiva: o envenenamento do Zé Lopes.

Assim como Flausina, o Paraguai, na mocidade dos primeiros anos como nação livre (1811), conheceu em 1814 o seu primeiro governador, designado como: El Supremo Dictador.5 O seu nome, Jose (Zé) Gaspar de Francia, em geral chamado de Doutor Francia ou simplesmente Francia (como o Zé de Guimarães, que vinha "de outra ribeira") nos documentos oficiais. Imersos na leitura analógica da estória de Guimarães e da história paraguaia desse período, podemos perceber um certo diálogo entre as narrativas. Zé Lopes, nas palavras de Flausina no conto, vinha de outra ribeira, é um homem cruel e violento, mas também ciumento - quem emprega à preta Si-Ana para vigiar Flausina (Rosa, Tutaméia 56) - e bondoso nas finanças - ao pagar a Flausina por seus "serviços" de mulher (Rosa, Tutaméia 56).

Tal caracterização do perfil de Zé não poderia se assemelhar mais ao desenhado pela historiografia para José de Francia, "El Supremo". A figura de Francia na historiografia, e ainda na literatura,6 é ambígua até os dias de hoje. Considerado por alguns como um ditador cruel e inflexível, que levou o Paraguai ao isolamento; e por outros como um governador ilustre que desenvolveu o "primeiro país autónomo" do sul de América; as múltiplas perspectivas do Supremo denunciam uma figura problemática. Dentre as suas ações políticas e militares destacam-se o fechamento das fronteiras e das relações diplomáticas com os países vizinhos; a proibição dos casamentos entre paraguaios e estrangeiros no país; o investimento em maquinaria e treinamento militar; e o sucessivo fuzilamento dos seus detratores e inimigos políticos durante os 26 anos de seu governo (1814-1840). Desta forma, nos deparamos com um Zé Francia que abusando dos meios e dos modos, buscou um fim ao que parece bem-intencionado: o desenvolvimento do país.

Desse modo, na leitura analógica das duas narrativas, ficcional e histórica, observamos uma relação marcante entre as duas figuras - Zé Lopes, criação de Rosa, e Jose de Francia -, primeiros vestígios, esses, de uma possível recriação ficcional da história da luta pelo poder no Paraguai no conto do literato brasileiro.

Voltando para o enredo da narrativa, Flausina, que já fraguava o fim do Zé Lopes, vê a necessidade de se alfabetizar, - "tracei as letras. Carecia de ter o bem ler e escrever, conforme escondida" (Rosa, Tutaméia 56) -, e principia sua própria educação nas letras com a ajuda de "jornais de embrulhar e mais com as crianças de escola" (Rosa, Tutaméia 56).

Uma das principais características do Paraguai no período do "Supremo" (1814-1840), descritas por alguns historiadores e pesquisadores, é ser um país em que "não há criança que não saiba ler e escrever"7 (Galeano 246). Tal realidade, no entanto, esconde alguns matizes, como o fato de que a escola, durante o período ditatorial de Francia, era gratuita e obrigatória só para os homens, pelo qual as crianças e jovens mulheres, se sabiam ler, era porque o aprendiam em casa por si sós (Casal 310). Assim como o fez Flausina, durante o período em que conviveu com Zé Lopes.

O desenvolvimento económico do Paraguai durante esse período também é matéria constante nos livros de história. Apesar das distintas perspectivas históricas que ora concordam ora discordam, sobre o tamanho desse desenvolvimento, principalmente em comparação com outras potências como Argentina ou Brasil, é reconhecido que o Paraguai cresceu economicamente de forma autónoma durante o governo de Francia. Tal qual o fez Flausina, quem relata: "o que podendo, dele tudo eu para mim regrava. Mealhava. Fazia portar escrituras. Sem acautelar, ele me enriquecia" (Rosa, Tutaméia 56).

Essa autonomia paraguaia, vista com bons olhos por alguns, é reprovada com rigorosidade por outros analistas e historiadores, que consideram o fechamento das fronteiras durante esse período como uma das causas do subdesenvolvimento da nação. A visão de um país com um pequeno território que decide, por decisão soberana de Francia, enclausurar-se em suas larguras ou fronteiras, alude notoriamente à história de uma mulher, Flausina, que relata a sua clausura na cama com Zé Lopes: "eu ficava espremida mais pequena, na parede minha unha riscava rezas, o querer outras larguras" (Rosa, Tutaméia 56), ou ainda, "ninguém põe ideia nesses casos: de se estar noite inteira em canto de catre, com o volume do outro cercando a gente, rombudo, o cheiro, o ressonar, qualquer um é alheios abusos" (Rosa, Tutaméia 56).

Nessa linha de análise, observamos a compatibilidade não só entre a, então, apenas formada nação paraguaia e a figura de Flausina, mas também entre os homens que tomaram o domínio do Paraguai e os que "tomaram posse" da protagonista do conto de Guimarães.

Flausina e Paraguai diante dos dois novos Lopes

Zé Lopes, figura ambígua no conto, ao final desaparece, após Flausina o envenenar até a morte. "E os Lopes me davam sossego?" (Rosa, Tutaméia 57). Pouco tempo se passa até a chegada de dois novos Lopes, familiares próximos do Zé, seus nomes: Nicão e Sertório. Ambos a desejam para si, mas Sertório dá o primeiro passo e a toma como mulher. Nicão, então, a toma como amante. "Padeci com jeito. E o governo da vida? Anos, que me foram, de gentil sujeição, custoso que nem guardar chuva em cabaça, picar fininho a couve" (Rosa, Tutaméia 57).

A seguir com a leitura analógica que tecemos, situamo-nos em 1840, ano da morte do "Supremo", José de Francia, no Paraguai, após 26 anos de governo. Pouco tempo se passou para que o poder fosse retomado por seus achegados políticos, militares e, também, familiares. Mas desta vez não foi um só a assumir o poder, foram dois. Carlos António Lopez,8 sobrinho do ditador José de Francia, e Mariano Roque Alonso,9 militar do exército de Francia. Durante 1841 e 1844 ambos compartilham o poder do país, até que, após uma contenda política, Roque Alonso abandona o cargo, e Don Carlos António Lopez assumiu o governo e comandou por 18 anos até sua morte, em 1862.

A história se recria na estória. A personagem Flausina, que sofre com a sua condição de mulher/objeto (para Sertório Lopes) e amante/objeto (para Nicão Lopes), mas que também desenvolve pouco a pouco seu caráter vingativo e feroz que a levou matar o Zé, decide pór os Lopes um contra o outro: "Se enfrentaram, bom contra bom, meus relâmpagos, a tiros e ferros" (Rosa, Tutaméia 57). A contenda, desta vez física e não política como no Paraguai, resulta na morte do Nicão, o qual "morre sem demora. O Sertório durou, uns dias" (Rosa, Tutaméia 57). Daqui em diante, é o Sertório quem assume o "domínio" sobre Flausina.

O que nos leva a pensar num suposto vínculo entre Sertório Lopes e Carlos António López? Além da própria diegese do conto, que se desenvolve par a par com a historiografia do Paraguai, e de elementos que se destacam na tessitura narrativa - como o sobrenome Lopes/López e o grau de parentesco familiar (ficcional e histórico) entre Zé Lopes/José de Francia e Sertório Lopes/António López -, há mais um elemento significativo que chama a atenção, e que parece colocado estrategicamente na obra de Rosa:10 o nome de Sertório.

Quem é Sertório? No rastreio do nome na história universal, há uma figura que se destaca dentre as outras, a do guerreiro e político romano Quinto Sertório.11 Tentaremos resumirsua história aqui, focando naquilo que nos interessa.12

Sertório foi, segundo a historiografia, um grande estrategista e líder militar que lutou pelo império romano nos seus primeiros anos de atividade oficial. Seus atos lhe valeram o reconhecimento de muitos, mas a inveja de outros. As intrigas levantadas contra sua figura, além da "guerra civil" desencadeada na república romana, o obrigaram a fugir, sendo perseguido por ordem dos principais governadores. Entre seus principais inimigos políticos e militares encontramos Lucio Cornelio Sila Félix.13

Após Sila, ditador da república romana entre 82 a. C. e 79 a. C., tomou o poder, os lusitanos preparam os seus exércitos para enfrentar Roma e por último acabar "com o invasor romano".14 Para tanto, solicitaram a Sertório, figura militar reconhecida no contexto daquela época, que os guiasse nessa luta. Sertório, então, se torna o máximo comandante dos exércitos lusitanos e enfrenta as forças da república romana de Sila, no episódio histórico conhecido como a guerra sertoriana. A guerra se desenvolve em diferentes flancos, tanto políticos quanto militares, não sendo possível definir um vencedor como tal. Contudo, a contenda entre Sila e Sertório termina quando Sila abdica do poder e termina a sua ditadura no ano 79. a. C. Esse é Sertório, nome que ao nosso ver, guiados pela presente leitura dialógica entre história e ficção, é estrategicamente escolhido para a personagem do conto "Esses Lopes"; uma aparente apropriação metafórica por parte de Guimarães Rosa.

Tal episódio histórico entre Sila e Sertório nos remete mais uma vez à história do poder no Paraguai durante o seu primeiro século como nação livre. Carlos Antonio López, como já foi colocado, era sobrinho do ditador "Supremo", José de Francia, isto é, pertenciam a uma mesma linhagem política. No entanto, segundo os estudos históricos,15 António López nunca esteve alinhado às políticas ditatoriais de Francia, até o ponto de ser forçado a abandonar o Paraguai durante parte desse período, devido à inimizade e à discordância política com "el Supremo".16 Poucos dias após a morte de Francia, López volta para Assunção e assume a liderança política da Junta dos comandantes17 pelo que alcança o poder governamental do país junto a Roque Alonso em 1841 e o controle total da presidência em 1844.

Nesse sentido, seguindo a linha de raciocínio apresentada, teremos uma tríplice analogia: no conto, Sertório Lopes, parente de Zé Lopes, "toma posse total" de Flausina após vencer seu adversário Nicão Lopes; na história romana, Sertório, após ter sido obrigado a abandonar Roma, enfrenta ao ditador da república, Sila, em busca do poder; na história paraguaia, por sua vez, Carlos Antonio Lópes, após um tempo "exílio", devido à inimizade com seu tio, o ditador Jose de Francia, retorna ao Paraguai para tomar posse do governo. Para tanto, entra em contenda com Roque Alonso, com quem compartilha por um tempo o poder, antes de "tomar posse total" do Paraguai.

As frágeis fronteiras entre ficção e história se diluem e ressignificam nas letras dos grandes literatos. Rosa, no prefácio do primeiro conjunto de contos de Tutaméia, adverte: "A vida é também para ser lida. Não literalmente, mas em seu supra-senso" (s. p.). Poderemos, assim, considerar "Esses Lopes", como uma parábola para um estágio da história paraguaia? Vários vestígios observados na ficção rosiana apontam para uma possível resposta afirmativa.

Solano López e Sorocabano Lopes

Após a morte de Sertório, no conto, finalmente Flausina encontra um pouco de liberdade. A sua condição primeira de vítima parece se extinguir, a vida endureceu seu caráter e dotou-a de uma ferocidade selvagem e vingativa. Nessas horas chega, então, mais um Lopes: "mas um, mais, porém, ainda me sobrou. Sorocabano Lopes, velhoco, o das fortes propriedades" (Rosa, Tutaméia 58). É um homem rico, porém sem muito critério, pois cede aos pedidos de Flausina sem hesitar. Casa-se com Flausina, por exigência da mulher, e entrega, assim, suas vastas propriedades e riquezas, no pacto marital: "para homem nessa idade inferior, [casar-se] é abotoar botão na casa errada" (Rosa, Tutaméia 58).

Sorocabano Lopes - cujo nome provém da raiz sorocaba, que em língua tupi-guarani significa "terra rasgada" -, já adentrados nesta leitura analógica com a história do Paraguai, nos remete à figura de Solano López,18 filho de Carlos Antonio Lopez e sobrinho-neto de José de Francia. Solano López assume o controle do governo paraguaio imediatamente após a morte do seu pai em 1862, com 36 anos e pouca experiência política, e herda todos os bens da família López. Se institui, assim, o que até na atualidade é conhecido no Paraguai como La dinastia López,19 domínio político e militar dos López, família que gera controvérsia entre historiadores e analistas: para alguns, governadores que entregaram a vida no âmbito político (José de Francia; Carlos Antonio López) e militar (Solano López); para outros, autocratas que fizeram padecer o Paraguai.

Solano Lopez, de qualquer modo, incauto e rico, toma o poder do Paraguai em 1862. Em 1865 enfrenta os acontecimentos da Guerra da Tríplice Aliança, a qual terminará em 1870, com a sua morte em Cerro Corá e a quase total devastação do Paraguai, que deixa sua própria "terra rasgada", sorocaba. A guerra, no entanto, desde a sua perspectiva, foi um mal necessário. Defendeu a sua posição até os últimos dias de vida, deixando-o assim explícito na sua correspondência.20 Para Solano Lopez, que no final da contenda bélica recrutou até crianças menores de 15 anos para "defender" o país a seu lado, "o vencedor não é aquele que permanece em vida no campo de batalha, mas aquele que morre por uma bela causa"21 (Livieres Argana 430).

Solano López morre lutando pelo que, a seus olhos, era bom. Sorocabano Lopes, no conto, também. Sua morte é descrita por Flausina, que finaliza o seu relato sobre último Lopes, asseverando: "tudo o que é bom faz mal e bem. Quem morreu mais foi ele" (Rosa, Tutaméia 58). Vale sublinhar a genialidade de um autor que, com a simples substituição de sílabas, transforma "Solano" em "aquele que provém da terra rasgada".

A Flausina, desses Lopes, três filhos lhe restaram. Três, como as três grandes nações que se uniram contra o Paraguai na Guerra Guasú; e três, também, como em tantos episódios do universo ficcional de Guimarães, temática que, neste momento, por extensão do texto e folego intelectual, deixaremos em suspenso, pois vale como provocação poética.

Assim termina a história dos Lopes para Flausina, "má gente, de má paz; deles, quero distantes léguas. Mesmo de meus filhos, os três" (Rosa, Tutaméia 55). Uma história de "violência e subversão"22 A liberdade que lhe resta a faz sonhar com "gente sensível" (Rosa, Tutaméia 58) e com filhos, outros, mais "modernos e acomodados" (Rosa, Tutaméia 58).

O Paraguai pós-guerra, devastado ao nível político, social e económico, se reconstrói a partir, principalmente, da força feminina, "gente sensível", - visto que 70 % da população masculina pereceu na guerra - e da imigração europeia, brasileira e argentina - homens "modernos e acomodados".

Flausina, Maria Miss e a ressignificação da história paraguaia

É fundamental, no processo de criação artística de Rosa, a amálgama entre ficção e realidade para a apropriação metafórica ou a ressignificação de fatos históricos, numa tessitura ficcional carregada de signos, incógnitas e alegorias. A partir da leitura aqui apresentada do conto "Esses Lopes", a aparente breve história de uma mulher que transita por veredas transformadoras de caráter ressignifica-se num plano histórico-continental, adquirindo uma natureza distinta no plano ficcional. O conto, assim, estende-se como uma possível (re)leitura esteticamente organizada de episódios da história paraguaia que marcaram profundamente a organização política, económica e social dos povos da América Latina; e, ao mesmo tempo, por meio dessa (re)leitura, abre-se passo a uma ressignificação do próprio discurso histórico através do potencial revolucionário do discurso artístico/ficcional.

Desta forma, a proposta de leitura crítica é possível, não só em correspondência aos fatores internos da diegese do conto, mas também em junção de esses com os elementos externos à própria criação ficcional. A leitura de um intervalo da vida de Flausina em "Esses Lopes" (1967) como uma alegoria de ressignificação da história dos primeiros anos do Paraguai como república livre (1814-1870) abre novas veredas interpretativas que, mais uma vez, dimensiona a obra de Rosa a planos que extrapolam a corrente do regionalismo.

Nesse sentido, Flausina, protagonista e narradora do conto, pode ser considerada além do seu papel de mulher, sem minimizar de nenhuma forma o potencial crítico ao redor desse tópico interpretativo. Quem ou que é Flausina nessa composição alegórica de Rosa? A leitura feita por Batista Bezerra no estudo que aborda o trajeto da personagem Flausina, a qual renega o seu nome, querendo ter sido chamada de Maria Miss, é atraente:

Flausina [cujo significado no Dicionário de Língua Portuguesa Infopédia é: "rapariga que vestia de acordo com a moda"], nome próprio feminino encontrado com frequência no início do século XX em Portugal, detona extravagancia nas maneiras de se vestir e de se comportar. O nome desejado pela personagem, Maria Miss, revela uma busca pelo reconhecimento da sua beleza associada à pureza e virgindade, como nos informa a narradora: "a maior prenda, que há, é ser virgem" (11).

Ao integrarmos a hipótese de Bezerra ao nosso projeto interpretativo surgem algumas reflexões válidas. A personagem Flausina rejeita o nome recebido dado o caráter negativo deste, querendo ser chamada de Maria Miss, nome que a enobreceria, destacando seus bons atributos. Flausina, então, como figura alegórica da nação paraguaia independente, nasce marcada por um epíteto negativo e limitativo, o qual só lhe augura um futuro impiedoso. Numa leitura analógica, podemos considerar o nascimento da nação paraguaia no ano de 1811, após a declaração de independência. Com a revolução independentista, não obstante, o que insinuava ser o início de um período de liberdade, transformou-se numa simples mudança de comando, das metrópoles colonizadoras às elites brancas americanas, tal como aponta Walter Mignolo (92): "a dependência não desapareceu, só sofreu uma transformação".23 Assim, em 1811 nasce um Paraguai análogo à personagem Flausina, que renega a sua condição de país independente, mas ainda colonizado internamente, e que tem buscado até hoje, como o resto das nações sul-americanas, a verdadeira liberdade que rompa o paradigma da colonialidade, como afirma Mignolo.

Contudo, a construção ficcional permite, ainda, outras perspectivas de interpretação, as quais buscarão se somar à hipótese aqui levantada. Cabe a possibilidade, por exemplo, de interpretar a composição da personagem Flausina a partir da divisão do seu nome: Flau-Sina.

"Sina", provem do latim Signa, cujo uso está ligado ao campo lexical do destino, do inevitável, ou de uma marca, ou sinal predestinado. Em português, Sina comumente é considerada sinónimo do próprio destino ou fado. Temos, assim, um indício da significação da personagem no contexto da obra. A segunda parte do nome, primeira na ordem, é Flau. Apresentamos, aqui, duas possíveis interpretações.

A escrita fonética de Flausina é Flawzine. Limitando-nos à primeira parte do nome temos Flaw, escrito dessa forma dada a sua pronúncia em língua portuguesa. Flaw, no entanto, em língua inglesa significa "falha", "erro" ou "defeito". Desse modo, ao juntarmos Flaw e Sina, teremos uma falha do destino. Por outro lado, Flau, na língua alemã, bastante explorada por Rosa na sua obra, pode significar "raso", "débil" ou, ainda, "ligeiro", que resultaria, na junção, num destino raso e pouco duradouro.

Ao considerarmos a hipótese de leitura até aqui traçada, a qual propõe uma analogia alegórica entre a história narrada pela personagem Flausina e a nação Paraguaia nas suas primeiras décadas como república independente, as duas possibilidades antes expostas para a interpretação do nome da personagem são válidas. Tanto FlawSina, uma falha do destino ou um destino falido, quanto FlauSina, destino raso e pouco duradouro, moldam-se à história do Paraguai desde 1811 até 1870, país que insinuava ter um grande potencial económico e político, mas que acaba sendo quase destruído no final da Guerra Guasú ou Guerra do Paraguai, o que demarcou uma falha nesse promissório destino, que se torna raso e pouco duradouro.

Flausina em "Esses Lopes", que queria ser Maria Miss, no entanto, sobrevive, e continua seu trânsito pela vida após a grande tribulação dos Lopes. Paraguai, da mesma forma, após a Guerra Guasú, reinicia um longo processo de reconstrução e recriação até hoje.

Algumas considerações

No presente trabalho se apresentou uma proposta de leitura e de análise do conto "Esses Lopes", em analogia com as disputas pelo poder nos primeiros anos de independência da nação paraguaia. Com esse intuito, abordaram--se diversos aspectos que se inter-relacionam em ambos os discursos, o historiográfico e o ficcional, apontando para elementos internos e externos da própria diegese.

Diversos aspectos, não obstante, foram deixados de lado por razões didáticas e de extensão do próprio texto, e valerá o esforço de retornar a eles em outro momento. Entre esses, os campos semânticos esquematizados na estrutura linguística de "Esses Lopes", os quais também poderiam apontar para uma narrativa político-social, além do que para um relato de encontros e desencontros amorosos: "e o governo da vida? Anos, que me foram, de gentil sujeição" (Rosa, Tutaméia 57); "tudo adquiriam ou tomavam; não fosse Deus, e até hoje mandavam aqui, donos" (Rosa, Tutaméia 56); "sorria debruçada em janela, no bico do beiço, negociável; justiçosa" (Rosa, Tutaméia 55); "os outros obram a história da gente" (Rosa, Tutaméia 55); entre outros.

Ou também, o papel principal da mulher como agente de transformação, assim como o desenvolvimento do seu caráter na narrativa ficcional e na própria história do Paraguai.24

Ainda, ao considerar como válida esta leitura - que, como dizemos desde o início, não busca totalizar os sentidos da narrativa, mas brindar novas perspectivas de análise -, permanece a inquietação sobre a possibilidade de nos deparar com novas relações entre estória e história, ficção e realidade, nos 39 contos restantes que compõem Tutaméia.

Obras citadas

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1Márcia Marques de Morais (puc-Minas) desenvolveu o seu trabalho sobre essa temática, intitulado: "A história dentro da estória: a linguagem rosiana como mediação entre fato e ficto".

2Bairon Vélez Escallón, pesquisador da Universidade Federal de Santa Catarina, dedicou um estudo à temática, intitulado: "Guimarães Rosa e o Bogotazo".

3O Bogotazo consistiu em uma série de protestos e desordens civis desencadeados em Bogotá, capital da Colômbia, após a morte do líder do partido liberal, Jorge Eliécer Gaitán em 1948.

4A atuação de Rosa como diplomata, embaixador e chefe da divisão de fronteiras, entre outros cargos no âmbito político, podem ser consultadas na obra Guimarães Rosa: diplomata, de Heloísa Vilhena de Araújo. No texto da autora é exposto o amplo conhecimento que Rosa possuía a respeito das relações internacionais do governo brasileiro.

5Todas as traduções do espanhol para o português são próprias. "José Gaspar Rodríguez de Francia nasceu em Asunción o dia 6 de janeiro de 1766. [...] o cargo no qual foi investido foi o de 'Ditador Supremo da República"'. Na original disse: "José Gaspar Rodríguez de Francia nació en Asunción el 6 de enero de 1766. [...] el cargo con el cual lo invistieron fue 'Dictador Supremo de la República'" (Odrizola 86-90).

6Augusto Roa Bastos escreveu uma das principais obras em referência à figura de José de Francia, intitulada Yo el Supremo.

7No original disse: "no hay niño que no sepa leer y escribir".

8"Carlos Antonio López: Ciudad de Asunción, 1792-Trinidad, 1862. Foi o primeiro presidente constitucional ungido pela então carta magna de 1844. Após a morte do Doctor Francia (1840) integrou o consulado da governação do qual impulsionou o progresso do país e as bases institucionais culturais". No original disse: "Carlos Antonio López: Ciudad de Asunción, 1792-Trinidad, 1862. Fue el primer presidente constitucional ungido por la entonces carta magna de 1844. A la muerte del Doctor Francia (1840) integró el consulado gubernativo desde el cual impulsó al progreso del país y a la vigencia de sus noveles instituciones culturales" (Mendez-Faith, s. p.).

9"Mariano Roque Alonso Romero. Foi um militar paraguaio. Comandante Geral de Armas de 1841. Cônsul da República do Paraguai. Fue un militar paraguayo, Comandante General de Armas de 1841. Cónsul de la República del Paraguay". No original disse: "Mariano Roque Alonso Romero. Fue un militar paraguayo, Comandante General de Armas de 1841. Cónsul de la República del Paraguay" (Quevedo 716).

10"Entre estes havia inter-relações as mais substanciais, as palavras todas eram medidas e pesadas, postas no seu exato lugar, não se podendo suprimir ou alterar mais de duas ou três em todo o livro sem desequilibrar o conjunto" (Rónai 15).

11"Quinto Sertorio nasceu no final do século 11 a.C, ano 121, em Sabina, e por causa da sua valentia e das suas vitórias militares, logo conseguiria um ascenso na sociedade romana". No original disse: "Quinto Sertorio nació a finales del siglo 11 a.C., año 121, en Sabina, y gracias a su valentía y éxitos militares, pronto conseguirá un ascenso en la sociedad romana". (González 2).

12Vanessa Vieira de Lima desenvolve a sua dissertação de mestrado ao redor da figura e dos feitos de Quinto Sertório: A revolta de Sertório e a Crise Republicana do Século I a. C: Uma visão das práticas de dominação imperialista romana nas Hispânias.

13Lucio Cornelio Sila Félix (em latín, Lucius Cornelius Sulla Felix; Roma, 138 a. C.-Puteoli, 78 a. C.) foi um dos mais notáveis políticos e militares romanos da era tardo-republicana, pertencente ao bando dos optimates. Ditador entre os anos 81 a. C. e 80 a. C.

14Sobre a aliança entre Sertório e os lusitanos, Vanessa de Lima comenta: "é sabido que Quinto Sertório teve dois grandes grupos étnicos aliados: lusitanos e celtiberos. Por um lado, tornou-se 'general munido de plenos poderes' dos lusitanos e, por outro, 'reuniu [tropas] entre os celtiberos', organizou e 'submeteu a parte contígua' a Roma — Hispânia Citerior, território densamente povoado pelos celtiberos" (65).

15Acosta Peres; Ignacio Telesca; Bernardo Coronel; Johansson.

16Acosta Peres comenta na sua obra sobre a má relação entre Jose Gaspar de Francia e seu sobrinho Carlos Antonio López.

17Junta dos principais líderes militares dos quatro quarteis de Assunção.

18Francisco Solano López (1827-1870) nasceu em Assunção, Paraguai. Filho do presidente vitalício Carlos Antonio López, foi, também, presidente vitalício do Paraguai, de 1862 até 1870, quando foi morto na guerra.

19Chamou-se assim ao governo da família Lopez entre 1814 e 1870. A respeito, o estudioso da história da Guerra do Paraguai, George Thompson, afirma: "Paraguay era governada pela família López, que havia herdado uma raça acostumada ao poder absoluto. O país não era 'mais do que uma chácara administrada pelo Presidente'". No original disse: "Paraguay era gobernada por la familia López, que había heredado una raza acostumbrada al poder absoluto. El país no era 'más que una gran chacra administrada por el Presidente'" (citado en Santillana 225).

20O historiador Julio Cesar Chaves reúne e publica em 1957 um vasto conjunto de cartas e proclamas do Mariscal Francisco Solano López: Cartas y proclamas de Francisco Solano Lopez.

21No original disse: "el vencedor no es el que se queda con vida en el campo de batalla, sino el que muere por una causa bella".

22Beatriz Bezerra Batista, pesquisadora da Universidade Federal da Paraíba, desenvolveu um trabalho sobre o conto "Esses Lopes", intitulado: Violência e subversão no conto "Esses Lopes", de Guimarães Rosa: Trajetória da personagem Flausina/Maria Miss (2015).

23 No original disse: "la dependencia no desapareció; solo sufrió una transformación".

24Barbara Potthast, pesquisadora do Instituto de Historia Ibérica e Latinoamericana e do Centro de Estudios Latinoamericanos da Universidad de Colonia, desenvolveu um estudo que aborda essa temática, intitulado: "Algo más que heroínas. Varias roles y memorias femeninas de la guerra de la triple alianza".

Cómo citar este artículo (MLA): Dorado Mendez, Hugo Eliécer. "Entre as margens da estória e da história: ressignificação da história paraguaia no conto 'Esses Lopes' (1967)". Literatura: teoría, historia, crítica, vol. 23, núm. 1, 2021, págs. 103-120.

Sobre el autor Estudiante de la maestría en Literatura Comparada de la Universidad Federal de Integración Latinoamericana (UNILA) y becario Capes 2019-2021. Tiene un pregrado en Letras, con énfasis en lengua portuguesa, italiana y sus respectivas literaturas, de la Universidad Estatal del Oeste del Paraná (Unioeste), de la cual fue becario del Programa institucional de Beca e Iniciación Científica (Pibic), CNPq. Es miembro del grupo de investigación registrado en el directorio del CNPq: Resignificaciones del pasado en América: lectura, escritura y traducción de géneros híbridos de historia y ficción - caminos para la descolonización. Trabaja en las líneas de investigación: estudios de teorías contemporáneas de análisis literario y resignificaciones del pasado por la literatura - caminos para la descolonización de América Latina. Participa del Programa de Educación de Literatura y Cultura (Pelca) de la Unioeste.

Recebido: 07 de Fevereiro de 2020; Aceito: 12 de Agosto de 2020

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