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Revista de Salud Pública

Print version ISSN 0124-0064

Rev. salud pública vol.15 no.4 Bogotá July/Aug. 2013

 

Condições sociodemográficas e sanitárias na auto-eficácia materna para prevenção da diarréia infantil

Socio-demographic and healthcare conditions regarding maternal self-sufficiency/effectiveness concerning preventing diarrhea during childhood

Condiciones sociodemográficas y de salud para auto-eficacia materna en la prevención de la diarrea infantil

Emanuella Silva-Joventino, Karine de Castro-Bezerra, Robson Gomes-Coutinho, Paulo César de Almeida, Mônica Oliveira Batista-Oriá e Lorena Barbosa-Ximenes

Universidade Federal do Ceará (UFC). Fortaleza (CE), Brasil. manujoventino@yahoo.com.br; karineufc@gmail.com; robson_ce66@hotmail.com; pc49almeida@gmail.com; monica.oria@ufc.br; lbximenes2005@uol.com.br.

Recebido 16 Novembro 2012 / Enviado para Modificação 5 Febrão 2013 / Aprovado 21 Março 2013


RESUMO

Objetivo Investigar a correlação entre condições sociodemográficas, sanitárias e a autoeficácia materna para prevenir diarréia infantil.

Métodos Estudo quantitativo, transversal, realizado em Fortaleza-CE, com 448 mães de crianças menores de 5 anos. Realizaram-se entrevistas, em Centros de Saúde da Família, utilizando-se a Escala de Autoeficácia Materna para Prevenção da Diarreia Infantil (EAPDI) e um formulário abordando o perfil sociodemográfico.

Resultados A autoeficácia materna em prevenir diarréia infantil demonstrou associação estatisticamente significante com a idade materna (p=0,018), renda per capita (p=0,023), tipo de casa (p=0,032), destino do lixo da residência (p=0,000), procedência da água consumida pela criança (p=0,002), tipo de sanitário (p=0,001) e sua localização (p=0,023), tipo de esgoto (p=0,046) e recurso utilizado pela mãe para sua higiene íntima (p=0,002).

Conclusões Os profissionais de saúde devem implementar estratégias que melhorem a autoeficácia materna no cuidado prestado às crianças, especialmente quanto às medidas preventivas da diarréia infantil.

Palavras Chave: Diarréia infantil, autoeficácia, enfermagem (fonte: DeCS, BIREME).


ABSTRACT

Objective Investigating the correlation between socio-demographic conditions, health and maternal self-efficacy to prevent childhood diarrhoea.

Methods This was a quantitative cross-sectional study which was conducted in Fortaleza, in north-eastern Brazil; it involved 448 mothers of children aged less than 5 years-old. Data was collected through interviews held in the family healthcare centres using an in-house maternal self-efficacy for childhood diarrhoea prevention scale and a form for collecting information about the mothers' socio-demographic profile.

Results The self-sufficiency/effectiveness in preventing diarrhoea during childhood interview data revealed a statistically significant association with maternal age (p=0.018), per capita income (p=0.023), type of housing (p=0.032), garbage disposal from the dwelling (p=0.000), origin of the water drunk by the children (p=0.002), type of sanitary installation (p=0.001) and its location (p=0.023), type of drainage (p=0.046) and the resources used by the mothers regarding their personal hygiene (p=0.002).

Conclusions Healthcare staff should advance strategies for improving self-sufficiency/effectiveness regarding maternal care for children, especially regarding preventative measures concerning diarrhoea during childhood.

Key Words: Diarrhoea during infancy, maternal self-sufficiency/effectiveness, nursing (source: MeSH, NLM).


RESUMEN

Objetivo Investigar la correlación entre las condiciones sociodemográficas y de salud y la auto-eficacia materna para prevenir la diarrea infantil.

Métodos Estudio cuantitativo, transversal, realizado en Fortaleza-CE, con 448 madres de niños menores de 5 años. Las entrevistas fueron realizadas en los Centros de Salud Familiar, utilizando la Escala de Autoeficacia Materna para la Prevención de la Diarrea Infantil (EAPDI) y un instrumento para abordar el perfil social y demográfico.

Resultados La autoeficacia materna en la prevención de la diarrea infantil mostró una asociación estadísticamente significativa con la edad materna (p=0,018), el ingreso per cápita (p=0,023), tipo de vivienda (p=0,032), eliminación de la basura de la residencia (p=0,000), origen del agua que los niños  consumen (p=0,002), el tipo de la salud (p=0,001) y la localización (p=0,023), el tipo de drenaje (p = 0,046) y el recurso utilizado por la madre a su higiene personal (p=0,002).

Conclusiones Profesionales de la salud deben implementar estrategias para mejorar la auto-eficacia en la atención materna en el cuidado proporcionado a los niños, especialmente en lo que respecta a las medidas de prevención de la diarrea infantil.

Palabras Clave: Diarrea infantil, autoeficacia, enfermería (fuente: DeCS, BIREME).


As doenças diarréicas agudas (DDA), também conhecidas como diarréia, disenteria e gastrenterites, são importantes causas de morbimortalidade no Brasil e no mundo, principalmente entre crianças menores de cinco anos, configurando-se, portanto, como um problema de saúde pública.

Anualmente, cerca de 2,5 bilhões de casos de diarreia ocorrem na população infantil, verificando-se, em média, de 2 a 3 episódios por ano. Observa-se que, mundialmente, nos dois primeiros anos de vida ocorrem 20 óbitos para cada 1000 casos de diarréia. Tais estimativas sugerem que a incidência global tem permanecido relativamente estável nas últimas duas décadas (1).

No Brasil, o Nordeste destaca-se, pois o risco de morte por diarréia nas crianças menores de 5 anos é cerca de quatro a cinco vezes maior do que em outras regiões do país(2). Apesar disso, comparando-se as tendências das séries temporais de 1995 a 2005, verificou-se que Fortaleza encontra-se no chamado "padrão um", caracterizado por taxas decrescentes de mortalidade e internação infantil por diarréia(3).

Os fatores de risco associados à DDA podem ser explicados dentro de um modelo multicausal, incluindo aspectos socioeconômicos, políticos, demográficos, sanitários, ambientais e culturais. Dessa forma, nos países em desenvolvimento, como o Brasil, a incidência dessa patologia está diretamente relacionada com a ineficiência dos serviços de saneamento básico e com condições sociodemográficas precárias nas quais a população infantil encontra-se inserida (4).

Entretanto, apesar dos vários fatores que condicionam a diarréia, estes podem ser minimizados ou extinguidos a partir de práticas cotidianas promotoras de saúde. Sabe-se que a adoção de um comportamento envolve vários fatores individuais e coletivos que variam entre cada pessoa e que a manutenção deste encontra-se vinculada à expectativa do êxito. Logo, quando se espera que uma prática promotora de saúde seja realizada, é preciso estabelecer as expectativas de eficácia e de resposta/resultado para o indivíduo (5).

Autoeficácia, então, pode ser compreendida como o julgamento da habilidade pessoal para desempenhar um comportamento com sucesso, visando um resultado específico (6). Ressalta-se a inexistência na literatura de estudos que relacionem a autoeficácia materna e a prevenção de diarréia infantil, contudo acredita-se que as condições de vida de um indivíduo influenciem em sua autoeficácia, tendo em vista que esta se trata de um poderoso preditor para comportamentos promotores de saúde. Nesse sentido, pesquisadores têm constatado os benefícios da investigação da autoeficácia na população idosa (5), no controle da dor crônica (7), bem como para cuidados maternos prestados às crianças (8).

Dessa forma, o enfermeiro como investigador e educador, ao avaliar a autoeficácia materna para prevenir a diarréia infantil, irá observar a confiança e a capacidade que a mãe tem em adotar ou não um comportamento esperado. Com isso, este profissional pode direcionar o seu plano de cuidados por meio de intervenções eficazes, orientando a construção de um saber crítico para a mudança de hábitos. Nesta perspectiva, o presente estudo teve o objetivo de investigar a correlação entre condições sociodemográficas, sanitárias e a autoeficácia materna para prevenir diarréia infantil.

MÉTODOS

Trata-se de um estudo transversal, quantitativo, realizado com mães de crianças menores de 5 anos, cujos filhos encontravam-se cadastrados em um dos seis Centros de Saúde da Família (CSF) selecionados pelo presente estudo.

Assim, os critérios de inclusão no estudo foram: mães com pelo menos um filho (a) com idade inferior a 5 anos; e mães cujos filhos fossem acompanhados nos CSF selecionados pelo estudo.O critério de exclusão adotado foi mães com problemas mentais que impossibilitassem a participação no estudo.

O tamanho amostral foi obtido por meio da fórmula para o cálculo de populações infinitas, totalizando 448 mães. A coleta de dados ocorreu de novembro de 2009 a fevereiro de 2010, por meio de entrevista, utilizando-se a Escala de Autoeficácia Materna para Prevenção da Diarréia Infantil (EAPDI) (9) e um formulário elaborado, validado e pré-testado pelos pesquisadores, abordando características sociodemográficas e sanitárias das participantes.

A EAPDI trata-se de uma escala de Likert composta por 24 itens, cujo padrão de resposta varia de 1 (discordo totalmente) a 5 (concordo totalmente). Cada mãe, ao responder a EAPDI, pode escolher apenas uma das cinco opções referidas. Assim, os escores totais da escala podem variar de 24 a 120 pontos. O nível de autoeficácia materno para prevenir diarreia infantil é considerado baixo quando se obtém 109 ou menos pontos; moderado de 110 a 114 pontos e elevado igual ou acima de 115 pontos (9).

Os dados foram organizados e analisados através do programa Predictive Analytics Software (PASW), versão 17.0. Para a análise comparativa foram utilizados os testes linear by linear, teste quiquadrado e de máximo verossimilhança, estabelecendo-se nível de significância inferior a 0,05. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Ceará, sob protocolo n 92/09, sendo respeitadas todas as normas relacionadas a pesquisas envolvendo seres humanos.

RESULTADOS

A partir da Tabela 1 pode-se observar a correlação entre o nível de autoeficácia materna para prevenir diarréia infantil e variáveis sociodemográficas relacionadas às famílias estudadas. Constatou-se associação estatisticamente significante entre os níveis de autoeficácia e idade materna (p=0,018)e renda per capita (p=0,023). Observou-se ainda que o nível de autoeficácia das mães não foi influenciado pelo estado civil (p=0,626), local de ocupação (p=0,278), escolaridade materna (p=0,282), tempo de moradia no mesmo endereço (p=0,970), número de moradores na residência (p=0,154), sexo da criança (p=0,062), número de filhos vivos (p=0,861).

Em geral, pode-se verificar que a maioria das mães obteve nível de autoeficácia para prevenir diarréia infantil elevado (224-50%), seguido por autoeficácia baixa (118-26,3%) e moderada (105- 23,4%).

Na Tabela 2, observa-se a correlação das condições domiciliares das famílias participantes e autoeficácia materna para prevenir diarréia infantil, das quais apenas o tipo de casa (p=0,032) demonstrou correlação estatisticamente significante, em detrimento das seguintes variáveis investigadas: tipo de piso (p=0,498), presença de mosca no domicílio (p=0,863), existência de refrigerador funcionando na casa (p=0,626) e de algum animal na casa (p=0,820).

Por meio da Tabela 3, pode-se verificar que existe associação entre condições sanitárias e nível de autoeficácia materna para prevenção de diarreia infantil, pois a maioria das variáveis obteve correlação estatisticamente significante: destino do lixo da residência (p=0,000), procedência da água que a criança consome (p=0,002), tipo (p=0,001) e localização do sanitário (p=0,023), tipo de esgoto (p=0,046) e recurso utilizado pela mãe para sua higiene íntima (p=0,002).

DISCUSSÃO

Existem quatro fontes de informação que exercem um papel na origem e desenvolvimento das crenças de autoeficácia: experiências de êxito, experiências vicárias ou por modelação, persuasão verbais e estados fisiológicos (10). Acredita-se que fatores sociodemográficos e sanitárias possam influenciar experiências bem-sucedidas, fato relevante de ser considerado já que uma mãe possuidora de noções das medidas preventivas para diarréia infantil, ao praticá-las em seu dia a dia e ao verificar a melhoria da saúde de seus filhos, tende a elevar a sua autoeficácia e, consequentemente, a manter tais comportamentos preventivos. Além disso, uma mãe poderá utilizar outra mãe como modelo, pois se a outra obteve sucesso com determinadas atitudes preventivas de diarréia, esse fato a estimulará a procurar alcançar o mesmo sucesso no cuidado dos seus próprios filhos. A persuasão verbal, muitas vezes utilizada nos aconselhamentos por profissionais de saúde também influencia na autoeficácia materna, mas poderá também estar relacionada à capacidade cognitiva e escolaridade da mesma para se apropriar de tais orientações.

Observou-se que quanto maior a idade das mães mais elevada foi sua autoeficácia para prevenir diarréia infantil. Estudo utilizando a Escala de Autoeficácia Geral Percebida em relação à dor crônica corrobora por ter detectado que a autoeficácia de pessoas mais jovens tende a ser menor do que a daqueles com mais idade (11). Esse achado pode estar relacionado com as fontes de autoeficácia (experiência de êxito, experiência vicária ou por modelação, persuasão verbal e estados fisiológicos), pois, quanto mais anos de vida um indivíduo tem, maior contato com essas fontes ele deve ter tido, o que fortalece suas crenças de autoeficácia (6).

Verificou-se que a maioria das famílias vivia abaixo da linha da pobreza, pois a renda per capita de zero a ¼ do salário mínimo (R$127,50/$53,99) predominou. Estudos demonstram que a renda familiar mensal igual ou inferior a 1 salário mínimo influencia a ocorrência de helmintíases(12), bem como da própria diarréia infantil(13).

Acredita-se que uma família que possui renda mais elevada apresenta maior confiança em prevenir diarréia infantil devido ao fato de o seu poder aquisitivo possibilitar melhores condições de vida (abastecimento de água potável e saneamento básico), de habitabilidade (piso de fácil limpeza e geladeira), além de poder adquirir mais facilmente produtos necessários para a higiene pessoal e domiciliar, de poder comprar calçados para que as crianças não tenham contato direto com o solo e meios para tratar a água destinada ao consumo humano (filtro, hipoclorito, entre outros). Assim, ressalta-se que, na promoção da mudança comportamental ligada à saúde, é preciso fornecer às pessoas, além de razões para mudar condutas de saúde, meios e recursos para a efetivação de tais mudanças.

Apesar de não ter sido verificada correlação significativa entre autoeficácia materna para prevenir diarréia infantil e sua escolaridade (p=0,282), um estudo transversal realizado no Rio de Janeiro, com uma amostra de 104 crianças,constatou a escolaridade materna como uma variável influenciadora na ocorrência de diarréia infantil (13). Além disso, sabe-se que os anos de estudo da mãe possuem relação direta com a apreensão de conhecimentos proporcionados por profissionais da saúde, dessa forma, entre as pessoas com baixa escolaridade a autoeficácia poderia estar comprometida devido a fragilidades na eficácia da persuasão verbal utilizada por meio de algumas estratégias como, por exemplo, de educação em saúde. Ressalta-se que, na promoção da mudança comportamental ligada à saúde, é preciso fornecer às pessoas, além de razões para mudar condutas de saúde, meios e recursos para fazê-lo (14).

Também não se encontrou associação estatisticamente significante entre autoeficácia materna e tipo de piso, entretanto, sabe-se que crianças que residem em casas com piso precário (terra ou tábua), dificultando sua limpeza, possuem riscos mais elevados para se contaminarem, pois as mesmas costumam engatinhar e andar descalças, tendo contato direto com o solo e se contaminando com os patógenos que porventura neste se encontrem (15).

Verificou-se associação entre as características das paredes dos domicílios estudados e a autoeficácia materna. Tal fato pode estar relacionado com a limpeza da parede rebocada, pois esta pode ser mais facilmente limpa do que paredes de taipa ou tábua, além de reduzir a probabilidade de alojamento para insetos vetores de inúmeras doenças. Estudo realizado em Pernambuco verificou que crianças que residiam em casas com paredes de taipa ou tábua foram mais hospitalizadas por diarréia do que aquelas cujas residências eram de tijolo (16).

Neste estudo, algumas variáveis relacionadas às condições sanitárias apresentaram associação estatisticamente significante com autoeficácia materna. Sabe-se que as maiores taxas de incidência e mortalidade de diarréia ocorrem em áreas com piores condições de suprimento de água, de esgotamento sanitário e de coleta de lixo. Assim, se a família reside em áreas com condições sanitárias favoráveis, certamente as mães se sentirão mais confiantes em prevenir diarréia em seus filhos. Corroborando com este fato, estudo realizado no Rio de Janeiro revelou que crianças residentes em domicílios caracterizados por condições sanitárias insatisfatórias, famílias numerosas e com baixo poder aquisitivo apresentaram 55,7 % de prevalência de diarreia (17).

Estudo realizado nas regiões norte e nordeste do Brasil demonstram relação estatisticamente significante entre água encanada e lixo próximo da residência com a contaminação por geo-helmintíases, considerados um dos agentes causadores de diarréia(12). No presente estudo verificou-se diferença estatisticamente significante entre autoeficácia materna para prevenir diarréia infantil e destino do lixo da residência (p<0,001), em contrapartida não foi observada esta relação quanto à proveniência da água que abastece a residência (p=0,197), já que quase a totalidade das famílias referiu abastecimento proveniente da rede pública encanada.

No presente estudo verificou-se associação estatísticamente significante entre autoeficácia materna para prevenir diarreia infantil e procedência da água que a criança consome, tendo sido observado que a maioria das famílias oferecia água mineral tratada e engarrada industrialmente às suas crianças. Certamente, por isso, não se verificou associação estatística significante da autoeficácia materna e tratamentos da água (p=0,505), já que a maioria das mães referiu que oferecia aos seus filhos água mineral já tratada e própria ao consumo humano por suas características de potabilidade. Salienta-se que a ingesta de água mineral ou tratada pela criança é indispensável, tendo em vista que a mesma é um importante veículo de doenças do sistema gastrointestinal, sendo a diarréia uma de las(12).

Nesse sentido, revisão sistemática que utilizou 30 ensaios clínicos randomizados, cobrindo mais de 53 000 participantes, detectou que intervenções domésticas para melhorar a qualidade microbiológica da água de beber são mais eficazes na prevenção da diarreia em áreas endêmicas do que outras abordagens ambientais, como saneamento básico e melhoria no abastecimento de água (18).

Verificou-se correlação estatisticamente significante entre o tipo de sanitário e autoeficácia materna, este fato demonstra relevância, pois a eliminação segura das fezes por meio do autoclismo, ou seja, um sanitário com descarga ligada ao sistema de esgoto localizado em ambiente arejado é uma relevante estratégia para a prevenção da diarréia infantil, contribuindo para que a mãe esteja segura de que se trata de uma estratégia relevante para a promoção da saúde de seu filho.

Apesar disso, sabe-se que inúmeros domicílios ainda não possuem sanitário. Estudos realizados na Ásia verificaram a existência de sanitário em 85 % dos domicílios investigados, enquanto que sanitário com descarga estava presente em apenas 11 % dessas residências e 4% não possuíam nem latrina nem sanitários com descarga (19). Para que seja possível a instalação de um sistema de autoclismo eficiente, é imprescindível a cobertura de serviços de saneamento básico, contudo, em Fortaleza o índice de coleta de esgoto é de apenas 50,56 % e no Ceará este valor cai para 35,74 %, realidade que inviabiliza medidas higiênicas domiciliares que poderiam contribuir para a elevação da autoeficácia materna em prevenir diarréia em seus filhos e, consequentemente, para a redução das taxas de morbimortalidade infantil (20).

Não foi demonstrada associação estatisticamente significante entre autoeficacia materna e presença de moscas no domicílio, havendo então duas hipóteses, ou essas mães não reconhecem as moscas como causadoras de desarranjos intestinais em seus filhos, ou, mesmo com a existência de moscas, sentem-se capazes de prevenir diarréia infantil. Ressalta-se que moscas constituem-se em fator de risco para a ocorrência de diarréia infantil, já que elas possuem papel de veiculares doenças (21). Quanto à presença de geladeira, esta pode ser vista como um indicador do nível socioeconômico e seu papel na conservação dos alimentos é indiscutível, podendo, portanto, favorecer a prevenção de diarréia infantil (22).

Encontrou-se relação estatisticamente significante entre recurso utilizado pela mãe para sua higiene íntima e sua autoeficácia para prevenir diarréia infantil, podendo ser devido à possibilidade de que estas mães não higienizem corretamente suas mãos após o uso do sanitário. Autores enfatizam algumas situações em que se deve priorizar a lavagem das mãos para evitar a diarreia e outras doenças: antes de preparar e comer refeições, após a manipulação de alimentos crus, após o manuseio do lixo, depois de usar o banheiro ou limpar uma criança que tenha utilizado o banheiro e depois de mudar uma fralda (23-24).

A morbimortalidade infantil por diarréia ainda apresenta grande magnitude, sendo necessária especial atenção ao senso de autoeficácia materna para prevenir diarréia infantil, visto que se verificou associação estatisticamente significante entre esta variável e condições de vida a que os grupos populacionais estão sujeitos.

Assim, interferir apenas em medidas socioeconômicas e sanitárias são insuficientes se não houver uma atuação efetiva na autoeficácia das mães. Nesse sentido, os profissionais de saúde devem atuar elaborando e implementando estratégias que não apenas possibilitem a troca de conhecimentos com a comunidade, mas que também possam melhorar a confiança dessas mães no seu papel de cuidadoras de seus filhos e, em especial, nas medidas preventivas da diarréia infantil.

Agradecimentos: Os autores agradecem às mães participantes do estudo e ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq-Brasil).


REFERÊNCIAS

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