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Revista de Salud Pública

Print version ISSN 0124-0064

Rev. salud pública vol.16 no.2 Bogotá Mar./Apr. 2014

https://doi.org/10.15446/rsap.v16n2.30302 

http://dx.doi.org/10.15446/rsap.v16n2.30302

Artículos/Investigacíon

Prevalência e Tipos de Bullying em Escolares Brasileiros de 13 a 17 anos

The prevalence and types of bullying in 13 to 17 year-old Brazilian schoolchildren

La prevalencia y tipos de matoneo en escolares brasileños de 13 a 17 años

Jalber Almeida dos Santos1, Alidianne F. Cabral-Xavier1, Saul Martins Paiva2 e Alessandro Leite-Cavalcanti1

1 Universidade Estadual da Paraíba. Brasil. jalber_almeida@hotmail.com; alidianne.fabia@gmail.com; dralessandro@ibest.com.br
2 Universidade Federal de Minas Gerais. Belo Horizonte, Brasil. smpaiva@uol.com.br

Recebido 25 Junho 2012/Enviado para Modificação 22 Janeiro 2013/Aprovado 12 Março 2013


RESUMO

Objetivo Verificar a prevalência e os tipos de bullying em escolares brasileiros de 13 a 17 anos, bem como, analisar os fatores associados.

Métodos Utilizou-se a amostragem aleatória simples para a seleção dos 525 escolares. A coleta de dados foi realizada por um único pesquisador, utilizando o questionário sobre bullying Modelo TMR. Considerou-se como vítimas de bullying os alunos que admitiram sofrer esse tipo de violência por três ou mais vezes no ano da coleta. Os dados foram organizados com o SPSS e analisados por meio dos testes Qui-quadrado de Pearson e Exato de Fisher (p<0,05).

Resultados A média de idade dos escolares foi de 14,2 anos (±1,1), sendo 54,1% do sexo feminino. Dentre os pesquisados, 23,6 % foram caracterizados como vítimas de bullying, com a maioria sendo de 14 anos de idade (27,3 %), do sexo masculino (31,5 %), do 7° ano de escolaridade (25,3 %), não existindo diferença de envolvimento entre os turnos escolar analisados (manhã e tarde). Houve associação entre o sexo do escolar e a ocorrência de bullying (p<0,001). O tipo de bullying mais prevalente foi o verbal (87,7 %), seguido do relacional (37,7 %) e do físico (19,7 %).

Conclusão: É elevada a prevalência de bullying, com os meninos constituindo-se nas principais vítimas, predominando o bullying do tipo verbal.

Palavras Chave: Bullying, violência, saúde do adolescente (fonte: DeCS, BIREME).


ABSTRACT

Objective Determining the prevalence and type of bullying in 13 to 17 year-old Brazilian schoolchildren and analyzing the associated factors.

Methods Simple random sampling was used for selecting 525 schoolchildren. Data was collected by a single researcher using the Training and Mobility on Research (TMR) model questionnaire on bullying. Students who admitted suffering this kind of violence three or more times during the year the data was collected were considered as victims of bullying. The data was stored in SPSS and analysed using the Chi-squared and Fisher's exact tests (p<0.05).

Results The students' average age was 14.2 years old (±1.1); 54.1 % of the sample was female. 23.6 % of those surveyed were characterized as victims of bullying; most were aged 14 years old (27.3 %), male (31.5 %), in the 7th year of school (25.3 %) and no difference was found regarding when they attended school (i.e. morning or afternoon sessions). However, an association was found between gender and bullying at school (p<0.001). The most prevalent form of bullying was verbal (87.7 %) followed by relational (37.7 %) and physical bullying (19.7 %).

Conclusion There was a high prevalence of bullying, boys being the main victims; the predominant type of bullying was verbal.

Key Words: Bullying, violence, adolescent health (source: MeSH, NLM).


RESUMEN

Objetivo Verificar el predominio y los tipos de matoneo en escolares brasileños de 13 a 17 años, así como analizar los factores asociados.

Métodos Se utilizó el muestreo aleatorio simple para la selección de los 525 escolares. La recolección de datos fue realizada por un único investigador, utilizando el cuestionario sobre bullying Modelo TMR. Se consideró como víctimas de bullying los alumnos que admitieron sufrir ese tipo de violencia tres o más veces en el año de la recolección. Los datos fueron organizados con el SPSS y analizados por medio de los testes Qui-quadrado de Pearson y Exacto de Fisher (p<0,05).

Resultados El promedio de edad de los escolares fue de 14,2 años (±1,1), siendo 54,1 % de sexo femenino. Entre los encuestados, 23,6 % fueron caracterizados como víctimas de bullying,la mayoría siendo de 14 años de edad (27,3 %), del sexo masculino (31,5 %), del 7° año de escolaridad (25,3 %), no existiendo diferencia de compromiso entre los turnos escolares analizados (mañana y tarde). Hubo asociacion entre el sexo del escolar y la ocurrencia de bullying (p<0,001). El tipo de bullying más predominante fue el verbal (87,7 %), seguido del relacional (37,7 %) y del físico (19,7 %).

Conclusión Se concluye ser elevado el predominio de bullying, con los varones como principales víctimas, predominando el bullying del tipo verbal.

Palabras Clave: Acoso escolar, violencia, salud del adolescente (fuente: DeCS, BIREME).


A violência representa uma ameaça à saúde pública e ao processo educacional, ocasionando consequências a curto e em longo prazo na vida do indivíduo (1). Trata-se de um fenômeno multicausal que possui forte correlação com desigualdades econômicas e socioculturais, mas também se relaciona com aspectos subjetivos e comportamentais (2).

O termo "violência escolar" corresponde a todos os comportamentos agressivos e anti-sociais, incluindo os conflitos interpessoais, danos ao patrimônio, atos criminosos, dentre outros (3). Essas ações podem ocorrer dentro ou fora das escolas, e entre as diferentes díades (ou seja, aluno-aluno, professor-aluno, aluno-professor (4). A criança e o adolescente são mais suscetíveis a situações violentas com as quais convivem em seu meio, quer seja ele social, familiar ou escolar (5).

Dentre as diversas formas de violência escolar, o bullying vem sendo amplamente estudado devido as suas graves consequências e ao elevado número de alunos envolvidos. Um estudante é vítima de bullying ou vitimizado quando ele ou ela é exposto(a), repetidamente e por longo tempo, a ações negativas por parte de um ou mais alunos (6).

Em relação à classificação dos distintos tipos de bullying, vários autores (7-10) categorizam-no em físico, verbal e relacional. No bullying físico estão incluídas às diversas formas de agressões físicas (empurrões, socos, chutes e agressões com objetos) e danos materiais. No tipo verbal encontram-se presentes as ações como colocar apelidos, insultar, provocar, ridicularizar, ameaçar, responder com maus modos e fazer comentários racistas e/ou religiosos e no tipo relacional inseri-se as agressões através de propagação de rumores e a exclusão ou o isolamento social (8-13).

As escolas devem procurar identificar a sua ocorrência e outras formas de violência nas relações interpessoais, visando incorporar ações de prevenção (13). Nessa tarefa, necessita-se de um esforço multidisciplinar, envolvendo pais, professores, funcionários da escola, médicos e especialistas em saúde mental (14).

O objetivo do presente trabalho foi determinar a prevalência e os tipos de bullying em escolares brasileiros de 13 a 17 anos e os fatores associados.

MÉTODOS

Estudo transversal, sendo o universo composto por 2 105 alunos de 13 a 17 anos, regularmente matriculados em 14 escolas da rede municipal de ensino de Campina Grande, Brasil. A seleção dos participantes foi aleatória e para o cálculo amostral considerou-se um nível de confiança de 95 %, margem de erro de 5 % e a prevalência de bullying de 50 %. Acresceu-se 20 % referentes a perdas, sendo, a amostra final de 525 alunos.

Utilizou-se o Questionário sobre bullying-Modelo TMR (Training and Mobility of Researchers) (15,16), utilizado por autores brasileiros (17-19). Foram analisados dados demográficos, frequência, maneira e duração do bullying; a quantidade e o sexo dos alunos agressores. Os questionários foram aplicados na própria escola.

Foram consideradas vítimas os estudantes que afirmaram sofrer bullying por três ou mais vezes no ano da pesquisa (18,20-23). O tipo físico foi mensurado por descrições de agressões (empurrar, chutar, bater e/ou sofrer danos materiais) (6,8-10). O tipo verbal foi verificado através de atos (ameaçar, colocar apelidos, xingar, rir, ofender e/ou insultar por questões raciais), enquanto o tipo relacional foi constatado através de ações de isolamento social e/ou por mentiras ou difamações (8-10).

Para análise dos dados foram obtidas distribuições absolutas, percentuais, média e desvio padrão. Utilizaram-se os testes do Qui-quadrado de Pearson ou Exato de Fisher. Na análise bivariada foram obtidos valores do odds ratio e intervalos de confiança. O nível de significância utilizado foi de 5 %. O software utilizado foi o Statistical Package for the Social Sciences na versão 15.

A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual da Paraíba (CAAE 0009.0.133.000-10). Todos os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre Esclarecido.

RESULTADOS

Aplicou-se o teste e reteste em 36 alunos em um intervalo de 12 dias, com os valores da concordância entre as duas aplicações variando de 80 % a 97,1 %. A idade dos alunos variou de 13 a 17 anos com média de 14,2 anos (±1,1). Do total da amostra, 54,1 % eram do sexo feminino, 34,3 % cursavam o 8o ano do ensino fundamental e 61,1 % estudavam no turno da manhã (Tabela 1).

Mais de um terço (38,9 %) dos alunos afirmaram sofrer bullying na escola uma ou duas vezes no ano da coleta, enquanto 23,6 % reportaram sofrer esse tipo de violência 3 ou mais vezes no ano da coleta (Tabela 2). As agressões por meio de apelidos ou xingamentos acometeram (76,2 %), as mentiras ou difamações (33,6 %) e 18 % relataram sofrer agressões físicas. Quanto ao tipo de bullying sofrido, 87,7 % das vítimas de bullying sofreram o verbal, 37,7 % o relacional e 19,7 % o físico, com a ressalva que um mesmo aluno poderia ter sido vítima de mais de um tipo de bullying.

Na Tabela 3, observa-se que um terço das vítimas relatou que as agressões duraram por várias semanas, 44,7 % afirmaram sofrer bullying por 2 ou 3 colegas e 41,5 % reportaram sofrer as agressões tanto por meninos como por meninas.

Não houve associação entre a idade dos escolares e ser vítima de bullying (p=0,477) (Tabela 4). Dos alunos de 13 e 14 anos idade, respectivamente, 23,5 % e 27,3 %, foram vítimas de bullying. Os meninos apresentaram 2,26 vezes mais chances de serem vítimas do que as meninas (p<0,001; IC 95 %: 1,50-3,42).

Na Tabela 5 é analisada a associação entre o sexo do estudante e três questões sobre ser vítima de bullying. As maiores diferenças entre os sexos foram registradas nas questões: "Por várias semanas" em relação ao tempo que foi vítima de bullying na escola no último ano, sendo este percentual mais elevado no sexo feminino (45,8 %); costuma sofrer bullying na escola por dois ou três colegas mais elevado no sexo feminino (58,3 %).

DISCUSSÃO

Nas últimas duas décadas vários foram os trabalhos que abordaram o tema bullying, porém em muitos países, apenas recentemente o bullying tem sido objeto de estudo (20). No Brasil, esse fenômeno é estudado há pouco tempo e escassos são os levantamentos epidemiológicos (13). Uma possível razão para esse atraso pode ser o caráter multidimensional desse fenômeno, que propiciou uma série de restrições na sua definição e mensuração (20).

Para a presente pesquisa, foram categorizados como vítimas os alunos que sofreram bullying por uma frequência de 3 ou mais vezes no ano da pesquisa (18,21-24). A maioria dos alunos afirmaram sofrer uma ou duas vezes esse tipo de violência, enquanto que em outros estudos (17,19,23) a maioria afirmou não sofrer maus tratos ou esse tipo de violência.

Com relação à prevalência de bullying, os resultados descritos na literatura apresentam grande variabilidade. No presente estudo, observou-se que 23,6 % dos alunos pesquisados foram vítimas de bullying, resultado este semelhante aos verificados em Portugal (21) e África do Sul (25). Outros estudos verificaram uma baixa prevalência (12,26-28). Divergências culturais e socio-demográficas nas populações estudadas são possíveis explicaçãos da variabilidade nos percentuais de vitimização, de modo que diferenças nacionais nas políticas públicas e no ambiente escolar também podem contribuir para essa disparidade (29).

Associação estatisticamente significante foi verificada entre o sexo e vítimas de bullying, condição essa verificada por outros autores (12,21,26). A vitimização foi mais frequente em meninos, o que corrobora com a maioria das pesquisas (7,13,25-28). Os meninos sofrem bullying de uma forma física, enquanto que as meninas são vítimas frequentes da forma verbal e da exclusão, que são menos visíveis e percebidas (28).

Não houve associação estatistica entre a variável vítimas de bullying e a idade. Os alunos de idades menores (13 e 14 anos) apresentaram maior percentual de vitimização quando comparados com os de idades maiores (15 a 17 anos), resultado semelhante aos descritos em diferentes pesquisas (13,26,28,29). Nesse sentindo, reforça-se a tendência de que o aumento da idade diminui a probabilidade de vitimização entre estudantes.

O tipo de bullying verbal foi o mais prevalente, seguido do relacional e do físico. Este resultado foi semelhantes aos encontrados previamente (7), entretanto, alguns pesquisadores observaram ser o tipo relacional o mais prevalente seguido do tipo verbal (9,10). A utilização de apelidos, muitas vezes pejorativos ou que se refiram a determinada característica física ou fragilidade das vítimas, pode explicar o predomínio do tipo verbal (28).

A maioria das vítimas de bullying reportou sofrer as agressões durante várias semanas (33,3 %). A incidência do bullying pode ser avaliada não só pelo número de vezes em que o mau trato se repete, mas também pelo tempo que ele dura. Quanto mais duradouro for um mau trato, mais ele se aproxima das características do bullying. Em relação ao número de agressores, a maioria respondeu que sofreu bullying por dois ou três colegas, semelhante ao descrito previamente (17,18). A identificação do número de autores que atua sobre um determinado estudante alvo propicia avaliar se o bullying é praticado por um único estudante ou por grupos (18).

Quando questionados sobre o sexo do agressor, a maioria relatou que os perpetradores eram meninos e meninas, resultado este divergente do reportado na literatura (17,18). Houve associação entre essa variável e o sexo das vítimas, de modo que a maioria dos meninos confirmou sofrer as agressões exclusivamente de meninos, entretanto, as meninas afirmaram que os agressores eram de ambos os sexos. Além do envolvimento maior dos meninos como vítimas, os mesmos também apresentam uma maior participação como agressores (21,25,27). Esse fato, no entanto, não pode ser indicativo de que os meninos sejam mais agressivos do que as meninas, apenas demonstra que eles apresentam uma maior probabilidade de envolvimento em bullying (17).

Algumas limitações do estudo devem ser apontadas. Semelhante a outras pesquisas, os dados foram obtidos únicamente através de auto-relatos, de modo que a percepção individual de bullying pode variar. Ademais, refere-se a estudantes de escolas públicas, podendo haver diferenças em relação aos adolescentes de escolas particulares. Áreas como a saúde e a educação, como práticas sociais, devem estabelecer no seu processo de trabalho -em conjunto com outras áreas e instituições- ações que potencializem a perspectiva interdisciplinar e intersetorial para o enfrentamento dessa problemática e para a consequente promoção da qualidade de vida individual e coletiva (13).

A elevada a prevalência de bullying entre os escolares, demonstra a necessidade urgente da implementação de ações educativas e preventivas a fim de reduzir a sua ocorrência e minimizar as suas consequências.


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