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Revista de Salud Pública

Print version ISSN 0124-0064

Rev. salud pública vol.21 no.1 Bogotá Jan./Feb. 2019  Epub Oct 20, 2020

https://doi.org/10.15446/rsap.v21n1.77308 

Artigos/investigação

Eventos adversos pós-vacinação contra influenza em idosos no Brasil

Adverse events following immunization against influenza the in elderly in Brazil

Eventos adversos post-vacunación contra la influenza en ancianos en Brasil

Damiana Rodrigues1 

Rita de Cassia de Marchi Bacellos de Dalri2 

1DR: Enf. Especialista em Urgência emergência e Terapia intensiva, M. Sc. Pela Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto - Universidade de São Paulo - EERP-USP. Sao Paulo, Brasil. damirodrigues3@yahoo.com.br

2RB: Enf. Professora Doutora- Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto - Universidade de São Paulo EERP-USP. Sao Paulo, Brasil. ritacmbdalri@bol.co.br


RESUMO

Objetivo

Identificar e analisar a ocorrência de eventos adversos pós vacinação contra Influenza em idosos brasileiros.

Método

Pesquisa descritiva, analítica, retrospectiva e quantitativa. Participaram desta pesquisa 98 idosos identificados por meio das fichas de notificação de eventos adversos pós vacinação disponibilizados pelo Sistema de Informação de Eventos Adversos Pós Vacinação de Minas Gerias - BR, entre 2014 e 2016. Os dados foram duplamente digitados e transportados para os programas Ri386 versão 3.4.3 3 IBM SPSS Statics versão 25. Realizou-se estatísticas descritivas, frequência e percentual para as variáveis qualitativas e medidas de tendência central (média e mediana) e dispersão (desvio padrão) para as variáveis numéricas. Para verificar a associação entre os tipos de eventos (não grave, grave e erro de imunização) e as manifestações sistêmicas com as variáveis de caracterização dos idosos e das vacinas, utilizou-se o teste Exato de Fisher e Qui-quadrado; o nível de significância utilizado foi p<=0,05.

Resultados

Dos idosos estudados, 75,5% eram do sexo feminino com predominância da raça branca (55,1%) cuja idade variou entre 60 e 97 anos; 84,7% dos eventos adversos foram descritos como Evento Adverso Não Grave, com 64,3% de manifestações locais e 27,6% de manifestações sistêmicas.

Conclusão

Proporcionar informações específicas aos enfermeiros no que tange os cuidados pré e pós vacinação contra Influenza é de fundamental importância para o estabelecimento de atendimento adequado livre de danos aos idosos e que não incorra em eventos adversos evitáveis.

Palavras Clave: Idoso; Vacinas contra influenza; enfermagem; efeitos adversos (fonte: DeCS, BIREME)

ABSTRACT

Objective

To identify and analyze the occurrence of adverse events after vaccination against influenza in Brazilian elderly.

Materials and Methods

Descriptive, analytical, retrospective and quantitative research on 98 elderly people identified through post-vaccination adverse event reporting forms provided by the Post-Vaccination Adverse Events Information System of Minas Gerias, Brazil, between 2014 and 2016. Data were double-entered and transferred to the software Ri386 version 3.4.3 3 IBM SPSS Statics version 25. Descriptive statistics, frequency and percentages were used for qualitative variables, and measures of central tendency (mean and median) and dispersion (standard deviation) were used for numerical variables. In order to verify the association between the types of events (non-severe, severe and immunization error) and systemic manifestations with elderly and vaccine characterization variables, Fisher's exact and Chi-square tests were used; the significance level was p <0.05.

Results

Of the elderly studied, 75.5% were female, predominantly Caucasian (55.1%), whose age ranged from 60 to 97 years; 84.7% of adverse events were described as non-adverse events, with local manifestations in 64.3% and systemic manifestations in 27.6%.

Conclusion

Providing specific information to nurses regarding pre- and post-vaccination care against influenza is highly relevant for establishing adequate care that is harmless to the elderly and that lead to avoidable adverse events.

Key Words: Elderly; influenza vaccines; nursing; adverse effects (source: MeSH, NLM)

RESUMEN

Objetivo

identificar y analizar la ocurrencia de eventos adversos después de la vacunación contra la influenza en adultos mayores de Brasil.

Método

Investigación descriptiva, analítica, retrospectiva y cuantitativa. Un total de 98 personas mayores identificadas a través de los formularios de notificación de eventos adversos posteriores a la vacunación proporcionados por el Sistema de información de eventos adversos posteriores a la vacunación de Minas Gerias - BR entre 2014 y 2016. Los datos fueron de doble digestión y se transportaron a los programas Ri386 3.4.3 3 IBM SPSS Statics versión 25. Estadística descriptiva, frecuencia y porcentaje para variables cualitativas y medidas de tendencia central (media y mediana) y dispersión (desviación estándar) se usaron para las variables numéricas. Para verificar la asociación entre los tipos de eventos (no grave, grave y error de inmunización) y las manifestaciones sistémicas con las variables de caracterización de ancianos y vacunas, se utilizaron la prueba de Fisher Exact y Chi cuadrado; El nivel de significancia fue p <=0.05.

Resultados

De los ancianos estudiados, el 75,5% eran mujeres, predominantemente caucásicas (55,1%), cuya edad oscilaba entre los 60 y los 97 años; El 84,7% de los eventos adversos se describieron como eventos no adversos, con un 64,3% de las manifestaciones locales y el 27,6% de las manifestaciones sistémicas.

Conclusión

Proporcionar información específica a las enfermeras sobre la atención antes y después de la vacunación contra la influenza es De importancia fundamental para el establecimiento de una atención adecuada sin daños para los ancianos y que no incurra en eventos adversos evitables.

Palabras Clave: Ancianos; vacunas contra la influenza; enfermería efectos adversos (fuente: DeCS, BIREME)

Nascer, crescer e envelhecer são processos naturais observados com o tempo, no entanto, o envelhecimento é influenciado por fatores genéticos e hábitos adquiridos e vivenciados ao longo da vida 1,2. Nesse contexto, evidencia-se o aumento de pessoas com mais de 60 anos na população norte americana e portuguesa, com perspectiva de que em 50 anos os idosos serão 40% da população europeia. No Brasil, a expectativa é que em 2 030 o número de idosos ultrapasse o número de crianças nascidas no mesmo período 3,4.

As mulheres aparecem neste cenário, como maioria entre a população de idosos no Brasil, segundo informações do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística-IBGE. Em relação à incapacidade funcional, as mulheres estão em maior número nas pesquisas; entretanto, elas procuram mais atendimento médico do que os homens 5.

As incapacidades funcionais inerentes ao processo de envelhecer podem levar os idosos a serem institucionalizados. Essas instituições de longa permanência para idosos (ILPI) podem emergir num cenário em que os idosos adaptam-se à rotinas e normas, onde não é observado participação do governo no que diz respeito a financiamentos, qualificação profissional e fiscalização 6,7.

Em se tratando de indivíduos idosos, institucionalizados ou não, as doenças respiratórias e infecções pelo vírus Influenza apresentam-se como importantes causadores de morbimortalidade 7. Nesse aspecto, a vacina contra a Influenza é a melhor forma de se combater a contaminação por tal vírus.

Entretanto, estudo que investigou 122 idosos mostrou que 22% referiram algum sintoma gripal como mal-estar e tosse após a vacina contra Influenza 8.

Como visto, a vacina pode causar alguns Eventos Adversos (EA), devido a mudanças no sistema imunológico nesta população, ou devido a erros no processo de imunização, relacionados ou não a algum componente da vacina, prejudicando assim a resposta imune; porém, a porcentagem de proteção desta vacina ainda é maior que a de eventos adversos 3,9.

Entretanto, a ocorrência de eventos adversos pode interferir na adesão do idoso à vacinação, como não acreditar na proteção da vacina e sim que ela pode causar gripe e reações 10,11.

Alterações decorrentes do envelhecimento nas células de defesa representam certa complexidade e formam a base da predisposição aumentada do idoso a doenças infecciosas 12. Algumas células de defesa apresentam sua atividade reduzida com o envelhecimento resultando em diminuição da função 13. Ao longo do tempo o sistema imune diminui a capacidade do corpo para responder a infecções e à resposta a vacina o que pode levar a evento adverso, sendo que todo evento adverso é uma situação não esperada e decorre de cuidados prestados ao indivíduo 12,14,15.

A ocorrência de eventos adversos pode levar a pouca adesão às campanhas vacinais; portanto, deve ser investigada para melhor resolução dos casos e maior esclarecimento, destacando as práticas educativas dos profissionais de enfermagem 8.

Os objetivos deste estudo foram identificar e analisar os tipos de eventos adversos pós-vacinação contra Influenza e verificar associação deles com as variáveis de caracterização dos idosos e das vacinas.

Justifica-se a realização do presente estudo, pois o tema é atual e de interesse para o desenvolvimento da área da Enfermagem e para melhor qualidade da assistência prestada aos usuários assistidos, no caso os idosos.

MÉTODO

Pesquisa descritiva-analítica, retrospectiva, com abordagem quantitativa. Realizada no estado de Minas Gerais, que conta, segundo censo do IBGE, com uma população estimada de 16,9 milhões de mulheres idosas e 13,3 milhões de idosos do sexo masculino em 2018. Destes 43,6% se declaram brancos, 46,8% se declaram pardos e 8,6% se declaram negros 16.

A população do presente estudo foi constituída por 753 indivíduos moradores em Minas Gerais que apresentaram eventos adversos pós vacinação contra Influenza no período de 2014 a 2016; selecionados por meio das fichas de notificação de eventos adversos pós-vacinação contra Influenza, disponibilizadas pelo Sistema de Informação de Eventos Adversos Pós Vacinação (SIEAPV). A amostra foi composta por 98 idosos de ambos os sexos, que corresponderam a 12,9% da população inicial, dos quais foram extraídas as informações constantes nesta pesquisa.

Os dados foram duplamente digitados em planilhas formatadas do programa Excel e posteriormente transportados para análise estatística para os programas Rí386 versão 3.4.3 e IBM SPSS Statistics versão 25.

Realizou-se estatísticas descritivas, frequência e percentual para as variáveis qualitativas e medidas de tendência central (média e mediana) e dispersão (desvio padrão) para as variáveis numéricas.

Para verificar a associação entre os tipos de eventos (não grave, grave e erro de imunização) e as manifestações sistêmicas com as variáveis de caracterização dos idosos (sexo, raça e idade) e das vacinas (tipo de imunobiológico administrado e o laboratório de procedência), utilizou-se o teste exato de Fisher e Qui-quadrado. No presente estudo estabeleceu-se o nível de significância de p<0,05.

A elaboração deste estudo seguiu os preceitos éticos de Pesquisa Envolvendo Seres Humanos conforme Resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde (CNS) 21. O Projeto recebeu aprovação no Comitê de Ética e Pesquisa, sendo seu CAAE: 90006318.9.0000.5393.

RESULTADOS

Em relação à caracterização sócio demográfica dos idosos estudados, 75,5% eram do sexo feminino com predominância da raça branca (55,1%) cuja idade variou entre 60 e 97 anos, mediana 69 e média 71,2 (DP 8,1); 84,7% dos eventos adversos foram descritos como Eventos Adversos Não Grave, sendo 64,3% de manifestações locais e 27,6% de manifestações sistêmicas

No que diz respeito ao imunobiológico, a vacina contra Influenza foi aplicada em dose única sem associação a outro imunobiológico em 80,6% dos casos registrados, o que caracteriza os eventos adversos registrados condizentes à vacina contra Influenza, sendo que 19,4% dos idosos receberam esta vacina juntamente a outro (s) imunobiológico (s).

Em relação ao tipo de atendimento 35,7% foram a nível ambulatorial, 4,1% necessitaram de hospitalização, somente um idoso ficou em observação, 39 indivíduos (39,8%) não tiverem atendimento médico e em 19 respostas obtidas (19,4%) foram ignorados os tipos de atendimentos realizados aos idosos pós o evento adverso verificado.

As manifestações locais representaram 64,3% das notificações de Eventos Adversos, já as manifestações sistêmicas apresentaram 27,3% dos eventos notificados seguidos por 21,4% de outras manifestações. Cada manifestação representou uma variável e não a soma total das frequências, portanto, a soma é maior que o número de idosos porque alguns idosos apresentaram mais de uma manifestação.

Apresenta-se na Tabela 1 o número e o tipo de manifestações locais pós-vacinação contra Influenza, os Eventos Adversos Não Graves tem duração de 2 a 48 horas sendo autolimitadas, benignas e tratados apenas os sintomas.

Tabela 1 Manifestações locais pós-vacinação contra Influenza e percentuais calculados com base no total de idosos (n=98) e nos que apresentaram evento adverso não grave (n=63), em Minas Gerais, no período de 2014 a 2016 

Manifestações locais % (n=98) % (n=63)
Dor 48 49,0 76,2
Calor 41 41,8 65,1
Eritema ou Rubor 36 36,7 57,1
Edema 32 32,7 50,8
Abscesso quente 13 13,3 20,6
Prurido local 8 8,2 12,7
Enduração/endurecimento 5 5,1 7,9
Hematoma 4 4,1 6,3
Nódulo 3 3,1 4,8
Urticária no sitio de 3 3,1 4,8
administração
Manchas cianóticas 1,0
Abscesso frio ou asséptico 1 1,0 1,6
Celulite 1 1,0 1,6
Febre 1 1,0 1,6

Fonte: Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais/Coordenadoria de Imunização-Brasil

Na variável outras manifestações, estas estão descritas conforme registro das notificações e caracterizaram-se por: artralgia, cefaleia, e mialgia (1,0%); calor local (1,0%); cefaleia (2,0%); cefaleia, febre e mialgia (1,0%); cefaleia e febre >39° (6,0%); cefaleia, fadiga, sonolência e febre> 39° (1,0%); cefaleia e tontura (1,0%); dificuldade de deambular, febre >39° e sonolência (1,0%); fadiga (1,0%); febre >39° (4,0%);febre baixa (1,0%); hiperemia bilateral dos olhos (1,0%); sonolência (1,0%). As manifestações estão descritas conforme apresentadas nas fichas de notificação, totalizando 21%.

A Tabela 2 apresenta as manifestações sistêmicas que representaram os Eventos Adversos Graves.

Tabela 2 Manifestações sistêmicas pós-vacinação contra Influenza e percentuais calculados com base no total de idosos (n=98) e para os que apresentaram evento adverso grave (n=27) em Minas Gerais, período de 2014 a 2016 

Manifestações clínicas sistêmicas % (n=98) % (n=27)
Diarreia 4 4,1 14,8
Exantema generalizado 4 4,1 14,8
Náuseas 3 3,1 11,1
Espirros 3 3,1 11,1
Dispneia 2 2,0 7,4
Exantema em sítio diferente da 2 2,0 7,4
administração
Letargia 2 2,0 7,4
Taquicardia 2 2,0 7,4
Parestesia 2 2,0 7,4
Angioedema de lábios 1 1,0 3,7
Paralisia de MMII 1 1,0 3,7
Coceira nos olhos 1 1,0 3,7
Angioedema de olhos 1 1,0 3,7
Cianose 1 1,0 3,7
Rinorreia 1 1,0 3,7
Edema região do cotovelo 1 1,0 3,7
Apneia 1 1,0
Dificuldade de respirar 1 1,0 3,7
Alteração do nível de consciência 1 1,0 3,7
Hipotonia 1 1,0 3,7
Linfoadenopatia regional 1 1,0 3,7
Palidez 1 1,0 3,7
Paresia 1 1,0 3,7
Urticaria generalizada 1 1,0 3,7

Fonte: Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais/Coordenadoria de Imunização

As manifestações clínicas sistêmicas apresentaram menor incidência do que as manifestações locais, entretanto este tipo de manifestação pode levar a incapacidades temporárias ou permanentes e merecem maior atenção. As manifestações apresentadas podem estar associadas a mais de um evento notificado.

Os Eventos Adversos Graves compreenderam cinco casos que foram diagnosticados como: Paralisia dos nervos oculomotores; Parestesia com indicação de avaliação do risco benefício para próxima campanha vacinal por investigação de síndrome de Guillan-Barré; Hemiparesia, diarreia e dificuldade respiratória; Hipotonia e letargia; Suspeita de Síndrome de Guillan-Barré. Nos demais se pode observar a predominância de sinais e sintomas relacionados ao sistema nervoso; as idades variaram de 60 a 74 anos.

A associação entre os tipos de eventos adversos e as variáveis sexo, idade, raça, imunobiológico e laboratório de distribuição da vacina, demonstrou significância estatística entre os Eventos Adversos Não Grave (EANG) para a variável sexo feminino (p=0,042) e como administração da vacina contra Influenza sem associação a outro imuno-biológico (p=0,042).

As manifestações locais pós vacinação estão mais presentes entre as idosas (70,3%) e a aplicação do teste Qui-quadrado mostrou associação significante entre tais manifestações e a variável sexo (p=0,03) e não significante para as demais variáveis testadas.

DISCUSSÃO

Houve predominância neste estudo de participantes do sexo feminino que apresentaram eventos adversos pós vacinação contra Influenza sendo as reações locais mais frequentes; esses dados coincidem com estudo que demonstrou o sexo feminino retratado com respostas de anticorpos mais altas que os homens e consequente reações adversas às vacinas 17.

Estudo que avaliou as reações pós vacinais, identificou também a prevalência do sexo feminino em 57,9% dos casos registrados, sendo a maioria crianças menores de um ano, portanto, as reações adversas pós vacinação pode estar relacionadas não só a idade, mas também ao sexo 18.

Houve predominância da raça branca/parda neste estudo, o que se justifica pelo fato de que no estado de Minas Gerais, 43,6% dos indivíduos se declaram brancos; estudo realizado que teve como variável a etnia, também apresentou a predominância da raça branca em seus achados pós-vacinais 12.

Dos 98 idosos pesquisados no presente estudo, 52,2% apresentaram idade entre 60-69 anos; o que corrobora com outros estudos que apresentaram a predominância de eventos adversos pós vacinação neste mesmo intervalo etário 12,19.

Pode-se observar que nesta faixa etária, o imunobiológico pode ser apresentado como primeira dose, pois a partir de 60 anos torna-se o idoso, parte do grupo de risco estipulado pelo Mistério da Saúde do Brasil, para receber a vacina contra Influenza, entretanto, o sistema imunológico do idoso pode apresentar resposta ineficaz frente ao imunobiológico, pois suas células de memória não reconhecem o antígeno da vacina, dificultando uma resposta imunológica adequada 19. Este fato vai sendo modificado ao longo das campanhas, pois o sistema imunológico vai reproduzindo os linfócitos T de memória, melhorando a resposta imunológica, daí a importância da imunização anual do idoso.

Os postos de saúde e Unidades de Saúde da Família foram os locais mais procurados para o atendimento relacionado à EA neste estudo. Investigação realizada por meio de base de dados na região Sul do Brasil também apontou estes estabelecimentos como local de atendimento para EA 19.

As manifestações locais neste estudo se caracterizaram por dor, calor, eritema ou rubor, edema, com porcentagens acima de 32%. Tais achados coincidem com dados referidos em estudo de coorte prospectivo realizado na cidade de Tubarão-SC - Brasil com uma amostra de 341 participantes, que apresentou dentre outros, dor, hiperemia e endurecimento como reações locais 20. Outro estudo apontou dor e edema em 22% dos casos registrados como reação adversa local 24. Dor, rubor e calor apresentaram 37,1% dos casos de eventos adversos notificados por estudo semelhante a este, realizado por meio de buscas em fichas de notificações com população de idosos entre 2002 a 2013 22.

Os sintomas descritos em relação às manifestações sistêmicas neste estudo se apresentaram em menor número que as manifestações locais, entretanto são muito relevantes em se tratando de pessoas idosas, pois podem levar a sequelas permanentes principalmente a nível neurológico. Tais manifestações apareceram em outros estudos, parcialmente ou semelhantes como mialgia, desconforto respiratório 12, reação de hipersensibilidade, exantema generalizado, artralgia, febre >= 39,5°, cefaleia, mialgia, urticária generalizada, cefaleia associada a vômito e hipersensibilidade 19, cefaleia, mialgia, mal-estar e coriza 23, mialgia, parestesia, reação de hipersensibilidade, mielite, dificuldade de deambular, entre outros 24, febre, mal estar, mialgia, cefaleia, linfonodomegalia, diarreia, vômito, secreção nasal, tosse, artralgia 25.

Este estudo apresentou uma notificação de EAG caracterizada por prurido e hiperemia ocular, que pode corresponder à Síndrome Óculo-respiratória, descrita no Canadá após campanha de vacinação de 2000-2001. É caracterizada por hiperemia ocular, edema facial e/ou sintomas respiratórios que surgem até 24 horas pós vacinação e são autolimitados; provavelmente é causada por aumento sérico do nível de citocinas pró-inflamatórias 22.

Dentre outras manifestações, as neurológicas são as que mais merecem atenção dos profissionais de saúde que recebem o indivíduo idoso com queixas, como suspeita de Síndrome de Guillain-Barré (SGB), narcolepsia (caracterizada por sonolência incontrolável); sintomas osteomusculares também demandam atenção especial. No presente estudo foi identificado um evento associado à Síndrome de Guillain-Barré (SGB) e outro com orientação para avaliar risco benefício da aplicação da vacina por suspeita de SGB. Outros estudos apontam semelhantes achados também em menor número 19,26,27.

Segundo dados do VAERS (Vaccine Adverse Event Reporting System) sobre eventos adversos pós-vacinação contra influenza h1n1 de 2005 a 2009 nos EUA, a ocorrência de Síndrome de Guilain Barré é maior nas pessoas com idade igual ou superior a 65 anos 28.

Metanálise realizada nos Estados Unidos em 2009 incluindo oito organizações médicas dentre elas o Foodan-dDrugAdministration(FDA) e Centers for Medicare and Medicaid Services(cMs) concluiu que a Síndrome de Guillain Barré é um evento adverso esperado pós vacinação contra Influenza, recorrente em menor proporção, com a idade média de ocorrência de 62 anos em tal estudo 27.

Oito estudo que investigou reações neurológicas pós-vacinação contra Influenza em idosa de 69 anos 15 dias após vacinação, cujos sintomas apresentados foram alterações do comportamento e rebaixamento do estado mental, após exame de ressonância magnética constatou "hiperintensidad e giroscópica no FLAIR (fluid attenuated inversion recovery)" com supressão dos seios frontão parietal direita" sendo o quadro revertido após tratamento com corticosteroides 29.

Pesquisas referem que a não adesão à vacinação pelos idosos se dá por medo de reações ocasionadas pela vacina, tais medos referem-se a notícias disseminadas pelos próprios idosos que receberam a vacina, apresentaram algum evento adverso e não obtiveram a devida orientação por parte dos profissionais da saúde, incluindo a equipe de enfermagem 30,31.

Revisão sistemática que utilizou dados de 1999 a 2013, avaliou 73 publicações referentes a efetividade da estratégia brasileira da vacina contra Influenza e constatou que a redução na mortalidade e hospitalizações por causas relacionadas à Influenza foi reduzida e que a vacina é relativamente efetiva de acordo com a resposta imunológica de cada indivíduo, porém é segura, pois os eventos adversos notificados foram leves e de resolução rápida 32, corroborando com as informações deste estudo aqui apresentado.

Diante do exposto anteriormente, faz-se necessário a participação mais efetiva, com abordagem baseada nas tecnologias leves/duras, da equipe de profissionais que recebe os idosos nos estabelecimentos de saúde com queixa de algum sintoma que pode estar relacionado à vacinação contra Influenza, ressalta-se a importância de realizar a notificação para proporcionar investigação destes eventos adversos. Entretanto observa-se certo desconhecimento dos profissionais de enfermagem sobre tal notificação, por considerarem importante notificar apenas ea graves e não esperados 33.

Neste estudo, as fichas de notificação de reação adversa pós vacinação contra Influenza não continham todas as informações preenchidas, existindo falta de informação sobre exames laboratoriais, doenças e uso de medicações prévias, não preenchimento da conclusão do caso, falta de informação sobre atendimento médico, entre outras, demonstrando assim preenchimento incorreto e inconclusivo, corroborando com outros estudos em semelhante achado 18,19.

Sob esta perspectiva, estudo realizado no município de Feira de Santana-BA, Brasil em cinco UBS, onde foi realizado coleta de dados com oito enfermeiras e sete técnicas de enfermagem, observaram-se que os eventos adversos decorrentes de vacinação não eram todos notificados, os profissionais apresentaram receio em notificar resultando em subnotificação. Concluiu-se que alguns profissionais notificavam apenas os casos que consideravam "fora do comum", entretanto assumiam que todos os casos deveriam ser notificados e que a falta de notificação dificulta o conhecimento dos eventos adversos bem como, tomada de medidas preventivas em relação a reações adversas 33.

As notificações dos EA são de extrema importância para averiguar a reatogenicidade da vacina. A falta da notificação de tais eventos leva a uma disseminação por parte dos usuários idosos a crenças negativas em relação a vacina levando a não adesão da mesma em campanhas futuras, o que pode se tornar prejudicial para a Saúde Pública uma vez que a vacina é uma das principais formas de prevenção de contaminação pelo vírus Influenza.

Assim sendo, as fichas devem ser preenchidas corretamente em todos os seus campos, contribuindo desta forma, para maior conhecimento do que pode ter levado determinado indivíduo a apresentar um EA, favorecendo uma investigação científica de qualidade.

As fichas de notificações investigadas apresentavam falta de preenchimento em alguns campos e preenchimentos inconclusivos, o que dificultou a análise dos casos.

Destaca-se a importante atuação do profissional enfermeiro que assiste o idoso, no reconhecimento precoce de possíveis eventos adversos e tomada de decisão rápida para evitar agravos à saúde do idoso.

Espera-se com este estudo, orientar o profissional enfermeiro na utilização das tecnologias leves/ duras a fim de otimizar o atendimento a essa população pouco assistida adequadamente, principalmente os institucionalizados. Espera-se ainda incentivar outras pesquisas a respeito deste tema a fim de melhorar a adesão e coberturas vacinais nos idosos ♣

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Recebido: 17 de Janeiro de 2018; Revisado: 23 de Junho de 2018; Aceito: 22 de Dezembro de 2018

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