Ocâncer de próstata é o tipo mais prevalente entre os homens. Aproximadamente 70% dos casos diagnosticados ocorrem em regiões mais desenvolvidas. Na região da América Latina e do Caribe, em um ano ocorreram 1,1 milhão de casos de câncer, sendo o câncer de próstata o tipo mais incidente entre os homens 1.
Em 2016, foram registrados 61.200 novos casos de câncer de próstata no Brasil ocupando o primeiro lugar entre os mais incidentes na população masculina, correspondendo a 28,6%. Esse valor corresponde a um risco de 61,2 casos novos a cada 100 mil homens 1.
Com o aumento da expectativa de vida mundial, é esperado que o número de casos novos aumente a cada ano, pois o único fator de risco bem estabelecido para o desenvolvimento do câncer de próstata é a idade. Aproximadamente 62% dos casos diagnosticados ocorrem em homens com 65 anos ou mais 1.
Outro fator de risco para o câncer de próstata é a raça. Estudos mostram que homens negros são mais afetados por câncer de próstata e são 1,6 vezes mais propensos a serem diagnosticados com a doença do que homens da raça branca 2.
A história familiar é dita como fator de risco, pois se um parente de primeiro grau tem a doença, o risco é, no mínimo, duas vezes maior do indivíduo ter câncer de próstata. Se dois ou mais indivíduos da mesma família são afetados, o risco aumenta em cinco a 11 vezes. Porém, a hereditariedade não parece ser fator prognóstico importante ou influenciar negativamente a mortalidade relacionada ao câncer de próstata 3.
Comportamentos vistos no universo masculino, também são apontados como fatores favoráveis para o aparecimento do câncer de próstata como: o consumo do tabaco, a ingestão de álcool, o sedentarismo, baixa procura para prevenção, que estão relacionados ao estilo de vida e saúde 4.
A detecção precoce é uma importante ferramenta de diminuição da mortalidade e melhoria da qualidade de vida dos pacientes com a câncer de próstata 3.
Com a crescente taxa de incidência do câncer de próstata no Brasil e no mundo, torna-se necessário a evolução não só do diagnóstico e dos tratamentos, mas também a melhoria de ferramentas voltadas a promoção e prevenção, compreender o perfil socioeconómico, demográfico e clinico dos homens com câncer de próstata no Maranhão, subsidia criação de ações de prevenção e diagnóstico precoce. O objetivo deste estudo é caracterizar aspectos socioeconómicos, demográficos, de saúde e clínicos de homens com câncer de próstata no Maranhão.
METODOLOGIA
Trata-se de um estudo descritivo, corte transversal e com abordagem quantitativa.
A pesquisa foi desenvolvida no Hospital do Câncer Aldenora Bello (HCAB), localizado em São Luís capital do Maranhão, atualmente o único Centro de Alta Complexidade em Oncologia (CACON) do estado do Maranhão.
A população da pesquisa foi composta por homens com diagnóstico de câncer de próstata, com idade igual ou superior a 18 anos, que estiveram hospitalizados ou em atendimento ambulatorial no Hospital do Câncer Aldenora Bello e com condições para comunicar-se com a pesquisadora.
Previamente verificou-se as agendas de atendimento para verificação do dia e horário de atendimento dos homens com câncer de próstata, então, nos dias das consultas os pacientes foram abordados de forma aleatória durante espera no ambulatório, onde foram convidados a participar da pesquisa e encaminhados para uma sala reservada para assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) e aplicação dos questionários. O período da coleta de dados foi de janeiro a julho de 2017.
Para coleta de dados utilizou-se questionário com as seguintes variáveis socioeconómicas, demográficas, de saúde e clínicas: idade, raça, ocupação, renda mensal, escolaridade, procedência, crença/religião, estado civil, etilismo, hábito de fumar, prática de atividade física, histórico de câncer na família, idade do diagnóstico do câncer, início e tratamento realizado e procura por cuidado médico.
Após a coleta dos dados, estes foram submetidos à estatística descritiva utilizando o programa estatístico SPSS v. 19 apresentados em tabelas de frequência e porcentagens. O projeto faz parte de um projeto maior intitulado: "HOMENS E MULHERES COM CÂNCER: SIGNIFICADOS, PERCEPÇÕES E IMPLICAÇÕES" aprovado no Comité de Ética em Pesquisa com seres humanos do Hospital Universitário Unidade Presidente Dutra (HUUPD) com parecer N° 1.749.940. A pesquisa obedeceu a todas as recomendações da Resolução de número 466 de 12 de dezembro de 2012 do Conselho Nacional de Saúde - Ministério da Saúde para Pesquisa Científica em Seres Humanos.
RESULTADOS
Na população estudada, no que se refere à distribuição segundo a faixa etária, 44,2% dos entrevistados concentrou-se na faixa etária entre 71-80 anos, caracterizou-se cor autoreferida parda com 82,3%. Quanto a questão trabalhista 62,8% referiram ser aposentados, ressalta-se que dentre aposentados e não aposentados, a ocupação mais vista foi a de lavrador (31,9%).
A situação atual de renda mensal apresentada por 90,3% foi de até dois salários mínimos. 63,7% afirmaram ter apenas ensino fundamental incompleto, ou seja, menos de 8 anos de estudo, e 21,2% eram analfabetos. 73,5% eram casados e apontaram o catolicismo como religião.
Quanto ao perfil demográfico, 61,9% do total da população estudada era procedente do interior do estado (Tabla 1).
Quanto aos aspectos de saúde, no que diz respeito ao hábito de fumar, 66,3 % relataram ser ex-tabagistas. 85,9% afirmaram ser ex-etilistas. No que concerne a prática de atividade física regular, 76,1%0 informam que não tinham hábito de realizar nenhuma atividade física regular. 53,1% disseram procurar atendimento em saúde apenas quando apresentavam algum problema, e apenas 16,8% afirmaram que procuravam assistência médica de maneira preventiva pelo menos uma vez ao ano (Tabla 2).
Dentre os participantes, 85,8% afirmam que não há casos de câncer na família, apenas 4,4 % disseram ter diagnóstico de câncer de próstata na família.
Do total, 41,6% receberam o diagnóstico de câncer de próstata com idade entre 61 e 70 anos. 30,1% estão em tratamento há 6 meses a 1 ano. Acerca do tipo de tratamento, 51,3% realizaram a cirurgia. Os filhos são apontados como os principais acompanhantes nas consultas correspondendo a 53,1%. 28,6 % convive com a doença há menos de 1 ano (Tabla 3).
DISCUSSÃO
A idade é ainda o fator de risco mais delimitado para o desenvolvimento de câncer de próstata, uma vez que tanto a incidência como a mortalidade aumentam significativamente após os 50 anos. No mundo 62% são diagnosticados em homens com 65 anos ou mais 1.
O que condiz com a idade do diagnóstico vista neste estudo, entre 61-80 anos correspondendo a 69,9% dos homens. Outros estudos nacionais e internacionais corroboram com este achado 5-7.
A raça auto referida que predominou foi a parda, divergindo de outro estudo que apontou a raça branca como predominante 7. No Maranhão de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística 8, a predominância é raça parda, o que justifica o resultado encontrado.
Nos Estados Unidos da América a população mais afetada é a afrodescendente 6. Outro estudo utilizou apenas variantes branca e não branca para raça e encontrou como predominância a raça não branca 9.
A questão raça é um fator difícil a ser discutido, considerando-se a miscigenação ampla que existe hoje no Brasil e no mundo, porém a literatura aponta que a raça negra é considerada como mais afetada por esse tipo de câncer 1.
Entre os homens estudados, apenas 63,8% eram economicamente ativos, ou seja, não aposentados, divergindo de outros estudos que apontam a maioria dos estudados como aposentados: 78,4%, 63,20% e 75,9%. Essa divergência pode ser explicada a partir da localização geográficas dos estudos, pois foram realizados na região sul e sudeste do Brasil 7,10,11.
O Nordeste apresenta um elevado índice de pobreza, muitos chegam a terceira idade sem estarem preparados, sem alicerce financeiro para as necessidades básicas e o valor baixo da aposentadoria é insuficiente para o sustendo mensal 8.
Observou-se que 79,3% dos entrevistados tinham ensino fundamental incompleto (menos de 8 anos de estudo), corroborando com outros estudos que encontraram a maioria da população com escolaridade de fundamental incompleto (menos de 8 anos de estudo) 10,11.
Todavia, foi visto em outro estudo que 54,5% apresentava ensino fundamental completo. A baixa escolaridade identificada na população pesquisada não chama atenção, pois se trata de indivíduos predominantemente idosos, cujas famílias nas primeiras décadas do século passado, priorizavam a sobrevivência em detrimento da escolarização 7.
A escolaridade não interfere no desenvolvimento ou não do câncer de próstata, esse fator pode prejudicar o diagnóstico precoce e na adesão ao tratamento, o que diminui as chances de cura 9,12-14.
No que concerne a religião dos homens estudados, 73,5% afirmaram ser católicos, enquanto 3,5% disseram não ter religião. Concordando com outro estudo, aonde 74,4% apontaram o catolicismo como religião 11.
O paciente oncológico busca a religiosidade como forma de enfrentamento da doença, com a finalidade de minimizar o sofrimento ou obter maior esperança de cura com o tratamento. Associado à terapia, o tratamento espiritual é procurado por eles com o intuito de buscar um equilíbrio entre as emoções durante o processo curativo, uma vez que relatam acreditar que o tratamento espiritual auxilia e potencializa suas chances de cura da doença 15.
A condição civil que predominou neste estudo foi a de casado ou união estável com 80,5%. Estudos com a mesma temática encontraram valores semelhantes, 72,5%, 70,2%, 77,9% dos entrevistados relataram serem casados 7,12,13.
A atenção familiar é parte fundamental do atendimento ao homem com câncer, uma vez que ela representa a principal fonte de apoio durante todo o processo de tratamento. A esposa desenvolve um papel de destaque dentro de uma família, em respeito a acompanhamento, parceria, orientações e cuidados 16.
Serafim 15, apontam que a aceitação do homem em relação a um câncer depende de vários fatores, assim como de apoio por parte de familiares, em especial a esposa que se torna sua cuidadora principal.
No que diz respeito à procedência dos homens do estudo, 61,9 % eram procedentes do interior do estado. Esse dado também foi visto em estudo realizado com indivíduos com outro tipo de câncer onde 62,8% eram procedentes do interior do estado 17.
No Maranhão existem apenas três hospitais que tratam o câncer pelo SUS, um na cidade de Imperatriz e dois na capital São Luís, um destes sendo o único que dispõe de todas as modalidades de tratamento 1.
No que concerne ao hábito de fumar, foi visto que 66,3% dos homens referiram ser ex-fumantes, e 13,3% ainda continuavam a fumar. Valor semelhante foi encontrado em estudo realizado por Goulart 18, que relatou um índice de 49,4% de ex-fumante.
Outro estudo sobre o câncer de próstata apontou 28% de tabagistas 11. Um estudo com pacientes com câncer em geral apontou 88,2% dos entrevistados como sendo tabagista 19. Este estudo não especificou o tipo de tabaco utilizado, fumo ou mascado, porém sabe-se que o tabaco pode potencializar o risco para o câncer, inclusive de próstata devido à presença de aminas aromáticas presentes no fumo 1.
Foi visto que 86,9% apontaram ser ex-etilistas, valores que se assemelharam a outros estudos, 67% e 79% dos entrevistados declararam terem parado a ingestão com a bebida alcoólica 11,19.
A forma exata de como o álcool aumenta o risco de câncer não é totalmente conhecida. Na verdade, podem existir várias maneiras diferentes que levam ao aumento do risco, danos em tecidos, aumento de alguns hormónios, diminuição de nutrientes, e isto pode depender do tipo de câncer 1,20.
Esses altos índices de ex-tabagistas e ex-etilistas podem ser justificados devido ao diagnóstico, que como orientação inicial tem-se o abandono do fumo e da bebida alcoólica que interferem no tratamento, estando mais ligados ao tempo de uso, principalmente na questão do fumo, porém, infelizmente o dado tempo de uso não foi levantado por este estudo.
Apenas 23,9% dos homens afirmaram praticar atividades físicas, resultado que diverge de outro estudo que apontou 62% praticantes de atividades físicas entre os entrevistados. Em estudo realizado na Austrália, havia uma previsão de redução de 4.882 casos de câncer de próstata até 2025, se os homens praticarem exercícios físicos, dieta adequada e reduzirem a obesidade 11,21.
Em uma população 15 de homens adultos e idosos da Suécia, apontou-se que qualquer aumento diário de 30 minutos, foi associado a uma redução de 7% da incidência do câncer de próstata total, 8% do câncer de próstata localizado e 12% do câncer em estágio avançado, tendo como referência a prática de 30 minutos por dia 22.
Por gerar um bem-estar que faz com que o paciente participe de forma mais adequada do tratamento a atividade física pode atuar positivamente no desfecho oncológico; nesse sentido, o American Collegueof Sports Medicine 23, recomenda para os pacientes com câncer, 150 minutos de atividade física moderada ou 75 minutos de atividade física vigorosa por semana, e um treinamento de resistência duas vezes por semana, a fim de aprimorar a saúde física geral e o bem-estar dos pacientes.
A descoberta precoce é fundamental no combate contra o câncer de próstata. Em sua fase inicial a doença apresenta uma evolução silêncios. Neste estudo, somente 16,8% dos homens afirmaram fazer consultas preventivas anuais. 53,1% relatou que procurava o atendimento em saúde apenas quando apresentavam algum problema. Contrapondo este resultado, em estudo similar mais de 50% afirmaram realizar consulta médica pelo menos uma vez ao ano 11.
O fato dos homens não se preocuparem em cuidar de sua saúde, especialmente em relação aos aspectos preventivos, age de forma negativa sobre os índices de mortalidade masculina. Isto se deve à descoberta da doença já em fase mais avançada o câncer de próstata pode apresentar dor óssea, sintomas urinários ou, quando mais grave, como infecções generalizadas ou insuficiência renal 4.
A história familiar demonstrou que 4,4 % dos homens tinham parentes com diagnóstico de câncer de próstata. Em outros estudos foram encontrados valores de 24%, 18,5% e 5,1% da população do estudo com parentes de primeiro grau com esse diagnóstico 1,7,11,24.
Embora o número de homens com casos de câncer de próstata na família tenha sido baixo, não diminui a importância de se considerar o histórico familiar como um importante fator de risco, pois homens que tiveram parentes de primeiro grau diagnosticados, apresentam um aumento de duas a três vezes no risco de desenvolver esse tipo de câncer 1.
O tratamento instituído para 51,3% foi a cirurgia, dado que corroborou com outro estudo que relatou mais de 50% da população estudada com tratamento cirúrgico. Outro estudo apontou que 66,66% realizaram cirurgias como tratamento principal contra o câncer de próstata 11,13.
Em geral o tratamento é indicado de acordo com a localização e estágio da doença e deve ser individualizada e definida após discutir os riscos e benefícios do tratamento com o médico 1.
Dos homens entrevistados, 45,1% convivem com a doença de 6 meses a 1 ano e 11 meses. Em outro estudo realizado com 337 sobreviventes do câncer, com diferentes diagnósticos inclusive próstata evidenciou preocupações comuns, como o medo da recorrência, a fadiga e problemas financeiros. Com o passar do tempo a esperança pode diminuir e a tristeza aumentar, podendo trazer quadros de depressão.
A avaliação dos 226 homens do estudo permitiu observar os principais fatores de risco relacionados ao câncer de próstata, que são a idade, raça, histórico familiar, notou-se que dois se apresentaram como determinantes na população estudada, a idade predominante foi 71-80, a raça parda foi a mais referida, porém poucos referiram histórico familiar de câncer de próstata ou qualquer outro tipo, conforme a literatura.
Observou-se que 44,2% tinham dos homens tinham entre 71 e 80 anos, 82,3% autoreferiram a raça/cor parda, 62,8% não eram aposentados, 90,3% tinham renda mensal de até 2 salários mínimos, 63,7% tinham menos de oito anos de estudo, 80,5% eram casados, 61,9% eram do interior do estado, 76,1% não praticavam atividades físicas, 53,1% procuravam serviços em saúde apenas quando apresentavam algum problema, 51,3% realizaram cirurgia para retirada da próstata.
Esta pesquisa oferece subsídios para elaboração de ferramentas e estratégias voltadas para promoção e prevenção do câncer de próstata, com o aumento do diagnóstico precoce e consequente possibilidade de cura, interferindo o mínimo possível na sua qualidade de vida •