A o longo da vida, os indivíduos passam por diferentes etapas de amadurecimento e desenvolvimento, caracterizadas pelas relações sociais e biológicas 1. Uma dessas etapas é a puberdade, que é um período de transição do desenvolvimento humano, correspondente à passagem da fase da infância para a adolescência, circunstanciada por transformações biológicas de âmbito comportamental e corpóreo.
Seguindo essa linha de pensamento, avaliar a maturação biológica torna-se um importante fator durante a puberdade, pois além das mudanças que ocorrem no organismo, meninas que possuem a mesma idade cronológica podem apresentar uma idade biológica diferente. Geralmente, para o sexo feminino, essa fase se inicia entre 9 e 14 anos de idade 2-6.
A menarca é um importante indicador da fase da puberdade, sendo ela a primeira menstruação de uma menina. É a fase entre a infância e a adolescência e sua ocorrência se dá em média entre 11 a 13 anos 4,6.
Os profissionais da Educação Física utilizam a idade da menarca como indicador de maturação biológica das características sexuais na orientação e prescrição de atividades físicas, pois as necessidades da cultura corporal do movimento são diferentes em períodos pré e pós-puberal 7. Esse indicador, muito utilizado nos contextos da saúde e do esporte, auxilia na preparação do programa de treino para a adolescente, na redução do risco de lesões, na identificação dos períodos de crescimento rápido, justificando a redução do regime de treinamento em esportes de alta intensidade 8. Por fim, auxilia, também, na escolha do tipo, da qualidade e da intensidade dos exercícios físicos realizados durante as aulas 9 e seleção de atletas 10.
A potência aeróbica tem como indicador da sua capacidade o VO2 máximo, que é um importante parâmetro preditivo de morbidades associadas, além de ser utilizado para acompanhamento e prescrição do treinamento aeróbio em atletas e sedentários, está associado ao desenvolvimento maturacional 11,12,4.
O presente estudo tem o objetivo de identificar e comparar a potência aeróbica entre os estágios maturacionais determinados pela menarca.
MATERIAIS E MÉTODOS
O presente estudo desenvolveu-se dentro de um modelo de pesquisa descritiva e empregou uma tipologia quase experimental, em que os grupos foram pré-determinados antes da realização do experimento, impossibilitando a distribuição das alunas de forma aleatória, e delineamento comparativo. Estatisticamente, utilizou-se Anova One-Way para comparar as variáveis entre os estágios de maturação, seguida de post-hoc de Tukey. O nível de significância foi p<0,05.
Selecionou-se alunas aptas entre 10 e 14 anos, devidamente autorizadas pela direção da escola e pelos seus responsáveis por meio do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), sendo excluídas as não integrantes das atividades físicas escolares, que praticavam modalidades esportivas competitivas ou que não concordaram em participar como voluntárias.
É importante salientar que, no tocante às diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos, o Comitê de Ética da FEPI - Centro Universitário de Itajubá - Minas Gerais avaliou e aprovou este estudo, sob o parecer N. 2.069.655, reconhecendo que está de acordo com as determinações prescritas pelo Conselho Nacional de Saúde e Comissão Nacional de Ética.
A amostra abrangeu 19 alunas praticantes de atividades físicas escolares de 10 a 14 anos de um colégio particular da cidade Itajubá-MG. Inicialmente, apresentou-se à direção da escola um documento contendo informações sobre a pesquisa e, após, solicitou-se a autorização e cooperação do órgão diretivo para realização do estudo. Em seguida, as alunas receberam uma carta, solicitando a autorização dos pais ou responsáveis para participar da pesquisa, contendo o objetivo do estudo, procedimentos e um questionário de identificação da menarca para ser preenchido e assinado pelas voluntárias e responsáveis. O questionário teve como objetivo principal determinar o estágio maturacional marcado pela menarca, utilizando o método status quo, ou seja, a aluna respondia se já menstruou ou não; com resposta sim, a aluna relembrava quando (mês e ano) ocorreu a primeira menstruação, e assim identificava-se a idade da menarca por meio do método retrospectivo por ser menos invasivo.
Com base nas informações obtidas por meio do questionário, dividiu-se a amostra em três grupos, quais sejam: Mo, meninas que não menarquiaram; M, meninas que menarquiaram de zero meses a vinte e quatro meses; e Mi, meninas que menarquiaram há mais de 24 meses. Após a autorização assinada e o questionário preenchido, marcou-se a data, horário, local do teste, procedimentos e vestimenta adequada.
A utilização dos protocolos seguiu a constituição de um trabalho científico, com a utilização de instrumentos validados, ou amplamente utilizados, nas pesquisas referentes ao tema. Realizou-se os testes (avaliação física) para verificação da estatura corporal, peso corporal, índice de massa corporal (IMC) e da potência aeróbica em escolares da rede particular do município.
Para a estatura corporal utilizou-se um estadiômetro compacto tipo trena (de parede) da marca Wiso e para o peso corporal, uma balança antropométrica Welmy com capacidade de 200kg. Através dessas medidas foi calculado o índice de massa corporal (IMC).
Para a avaliação da potência aeróbia, utilizou-se o maximal multistage 20m shuttle-run test proposto por Duarte e Duarte 13, levando em conta que o VO2 aumenta proporcionalmente com a velocidade de corrida, aqui denominado teste aeróbio de corrida de vai-e-vem de 20 metros, adequado para modalidades coletivas em quadra, com o objetivo de verificar a potência aeróbia do indivíduo.
E esse teste pode ser aplicado em grupos de até dez pessoas, que, correndo juntas, percorrerão uma distância de 20 metros, delimitado por duas linhas paralelas, interruptamente, com o ritmo marcado por um bip previamente gravado em um pen drive.
Ao sinal do testador, o teste teve início com a avaliada correndo lentamente, sendo que, para cada bip, devia cruzar uma das linhas paralelas com um dos pés. O ritmo aumentava, gradativamente, obrigando a avaliada a correr cada vez mais rápido, até ao ponto em que não conseguisse mais acompanhar o ritmo ditado pelo bip. Cada período rítmico, denominou-se estágio, com duração de 1 minuto. Em cada estágio, realizou-se de sete a 15 idas e vindas de 20 metros. O ajuste de velocidade pela avaliada foi alcançado facilmente em duas ou três idas e vindas. No solo, uma fita marcou a distância de 2 metros, antes das linhas paralelas, onde se caracterizava a área de exclusão (limítrofe) do teste.
O último estágio atingido foi anotado por um dos avaliadores, já que ficou um em cada uma das extremidades da marcação para que não houvesse engano quanto à margem delimitada de 2 metros, utilizada como área de exclusão; e um deles, somente para a anotação dos estágios
Para obtenção do VO2 máximo relativo, utilizou-se a equação de predição do teste de corrida de vai-e-vem de 20 metros 13, que deve ser aplicada da seguinte maneira para pessoas de 6 a 18 anos:
y=31,02 5 + 3,238X - 3,248 A+0,1536 AX
Onde, y=VO2 em ml/kg/min; X=velocidade em km/h (no estágio atingido); A= idade em anos.
Os seguintes materiais foram utilizados para a realização do teste: uma quadra poliesportiva ou espaço físico plano com no mínimo 25 metros (5 metros de segurança); equipamento de som; pen drive com a gravação do protocolo do teste de Léger 14; fita adesiva e cones de plástico para a marcação do teste.
RESULTADOS
Os diferentes grupos maturacionais determinados pela menarca apresentaram estatura corporal de: M0, 146,3 ± 5, para M 152,6 ± 6,65, e para M1, 159,3 ± 5,92; peso corporal de: M0, 40,4 ± 8,23, para M, 47,5 ± 6,98, e para M1, 58,7 ± 6,19 e índice de massa corporal (IMC) de: M0 de 18,7 ± 2,87, para M de 20,3 ± 2,17, e para M1 de 23,1 ± 2,63.
A potência aeróbica tem sido destacada pela sua importância tanto para atletas como para pessoas que buscam uma qualidade de vida melhor. Na sua avaliação, utilizou-se o VO2 máximo relativo e absoluto, que é a medida normativa de potência aeróbica e seu resultado é o produto do débito cardíaco máximo pela diferença arteriovenosa de oxigênio - a mais alta taxa de captação, transporte, extração e consumo de oxigênio por minuto 15 (Tabela 1).
As médias aritméticas e desvios padrão no VO2 máximo relativo entre os estágios maturacionais foram para M0 41,4 ± 1,72, para M 46,5 ± 4,51, e para o grupo M1 43,9 ± 5,42 ml/(kg.min)_1 (Figura 1).
Para os valores de VO2 máximo absoluto, descritivamente os grupos apresentaram para M0 1,7 ± 0,32, para M 2,2 ± 0,26 e para o grupo M1 2,6 ± 0,43 L/min (Figura 2) (Tabela 2).
DISCUSSÕES
Relativamente, o VO2 máximo não apresentou diferença significativa entre os estágios maturacionais, com p=0,125. Observa-se pequenas alterações entre os estágios maturacionais, descritivamente, corroborando com os estudos de Duarte e Duarte, Tourinho e Tourinho 16, Santos Silva e Petroski 17, Fonseca Júnior 12, Politano e Fernandes Filho 4, Mota 18 e Guedes, Guedes, Barbosa, Oliveira 19. Essas ligeiras alterações provavelmentesão decorrentes da continuação exponencial do aumento do peso corporal e a falta de um treinamento, visto que as atividades físicas realizadas pelas meninas são apenas escolares.
Mota 18 utilizou o teste de corrida vai-e-vem em escolares para avaliar o VO2 máximo relativo, mostrando que meninas menos maturadas apresentam resultados superiores quando comparadas às mais maturadas, verificando, ainda, que o aumento do percentual de gordura, ocorrido durante a puberdade, influencia nesses resultados.
Desta forma, parece que o aumento da massa corporal está associado com o declínio do VO2 máximo relativo no período pós-menarca.
Guedes 19 verificou que o VO2 máximo relativo foi o único componente de aptidão física relacionado à saúde que está associado à prática regular de atividade física durante a adolescência. Desta forma, verifica-se que a redução dos níveis de atividade física no sexo feminino, associada ao avanço maturacional, impede as meninas de aproveitarem algumas vantagens biológicas decorrentes da puberdade. Sendo esta uma possível explicação para os resultados encontrados referentes ao VO2 máximo relativo.
Plazas et al.20 observou que a inatividade física ou poucos estímulos quando realizados em baixa intensidade na rede escolar acabam acarretando diminuição das capacidades físicas e aumento do percentual de gordura corporal. Dentre as capacidades físicas a potência aeróbica se destaca pela exaustão rápida apresentada pelas adolescentes quando submetidas a prática escolares e que a potência aeróbia e percentual de gordura corporal em adolescentes de 7 a 11 anos são inversamente proporcionais.
Fonseca Junior e Fernandes Filho 21 verificaram que a potência aeróbia absoluta aumenta e a relativa apresenta declínio durante a puberdade, corroborando com o presente estudo.
Já quando se avalia as médias encontradas no VO2 máximo absoluto, nota-se que há um aumento, apresentando diferença significativa de p=0,001. Dentre os estágios maturacionais determinados pela menarca, os grupos que apresentaram significância foram do M0 para M, com p=0,037 e de M0 para M1 com p=0,001, corroborando com os estudos de Duarte e Duarte 13, Tourinho e Tourinho 16, Santos Silva e Petroski 17, Fonseca Júnior 12, Politano e Fernandes Filho 4 Fonseca Junior e Fernandes Filho 21.
Segundo Malina e Bouchard 11, o aumento do VO2 máximo absoluto durante a puberdade ocorre em conjunto com o desenvolvimento físico. Tal aumento do VO2 máximo absoluto se justifica no fato de ter ocorrido um aumento no peso corporal devido ao estágio de maturação sexual.
Conclui-se que existe um aumento significativo do VO2 máximo absoluto juntamente com o avanço maturacional, devido ao aumento do peso corporal. Em relação ao VO2 máximo relativo, não identificamos diferenças significativas entre os estágios maturacionais determinados pela menarca. Verificamos que relativamente a potência aeróbica se assemelha entre os estágios maturacionais, devido à falta da prática de exercícios físicos para a melhora da aptidão física e de atividades coletivas com caráter recreativo, não apresentando, por esses motivos, melhora da capacidade física.
Sugere-se a realização de novos estudos em diferentes grupos com condições socioeconômicas e estilos de vida diferenciados para a verificação das variáveis associadas aos estágios maturacionais determinados pela menarca ♦