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Revista Latinoamericana de Bioética

Print version ISSN 1657-4702

rev.latinoam.bioet. vol.15 no.2 Bogotá July/Dec. 2015

 

EDITORIAL

PROXIMIDADE E INVESTIGAÇÃO SOCIAL

JUAN MARÍA CUEVAS SILVA


Que tão pertinentes são os discursos bioéticos que foram construídos para a compreensão da vida de hoje? Quando são feitas abordagens para as origens da bioética, é curioso ao descobrir que se faz referência ao Código de Nuremberg de 1947, ele caracteriza-se por centrar a sua preocupação em manipulação científica e médica quando se fez pesquisa com os seres humanos. Este código também enfatiza a natureza inteiramente antropocêntrica da pesquisa médica, discurso que durara várias décadas, esquecendo ou ignorando que o seu sentido deve ser focado em tudo o que tinha a ver com a vida. Assim, a bioética, ao contrário de outras disciplinas, vem em primeiro lugar como um discurso ético que questiona as práticas científicas que caem sobre o homem; ele se preocupa com «refletir racionalmente e com compaixão» as ações humanas que são promovidas pelos avanços técnico-científicos, especificamente nas áreas da medicina. Isto causou um sistema discursivo longe do social.

Miguel Kottow, convidado especial nesta edição, argumenta que "apenas um aspecto a ser esclarecido é a falta de incorporação do social na reflexão bioética, ampliando o fosso entre a teoria e a prática, bem como reduzir o impacto real da bioética sob as práticas sociais que estão acima de toda a sua preocupação: a medicina clínica, a investigação biomédica, a saúde pública". Mas não é apenas o social entendido dentro das regras do jogo ético-morais que surgem devido à prática médico-científica, mas que é uma compreensão do social como um sistema complexo de fenômenos caracterizados pelas formas e dinâmicas inter-relacionais, onde expõe-se uma "bioética proximal", em que o valor da dignidade nas relações entre os seres vivos com os demais seres da natureza é de responsabilidade própria do homem, ratificada essa visão pelo que planteia Germán Vargas e Teresa Arbelaez. Estes últimos argumentam que "Os seres humanos são os únicos capazes de dignidade e por isso que eles não podem-se avaliar econômica ou mercantilistamente. Longe de um discurso religioso, mais ético, corresponde a o homem estabelecer limites centrados em não prejudicar ao outro e para discernir e fazer uso de sua liberdade". Mais enfaticamente ao estabelecer que se deva saltar de um discurso bioético antropocentrista para um discurso bioético proximal, onde o próximo não é apenas ou outro ser humano, mas o outro ser, em todos os sentidos da dignidade. O discurso bioético deve ser questionado sobre as suas intenções ideológicas, deve ser transmitido a partir da essência não só do humano, mas também do vital, do natural e do ecológico, mas enquanto sempre tenha relevância para os problemas reais da sociedade. É o momento para que o discurso bioético aterrisse-se na realidade da vida das sociedades dos seres vivos, e mesmo daqueles que foram considerados inertes, mas sem ele, não seria possível o equilíbrio da vida em os outros seres. Nesse sentido, a pesquisa social encontra-se num paradoxo que, a partir das declarações de Florença Santi, colocam em uma situação de crise a investigação ética e biomédica, especialmente quando tais investigações são discutidas em "situações de vulnerabilidade dos seres" e que não pode-se limitar a vulnerabilidade que surge a partir da relação unicamente entre os seres humanos, mas é uma vulnerabilidade pelas condições de vida de todos os seres.

Os atuais processos econômicos, sociais e políticos assim como os sistemas que geram ciência, tecnologia e conhecimento são apresentados hoje como os únicos parâmetros para determinar a força ou a vulnerabilidade da vida, especialmente na sociedade humana, que como o apresenta Hernando Barrios em seu artigo, o homem é um consumidor e prosumer, especialmente em um mundo tecnológizado, contextos nos quais é possível resgatar aspectos que poder-se-iam afrontar si se fizesse força mais na "consciência reflexiva", e se dar-se-á "a importância de promover e criar oportunidades para ligações entre os produtores de conhecimento e do resto da sociedade, a fim de alcançar um diálogo produtivo na procura do bem comum", como o abordam Horacio Ferreyra e Laura Bono.

Nestes mesmos contextos, os avanços técnico-científicos e técnico-médicos são significativos e prolíficos, mas desde a investigação conduzida por Monica Rincon e Fabio Garzón devem ser questionados em relação aos seus limites e práticas, pois eles não são meramente um sistema para prolongar a vida, mas devem ser usados favorecendo a vida do paciente e de aqueles que ficam em torno do paciente. Mas este problema não pode ser focado exclusivamente sobre a vida humana, mas também vale a pena levá-la para outros cenários onde a vida se desenrola e onde os avanços técnico- científicos ameaçam o caráter interrelacional e interdependente de todos os seres vivos. Assim o apresentam Isabel Cornejo e Eduardo Rodriguez: "na controvérsia intervém crenças, assuntos de questionamento como o papel de Deus e da sacralidade da natureza; e também dão-se lutas de poder econômico ao ser gerados o ser proprietário de formas de vida mediante patentes".

O discurso bioético fez caso a ideologias e mentalidades paradigmáticas da sociedade contemporânea e atual, para que seus desenvolvimentos foram submersos dentro de uma lógica que visa conciliar os fenômenos culturais e sociais, econômicos e financeiros, com os direitos fundamentais dos seres para a vida, mas estes discursos devem ser aterrados e ligados com a realidade social, pois não todos os seres podem desfrutar dos avanços técnico-científicos, das comodidades que emergem das condições econômicas, do privilégio de solo e do ar puro, entre outras coisas, que ao mesmo tempo de permitir forjar um discurso, favorecem o surgimento de uma narrativa que, segundo Omar Parra, "oferece a possibilidade de fazer um discernimento bioético no qual se juntam as questões morais associadas à reflexão cognitiva e afetiva, à imparcialidade e ao contexto". Em outras palavras, uma narrativa discursiva que seja gerada e produzida dentro de uma realidade social concreta. Não basta com discursos lucubrativos e especulativos fora da realidade social, menos nas produções narrativo discursivas da bioética.

A bioética tem um valor intrínseco por quanto reflete sobre as situações que afetam as realidades específicas vividas pela subjetividade humana, que afrontam os seres que são considerados não racionais e que sofremos os sistemas estruturais da natureza e da ecologia. Mas essas narrativas discursivas tornam-se em elaborações incompreensíveis e ineficazes quando não se fez uso da empatia, entendida esta como o panteia Cécile Furstenberg - retomando as ideias de Lipps: - "A empatia é uma vivencia própria da vivencia do outro, onde integra-se a vivencia da lembrança e a esperada, num vivenciar presente". Uma empatia que considere não só a intersubjetiva humana, mas que incentive a experiência com "o outro" e com "o outro", de modo que supere esse ímpeto antropocêntrico e se faça uma transição para uma compreensão holística da vida. Mais do que um jogo intersubjetivo complexo e variante da vida, é um jogo interdependente em que os seres humanos somos privilegiados, mas não quer disser que nós sejamos mais do que os outros seres, não só é próximo ou outro ser humano, mais também e próximo "o outro", de cujo cuidado depende a continuidade da vida.

Assim, a proximidade, o discurso bioético e a pesquisa social são eixos transversais nesta edição. Uma proximidade ao "outro" e para "o outro", um discurso bioético contextual que responda à realidade social específica e uma pesquisa social para transformar as práticas relacionais intersubjetivas no meio da vulnerabilidade em que a dignidade da vida está envolvida.