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Pensamiento Psicológico

Print version ISSN 1657-8961

Pensam. psicol. vol.12 no.2 Cali July/Dec. 2014

 

Preditores do comprometimento com a carreira e sua relação com o desempenho acadêmico em universitários1

Predictores de compromiso profesional y su relación con el rendimiento académico en la universidad

Professional Commitment Predictors and their Relationship with Academic Performance at University

Ana Paula Porto Noronha2
Karen Cristina Alves Lamas3

Universidade São Francisco, São Paulo (Brasil)

1Esta pesquisa é parte do projeto de investigação intitulado como "Variáveis envolvidas no processo de aprendizagem de estudantes universitários".
2Doutora em Psicologia Ciência e Profissão.
3Karen Cristina Alves Lamas - Mestre em Psicologia pela Universidade Federal de Juiz de Fora e doutoranda do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Psicologia da Universidade São Francisco, bolsista da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo - FAPESP. Correspondência: karen_lammas@yahoo.com.br

Recibido: 07/08/2013 Aceptado: 19/08/2014


Para citar este artículo/ to cite this article / para citar este artigo

Porto-Noronha, A. P. e Alves-Lamas, K. C. (2014). Preditores do comprometimento com a carreira e sua relação com o desempenho acadêmico em universitários. Pensamiento Psicológico, 72(2), 65-78. doi: 10.11144/Javerianacali.PPSI12-2.pccr


Resumo

Escopo. Este estudo teve dois objetivos. O primeiro foi confirmar a adequação de um modelo de mensuração de comprometimento com a carreira para a população de estudantes universitários. O segundo foi analisar em que medida determinadas variáveis acadêmicas, vocacionais e sociodemográficas podem ser preditoras do comprometimento com carreira e o quanto este pode predizer o desempenho acadêmico. Metodologia. Participaram 280 estudantes de diferentes cursos de graduação com média de idade de 22.03 anos (DP = 1.53). Eles responderam à Escala de Comprometimento com a Carreira e a um questionário com questões sociodemográficas, vocacionais e acadêmicas, em sala de aula, coletivamente. Resultados. Os resultados mostraram que a estrutura unidimensional permanece na amostra de estudantes universitários. Ainda, verificou-se que estar no curso de preferência e ter a intenção de concluí-lo contribuem para a predição do comprometimento, sendo este preditor significativo da percepção positiva de desempenho acadêmico. Conclusão. Conclui-se que o comprometimento com a carreira é uma variável que pode e deve ser estudada no contexto universitário e está relacionada a questões vocacionais e de desempenho. Portanto, novas pesquisas são sugeridas.

Palavras chave: Estudantes, mobilidade ocupacional, orientação profissional, comprometimento, rendimento escolar.


Resumen

Objetivo. Este estudio tuvo dos objetivos: el primero fue confirmar la adecuación de un modelo de medición del comprometimiento con la carrera a la población estudiantil universitaria; el segundo fue determinar en qué medida ciertas variables académicas, vocacionales y sociodemográficas predicen el compromiso con la carrera y si puede predecir el rendimiento académico. Método. Participaron 280 alumnos de diferentes cursos de pregrado con una edad media de 22.03 años (DE = 1.53). Los instrumentos utilizados fueron la Escala de Comprometimiento con la Carrera y un cuestionario sociodemográfico, profesional y académico. Estos fueron aplicados en el aula, de forma colectiva. Resultados. Los resultados mostraron que la estructura de un factor permanece en la muestra de los estudiantes universitarios. Sin embargo, se encontró que la asistencia al curso preferido y la intención de completarlo contribuyen con la predicción de compromiso, que es un predictor de las percepciones positivas de rendimiento académico. Conclusión. Se concluye que el compromiso con la carrera es una variable que puede y debe ser estudiado en el contexto universitario y se relaciona con cuestiones vocacionales y de rendimiento. Por lo tanto, se sugieren más investigaciones.

Palabras clave: Estudiantes, movilidad laboral, orientación professional, compromisso, rendimiento escolar.


Abstract

Objective. This study had two objectives. The first was to confirm the suitability of a measurement model of career commitment in the college student population. The second was to analyze to what extent certain academic, vocational, and socio-demographic variables may be predictors of commitment with the career, and whether they can predict academic performance. Method. 280 students from different undergraduate courses with an average age of 22.03 years (SD = 1.53) took part. They answered the Scale Commitment to Career and socio-demographic, vocational and academic questionnaire, in classroom, on a collective basis. Results. The results showed that the uni-dimensional structure remains in the sample of students. Also, this was found to be in the course of preference, and the intention to complete it contributes to the prediction of commitment, which is a predictor of positive perception of academic performance. Conclusion. It is concluded that career commitment is a variable that can and should be studied in the university context, and is related to vocational and performance issues. Therefore, further research is suggested.

Keywords: Students, career mobility, vocational guidance, commitment, academic achievement.


Introdução

Os estudantes universitários caracterizam um grupo de profissionais em formação, nos quais são depositadas expectativas de sucesso e de retorno para a sociedade. Espera-se que esse aluno seja preparado para atuar com excelência no mercado de trabalho. Para corresponder a tais expectativas, um fator que pode ser diferencial é o comprometimento com a carreira, ou seja, um elevado nível de identificação e intenção de permanecer na profissão escolhida (Blau, 1985). Esse conceito tem sido visto como um indicador de sucesso para a entrada (Jin, Watkins e Yuen, 2009) e permanência (Bastos, 1997) no campo profissional.

As transformações que vêm ocorrendo no mundo do trabalho, como reestruturação produtiva, desenvolvimento de tecnologias, alta produção de bens e serviços, e o surgimento de novas ocupações causam impacto nas relações de trabalho (Lassance e Sparta, 2003) e nos modelos tradicionais de carreira, aqueles em que o funcionário se desenvolve e é promovido dentro de apenas uma empresa (Arthur, Khapova e Wilderom, 2005; Lassance e Sarriera, 2009). Essas alterações geram afrouxamento dos vínculos empregatícios, ou seja, a empresa não requer exclusividade do colaborador e, ao mesmo tempo, o desenvolvimento profissional dele não está atrelado a uma organização. Tal situação exige do trabalhador constante qualificação e desenvolvimento de habilidades, bem como maior autonomia e gerenciamento de sua carreira (Ballout, 2009; Lassance e Sarriera, 2009).

De acordo com Super (1980), uma carreira é a combinação e sequência de papéis desempenhados por uma pessoa durante o curso da vida, muitas vezes de forma simultânea. Mais especificamente, no âmbito profissional é a sequência ou combinação de posições ocupacionais que se desenvolve ao longo da vida. Segundo o autor, os indivíduos ao longo da carreira precisam tomar decisões para iniciar determinados planos de ação, dentre as quais, ingressar em um curso superior. Esse processo de tomada de decisão envolve busca de informações, seleção de possíveis alternativas, equilíbrio entre opções, valores e objetivos, até que ocorre a implantação do plano e comprometimento com a sua execução. Portanto, compreende-se que ao escolher um curso superior, os estudantes universitários estão colocando em prática a sua decisão profissional e, assim espera-se deles o comprometimento, ainda que experimental, com a profissão escolhida.

A maior parte dos concluintes do Ensino Médio vê o ingresso no Ensino Superior como o caminho para o sucesso profissional, principalmente aqueles que frequentam escolas particulares (Sparta e Gomes, 2005). Contudo, de acordo com Almeida e Soares (2003), após o ingresso na universidade os alunos passam por um período de adaptação que envolve diversos fatores, destacando-se dentre eles, os acadêmicos e vocacionais. Em relação às atividades acadêmicas, o estudante precisa se adaptar a novas responsabilidades e a diferentes formas de ensino e avaliação, de modo que os alunos dos primeiros anos de ensino podem ter desempenho acadêmico inferior, por não terem se adequado ao novo contexto. As questões vocacionais estão relacionadas à busca pela identidade profissional, à tomada de decisões e ao compromisso com as metas profissionais e acadêmicas estabelecidas. Nesse aspecto, deve ser considerado se o curso frequentado é a primeira opção do aluno que muitas vezes abre mão da carreira realmente desejada para conseguir ingressar com mais facilidade na universidade. De acordo com os autores, essa situação pode afetar o nível de investimento que o graduando deposita nos estudos.

Em uma dimensão anterior a carreira, Mercuri e Polydoro (2003) destacam que o compromisso com o curso de graduação é um componente importante para a conclusão dos estudos universitários. Esse conceito está diretamente relacionado com a escolha profissional, pois abrange a segurança relacionada à escolha do curso, ou seja, sua congruência com aptidões e interesses pessoais, bem como a segurança profissional que diz respeito às condições de trabalho asseguradas pela profissão.

Verifica-se dentre os estudiosos consultados (Almeida e Soares, 2003; Mercuri e Polydoro, 2003; Super, 1980), a valorização de um determinado nível de comprometimento com a profissão ou com os objetivos de carreira escolhidos para obter sucesso em determinadas etapas profissionais ou acadêmicas, como aquelas relacionadas à formação universitária. O construto comprometimento com a carreira foi definido e operacionalizado por Blau (1985), no final do século passado, como uma atitude em relação à profissão/vocação escolhida, que envolve identificação e intenção de permanecer na profissão. Geralmente aplicado a profissionais inseridos no mercado de trabalho, o construto pode ser entendido como um sentimento de conexão com o campo de estudo, quando relacionado a universitários (Bardagi e Hutz, 2010). Jin et al. (2009) alegam que os indivíduos que estão vivenciando a transição escola-trabalho e possuem altos níveis de comprometimento com a carreira tendem a ter claras preferências ocupacionais e, ao mesmo tempo, investem em preparação adequada para implementar seus objetivos.

Estudos realizados com profissionais já inseridos no mercado de trabalho foram desenvolvidos com a finalidade de identificar antecedentes e consequentes do comprometimento com a carreira, bem como seu papel mediador entre variáreis que contribuem para os resultados no trabalho. Em um estudo de meta-análise com 72 amostras, Lee, Carswell e Allen (2000) verificaram que o comprometimento com a carreira possui correlação negativa com abandono da profissão e correlação positiva com o desempenho. Por meio de estudos empíricos, Kidd e Green (2006) verificaram que o comprometimento é um forte preditor da intenção de abandonar ou permanecer na profissão. Duffy, Dik e Steger (2011), Duffy, Bott, Allan, Torrey e Dik (2012) e Duffy, Allan, Autin e Bott (2013) constataram, em amostras compostas por profissionais de diversas áreas, que o comprometimento intermediava a relação entre vocação e satisfação no trabalho. Entre professores universitários, as pesquisas indicam que o comprometimento com a carreira é um determinante do desempenho no trabalho (Rowe, Bastos e Pinho, 2011) e está positivamente relacionado com o bem-estar subjetivo (Andrade, Fernandes e Bastos, 2013).

Investigações realizadas no exterior com alunos de graduação e/ou pós-graduação exploraram as associações entre comprometimento com a carreira e variáveis pessoais, como autoeficácia e identidade vocacional (Chemers, Zurbriggen, Syed, Goza e Bearman, 2011; Chung, 2002; Orkibi, 2010), personalidade (Jin et al., 2009) e objetivos (Hull-Blanks, Kurpius, Befort, Sollenberger, Nicpon e Huser, 2005). Chung (2002) investigou, também, variáveis sociodemográficas, como sexo e etnia, verificando maior nível de comprometimento entre participantes do sexo feminino e negros. Salienta-se que, nas bases de dados consultadas (ERIC e PsyINFO), não foram encontrados estudos recentes que relacionaram o comprometimento ao desempenho ou a outras variáveis acadêmicas.

No Brasil, os pesquisadores têm utilizado amostras de estudantes de curso de graduação e, além de aspectos sociodemográficos, relacionaram o comprometimento com a carreira às seguintes variáveis: escolha profissional (Bastos, 1997), satisfação de vida e exploração vocacional (Bardagi e Hutz, 2010), desempenho acadêmico (Bardagi, 2007) e tipo de graduação (Bodan e Bardagi, 2008). Bastos (1997) verificou entre estudantes do curso de administração maior comprometimento com a carreira entre aqueles que realizaram sua decisão profissional com maior liberdade de escolha, considerando, principalmente fatores intrínsecos (p. ex.: vocação e capacidade) e, ainda, extrínsecos (p. ex.: status e remuneração). Menor nível de comprometimento foi obtido pelos alunos que tiveram baixas pontuações tanto em fatores extrínsecos quanto intrínsecos, ou seja, aqueles em que a tomada de decisão envolveu sentimento de menor liberdade, mais conflito e menor compatibilidade com interesses e habilidades. Ainda, ao comparar estudantes e profissionais, o autor verificou maior nível de comprometimento entre os primeiros.

Bardagi (2007), por sua vez, utilizou uma amostra composta por estudantes de diferentes áreas do conhecimento. Ela constatou que a variável comprometimento com a carreira apresentou correlações positivas com satisfação com a profissão, satisfação com o curso e exploração do ambiente, e correlações negativas com probabilidade de evasão. A autora destaca que os níveis de comprometimento foram mais elevados entre aqueles alunos que se autoavaliaram com melhor desempenho acadêmico.

Outro estudo, realizado por Bodan e Bardagi (2008), teve como objetivo comparar estudantes de curso regular e tecnológico quanto ao comprometimento com a carreira, mas não encontraram discrepâncias entre ambos. Entretanto, verificaram níveis mais elevados entre os estudantes do sexo masculino independente do tipo de graduação. Resultado contrário foi obtido por Bardagi e Hutz (2010), com universitários de áreas diferentes. Eles não constataram diferenças significativas no comprometimento em função do sexo, mas verificaram médias mais elevadas entre os estudantes dos períodos iniciais. Com relação à área de conhecimento, encontraram que os alunos de Letras e Artes apresentaram maior nível de comprometimento que os alunos de Humanas e Exatas, enquanto os acadêmicos da área de Biológicas obtiveram pontuações mais elevadas que os alunos de Humanas. Segundo os autores, algumas dessas diferenças, especialmente, a relacionada aos alunos de Letras e Artes podem estar associadas à composição dessa sub-amostra, que foi formada por alunos que já haviam frequentado outra graduação.

Ressalta-se que os estudos brasileiros apresentados utilizaram a medida construída por Blau (1985, 1989) para investigar o comprometimento com a carreira. Algumas ressalvas foram feitas a essa escala, por exemplo, em relação a sua validade de construto, por apresentar uma estrutura unifatorial (Carson e Bedeian, 1994). Blau (1985) construiu a medida fundamentando-se no modelo de motivação com a carreira de London (1983), que institui três dimensões, a saber, identidade, resiliência e planejamento. Segundo Carson e Bedeian (1994) o instrumento unidimensional de Blau não abrange suficientemente as dimensões propostas por London, e pode estar mais relacionado a intenções de afastamento da carreira. Assim, os autores desenvolveram e apresentaram evidências de validade para uma medida com três fatores de acordo com o modelo de London (1983). Em consonância a essas críticas tem-se, ainda, a possibilidade de que os itens propostos por Blau "indiquem uma relação rígida e fantasiosa com a profissão" (Bardagi e Hutz, 2010, p.167), fazendo com que a média entre estudantes dos primeiros períodos seja mais elevada. Não obstante as ressalvas quanto à representação do modelo de comprometimento utilizado por Blau (1985, 1989), salienta-se que vários estudos (Blau, 1988, 1989; Pilati e Borges-Andrade, 2012; dentre outros) apresentaram evidências de validade para o instrumento, inclusive o de Bardagi (2007) que confirmou a unidimensionalidade da escala e encontrou índices de precisão satisfatórios em amostra de estudantes de graduação brasileiros.

O comprometimento é uma variável importante para a conclusão dos objetivos profissionais (Almeida e Soares, 2004; Super, 1980). Autores consideram que o comprometimento com a carreira é fundamental para a compreensão do comportamento dos indivíduos no trabalho (Carson e Bedeian, 1994) e para o sucesso profissional (Bastos, 1997), entretanto são poucas as pesquisas que investigaram esta variável em estudantes universitários brasileiros, que é a proposta do presente estudo. Para tanto, foram estabelecidos dois objetivos. O primeiro foi confirmar a adequação do modelo de mensuração do comprometimento proposto por Blau (1985,1989) para essa população. O segundo foi analisar se as variáveis acadêmicas (período do curso e área de conhecimento), vocacionais (preferência pelo curso, intenção de concluir a graduação) e sociodemográficas (idade e sexo) podem ser preditoras do comprometimento com carreira e, se este é um preditor do desempenho acadêmico.

Baseando-se nas considerações teóricas sobre o comportamento dos estudantes universitários e nas evidências empíricas obtidas com a avaliação do comprometimento com a carreira em profissionais e estudantes, as expectativas traçadas foram as de que os níveis de comprometimento fossem mais elevados entre os alunos com percepção de melhor desempenho acadêmico (Bardagi, 2007; Rowe et al. 2011), que frequentam períodos iniciais (Almeida e Soares, 2003; Bardagi e Hutz, 2010), que estejam matriculados no curso de sua preferência (Bastos, 1997; Duffy et al., 2010; Jin et al. 2009) e possuam a intenção de concluir a graduação (Bardagi, 2007; Lee et al., 2000; Kidd e Green, 2006). Quanto ao sexo, verificam-se discordâncias entre alguns estudos (Chung, 2002; Bodan e Bardagi, 2008), mas espera-se que não ocorram diferenças significativas, tal como para a área de conhecimento e a idade.

Método

Participantes

Participaram deste estudo 285 estudantes de diferentes cursos de graduação de uma universidade pública do interior de Minas Gerais, Brasil. Entretanto, cinco protocolos foram excluídos devido ao preenchimento incompleto. Portanto a amostra final contou com 280 participantes. A média de idade dos respondentes foi 22.03 anos (DP = 1.53), sendo 52.9% (n = 148) deles do sexo feminino e 93.6% (n = 262) solteiros.

Ao analisar a distribuição por período no curso, verificou-se que 51.4% (n = 144) dos indivíduos estavam na primeira metade e 47.1% (n = 132) frequentavam a segunda metade do curso, sendo que quatro indivíduos não responderam a questão. Em relação ao turno, 53.9% (n = 151) frequentavam período integral, 40.7% (n = 114) noturno, 4.6% (n = 13) matutino e 0.7% (n = 2) vespertino. Quanto à distribuição dos alunos por área de conhecimento e graduação, verificou-se que 43.2% pertenciam a Ciências Humanas, sendo 75 (62.0%) graduandos de Psicologia e 46 (38.0%) de História, 23.6% frequentavam uma graduação das Ciências Biológicas, na qual 44 (66.6%) eram do curso de Farmácia e 22 (33.4%) de Enfermagem, e 33.2% cursavam uma graduação na área de Ciências Exatas, em que 59 (63.4%) frequentavam o curso de Engenharia Civil e 34 (36.6%) de Ciência da Computação.

Instrumentos

Escala de comprometimento com a carreira (Blau, 1985).

O instrumento investiga o nível de certeza do indivíduo sobre a sua escolha profissional e o quanto ele pretende permanecer nessa atividade em vez de abandoná-la. Trata-se de uma escala com sete itens, em formato tipo Likert de cinco pontos, variando de discordo plenamente (1) a concordo plenamente (5), na qual o participante indica o quanto as afirmativas refletem o modo como se sente em relação à carreira. O escore é apurado pela soma dos pontos assinalados, após a inversão de valores dos itens 2, 6 e 7. Blau (1985) apresentou evidências de validade para a escala, além do índice de confiabilidade satisfatório (Alpha de Cronbach de 0.87). No presente estudo, será utilizada a versão brasileira do instrumento adaptada para estudantes universitários por Bardagi (2007), uma vez que o primeiro estudo de validação, realizado por Bastos (1994), utilizou uma amostra de profissionais. Para ilustrar tal versão do instrumento mencionam-se dois itens: '1. Eu desejo, claramente, fazer minha carreira na profissão que escolhi' e '2. Se eu pudesse fazer tudo novamente, eu não escolheria trabalhar nesta profissão'. Bardagi (2007) verificou em sua pesquisa que a escala obteve índice de consistência interna de 0.89 (Alfa de Cronbach), e ao realizar a análise fatorial exploratória confirmou sua unidimensionalidade. No presente estudo, o valor do Alfa de Cronbach foi de 0.84.

Questionário sociodemográfico e acadêmico.

O questionário foi elaborado exclusivamente para a pesquisa e contém cinco questões fechadas e dez de múltipla escolha. Neste estudo foram utilizadas as questões sociodemográficas (idade e sexo), acadêmicas (semestre do curso, área de conhecimento, índice de rendimento acadêmico, classificação e satisfação com o desempenho acadêmico) e vocacionais (preferência pelo curso e intenção de concluir a graduação).

Procedimento

Ressalta-se que este estudo atende aos dispositivos da Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, que apresenta diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos no contexto brasileiro, e seu projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas - Unicamp (CAAE: 0061.0.146.000-10). Para a coleta de dados, foram selecionados por conveniência, de acordo com a autorização dos coordenadores, cursos das três grandes áreas de conhecimento (Ciências Exatas, Ciências Biológicas e Ciências Humanas). Todos os estudantes presentes na sala de aula no momento da coleta participaram. A aplicação foi realizada de forma coletiva, após a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, nenhum aluno se recusou a participar. Estudantes do último semestre de graduação e de pós-graduação em Psicologia ministraram a aplicação dos instrumentos que durou aproximadamente 10 minutos.

Análise dos dados

Para a tabulação dos dados, as variáveis nominais foram inseridas na planilha em formato zero e um. Assim, para as respostas positivas ou presença em relação às variáveis preferência pelo curso, intenção de concluir o curso, sexo masculino e área de conhecimento (Ciências Exatas e Ciências Biológicas) foram utilizados o número 1, enquanto para a negação ou ausência adotou-se zero. A análise dos dados foi realizada nos programas estatísticos SPSS e AMOS, versões 19.

Foram empregadas estatísticas descritivas (média, desvio-padrão) para a apresentação dos resultados da escala, e também estatísticas inferenciais. Nesse caso, utilizou-se análise de correlação de Pearson para explorar as variáveis investigadas e Modelagem de Equações Estruturais para confirmar a adequação do modelo de mensuração de comprometimento com a carreira para estudantes universitários, por meio da análise fatorial confirmatória, bem como para analisar a relação do comprometimento e as variáveis acadêmicas, vocacionais e sociodemográficas.

A partir da análise de distribuição dos dados verificou-se que os missings foram completamente aleatórios e com número inferior a 10%, assim, para o tratamento foi empregada a substituição pela média (Hair, Anderson, Tatham e Black, 2009). Ao analisar a normalidade univariada dos dados, o teste de Kolmogorov-Smirnov foi significativo (p < 0.05) e, para a normalidade multivariada, o coeficiente de Mardia foi superior a cinco. Uma vez que os dados tenderam a uma distribuição uni e multivariada não normal, ao estimar o modelo pelo procedimento de Maximum Likelihood (ML) aplicou-se o processo de bootstrapping para a verificação dos erros padronizados e dos intervalos de confiança, como sugerido por West, Finche e Curran (1995) e Byrne (2010). A partir de 500 amostras bootstraps, constatou-se que os erros padronizados obtidos pouco se diferenciaram daqueles gerados pela amostra original e as estimativas permaneceram significativas após o ajuste dos intervalos de confiança, sugerindo que, neste caso, a ausência de normalidade não interfere nos resultados. Em seguida, para avaliação da qualidade de ajuste do modelo aos dados empíricos foram utilizadas medidas amplamente recomendadas pela literatura (Byrne, 2010; Hair et al., 2009), que são descritas nos parágrafos seguintes.

O qui-quadrado (x2) avalia a probabilidade do modelo teórico se ajustar aos dados, quanto maior esse valor, pior o ajuste. Entretanto, devido ao fato de esta medida ser muito sensível ao tamanho da amostra, foi considerada a razão do qui-quadrado em função dos graus de liberdade (X2/gl). Nesse caso, recomendam-se valores entre 2 e 3 como indicadores de um ajustamento adequado, aceitando-se até 5.

O Goodness-of-Fit Index (GFI) e o Adjusted Goodness-of-Fit Index (AGFI) indicam a proporção de variância-covariância nos dados explicada pelo modelo. Ambos podem variar de 0 a 1, com valores na casa de 0.90 (ou superior) demonstrando ajustamento satisfatório. Enquanto, o Comparative Fit Index (CFI) compara a matriz de covariância especificada pelo modelo com aquela realmente observada. São admitidos como expressando um ajuste adequado valores de CFI iguais ou superiores a 0.90.

Por fim, a Root-Mean-Square Error of Approximation (Rmsea), com seu intervalo de confiança de 90% (IC90%), e o Standardized Root Mean Square Residual (SRMS) indicam o tamanho dos resíduos. Considera-se ideal que a Rmsea se localize entre 0.05 e 0.08, admitindo-se valores de até 0.10. Para o SRMS o ideal é que seja inferior a 0.08.

O comprometimento com a carreira e o desempenho acadêmico se referem a construtos e foram inseridos no modelo como variáveis latentes. As variáveis nominais preferência pelo curso, intenção de concluir o curso, área de conhecimento e sexo e a variável escalar idade foram tratadas como condições ou critérios, portanto, inseridas no modelo como variáveis observadas.

Resultados

Foi possível verificar por meio da análise das estatísticas descritivas do instrumento que os valores mínimo (1) e máximo (5) para os sete itens e para o escore total (35) da escala foram atingidos. A média dos itens variou de 3.80 a 4.54. O escore total apresentou média de 29.32 (DP = 5.60). Ao analisar a adequação da estrutura fatorial do modelo de comprometimento com a carreira para a amostra de estudantes universitários, verificaram-se índices de ajuste razoáveis: X2 (14) = 50.04, p < 0.001, X2/gl = 3.57, GFI = 0.95, AGFI = 0.90, CFI = 0.95, RMSEA = 0.096 (IC90% = 0.068 - 0.126), SRMS = 0.04. Salienta-se que alguns indicadores não foram satisfatórios. O valor p do qui-quadrado foi significativo, sugerindo que existem diferenças entre a matriz estimada e a real, e o X2/gl ultrapassou o limite esperado. Além, o Rmsea ficou próximo de 0.1.

Ao consultar os IMs (Índices de Modificação) constatou-se que covariar os erros de medida dos itens três ("Mesmo que eu tivesse todo o dinheiro que necessito sem trabalhar, provavelmente continuaria em minha profissão") e quatro ("Eu gosto demais da minha profissão para largá-la") melhoraria o ajuste do modelo. Assim, realizando a análise após a covariação dos erros, os indicadores de qualidade de ajuste do modelo tornaram-se mais adequados. O qui-quadrado foi reduzido para 22.21, com nível de significância limítrofe (p = 0.05), e o X2/gl foi igual a 1.71. O valor do RMSEA foi para 0.05 (IC90% = 0.00 - 0.09), alcançando o valor recomendado, comprovando o ajuste do modelo. Os demais índices de adequação mantiveram-se dentro do recomendado (GFI = 0.98, AGFI = 0.95, CFI = 0.99, SRMS= 0.03). Assim, foi possível considerar que o modelo de comprometimento com a carreira é adequado para a amostra de estudantes de graduação, confirmando sua estrutura unifatorial.

Acrescenta-se que a magnitude dos índices de correlação entre os itens variaram de 0.19 a 0.61, sendo que as de intensidade mais fracas ocorreram com o item 7 (tabela 1). Este item foi, também, o que apresentou peso mais baixo (tabela 2). Pode ser que sua redação seja um empecilho ("Se eu pudesse escolher uma profissão diferente da minha, que pagasse o mesmo, eu provavelmente a escolheria"), pois a frase é muito longa. Contudo, o item tem uma carga de 0.42, o suficiente para considerar sua contribuição.

A fim de verificar as relações existentes entre o comprometimento com a carreira e as variáveis acadêmicas, vocacionais e sociodemográficas utilizou-se a Modelagem de Equações Estruturais. Entretanto, antes da descrição dos resultados dessa análise, são discutidas as correlações entre comprometimento com a carreira e as variáveis investigadas, apresentadas no Anexo 1.

Verificaram-se algumas associações significativas. O comprometimento com a carreira apresentou correlação positiva e moderada com a preferência pelo curso frequentado. Ainda, foram encontradas correlações positivas e fracas com a intenção de concluir o curso de graduação, com a classificação e com o nível de satisfação com o desempenho acadêmico.

Para verificar as possíveis relações, bem como o efeito delas sobre o comprometimento com a carreira, as variáveis foram, inicialmente, testadas por um modelo. Destaca-se que o desempenho acadêmico foi inserido no modelo teórico analisado como uma variável latente a ser predita pelo comprometimento com a carreira. Para isso, criou-se um modelo a partir das questões que avaliaram satisfação com o desempenho, classificação ou nota atribuída ao desempenho acadêmico e índice de rendimento acadêmico. Como esse modelo de três variáveis observadas é identificado, não são gerados os índices de ajustes.

Embora a intenção não tenha sido verificar o ajuste deste modelo inicial, no qual se alocaram todas as variáveis investigadas, salienta-se que, exceto o qui-quadrado significativo (X2= 220,867, gl= 96, p =0.01) e o AGFI igual a 0.87, os demais índices de ajuste foram satisfatórios (X2/gl = 2,30, GFI = 0.92, CFI = 0.93, Rmsea = 0.07 - IC90% = 0.06 - 0.08, SRMR = 0.06). As estimativas referentes às regressões, principal objetivo dessa análise, podem ser visualizadas na tabela 2.

As variáveis que tiveram o coeficiente de regressão significativo em direção ao comprometimento com a carreira foram preferência pela graduação, intenção de concluir o curso e área de conhecimento-Exatas. Ressalta-se que a relação preditiva do comprometimento para com o desempenho acadêmico foi significativa no modelo analisado, sendo que o coeficiente padronizado foi de 0.28. A variância explicada para comprometimento com a carreira e desempenho acadêmico foi de 0.43 e 0.08, respectivamente.

Posteriormente, foi testada uma segunda versão do modelo, excluindo as variáveis que não foram preditoras significativas do comprometimento com a carreira. O modelo final pode ser visto na figura 1.

Não obstante a significância estatística do qui-quadrado (X2 = 142.768, gl = 60, p = 0.001), os demais índices indicaram bom ajuste do modelo (X2/gl = 2.38, GFI = 0.93, AGFI = 0.90, CFI = 0.95, Rmsea=0.07 - IC90% = 0.06 - 0.09, SRMR = 0.06). Diferente da análise anterior, nesta, a variável área de conhecimento não foi um preditor significativo do comprometimento com a carreira, apenas a preferência pelo curso e a intenção de concluir a graduação permaneceram como preditores. A variância explicada para o comprometimento com a carreira e para o desempenho acadêmico foi de 0.42 e 0.08, respectivamente.

Discussão

Este estudo foi realizado com a intenção de atingir dois objetivos. O primeiro foi confirmar a adequação de um modelo de mensuração de comprometimento com a carreira para uma amostra de estudantes universitários. O segundo foi analisar quais variáveis acadêmicas, vocacionais e sociodemográficas podem ser preditoras do comprometimento com a carreira, bem como o quanto o comprometimento é capaz de predizer o desempenho acadêmico do aluno de graduação.

Os resultados da análise fatorial confirmatória mostram que a estrutura unidimensional da medida de comprometimento com a carreira de Blau (1985) se mantém quando aplicada na população de estudantes universitários, pois os índices de ajuste foram adequados. É possível supor que, devido ao conteúdo da escala ser direcionado principalmente a questões de identificação e apego a profissão, este instrumento seja adequado para avaliar estudantes, uma vez que quanto mais envolvidos com a profissão escolhida, maior chance de sucesso na conclusão da graduação. Tal envolvimento pode não estar tão presente para o profissional que já atua no mercado, o qual tem que se adequar às diferentes variantes da profissão ou até mesmo migrar de área para atingir determinados níveis de segurança e sucesso financeiro.

Nesse sentido, a modelagem por equações estruturais confirmou a hipótese de que condições como frequentar um curso de sua preferência e ter a intenção de concluí-lo podem predizer o comprometimento com carreira, sendo que este teve 42% de sua variância explicada pelas variáveis observadas. Esse resultado corrobora o estudo de Bardagi (2007) que também encontrou relações positivas com a intenção de concluir a graduação, e relaciona-se aos achados de Kidd e Green (2006) que mostram a associação negativa entre as dimensões do comprometimento com a carreira e a intenção de deixar a profissão de cientista. Em certa medida, o achado encontrado foi convergente com outros estudos que investigaram a associação entre comprometimento e variáveis vocacionais, por exemplo, o trabalho de Chemers et al. (2011) que verificou relação positiva entre comprometimento e identidade profissional em amostra composta por estudantes de graduação e pós-graduação em ciências e a pesquisa de Orkibi (2010) realizada com estudantes de mestrado em arte-terapia. Menciona-se, também, o estudo de Bastos (1997) que verificou as associações entre comprometimento e características do processo de escolha profissional em estudantes e profissionais de administração e outras publicações (Duffy et al., 2011; Duffy et al., 2012; Duffy et al., 2013) que mostraram que o comprometimento é predito pela percepção de sentido de chamando/vocação em profissionais de diversas áreas.

Ressalta-se que as demais variáveis analisadas não apresentaram relações significativas com o comprometimento com carreira. Para a idade não havia uma expectativa especificada, e não foi encontrada relação significativa. As hipóteses referentes ao sexo e área de conhecimento foram confirmadas, corroborando o estudo de Bardagi e Hutz (2010) que verificou equivalência entre os sexos e atribuiu a diferença entre as áreas de conhecimento à composição da amostra. Porém, o resultado diverge daqueles apresentados por Bodan e Bardagi (2008) e Chung (2002) que encontraram diferenças a favor do sexo masculino e do sexo feminino, respectivamente, embora esses autores também tenham mencionado que características da amostra podem ter influenciado seus resultados.

A expectativa de que os estudantes da primeira metade do curso tivessem maior comprometimento foi rejeitada, divergindo dos resultados de Bardagi e Hutz (2010) e parcialmente de Bastos (1997), que encontrou maior nível de comprometimento entre estudantes quando comparados a profissionais. Neste estudo o momento do curso não foi capaz de predizer o nível de comprometimento dos alunos. Concomitantemente, questiona-se a afirmação de Bardagi e Hutz (2010) sobre forma fantasiosa de avaliação do construto pela escala, ademais os itens parecem adequados.

Compreender o comprometimento com a carreira como identificação e intenção de permanecer na profissão, ainda no contexto universitário, pode ser importante quando se tem a pretensão de estimar o quanto o aluno está disposto a investir em sua formação profissional (Almeida e Soares, 2003; Jin et al., 2009). Em que pese às criticas quanto às dimensões conceituais de comprometimento avaliadas pela medida de Blau (Carson e Bedeian, 1994), os índices de ajuste do modelo e as estimativas de regressão confirmaram a hipótese de que o comprometimento com a carreira está associado à percepção positiva do desempenho acadêmico, embora a variância explicada desta variável tenha sido baixa. Esses resultados corroboram aqueles encontrados por Bardagi (2007) em amostra de universitários. Outros achados nessa direção foram encontrados por Lee et al. (2000) que verificaram a associação entre comprometimento com a carreira e desempenho no trabalho por meio de um estudo de meta-análise com amostras compostas por profissionais. Resultados similares foram obtidos, também, por Rowe et al. (2011) que constataram a relação com o desempenho no trabalho em professores universitários.

Esse resultado é importante, uma vez que fornece elementos de reflexão para os serviços de orientação ao universitário, para o estudante e para a sociedade. Se o nível de comprometimento do universitário com a profissão escolhida indica seu desempenho acadêmico, pode ser que níveis inferiores de comprometimento gerem prejuízos a sua formação. Enquanto futuro profissional, essas variáveis podem apontar o quanto o estudante estará preparado para atender aos seus respectivos clientes, bem como para conseguir ingressar, gerenciar e se manter na profissão em que graduou.

Diante do exposto, verifica-se que objetivos deste estudo foram alcançados. Confirmou-se a adequação do modelo de mensuração proposto por Blau (1985) para a amostra de universitários. Discriminaram-se dentre as condições investigadas aquelas que podem predizer o comprometimento com a carreira, quais sejam, preferência e intenção de concluir o curso de graduação. Além, verificou-se que o comprometimento contribui para a predição do desempenho acadêmico.

Entretanto, algumas limitações deste estudo devem ser consideradas. A primeira se refere à constituição da amostra que foi de apenas uma universidade do interior de Minas de Gerais, Brasil. A segunda diz respeito à forma de avalição utilizada para investigar as variáveis que foram associadas à escala de comprometimento com a carreira. Embora as medidas tenham se mostrado adequadas, adotaram-se questões fechadas ou intervalares, sem explorar ou comprovar as respostas.

Futuras pesquisas devem se apropriar de amostras mais amplas e utilizar instrumentos que avaliem tais construtos com maior precisão. Ainda, novas investigações podem analisar se teorias mais atuais, como a Teoria da Autodeterminação (Deci e Ryan, 2000), poderiam contribuir para a explicação do comprometimento entre alunos universitários. Associações já foram feitas entre orientação motivacional e sucesso acadêmico (Guiffrida, Lynch, Wall e Abel, 2013). Estudos da aplicação dessa abordagem teórica ao contexto do trabalho, inclusive para investigar o comprometimento organizacional, foram apresentados anteriormente por alguns autores (Fernet, Austin e Vallerand, 2012; Gagné e Deci, 2005), o mesmo pode ser feito para a carreira. Tal esforço investigativo deve ser empreendido em novas pesquisas, uma vez que o foco deste trabalho foi o arcabouço teórico específico e diretamente voltado ao construto.

Continuar estudando as relações do comprometimento com a carreira com o desempenho acadêmico e variáveis vocacionais é relevante para a compreensão do desenvolvimento profissional do estudante universitário, outros construtos que podem estar associados são a maturidade vocacional e a empregabilidade. Pesquisas com esse tema podem gerar estratégias de prevenção e intervenção que favoreçam a adaptação e progresso dos estudantes no contexto acadêmico, bem como a promoção de habilidades para a gestão da carreira.


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