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Avances en Psicología Latinoamericana

Print version ISSN 1794-4724On-line version ISSN 2145-4515

Av. Psicol. Latinoam. vol.27 no.1 Bogotá Jan./Apr. 2009

 

Estrutura factorial do Zimbardo Time Perspective Inventory – ZTPI numa amostra de estudantes universitários portugueses

Factorial structure of Zimbardo Time Perspective Inventory – ZTPI in a sample of Portuguese university students

Víctor Ortuño e Víctor Gamboa*

* Universidade do Algarve, Portugal. Correspondencia: Vítor Gamboa. Departamento de Psicologia, Faculdade de Ciências Humanas e Sociais, Universidade do Algarve, Portugal. Correio electrónico: vgamboa@ualg.pt.

Fecha de recepción: 18 de abril de 2008
Fecha de aceptación: 10 de noviembre de 2008


Abstract

The Zimbardo Time Perspective Inventory – ZTPI (Zimbardo & Boyd, 1999) is composed by a five factors scale (past positive, past negative, present hedonist, present fatalist and future) that evaluates time perspective in a multidimensional manner which, in this way, surpasses one of the limitations of past instruments. The aim of this study is to analyze the factorial structure of the ZTPI's Portuguese version using a sample of 277 Portuguese college students, with ages between 18 and 53 years old (M = 22, SD = 5.43). Five factors were encountered, that explain 35.25% of total variance. These results are much alike the one obtained by Zimbardo and Boyd (1999), in the original instrument publication.

Key words: Time Perspective, Factorial Structure, Zimbardo Time Perspective Inventory, Portugal.

Resumen

El Zimbardo Time Perspective Inventory – ZTPI (Zimbardo & Boyd, 1999) es una escala compuesta por cinco factores (pasado positivo, pasado negativo, presente hedonista, presente fatalista y futuro) que evalúa la perspectiva temporal de forma multidimensional superando, de esta forma, una de las limitaciones señaladas en otros instrumentos creados en el pasado. El objetivo de este estudio es analizar la estructura factorial de una versión portuguesa del ZTPI en una muestra de 277 estudiantes universitarios portugueses con edades comprendidas entre los 18 y los 53 años (M = 22, DE = 5.43). Fueron encontrados 5 factores que explican 35.25% de la varianza total. Estos resultados son muy parecidos a los expuestos por Zimbardo y Boyd (1999) en la publicación original del instrumento.

Palabras clave: perspectiva temporal, estructura factorial, Inventario de Perspectiva Temporal de Zimbardo, Portugal.


Introdução

Primeiramente pela obra da filosofia, e mais actualmente pelos resultados de estudos de áreas tão diversas como o são a Psicologia ou a Física, que se reconhece que o tempo, nas suas distintas facetas, abarca um sem fim de aspectos do universo e consequentemente da própria existência humana. No campo da Filosofia, Kant (1781/1997) reconhece no tempo um grande valor enquanto dimensão estruturante das diversas experiências dum indivíduo. Já na Psicologia, o interesse pelo estudo do tempo é quase tão antigo quanto ela própria, faz prova disso o trabalho de William James (1890/1950) que na sua obra The Principles of Psychology coloca em análise o tempo e a sua percepção. Em Portugal, Santos (1972) apresenta diversas considerações acerca da génese do tempo psicológico, dos diferentes paradigmas que o teorizam e da evolução a que se assistiu no âmbito do seu estudo.

No estudo do tempo em psicologia, Lewin (1965) expõe uma noção organizada do tempo psicológico. Para este autor, a perspectiva de tempo ou perspectiva temporal exerce a sua influência no comportamento humano através do campo presente, o qual inclui uma dimensão temporal na qual coexistem o passado psicológico, o presente psicológico e o futuro psicológico, cada um deles como um constituinte do espaço de vida do sujeito, num dado momento. Nesta mesma linha de pensamento, Zimbardo & Boyd (1999) afirmam que o tempo exerce uma importante influência na existência humana, pelo que concebem a perspectiva temporal como sendo um processo não consciente, em que as diferentes experiências pessoais e sociais são categorizadas em marcos temporais, ajudando desta forma a dar ordem, sentido e coerência a essas mesmas experiências. Mais ainda, a perspectiva temporal diz também respeito aos afectos – tanto positivos como negativos – associados a cada um destes marcos temporais (Apostolidis, Fieulaine, Simonin & Rolland, 2006). Por conseguinte, a perspectiva temporal tem influência em processos tão variados como a atenção, a percepção, a tomada de decisão e, ainda, num variado leque de comportamentos do quotidiano das pessoas (Boniwell & Zimbardo, 2004).

A perspectiva temporal, ao ser um constructo psicológico relacionado com o tempo, subdividese, tal como o tempo objectivo, por três momentos ou marcos: o passado, o presente e o futuro, cada um deles com distintas influências no pensamento e comportamento humano.

No caso do Passado, a principal influência resulta de memórias de acontecimentos ou situações semelhantes. Assim, as memórias relativas aos custos e benefícios de acções anteriores desempenham um papel fundamental na vida das pessoas (Zimbardo & Boyd, 1999). Neste sentido, as pessoas que se orientam mais para o passado apresentam uma tendência para apreciar o honor, as tradições, revelando, em contrapartida, alguma dificuldade em lidar com as experiências pouco familiares ou com as mudanças que enfrentam (Zimbardo, Keough & Boyd, 1997).

Por sua vez, o Presente exerce a sua influência através de variáveis situacionais, sensoriais, biológicas e sociais que se encontram presentes no contexto actual das pessoas, desta forma, a intensidade e qualidade dos estímulos ostentam um papel preponderante nas actividades das pessoas (Zimbardo & Boyd, 1999). Indivíduos fortemente centrados neste marco temporal apresentam mais frequentemente comportamentos de risco na condução de veículos (Zimbardo, Keough & Boyd, 1997), uma maior frequência e quantidade no consumo de bebidas alcoólicas (Keough, Zimbardo & Boyd, 1999) e menores percepções de risco associadas ao consumo de cannabis (Apostolidis et al ., 2006).

Por último, o Futuro que determina os pensamentos e os comportamentos das pessoas através da antecipação e das expectativas sobre possíveis benefícios do comportamento actual (Zimbardo & Boyd, 1999). As pessoas orientadas neste marco temporal apresentam comportamentos relacionados com a preservação natural (Milfont & Gouveia, 2006) e uma maior capacidade para prever possíveis cenários (Zimbardo, 2002), assim como para desenvolver estratégias para atingir objectivos a longo prazo, o que pode trazer, como consequência, uma certa negligência do âmbito pessoal e social (Keough, Zimbardo & Boyd, 1999).

No campo da medição da perspectiva temporal têm sido realizados diversos esforços para a construção de instrumentos de medida válidos, no entanto, Zimbardo & Boyd (1999) defendem que estes esforços têm sido dispersos e não cumulativos, facto que dificulta a comparação de resultados entre os diversos estudos levados a cabo. Desta forma, encontramos por um lado, instrumentos como o Thematic Apperception Test (Wohlford, 1966) que se trata de um teste que pretende medir a perspectiva temporal em toda a sua amplitude mas que não chega a conseguir uma boa fiabilidade, nem facilidade na sua administração e cotação. Por outro lado, existem instrumentos como o Future Anxiety Scale (Zaleski, 1996), o Consideration of Future Consequences Scale (Strathman et al., 1994) que ainda que de maior facilidade na sua aplicação, cotação e com maiores índices de fiabilidade; abordam a perspectiva temporal duma forma parcial, uma vez que contemplam apenas uma das dimensões temporais.

O Zimbardo Time Perspective Inventory – ZTPI

Com a finalidade de ultrapassar às limitações apresentadas pelos anteriores instrumentos, Zimbardo & Boyd (1999) desenvolveram o Zimbardo Time Perspective Inventory – ZTPI. Este instrumento avalia os diferentes marcos temporais (passado, presente e futuro) com uma comprovada fiabilidade e ainda tendo em conta a valência afectiva associada aos marcos temporais passado e presente.

Outra das mais-valias deste instrumento, reside no facto de terem sido já desenvolvidos diversos estudos com o intuito de o traduzir e adaptar a outros idiomas e culturas, tais como: o Italiano (D´Alessio, Guarino, De Pascalis e Zimbardo, 2003), o Francês (Apostolidis & Fieulaine, 2004), o Castelhano (Diaz-Morales, 2006), o Russo (Sircova & Mitina, 2007) e o Português – Brasil (Milfont, Andrade, Belo & Pessoa, em publicação). Importa ainda destacar, que estão em fase de desenvolvimento, estudos de cariz similar na Turquia, Lituânia, Grécia, República Checa, Servia e Japão, por mencionar alguns.

Tanto a relevância da perspectiva temporal na sua relação com diversos comportamentos e cognições, como a pertinência do ZTPI na medição deste constructo, são evidenciadas através dos diversos estudos que têm vindo a ser realizados. Fazendo menção a alguns destes casos, encontra-se o estudo desenvolvido por Ferrari e Diaz-Morales (2007) no qual demostram que uma orientação temporal no presente fatalista está correlacionada positivamente com o tipo de procrastinação evitante, ainda a procrastinação de tipo estimulante está relacionada com uma baixa orientação temporal de futuro. Já Apostolidis et al. (2006), verificam como o consumo de cannabis se encontra correlacionado positivamente com uma orientação temporal de presente hedonista e negativamente com uma orientação temporal de futuro. Ainda no estudo dos consumos de substâncias, Keough, Zimbardo e Boyd (1999) defendem que a perspectiva temporal de presente se encontra correlacionada de forma positiva com um elevado consumo de álcool, tabaco e outras drogas. Noutro estudo, Zimbardo, Keough & Boyd (1997) demostraram que foram os sujeitos mais orientados temporalmente no presente, aqueles que apresentaram maior quantidade de comportamentos de risco na condução de veículos.

Amostra

É composta por 277 participantes com idades compreendidas entre os 18 e os 53 anos de idade (M = 22, DP = 5.43), destes 62.8% (174) são do género feminino. Os critérios de selecção da amostra obedecem os propostos por Almeida & Freire (2003) para uma amostra aleatória simples.

Procedimentos

Os dados foram recolhidos nas turmas de diversos cursos da Universidade do Algarve, durante os meses de Maio, Junho e Julho de 2007. Previamente à aplicação dos instrumentos, foram contactados para que se explicitasse os objectivos da investigação. A aplicação colectiva dos instrumentos foi sempre levada a cabo na primeira parte das aulas. Os participantes foram informados dos objectivos do estudo e da confidencialidade das suas respostas. Apesar do carácter voluntário da participação, nenhum dos alunos contactados se recusou a colaborar. Nenhum dos participantes foi remunerado financeiramente.

Instrumentos

O Zimbardo Time Perspective Inventory – ZTPI (Zimbardo & Boyd, 1999) é uma escala multidimensional, que consta de 56 itens de tipo Likert de 5 pontos (1= Nunca é verdadeiro, 3 = Neutro, 5 = Sempre é verdadeiro). Apresenta afirmações que contêm crenças, preferências e valores relacionados com a temporalidade de diferentes experiências pessoais e sociais. É composto por 5 factores: Passado Negativo, que apresenta uma visão aversiva e negativa do passado, relacionado com fortes sentimentos de depressão, ansiedade e raiva (12.3% da variância; M = 2.98; DP = 0.72; n = 10; α = 0.82), Presente Hedonista, que indica uma forte tendência para os prazeres do momento através de experiências excitantes e de alto risco (8.9% da variância; M = 3.44; DP = 0.51, n = 15; α = 0.79), Futuro, que aponta para um comportamento maioritariamente orientado pela prossecução de objectivos futuros e recompensas (6.3% da variância; M = 3.47; DP = 0.54; n = 13; α = 0.77), Passado Positivo, que reflecte uma atitude agradável e sentimental acerca do passado (4.5% da variância; M = 3.71; DP = 0.64; n = 9; α = 0.80), e Presente Fatalista, revela uma atitude fatalista, desamparada e sem esperanças sobre a vida, encontra-se relacionado também com sentimentos de depressão, ansiedade e raiva (3.9% da variância; M = 2.37; DP = 0.60; n = 9; α = 0.74). A escala na sua totalidade explica 36% da variância total dos resultados (Zimbardo & Boyd, 1999).

Tradução e Adaptação do Zimbardo Time Perspective Inventory – ZTPI

Para a adaptação ao português do ZTPI foram tidas em conta algumas das orientações propostas por Widenfelt et al. (2005), para a tradução e adaptação de instrumentos de avaliação psicológica. No que se refere à tradução, esta obedeceu no essencial ao método de tradução – retroversão (Hill & Hill, 2005). Foi realizada uma tradução do ZTPI por um dos autores e uma psicóloga fluente tanto no idioma Português como no Inglês. Esta tradução foi alvo de duas revisões, a primeira levada a cabo por ambos os autores e a segunda levada a cabo por uma especialista em língua e cultura portuguesa. Posteriormente, para avaliar o grau de correspondência entre a versão experimental portuguesa e a versão original do ZTPI, foi feita uma retroversão por uma especialista em língua e cultura inglesa. Paralelamente foi desenvolvida outra tradução da versão original do inventário, levada a cabo por uma psicóloga, familiarizada com a língua e a cultura inglesa. Assim, ambas versões foram comparadas, item a item, a fim de se determinar qual seria a versão dos itens mais adequada à cultura portuguesa. Por fim, foi realizado um pré-teste (n = 29), no qual, para além do preenchimento do ZTPI (versão experimental), os participantes usaram uma grelha para caracterizar cada um dos itens (ex.: cansativo, ambíguo, difícil de perceber, linguagem acessível e bem estruturado gramaticalmente). Na mesma sessão decorreu ainda um debate para os participantes poderem expressar as suas opiniões e percepções acerca do ZTPI. As sugestões dos participantes do pré-teste, foram tidas em conta para obter alguns refinamentos finais nos itens do ZTPI.

Analise dos dados

Todas as informações recolhidas foram introduzidas no programa estatístico Statistical Package for the Social Sciences – SPSS 14.0 (versão Windows).

Foi realizada uma análise factorial exploratória em componentes principais (com rotação Varimax) de forma a identificar quais os factores subjacentes à estrutura do ZTPI. Para determinar a consistência interna do instrumento foram calculados os Alfas de Cronbach de cada um dos factores encontrados. Após isto, foram calculados os índices de correlação de Pearson para determinar a relação entre estes factores. Ainda foi utilizado o Teste T para amostras independentes, com o intuito de explorar as diferenças que a perspectiva temporal apresenta segundo o género.

Resultados

Neste apartado, começamos por apresentar a estrutura factorial do ZTPI na sua versão portuguesa (Tabela 1). Posteriormente, são apresentadas as correlações entre cada um dos factores do ZTPI (Tabela 2). E por último, serão apresentadas e analisadas os valores médios, em função do género, em cada um dos factores do ZTPI (Tabela 3).

Tabela 1. Estrutura Factorial do ZTPI – Analise Exploratória dos Principais Factores – Rotação Varimax (Medidas de Dispersão, Tendência Central e Consistência Interna)

Tabela 2. Correlações do Zimbardo Time Perspective Inventory – ZTPI (n = 277)

Tabela 3. Teste T para Amostras Independentes em Função do Género dos Participantes na Perspectiva Temporal Estrutura Factorial do ZTPI

Com a finalidade de apurar qual a estrutura factorial do ZTPI na sua versão portuguesa, foi desenvolvida uma análise factorial exploratória (método Varimax, os valores em falta foram substituídos pela média). Desta análise, foram examinadas as correlações de cada item com o seu respectivo factor e o scree plot, dado este último método ser apresentado por Cattel (1966) como sendo bastante fiável. Foram encontrados 5 factores na estrutura do ZTPI, os quais explicam 35.25% da variância total. O primeiro factor encontrado é o Presente Hedonista (variância explicada = 8.37%, M = 3.52, DP = 0.53, α = 0.79). O segundo factor é Passado Negativo (variância explicada = 7.85%, M = 2.67, DP = 0.71, α = 0.80). O terceiro factor é Futuro (variância explicada = 6.57%, M = 3.59, DP = 0.52, α = 0.74). O quarto factor é Presente Fatalista (variância explicada = 6.42%, M = 2.46, DP = 0.60, α = 0.66). E por último, o quinto factor é Passado Positivo (variância explicada = 6.02%, M = 3.62, DP = 0.56, α = 0.68). A denominação dos factores foi obtida através da definição apresentada por Zimbardo & Boyd (1999).

A maioria dos 56 itens do ZTPI apresentaram saturações superiores a 0.30 junto dos seus factores, valor que é recomendado por Kline (2000). Isto acontece com 14 dos 15 itens do factor Presente Hedonista, 7 dos 10 itens que compõem o factor Passado Negativo, 11 dos 13 itens do factor Futuro, 8 dos 9 itens do factor Presente Fatalista e 7 dos 9 itens do factor Passado Positivo.

Através da análise factorial exploratória foram encontrados alguns itens com características problemáticas. Isto é, aparecem 4 itens com valores de correlação superiores a 0.30 em dois factores em simultâneo (itens 17, 14, 11 e 49), sendo que em todos estes casos os itens correlacionam significativamente no factor com o qual apresentam correspondência teórica. Surgem ainda 6 itens (itens 4, 33, 5, 6, 24 e 25) que apresentam correlações com valores acima de 0.30 em apenas um factor, que é diferente daquele que está previsto teoricamente. Por outro lado, os itens 12, 56, 52 e 41 não saturam acima do valor 0.30 em nenhum dos factores.

O índice de adequação amostral Kaiser-Meyer- Olkin (KMO) apresentou um valor de 0.76, resultado que é considerado como Médio (George & Mallery, 2003; Pereira, 2004). As características da amostra encontram-se em concordância com os critérios expostos por Kline (2000) para desenvolver análises factoriais de qualidade. Os resultados desta análise factorial são apresentados na tabela 1.

De seguida, são apresentados os índices de correlação entre os 5 factores que compõem o ZTPI (Tabela 2), a maioria das correlações encontradas são significativas a um nível de significância p < 0.01. É importante destacar que não se verificam diferenças, no que diz respeito ao sentido dos coeficientes de correlação obtidos neste estudo, com aqueles apresentados por Zimbardo & Boyd (1999) na formulação original do instrumento excepto no que diz respeito à relação entre o passado positivo e o presente fatalista.

Já no que se refere às correlações entre os factores do ZTPI e a idade, é possível apurar que existe uma relação significativa e negativa entre a idade e os factores Presente Hedonista (p < 0.01) e Presente Fatalista (p < 0.05) e ainda uma relação significativa e positiva entre a idade e o factor Futuro (p < 0.01).

No que concerne as diferenças de valores médios entre géneros na perspectiva temporal, encontra- se na tabela 3 que os resultados são muito similares em todos os factores, com excepção para o factor Futuro, no qual o género feminino (M= 3.64, DP= 0.46) apresentou resultados ligeiramente superiores ao género masculino (M= 3.51, DP= 0.60) sendo a diferença marginalmente significativa. Nos outros 4 factores é o género masculino aquele que apresenta valores mais elevados.

Discussão

A relevância deste estudo reside principalmente no valor da perspectiva temporal como variável psicológica universalmente enraizada no pensamento e comportamento humano e consequentemente, da necessidade de existir um instrumento válido e fiável que possa ser aplicado na população portuguesa. Por conseguinte, o presente estudo teve como objectivo central traduzir e adaptar junto duma população de estudantes portugueses o Zimbardo Time Perspective Inventory – ZTPI.

Assim, da sua estrutura factorial verificou-se que este apresenta grandes semelhanças com os resultados encontrados por Zimbardo & Boyd (1999), na formulação original do instrumento, e por D´Alessio et al. (2003), Apostolidis & Fieulaine (2004), Diaz-Morales (2006) e Milfont et al. (em publicação) em estudos de adaptação similares ao desenvolvido no presente estudo. Foram encontrados 5 factores, que explicam 35.25% da variância total. Dos 56 itens que constituem o ZTPI, a maioria destes saturou acima de 0.30 nos seus respectivos factores, no entanto, existem 14 itens que apresentam alguns problemas de interpretação devido ao seu posicionamento nos factores.

Das medidas de fiabilidade utilizadas (alfa de Cronbach de cada um dos factores) todos os factores apresentam resultados satisfatórios. Mais precisamente, 3 dos factores apresentam um índice de fiabilidade claramente satisfatória (α> 0.70, PH= 0.79, PN= 0.80, F= 0.74) encontrando-se os restantes ainda no espectro do aceitável (α> 0.60, PF= 0.66, PP= 0.68; Loewenthal, 1996).

A maioria das correlações entre os 5 factores do ZTPI são significativas (p < 0.01) e apresentam valores aceitáveis que se encontram muito próximos ou superiores ao valor 0.30 (Kline, 2000). O que indica que são constructos distintos mas que se encontram relacionados entre si.

Abordando mais além das características psicométricas dos 5 factores do ZTPI, isto é passando para o âmbito do racional teórico, são totalmente plausíveis as relações que se observam entre os factores. Mais concretamente, tanto o Presente Hedonista como o Presente Fatalista, estão correlacionados negativamente com o Futuro, o primeiro ao ser constituído por sujeitos orientados para o desfrute do momento deixando de parte as compensações do amanhã e o segundo ao ser composto por sujeitos que carecem de orientação para objectivos futuros por causa do seu pessimismo (Zimbardo & Boyd, 1999). O passado negativo, que se apresenta em oposição ao passado positivo ao ter como características principais uma visão pessimista do passado e poucas ou nenhuns relacionamentos próximos (Zimbardo & Boyd, 1999) encontra-se correlacionado negativamente com o passado positivo. Ambos os factores relacionados com a dimensão presente (Presente Hedonista e Presente Fatalista) aparecem correlacionados de forma positiva.

Ainda, analisando as correlações entre os factores do ZTPI e a variável Idade, encontra-se que na medida que a idade dos participantes aumenta, estes apresentam valores mais elevados no factor Futuro e valores inferiores nos factores Presente Hedonista e Passado Fatalista. Desta forma, confirma-se a afirmação de Lewin (1965) de que a experiência de vida do sujeito o ajuda a aumentar a extensão da sua perspectiva temporal de futuro.

Em relação às diferenças na perspectiva temporal em função do género, é possível apurar que o género feminino apresenta valores ligeiramente mais elevados do que o género masculino no factor Futuro, este resultado é verificado de forma similar noutros estudos (Diaz-Morales, 2006, Zimbardo & Boyd, 1999, Zimbardo, Keough & Boyd, 1997). Nos outros factores, existem diferenças ainda que estas sejam muito pequenas. Desta forma, o género masculino apresenta valores médios mais elevados que o género feminino nos restantes factores 4 factores.

Em último lugar, através da análise dos resultados obtidos neste estudo, consideramos que existe viabilidade teórica e prática para a utilização do ZTPI em amostras portuguesas, certamente que tendo em conta algumas limitações que se encontram inerentes ao presente estudo e consequentemente à versão do ZTPI obtida. Motivos pelos quais, em prol de se criar uma versão definitiva do ZTPI (na sua versão Português - Portugal) consideramos ser importante em futuros estudos reunir-se uma amostra de maior dimensão e heterogeneidade (especialmente em relação à idade e à profissão desempenhada). Também, será necessário estudar a validade externa do ZTPI através da sua relação com diferentes variáveis psicológicas. Igualmente, será necessário determinar a estabilidade temporal do ZTPI através dum Teste – Reteste. E finalmente, desenvolver uma análise factorial confirmatoria que comprove com exactidão a estrutura de 5 factores existente no ZTPI.

Anexos

1. Eu acredito que ir divertir-se com os amigos é um dos prazeres da vida de uma pessoa.

2. As imagens, os sons e os cheiros da minha infância trazem-me lembranças maravilhosas.

3. O destino determina muito da minha vida.

4. Muitas vezes penso naquilo que deveria ter feito de modo diferente na minha vida.

5. As minhas decisões são na sua maioria influenciadas pelas pessoas e coisas à minha volta.

6. Acredito que o dia de cada pessoa deve ser planeado com antecedência todas as manhãs.

7. Dá-me prazer pensar sobre o meu passado.

8. Faço coisas impulsivamente.

9. Se as coisas não ficam feitas a tempo, não me preocupo com isso.

10. Quando eu quero alguma coisa, estabeleço objectivos e penso em meios específicos para atingir esses objectivos

11. Fazendo um balanço, há mais memórias boas do que más no meu passado para recordar.

12. Quando estou a ouvir a música que eu gosto, perco frequentemente qualquer noção do tempo.

13. Cumprir prazos para amanha e fazer qualquer outro trabalho necessário está primeiro do que a diversão de hoje a noite.

14. Não importa realmente aquilo que eu faça, uma vez que o que tiver de ser, será.

15. Gosto de histórias sobre como as coisas costumavam ser nos “bons velhos tempos”.

16. Continuo a reviver no meu pensamento as experiências dolorosas do passado.

17. Tento viver a minha vida o melhor possível, um dia de cada vez.

18. Aborrece-me chegar atrasado a compromissos.

19. Para mim o ideal seria viver cada dia como se fosse o último.

20. Penso frequentemente em memórias felizes de bons tempos.

21. Eu cumpro a tempo as minhas obrigações relativamente a amigos e instituições.

22. No passado, tive a minha dose de maus-tratos e rejeição.

23. Tomo as minhas decisões de acordo com a inspiração do momento.

24. Prefiro aceitar cada dia como ele é, em vez de tentar planeá-lo.

25. O passado traz-me demasiadas más memórias, nas quais eu prefiro não pensar.

26. É importante conseguir emoção na minha vida.

27. Eu cometi erros no passado que desejava poder desfazer.

28. Sinto que é mais importante gostar daquilo que se está a fazer do que ter o trabalho concluído a tempo.

29. Eu fico nostálgico acerca da minha infância.

30. Antes de tomar uma decisão, peso os custos e os benefícios.

31. Tomar riscos evita que minha vida se torne aborrecida.

32. É mais importante para mim tirar prazer no decorrer da vida do que focar-me apenas na meta final.

33. As coisas raramente correm como eu esperava.

34. É difícil para mim esquecer imagens desagradáveis da minha juventude.

35. Se eu tenho de pensar nos objectivos, resultados e produtos das minhas actividades, isso tira-me o prazer e estraga o correr do processo.

36. Mesmo quando eu estou a gostar do presente, sinto-me impelido a fazer comparações com experiências passadas similares.

37. Não se consegue fazer planos para o futuro porque as coisas mudam demasiado.

38. O meu percurso de vida é controlado por forças sobre as quais eu não tenho influência.

39. Não faz sentido preocupar-me com o futuro, uma vez que não há nada que eu possa fazer acerca dele.

40. Eu completo projectos dentro do prazo concretizando etapa a etapa.

41. Dou por mim distraído quando familiares começam a falar de como as coisas eram antigamente.

42. Eu corro riscos para sentir emoção na minha vida.

43. Eu faço listas daquilo que tenho para fazer.

44. Frequentemente sigo mais o meu coração do que a minha cabeça.

45. Eu consigo resistir a tentações quando sei que há trabalho que precisa ser feito.

46. Eu deixo-me levar pela emoção do momento.

47. A vida de hoje em dia é demasiado complicada; preferia a vida simples de antigamente.

48. Eu prefiro os amigos que sejam espontâneos em vez de previsíveis.

49. Eu gosto dos rituais e tradições familiares que são repetidos com regularidade.

50. Penso acerca das coisas más que me aconteceram no passado.

51. Eu continuo a trabalhar nas tarefas difíceis e desinteressantes se estas me ajudarem a progredir.

52. Gastar aquilo que ganhei, nos prazeres de hoje, é melhor do que poupar para a segurança de amanha.

53. Frequentemente, a sorte resulta melhor do que o trabalho árduo.

54. Eu penso acerca das coisas boas que eu perdi ao longo da minha vida.

55. Eu gosto que os meus relacionamentos próximos sejam intensos.

56. Vai sempre haver tempo para recuperar o trabalho em atraso.


Referências

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