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Avances en Psicología Latinoamericana

Print version ISSN 1794-4724

Av. Psicol. Latinoam. vol.30 no.2 Bogotá July/Dec. 2012

 

Psicopatia: uma perspectiua dimensional e nao-criminosa
do construto*

Psicopatía: una perspectiua dimensional y no penal del constructo

Psychopathy: A dimensional and noncriminal approach of the construct

NELSON HAUCK FILHO**
MARCO ANTONIO PEREIRA TEIXEIRA***
ANA CRISTINA GARCIA DIAS****

* Trabalho realizado com auxílio financeiro da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) em forma de bolsa de doutorado ao primeiro autor.

** Psicólogo, doutorando em Psicologia pelo Programa de Pós-Graduação em Psicologia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Instituto de Psicologia, Rua Ramiro Barcelos, 2600, sala 117. Bairro Santana. CEP: 90035-003 - Porto Alegre, RS - Brasil. Telefone: +55 51 33085454. E-mail: hauck.nf@gmail.com

*** Psicólogo, doutor em Psicologia, professor do Programa de Pós-Graduação em Psicologia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Brasil. Email: mapteixeira@yahoo.com.br

**** Psicóloga, doutora em Psicologia, professora do Programa de Pós-Graduação em Psicologia, Universidade Federal de Santa Maria, Brasil. E-mail: anacristinagarciadias@gmail.com

Para citar este artículo: Hauck Filho, N., Teixeira, M. A. P. & Dias, A. C. G. (2012). Psicopatia: uma perspectiva dimensional e não-criminosa do construto. Avances en Psicología Latinoamericana, 30 (2) 317-327.

Fecha de recepción: 25 de enero de 2011
Fecha de aceptación: 17 de enero de 2012



Resumo

A psicopatia possui um inegável elo histórico com o comportamento antissocial, evidenciado por uma predominância de estudos em contextos prisionais na área em países da América Latina. Entretanto, novos resultados têm sugerido que o comportamento antissocial, por sua inespecificidade, não deve ser considerado como central ao construto psicopatia, o que permite o seu estudo na população geral. Dessa forma, o objetivo do presente trabalho é apresentar uma revisão da literatura acerca do tema psicopatia, enfatizando estudos que trazem evidências a favor de uma visão dimensional e não-criminosa da psicopatia. Relações com o comportamento antissocial, investigações taxométricas, relações com narcisismo e maquiavelismo, e uma concepção em termos da Reinforcement Sensitivity Theory são revisadas. Sugere-se a realização de estudos em contextos não-forenses na América Latina e a construção ou adaptação de instrumentos adequados para esse propósito.

Palavras-chave: psicopatia, diferenças individuais, comportamento antissocial, Transtorno da Personalidade Antissocial



Resumen

La personalidad psicopática tiene un innegable vínculo histórico con el comportamiento antisocial, con un predominio de los estudios latinoamericanos con muestras de los centros penitenciarios. Sin embargo, nuevos resultados han sugerido que los comportamientos antisociales, por su falta de especificidad, no deben considerarse como un elemento central para el constructo psicopatía, lo que permite su estudio en la población general. Así, el objetivo de este estudio es presentar una revisión de la literatura sobre el tema de la psicopatía, con énfasis en los estudios que aportan evidencia a favor de una visión dimensional y no penal del constructo. Se revisan las relaciones con el comportamiento antisocial, los resultados de investigaciones taxométricas, relaciones con narcisismo y maquiavelismo y con la teoría Reinforcement Sensitivity. Se sugiere la investigación del constructo en la población general en América Latina y la construcción o adaptación de instrumentos adecuados para esto propósito.

Palabras clave: psicopatía, diferencias individuales, conducta antisocial, trastorno de la personalidad antisocial



Abstract

The history of psychopathy is remarkably tied to antisocial behavior, as shown by Latin American studies in the area predominantly investigating psychopathy in the context of correctional facilities. However, recent findings are sugesting that antisocial behavior, due to its nonspecificity, should not be considered a core feature of the psychopathy construct, making it possible to study psychopathy in the general population. Therefore, the aim of the present study is to revise the literature regarding psychopathy, focusing on studies that favour a dimensional and noncriminal view of the construct. Relationships with antisocial behavior, results from taxometric studies, associations with narcissism and machiavellianism, and with the Reinforcement Sensitivity Theory are reviewed. Finally, we highlight the need of further empirical research on psychopathy in non-forensic contexts in Latin America and the need of adaptation and construction of psychometric measures suitable for this purpose.

Keywords: psychopathy, individual differences, antisocial behavior, antisocial personality disorder



A psicopatia é uma constelação de traços de personalidade que envolve impulsividade, busca por sensações, falta de remorso, falta de empatia, manipulação e dominância social (Patrick, Fowles, & Krueger, 2009). Historicamente, as abordagens teóricas e empíricas do construto têm estabelecido um elo entre a psicopatia e o comportamento antissocial. Por exemplo, as primeiras descrições técnico-científicas remontam ao século xix, quando se constatou que muitos criminosos responsáveis por crimes cruéis, ao contrário do que se esperava, não apresentavam sinais de insanidade ou comprometimento intelectual (Arrigo & Shipley, 2001). Atualmente, o instrumento mais utilizado na avaliação da psicopatia, a escala Psychopathy Checklist-Revised (PCL-R; Hare, 1991, 2003), também enfatiza diversos aspectos antissociais e criminosos em seus itens (assim como sua versão reduzida, Hart, Cox, & Hare, 2001; e sua versão para adolescentes, Forth, Kosson, & Hare, 2003). Além disso, com poucas exceções (por exemplo, De Oliveira-Souza et al., 2008), a maioria dos estudos sobre a psicopatia na América Latina empregou, até o momento, apenas participantes de contextos prisionais e forenses (Folino, Marengo, Marchiano, Ascanzibar, 2004; Jozef, Silva, Greenhalgh, Leite, & Ferreira, 2000; Ostrosky-Solís, Rebollar, García, & Villalpando, 2009; Schmitt, Pinto, Gomes, Quevedo, & Stein, 2006; Valverde, 2005).

Todavia, recentemente, tem havido um crescente debate na literatura sobre o papel do comportamento antissocial na definição do construto psicopatia (Hare & Neumann, 2010; Skeem & Cooke, 2010a, 2010b). Cada vez mais, os autores têm sugerido que a psicopatia deve ser conceitualizada em termos de traços latentes de personalidade -que todos os indivíduos possuem, embora em diferentes magnitudes-, e não de comportamentos característicos de grupos populacionais específicos (Lynam & Derefinko, 2006). Essa perspectiva tem permitido um novo campo de estudos em que a psicopatia torna-se útil para descrever diferenças individuais e explicar uma diversidade de fenômenos psicológicos em muitos contextos sociais. Exemplos são variações individuais na capacidade de aprendizagem aversiva (Flor, Birbaumer, Hermann, Ziegler, & Patrick, 2002), no reconhecimento de emoções através de expressões faciais (Gordon, Baird, & End, 2004), e na cooperação interpessoal (Rilling et al., 2007). Além disso, a psicopatia também tem se mostrado uma variável importante em contextos de intervenção em saúde em geral, uma vez que está relacionada à falta de motivação para a mudança de comportamentos desadaptativos, como o uso de substâncias e outros comportamentos (Cullen, Soria, Clarke, Dean, & Fahy, 2011; Gudonis, Derefinko, & Giancola, 2009).

Em virtude disso, o objetivo do presente trabalho é apresentar uma revisão não-sistemática da literatura acerca do tema psicopatia, enfatizando estudos que trazem evidências a favor de uma visão dimensional e não-criminosa da psicopatia. Tais estudos estão organizados por tópicos: relações com o comportamento antissocial, estudos taxométricos, relações com os construtos narcisismo e maquiavelismo, e o papel da teoria Reinforcement Sensitivity Theory na operacionalização da psicopatia. Cada um desses tópicos é abordado nas seções a seguir. Ao final, faz-se uma apreciação crítica acerca do panorama atual da pesquisa sobre o tema da psicopatia na América Latina. Busca-se trazer uma contribuição à literatura latinoamericana sobre a psicopatia, apresentando estudos recentes que apontam para a viabilidade e a pertinência do estudo do tema também em contextos não-forenses e não-prisionais


Psicopatia e comportamento antissocial

Uma das razões mais fortes para o estudo da psicopatia em contextos prisionais e forenses é a relação estabelecida entre psicopatia e comportamento antissocial (Hare & Neumann, 2008). Em diversos estudos, relataram-se relações estatisticamente significativas entre escores na escala PCL-R (e também em outros instrumentos) e comportamentos agressivos instrumentais e hostis, reincidência criminal e outros comportamentos desviantes (para uma revisão, ver Porter & Woodworth, 2006). Por exemplo, Harris, Rice e Cormier (1991), em um estudo longitudinal, relataram que 77% dos indivíduos prisioneiros com altos escores em psicopatia na escala Psychopathy Checklist (Hare, 1980) haviam reincidido criminalmente após um período de 10 anos. Em contraste, apenas 21% dos indivíduos com baixos escores haviam reincidido durante esse período (Harris et al., 1991). Cima e Raine (2009) relataram associações significativas entre escores totais no Psychopathic Personality Inventory (Lilienfeld & Andrews, 1996) e comportamentos agressivos hostis (r = 0.35) e instrumentais (r = 0.44).

Além disso, uma meta-análise com resultados de 95 estudos independentes (n = 15826) investigou associações dos Fatores 1 e 2 da escala PCL-R (Hare, 1991, 2003) com comportamentos criminosos. O Fator 1 do instrumento avalia características interpessoais (por exemplo, manipulação e narcisismo) e afetivas (por exemplo, falta de remorso e empatia), centrais na definição do construto (Cleckley, 1976). Enquanto isso, o Fator 2 avalia aspectos impulsivos (por exemplo, descontroles e falta de metas) e antissociais (por exemplo, delinquência juvenil e versatilidade criminal) (Hare & Neumann, 2008). Os resultados revelaram associação moderada entre ambos os Fatores 1 (d = 0.38) e 2 (d = 0.60) da escala PCL-R e comportamentos criminosos de diversos tipos (Leistico, Salekin, DeCoster, & Rogers, 2008).

Todavia, autores têm manifestado preocupação com alguns problemas metodológicos na estimação do relacionamento linear entre escores em psicopatia e medidas de comportamento antissocial. Um dos problemas, descrito por Walters (2004), diz respeito à tautologia: algumas medidas de psicopatia e de comportamento antissocial utilizadas nas análises são parcialmente redundantes. Instrumentos como a PCL-R, por exemplo, possuem muitos indicadores cuja pontuação é baseada em comportamentos criminosos (especialmente aqueles do Fator 2), o que pode levar a uma superestimação da relação entre as variáveis correlacionadas. Apesar de esse problema ser menos influente no caso de estudos prospectivos, em que o desfecho (isto é, o comportamento antissocial) é medido de forma independente da pontuação da psicopatia, o controle de covariáveis relevantes, de fato, reduz o poder preditivo da psicopatia. Assim, em um estudo de Salekin (2008), a contribuição única de diversas medidas de psicopatia na predição de reincidência criminal foi de, no máximo, 6% de variância explicada, após o controle da influência de variáveis sociodemográficas, uso de substâncias e companhias antissociais.

Outro aspecto é a necessidade de controlar a variância compartilhada entre os fatores dos instrumentos de psicopatia nos estudos (por exemplo, Fatores 1 e 2 da escala PCL-R) na predição do comportamento antissocial. Esse procedimento permite verificar se os aspectos que mais contribuem nesse sentido são aqueles interpessoais e afetivos centrais para a psicopatia (Cleckley, 1976) ou se, novamente, são apenas os itens sobre comportamento antissocial e criminoso. Uma meta-análise recente (n =10555) avaliou essa possibilidade e mostrou um tamanho de efeito bastante pequeno para a associação entre o Fator 1 da escala PCL-R e comportamentos antissociais (d = 0.11) após a remoção da variância compartilhada com o Fator 2 (Kennealy, Skeem, Walters, & Camp, 2010). De maneira semelhante, Yang, Wong, e Coid (2010) também relataram correlações parciais fracas entre o Fator 1 da PCL-R e registros de violência (d = 0.22). Assim, pode-se concluir que os aspectos interpessoais e afetivos (Fator 1 da PCL-R), centrais ao construto psicopatia, apresentam, em geral, correlações parciais de baixa magnitude com o comportamento antissocial.

Esses resultados trazem questionamentos sobre se o comportamento antissocial deveria ser considerado um aspecto central na definição da psicopatia ou apenas um correlato frequente, mas não necessariamente presente. Esse questionamento tem levado à proposição de modelos fatoriais para medidas de psicopatia em que os itens sobre comportamento antissocial e criminoso são excluídos, sendo mantidos apenas aspectos interpessoais, afetivos e impulsivos (Cooke & Michie, 2001; Skeem & Cooke, 2010a, 2010b). No entanto, um teste direto da pertinência desses itens na definição da psicopatia é investigar o ajuste estatístico de modelos concorrentes (via modelagem de equações estruturais) em que os itens: (a) são especificados como parte do modelo de mensuração dos instrumentos na análise fatorial confirmatória e (b) são especificados como variáveis dependentes em um modelo estrutural, explicadas pelos aspectos interpessoais, afetivos e impulsivos do modelo de mensuração. Cooke, Michie, Hart e Clark (2004) testaram ambos os modelos concorrentes em relação ao instrumento PCL-R, em uma amostra de 1316 prisioneiros. Os resultados favoreceram o modelo de equações estruturais como mais parcimonioso, sugerindo que o comportamento antissocial seja considerado como um aspecto secundário ou correlato.

Por fim, outra razão para considerar o comportamento antissocial como um aspecto secundário é que tentativas de conceitualizar a psicopatia em termos desse tipo de indicadores não foram bem sucedidas no passado. Um exemplo é o Transtorno da Personalidade Antissocial (TPA), uma categoria nosográfica desenvolvida a partir dos critérios de psicopatia de Cleckley, enfocando apenas aspectos comportamentais de antissocialidade, que são menos complexos de avaliar (Arrigo & Shipley, 2001). O TPA é definido como um padrão invasivo de desrespeito por e violação dos direitos dos outros, que inicia na infância ou começo da adolescência e continua na idade adulta (APA, 2002). Entretanto, essa categoria, apesar de inspirada em definições de psicopatia, resultou heterogênea, não permitindo distinguir entre indivíduos antissociais com traços interpessoais e afetivos de psicopatia e indivíduos sem essas características (Kosson, Lorenz, & Newman, 2006). Mesmo em prisioneiros com todos os critérios preenchidos para TPA, TPA e psicopatia não podem ser considerados equivalentes. Por exemplo, a prevalência de TPA em contextos prisionais é maior do que 50%, enquanto que, no máximo, 30% dos prisioneiros apresentam também altos escores em psicopatia (Hare, 2006).

Assim, é questionável a premissa de que o comportamento antissocial é um componente constitutivo do construto psicopatia. A psicopatia deve ser entendida como um rótulo para um conjunto de traços de personalidade socialmente indesejáveis, evidentes nas esferas interpessoal, afetiva e cognitiva. Dessa forma, o comportamento violento e antissocial não é condição necessária e nem suficiente para a caracterização da psicopatia, ainda que possa ser um correlato eventual do construto. Essa clareza conceitual permite: 1) evitar abusos como considerar a escala PCL-R uma medida de risco de reincidência criminal, em vez de apenas uma medida de personalidade (ver os esclarecimentos do próprio autor do instrumento em Hemphill & Hare, 2004); e 2) conceber a psicopatia em termos de traços de personalidade, perspectiva que permite a operacionalização do construto na população geral (Lynam & Derefinko, 2006).

Todavia, uma perspectiva dimensional da psicopatia deve ser solidamente embasada em estudos empíricos. Tendo em vista esse propósito, alguns métodos estatísticos desenvolvidos recentemente podem ajudar a esclarecer se a psicopatia deve ser entendida como uma variável contínua (definida por um certo perfil de características de personalidade) ou se é possível separar qualitativamente "psicopatas" dos demais indivíduos. A seção a seguir enfoca esse tópico dentro dos estudos na área.


Psicopatia: categoria ou dimensão?

Atualmente, a pertinência de representar uma característica psicológica em termos de tipos/categorias ou dimensões pode ser investigada por meio da técnica da análise taxométrica (Meehl, 1992). Essa análise permite estabelecer se uma variável psicológica é mais bem representada por um contínuo, em que todos os indivíduos podem ser situados, ou se é possível identificar uma taxon ou grupo latente de indivíduos. "Taxon'", nesse sentido, designa uma categoria não-arbitrariamente definida, cujas características definicionais são intrínsecas aos indivíduos, distinguindo-os naturalmente dos demais indivíduos. Exemplos de taxa (plural de taxon) são o sexo dos indivíduos, as espécies dos animais, os elementos químicos e as doenças orgânicas (Meehl, 1992). Dessa maneira, uma perspectiva "taxônica" da psicopatia busca representá-la em termos de tipos ou categorias: psicopatas e não-psicopatas enquanto indivíduos qualitativamente distintos (Wright, 2009). Uma visão dimensional, por outro lado, considera que não existem "psicopatas", mas sim traços de psicopatia que todas as pessoas apresentam, mas em quantidades distintas (Wright, 2009).

Na literatura sobre a psicopatia, a análise taxométrica foi utilizada pela primeira vez em um estudo de Harris, Rice, e Quinsey (1994) com 653 prisioneiros, sendo que os resultados favoreceram uma interpretação taxônica. Apesar de essa interpretação ter se mostrado válida apenas para os aspectos impulsivos e antissociais da escala PCLR, uma reanálise dos dados que buscou controlar alguns problemas metodológicos chegou a uma interpretação taxônica tanto para a psicopatia quanto para o TPA (Skilling, Harris, Rice, & Quinsey, 2002). Contudo, os estudos mais recentes têm convergido em torno de uma interpretação dimensional da psicopatia (Guay, Ruscio, Knight, & Hare, 2007; Murrie et al., 2007; Walters, Brinkley, Magaletta, & Diamond, 2008; Walters, Knight, & Thornton, 2009). De forma análoga, resultados recentes também têm apoiado uma concepção dimensional para o TPA (Walters, 2009). Portanto, deve-se ter cautela quanto a considerar um indivíduo com altos escores em um instrumento de psicopatia como pertencendo a uma categoria distinta de pessoas. Embora a questão sobre a psicopatia ser ou não um tipo ou categoria ainda não tenha uma resposta definitiva, as evidências são mais favoráveis a conceber o construto como abrangendo uma série de traços de personalidade que todas as pessoas exibem, em maior ou menor quantidade (interpretação dimensional).

Uma concepção dimensional, além de permitir o estudo das diferenças individuais em grupos não-forenses, possibilita relacionar a psicopatia a variáveis em certa medida sobrepostas e que são assumidas como dimensionais. Especificamente, a psicopatia tem se mostrado associada a traços de narcisismo e maquiavelismo na população geral (Jonason & Webster, 2010). Em função dos aspectos socialmente indesejáveis, do estilo antagonista, individualista e pouco cooperativo, psicopatia, narcisismo e maquiavelismo têm sido chamados de "a tríade negra da personalidade" (Jonason, Li, & Teicher, 2010). A seção a seguir, portanto, busca ampliar o entendimento dimensional da psicopatia delineando um pouco da rede nomológica do construto na população geral. Para tanto, são revisados estudos que relacionaram a psicopatia a traços de narcisismo e maquiavelismo.


A "tríade negra da personalidade": psicopatia, maquiavelismo e narcisismo

O termo "maquiavelismo" descreve uma estratégia de conduta social que envolve usar os outros para ganho pessoal, frequentemente em detrimento dos interesses pessoais dos mesmos (Wilson, Near, & Miller, 1996). Traços maquiavélicos, em geral, implicam manipulação e falta de empatia, características centrais da psicopatia (Jonason & Webster, 2010; Skeem & Cooke, 2010a). Uma das medidas de maquiavelismo mais utilizadas é o Mach-IV, com 20 itens medidos em escala Likert (Christie & Geis, 1970). O instrumento avalia táticas interpessoais positivas (isto é, comportamentos honestos, éticos e bem-intencionados), táticas interpessoais negativas (isto é, comportamentos desonestos, insinceros e sem preocupação com moralidade), visão positiva da natureza humana (isto é, as pessoas são vistas como essencialmente boas, valentes e com bons propósitos) e visão cínica da natureza humana (isto é, as pessoas são vistas como sendo essencialmente oportunistas, parasitas e materialistas) (Corral & Calvete, 2000).

Narcisismo pode ser amplamente definido como um padrão de grandiosidade, crenças de superioridade e falta de empatia pelos sentimentos, desejos e necessidades dos outros (Morf & Rhodewalt, 2001). Uma das medidas de narcisismo mais utilizadas é o Narcissistic Personality Inventory (NPI; Raskin & Hall, 1979). O NPI possui 40 pares de itens, sendo para cada par constituído por um item sobre alto narcisismo e outro sobre baixo narcisismo (por exemplo, "Modéstia não tem nada a ver comigo" e "Eu sou essencialmente uma pessoa modesta"). Um escore total fornece uma avaliação ampla da personalidade narcisista, podendo também ser computados escores para as subdimensões do instrumento, que são: autoridade, exibicionismo, superioridade, vaidade, exploração, entitulação e auto-suficiência (Raskin & Terry, 1988).

Psicopatia, narcisismo e maquiavelismo apresentam um perfil bastante similiar em termos das correlações com as dimensões do Big Five. Por exemplo, Jakobwitz e Egan (2006) relataram correlações negativas para escores nas escalas Levenson Self-Report Psychopathy (LSRP; Levenson, Kiehl, & Fitzpatrick, 1995), NPI e Mach-IV com os fatores socialização e conscienciosidade do instrumento NEO Five-Factor Inventory (NEO-FFI; McCrae & Costa, 2004). As correlações entre escores em psicopatia, narcisismo e maquiavelismo também têm sido, em geral, positivas, variando de 0.26 a 0.70 em alguns estudos (Jakobowitz & Egan, 2006; Williams, Nathanson, & Paulhus, 2010). Isso tem tornado possível somar medidas de psicopatia, narcisismo e maquiavelismo para o cômputo de escores compostos da "tríade negra", os quais têm apresentado correlações positivas com individualidade, competitividade (Jonason et al., 2010), sociossexualidade (Jonason, Li, Webster, & Schmitt, 2009), dominância social, ameaça a outros grupos sociais e preconceito (Hodson, Hogg, & MacInnis, 2009).

Jakobwitz e Egan (2006) exploraram a hipótese de que as correlações positivas entre os construtos e as semelhanças nas correlações com critérios externos poderia implicar uma dimensão hierárquica comum aos três construtos. Em virtude disso, os autores realizaram uma análise de componentes principais com os instrumentos LSRP, NPI, Mach-IV e NEO-FFI-R. Os resultados mostraram cargas altas e positivas para escores totais na LSRP, NPI, Mach-IV e para o fator socialização do Big Five (carga negativa) em um mesmo fator, apontando para uma grande porção de variância compartilhada entre esses aspectos psicológicos. Resultados semelhantes foram obtidos por Jonason e Webster (2010), que testaram um modelo fatorial hierárquico com um fator de segunda ordem para um instrumento breve desenvolvido pelos autores para avaliar psicopatia, narcisismo e maquiavelismo. Esse modelo obteve índices de ajuste aceitáveis, sugerindo que os três construtos psicológicos podem ter uma etiologia comum.

Uma das possibilidades para essa variância compartilhada remete a hipóteses evolucionistas sobre o possível papel adaptativo dos traços de psicopatia, narcisismo e maquiavelismo. Nessa perspectiva, argumenta-se que embora esses traços sejam indesejáveis em todas as culturas que dependem da cooperação entre os indivíduos, sua permanência na espécie humana pode ter ocorrido porque possivelmente ajudaram a resolver alguns problemas evolutivos enfrentados (Glenn, Kurzban, & Raine, 2011). Especificamente, essas características podem ter trazido vantagens no passado evolutivo da espécie humana em situações de competição com outros indivíduos por recursos (Jonason et al., 2010) e por acesso sexual (Jonason et al., 2009).

Outra avenida de pesquisa, no entanto, diz respeito a uma possível comunalidade quanto aos mecanismos subjacentes às três condições, quando considerados os sistemas neuropsicológicos básicos responsáveis pelas diferenças entre os indivíduos (Corr, 2008). Teorias neuropsicológicas têm sido cada vez mais utilizadas para a construção de modelos empiricamente testáveis sobre a psicopatia (Corr, 2010; Patterson & Newman, 1993; ver Corr, 2008). O uso dessas teorias é totalmente compatível com uma visão dimensional da psicopatia e traz ainda a vantagem de enfatizar aspectos que podem ser investigados tanto em contextos forenses e prisionais quanto na população geral. A seguir, é apresentada uma perspectiva que pode fazer avançar a pesquisa empírica na área e que ainda não recebeu a devida atenção por parte de estudos na América Latina. Embora o modelo descrito adiante tenha um potencial heurístico na explicação do narcisismo e do maquiavelismo, serão considerados apenas estudos sobre a psicopatia, que acumulam mais evidências no momento atual.


A psicopatia e a teoria da personalidade "reinforcement sensitivity"

A Reinforcement Sensitivity Theory - ou simplesmente "RST" - é um modelo neuropsicológico da personalidade, elaborado a partir de décadas de estudos farmacológicos, etológicos e psicométricos (Corr, 2008). De maneira geral, a última versão da teoria (Gray & McNaughton, 2000) explica as diferenças individuais em termos da sensibilidade e da ativação de três sistemas neuropsicológicos básicos: o Behavioral Approach System (BAS), o Fight-Flight-Freeze System (FFFS) e o Behavioral Inhibition System (BIS) (Corr, 2008; Gray & Mc-Naughton, 2000). O BAS é responsável por fazer o organismo se movimentar em direção a reforçadores biológicos. Altos níveis de funcionamento desse sistema estão relacionados às expectativas de recompensa e à impulsividade, enquanto baixos níveis estão relacionados à anedonia (Corr, 2008). O FFFS é responsável por fazer o organismo reagir a estímulos aversivos, iniciando comportamentos (luta, fuga ou congelamento) com a finalidade de aumentar ou manter a distância com relação a esses estímulos. Um alto nível de funcionamento desse sistema envolve um temperamento amendrontado e retraído, enquanto o baixo nível envolve um temperamento pouco responsivo a estímulos de ameaça e perigo (Corr, 2008). O BIS, por sua vez, é um sistema que processa conflitos de metas (isto é, BAS x FFFS, FFFS x FFFS e BAS x BAS). A ativação do BIS leva à inibição do comportamento em curso, induzindo um estado de alerta e aumentando-se a atenção para novas pistas no ambiente que possam ajudar a reduzir o conflito identificado, gerando ansiedade (Gray & McNaughton, 2000).

Autores têm proposto que o elemento comum subjacente aos traços de psicopatia é um BIS deficitário (Patterson & Newman, 1993; Wallace & Newman, 2008). Um BIS deficitário pode acarretar falhas em processar adequadamente estímulos aversivos (e quaisquer outros estímulos) periféricos ao foco atencional dominante em uma situação em que haja conflitos de metas. Esse fato poder ter como repercussão dificuldades para inibir o comportamento e para experienciar ansiedade em situações específicas de conflitos de metas, como uma ocasião em que um indivíduo está fazendo algo de que gosta e surge uma situação potencialmente perigosa. Esse modelo é coerente com diversos estudos que mostram que a psicopatia está relacionada à baixa responsividade a estímulos aversivos e a déficits de condicionamento clássico apenas em situações de incentivos mistos, como tarefas que requerem buscar recompensas e, ao mesmo tempo, evitar punições (Flor et al., 2002; Newman & Schmitt, 1998). Também os aspectos atencionais do modelo têm sido investigados. Em um estudo de Newman, Curtin, Bertsch e Baskin-Sommers (2010), por exemplo, a reatividade a sons abruptos (startle) em indivíduos com altos escores em psicopatia foi moderada pelo foco atencional requerido pela tarefa.

A psicopatia, portanto, parece envolver uma baixa inibição do comportamento em situações de incentivos mistos e uma falha em processar estímulos periféricos ao foco atencional, fenômenos decorrentes de um BIS deficitário (Wallace & Newman, 2008). Além disso, resultados de estudos empíricos também sugerem que um BAS altamente reativo pode desempenhar um papel relevante na psicopatia (Wallace, Malterer, & Newman, 2009). Um alto BAS poderia aumentar a não-responsividade a estímulos fora dos interesses imediatos do indivíduo (decorrente do BIS deficitário), tornando-o especialmente reativo à possibilidade de recompensas, mesmo em situações de risco. Assim, a concepção da psicoptia em termos da RST apresenta o benefício da ênfase em aspectos básicos da emoção, da motivação e da cognição humana, sem enfocar características de grupos específicos da população.

Dessa maneira, a RST pode não apenas fornecer uma descrição mais aprofundada dos mecanismos psicológicos fundamentais envolvidos na psicopatia, mas também permitir que novas hipóteses sejam testadas, a partir dos modelos baseados na RST. Assim, por exemplo, seria interessante investigar uma possível interação entre os sistemas BAS e FFFS na explicação de comportamentos de agressão hostil em indivíduos com altos escores em psicopatia. A interação entre BAS e FFFS poderia acarretar uma alta reatividade à provocação e uma tendência a respostas impulsivas, fornecendo uma possível base neuropsicológica para muitos comportamentos agressivos. A RST, portanto, representa um importante panorama conceitual para estudos sobre a psicopatia e que ainda não foi devidamente explorada na América Latina.


Considerações finais

Estudos sobre a psicopatia na América Latina ainda enfocam predominantemente a população carcerária (e.g., Folino et al., 2004; Jozef et al., 2000; Schmitt et al., 2006). Esse fato aponta para uma possível visão do construto como condicionado à ocorrência de violência, o que tem tido como consequência um número ainda reduzido de estudos sobre a psicopatia na população geral. Tendo isso em vista, o objetivo do presente estudo foi apresentar uma revisão de literatura sobre alguns tópicos relevantes para uma visão dimensional e não-criminosa da psicopatia.

A psicopatia foi descrita como uma constelação de traços de personalidade socialmente indesejáveis, sendo mais parcimoniosa a visão do comportamento antissocial como um correlato da psicopatia do que como um aspecto definitional. Foram apresentados resultados de análise taxomé-trica que sugerem a natureza dimensional da psicopatia e também estudos sobre sua relação com traços de narcisismo e maquiavelismo. Buscou-se, com isso, ampliar a rede nomológica do construto quando aplicado à população geral. Além disso, apresentou-se, ainda que brevemente, o como a psicopatia pode ser investigada a partir de modelos neuropsicológicos da personalidade como a RST.

Por fim, salienta-se a necessidade de instrumentos de avaliação adequados para contextos não-prisionais e não-forenses na América Latina. Instrumentos como o Psychopathic Personality Inventory (Lilienfeld & Andrews, 1996), o Self-Report Psychopathy-III (SRP-III; Williams, Paulhus, & Hare, 2007), e o Levenson Self-Report Psychopathy (LSRP; Levenson et al., 1995) são alternativas disponíveis atualmente no cenário da literatura inernacional. Contudo, são ainda necessárias adaptações desses instrumentos em diversos países da América Latina para que se tornem possíveis comparações com resultados obtidos na Europa, na América do Norte e em outros lugares. Outra possibilidade seria o desenvolvimento de instrumentos novos, baseados na RST e em estudos recentes na área.



Referências

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