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Avances en Psicología Latinoamericana

Print version ISSN 1794-4724

Av. Psicol. Latinoam. vol.32 no.1 Bogotá Jan./Apr. 2014

 


Escala de avaliaçao da Comunicação na Parentalidade (compa):
Desenvolvimento e Validação de uma medida da Comunicação Parento-filial

Perception Scale of Parenting Communication (compa):
Development and Validation of a Parent-Child Communication measure

Escala de Evaluación de la Comunicación en la Parentalidad (compa): Desarrollo y Validación de una medida de la Comunicación Padres-Hijos

Alda Patricia Marques Portugal*
Isabel Maria Marques Alberto*

Doi: dx.doi.org/10.12804/apl32.1.2014.06

* Alda Marques, Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação, Universidade de Coimbra; Isabel Marques Alberto, Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra.
Esta pesquisa foi financiada pela Fundação para Ciência e a Tecnologia, Portugal (SFRH / BD / 63340 / 2009).
A correspondência relacionada com este artigo deve ser direcionada a Portugal, Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Coimbra, Rua do Colégio Novo, Coimbra, 3001-802 Coimbra, Portugala.
Correio electrónico: aaldaportugal@gmail.com

Fecha de recepción: 14 de agosto de 2012
Fecha de aceptación: 24 de julio de 2013



Resumo

Neste trabalho foram apresentadas as características psicométricas das versões da Escala de Avaliação da Comunicação na Parentalidade (COMPA): versão parental, versão adolescentes (12-16 anos) e versão crianças (7-11 anos). Este instrumento tem por objetivo avaliar as perceções de progenitores e filhos sobre a comunicação que mantêm. O estudo foi realizado com uma amostra de 803 progenitores e 619 filhos da população portuguesa. Os resultados da análise de componentes principais revelaram uma estrutura de cinco fatores para a versão parental (expressão afetiva/suporte emocional, α:.821; disponibilidade parental para a comunicação, α:.732; metacomunicação, α:.725; partilha/confiança de progenitores para filhos, α:.753; partilha/confiança de filhos para progenitores, α:.615) e versão adolescentes (disponibilidade parental para a comunicação, α:.865; partilha/confiança de filhos para progenitores, α:.873; expressão afetiva/suporte emocional, α:.838; metacomunicação, α:.805; padrões negativos de comunicação, α:.650) e de dois fatores para a versão das crianças (disponibilidade parental para a comunicação, α:.842; expressão afetiva/suporte emocional, α:.784). Esta estrutura fatorial exploratória foi confirmada pela análise de equações estruturais. Os níveis de consistência interna revelaram-se bons para fins de investigação e clínicos.

Palavras-chave: Comunicação parento-filial; crianças em idade escolar; adolescentes; validação



Resumen

Este trabajo presenta las características psicométricas de las versiones de la Escala de Evaluación de la Comunicación en la Parentalidad (COMPA): versión parental, versión para adolescentes (12-16 años) y versión para niños (7-11 años). Esta es una prueba que tiene el objetivo de evaluar las percepciones de padres e hijos sobre la comunicación que mantienen. El estudio se realizó con una muestra de 803 padres y 619 hijos de la población portuguesa. Los resultados del análisis de componentes principales han revelado una estructura de cinco factores para la versión parental (expresión afectiva/soporte emocional, α.821; disponibilidad parental para la comunicación, α.732; metacomunicación, α:.725; compartir/confianza de los padres en los hijos, α:.753; compartir/confianza de los hijos en los padres, α:.615) y para la versión de adolescentes (disponibilidad parental para la comunicación, α:.865; compartir/confianza de los hijos en los padres, α:.873; expresión afectiva/soporte emocional, α:.838; metacomunicación, α:.805; patrones negativos de comunicación, α:.650) y de dos factores para la versión de los niños (disponibilidad parental para la comunicación, α:.842; expresión afectiva/soporte emocional, α:.784). Esta estructura factorial exploratoria fue confirmada mediante un análisis de ecuaciones estructurales. Los niveles de consistencia interna se han revelado buenos para el propósito de investigación y evaluación clínica.

Palabras clave: Comunicación paterno-filial; niños en edad escolar; adolescentes; validación



Abstract

The main goal of this study was the presentation of the psychometric characteristics of the Scale of Parenting Communication (COMPA): parental version, adolescent version (12-16 years old) and children version (7-11 years old). This instrument has the purpose of evaluating the percepction of parents and children regarding their communication. The sample was composed of 803 parents and 619 children sampled from a Portuguese population. The results of an exploratory factor analysis revealed a five factor structure for the parental version (emotional support/affective expression, α:.821; parental availability to communication, α:.732; metacommunication, α:.725; parental confidence/sharing, α:.753; children confidence/sharing α:.615) and for the adolescent version (parental availability to communication, α:.865; children confidence/sharing, α:.873; emotional support/affective expression, α:.838; metacommunication, α:.805; negative communication patterns, α:.650) and a two factor structure for the children version (parental availability to communication, a: .842; emotional support/affective expression, α:.784). This factorial structure was confirmed by structural equations analysis. The levels of internal consistency of COMPA seem to be appropriate for research and clinical use.

Keywords: Parent-child communication, school-age children, adolescents, validation



A comunicação é um processo contínuo de transmissão de mensagens que integra diferentes contextos, realidades e sociedades/culturas (Barker, 1987; Fiske, 2005). Esta é uma dimensão fundamental no contexto familiar, particularmente na relação parento-filial (Carr, 2006; Segrin & Flora, 2005) uma vez que promove o desenvolvimento global e individual dos seus elementos. É a partir deste construto que se definem os papéis familiares (e.g. pai, mãe, filho), as regras (e.g. horários), os padrões comportamentais (e.g. partilha, conflito) e as funções que cada um exerce (e.g. dar suporte emocional e/ou físico) (Vangelisti, 2004).

A importância que a comunicação parento-filial assume reflete-se na grande quantidade de investigações realizadas. Miller-Day e Kam (2010) levaram a cabo um estudo com o intuito de explorar a eficácia da comunicação parento-filial sobre as expetativas e comportamentos de crianças em idade escolar em relação ao álcool. Esta investigação concluiu que a abertura e a frequência comunicacional entre progenitores e filhos pode influenciar as perceções que as crianças têm sobre o consumo de álcool. Os resultados sugerem ainda que uma comunicação parento-filial mais complexa e detalhada sobre o tópico pode ter maior influência na determinação das expetativas e dos comportamentos futuros, evidenciando, assim, que nem todas as formas de comunicação são efetivas.

Watzlawick, Bavelas, e Jackson (1967/1993) analisaram a comunicação patológica e identificaram cinco axiomas da comunicação e as suas respetivas distorções. Os autores partiram do pressuposto de que, por vezes, a comunicação entre os seres humanos é enviesada por diversas variáveis (e.g. mal-entendidos), o que pode promover dinâmicas familiares negativas e, inclusivamente, patológicas. Wichstrom, Holte, Husby, e Wynne (1994) analisaram longitudinalmente os efeitos da comunicação familiar desqualificante com filhos de pacientes psiquiátricos. Os autores concluíram que os filhos que são alvo de altos níveis de desqualificação tendem a ser socialmente menos competentes do que os filhos que viveram níveis menores de desqualificação. O estudo corrobora os pressupostos de Watzlawick, Bavelas, e Jackson (1967/1993) de que nem todos os tipos de comunicação são aceitáveis ou contribuem para um desenvolvimento saudável.

A investigação sobre a comunicação familiar enquadrada no exercício da parentalidade sugere a existência de diferenças em função do sexo relativamente ao estabelecimento da comunicação, existindo indicadores de que os adolescentes de ambos os sexos tendem a procurar mais as mães do que os pais para comunicar (Barnes & Olson, 1985; Jiménez & Delgado, 2002). Jiménez e Delgado (2002) verificaram que o nível de conflituosidade entre progenitores e filhos é percecionado de forma mais intensa por parte dos rapazes do que das adolescentes.

A influência da comunicação familiar sobre a saúde também tem sido alvo de investigações. Rivero-Lazcano, Matínez-Pampliega, e Iraurgi (2011) desenvolveram um estudo com o intuito de analisar o efeito de algumas variáveis familiares (coesão, adaptabilidade e satisfação) na relação entre a comunicação e os sintomas psicossomáticos. Os resultados revelaram que os elementos de famílias que têm papéis e estilos de liderança indefinidos tendem a manifestar mais comportamentos psicossomáticos do que os elementos de famílias onde existe uma comunicação clara e aberta (expressão aberta de pensamentos e sentimentos). No mesmo sentido, Segrin (2006) demonstrou que famílias que recorrem a estratégias positivas de comunicação e que procuram gerar interações harmoniosas entre os seus membros tendem a ser mais saudáveis do que aquelas que mantêm relações conflituosas. Xiao, Li, e Staton (2010) examinaram a concordância entre as perceções parentais e as perceções filiais relativamente à comunicação mantida nas famílias bem como da associação desta comunicação percebida com o ajustamento psicossocial das crianças. Os autores concluíram que os filhos que pecepcionam baixos níveis de comunicação aberta com os seus progenitores tendem a demonstrar um ajustamento psicossocial pobre, independentemente da perceção parental.

Face à importância dos padrões comunicacionais no desenvolvimento individual e familiar, surgiram vários modelos teóricos que se debruçam sobre a compreensão do funcionamento familiar e da comunicação intrafamiliar (Beavers & Hampson, 2000; Miller, Ryan, Keitner, Bishop, & Epstein, 2000; Olson, 2000; Skinner, Steinhauer, & Sita-renios, 2000; Wilkinson, 2000). Estas abordagens dão ênfase às propriedades sistémicas da família como um todo, focando-se nas suas forças e competências, em detrimento do foco nas características intrapsíquicas dos indivíduos que compõem a família. Com base nestes modelos foram desenvolvidos estudos empíricos e escalas de avaliação do funcionamento familiar. Porém, estas escalas revelam-se insuficientes, apresentando algumas limitações, tais como: (1) estes modelos não têm uma definição convergente sobre a comunicação familiar, facto que suscita algumas questões relacionadas com a validade do construto que está a ser medido; (2) os procedimentos levados a cabo para definir as dimensões que cada modelo avalia não estão clarificados; (3) estes instrumentos de avaliação não estão traduzidos nem adaptados para a população portuguesa; (4) as medidas de avaliação desenvolvidas focam-se na adolescência (Barnes & Olson, 1985; Jiménez & Delgado, 2002; Tomé, Gaspar de Matos, Camacho, Simões, & Diniz, 2012; Tribuna, 2000), ficando por abarcar as faixas etárias mais novas (e.g. crianças em idade escolar); e (5) nenhuma das medidas apresentadas foi desenvolvida especificamente para avaliar a comunicação parento-filial numa perspetiva multidimensional e em diferentes etapas do ciclo vital.

Em Portugal, existem poucos estudos sobre este tema. Uma possível explicação prende-se com a inexistência de escalas específicas e validadas que analisem a comunicação parento-filial. Exemplo disto foi o estudo realizado por Tribuna (2000) com o objetivo de investigar a vinculação e a comunicação em adolescentes que vivem em famílias de acolhimento. Esta investigação recorreu a uma escala que não está validada para a população Portugesa (Parent-Adolescent Communication Scale, Olson, 2000).

Assim, o objetivo do presente estudo é a validação de uma escala de avaliação da comunicação na parentalidade, construída de raiz, que pretende contemplar a multidimensionalidade do conceito e abarcar duas etapas do ciclo vital da família, nomeadamente família com filhos em idade escolar (1° e 2° ciclo escolar) e famílias com filhos adolescentes (Hoffman, 1995; Relvas, 1996).


Metodologia

Amostra

Trata-se de uma amostragem por conveniência composta por 1422 sujeitos: 803 progenitores, 276 adolescentes (12-16 anos) e 343 crianças em idade escolar (7-11 anos) sem grau de parentesco entre si.

A amostra dos progenitores foi constituída por 141 pais e 662 mães (n= 803), com idades compreendidas entre os 24 e os 67 anos (M= 41.30, DP = 5.96) com diferentes graus de escolaridade (até ao 4° ano de escolaridade: 6.5%; do 6° ao 12° ano de escolaridade: 39.4%; ensino superior: 52%). Relativamente ao estatuto socioeconómico (de acordo com os critérios do INE, cruzando o nível de escolaridade com a profissão) verificou-se que 22% dos progenitores pertence à classe baixa, 71.1% à classe média e 5.7% à classe alta; ao nível da composição familiar, 85.2% dos progenitores integra um núcleo familiar intato, 13.1% constituem famílias monoparentais e 1.7% integram famílias reconstituídas. Considerando a etapa do ciclo vital da família, 58.2% dos progenitores têm filhos em idade escolar (7-11 anos) e 41.8% têm filhos adolescentes (12-16 anos).

A amostra composta pelos adolescentes integra 126 participantes do sexo masculino e 150 do sexo feminino (n= 276), com idades compreendidas entre os 12 e os 16 anos (M= 13.61, DP= 1.30) e diferentes graus de escolaridade (até ao 4° ano de escolaridade: 0.7%; do 5° ao 6° ano de escolaridade: 23.2%; do 7° ao 9° ano de escolaridade: 70.7%; do 10° ao 12° ano de escolaridade: 5.4%); relativamente ao estatuto socioeconómico verificou-se que 6.2% dos adolescentes pertence à classe baixa, 85.5% à classe média e 6.5% à classe alta; ao nível da composição familiar, 74.6% dos adolescentes integra um núcleo familiar intacto, 14.5% fazem parte de famílias monoparentais e 10.9% integram famílias reconstituídas.

Por fim, a amostra das crianças em idade escolar (1° e 2° ciclo) é composta por 151 meninos e 192 meninas (n= 343), com idades entre os 7 e os 11 anos (M= 9.66, DP= 1.32). Destas crianças, 53.6% frequentam o ensino básico (até ao 4°ano de escolaridade) e 46.4% estudam entre o 5° e o 6° ano de escolaridade; em termos do estatuto socioenconómico constata-se que 5.5% das crianças pertencem à classe baixa, 85.4% à classe média e 8.7% à classe alta; relativamente à composição familiar, 83.7% das crianças integram um agregado nuclear intacto, 10.2% pertencem a famílias monoparentais e 6.1% integram famílias reconstituídas.


Instrumentos

Foi desenvolvida a Escala de Avaliação da Comunicação na Parentalidade (COMPA) com base em três etapas: (1) revisão da literatura, no sentido de identificar as dimensões consideradas mais relevantes para a comunicação parento-filial, a partir das quais foi desenhada uma entrevista semiestruturada para aplicar a progenitores e a filhos; (2) realização de entrevistas individuais e em grupos focais a pais/mães, adolescentes e crianças a frequentar o 1° ciclo de escolaridade, de acordo com um desenho de investigação misto (análise qualitativa e quantitativa) e com recurso ao Softaware NVivo8 para a categorização dos dados provenientes desta entrevista (Portugal & Alberto, 2013); e (3), por fim, foi criado um conjunto de itens, com base nas sete dimensões reveladas pelo estudo qualitativo (afeto, atitude filial, atitude parental, estabelecimento de regras e limites, metacomunicação, partilha de situações problemáticas e problemas comunicacionais). Este trabalho resultou em três versões da escala COMPA: uma versão para pais/ mães (COMPA-P), uma versão para filhos entre os 7 e os 11 anos (idade escolar) (COMPA-C), e uma versão para filhos entre os 12 e os 16 anos (adolescentes) (COMPA-A). As três versões da escala COMPA são respondidas numa escala de Likert (1 = Nunca; 2= Raramente; 3 = Às vezes; 4 = Muitas vezes; 5 = Sempre) e a sua cotação é feita pelo somatório dos itens por subescala. Os totais obtidos em cada subescala são divididos pelo número de itens. O objetivo deste instrumento consiste na avaliação das perceções de progenitores e de filhos, nestas duas etapas do ciclo vital da família, sobre a comunicação que mantêm entre si.


Procedimentos

A escala COMPA-P (versão parental) foi administrado por duas vias: online (n = 342) e através da aplicação tradicional de papel e lápis (n = 461), tratando-se de uma amostragem por conveniência. A divulgação do estudo foi realizada: (1) através da criação de uma página web, onde foram apresentados os objetivos do estudo e disponibilizada a escala para os progenitores que estivessem interessados em colaborar; e (2) a partir da distribuição de panfletos por diversas Associações de Pais e Encarregados de Educação e pelas escolas que aceitaram participar no estudo. Em qualquer uma das metodologias de recolha de protocolos os participantes foram informados sobre o sigilo, anonimato e confidencialidade das suas respostas. Os progenitores cuja aplicação do questionário foi feita em papel, levaram cerca de 15 a 20 minutos a preenchê-lo.

Relativamente à aplicação das versões dos filhos (COMPA-A e COMPA-C), foi necessário submeter o projeto de investigação à avaliação da Direção de Serviços de Inovação Educativa, um Departamento do Ministério da Educação Português. Esta comissão avaliou os parâmetros de aplicação das versões da COMPA, assim como as questões éticas associadas. Depois da aprovação por parte deste órgão, solicitou-se a colaboração de várias escolas do país, sobretudo da zona centro. Os professores das escolas que aceitaram participar no estudo distribuíram dois documentos pelos seus alunos: (1) um panfleto informativo sobre o estudo e (2) o consentimento informado a assinar pelo encarregado de educação. Os alunos, cujos progenitores autorizaram a participação no estudo, preencheram o protocolo em contexto escolar durante o período de aulas. Este preenchimento demorou cerca de 15 a 20 minutos para os alunos dos 12 aos 16 anos e cerca de 30 a 40 minutos para os alunos dos 7 aos 11 anos. Tanto a escala COMPA-C como a escala COMPA-A é constituída por duas folhas de resposta, equivalentes: uma em relação à comunicação estabelecida com o pai e outra relativa à comunicação estabelecida com a mãe. Deste modo, a maior parte das crianças e dos adolescentes que participaram neste estudo partilharam a perceção sobre a comunicação que mantêm com ambos os progenitores, à exceção daqueles que coabitam ou têm menos contacto com um dos progenitores. A aplicação do instrumento foi feita com base em instruções estandardizadas, isto é, foi solicitado aos participantes que assinalassem em cada item, numa escala de 1 a 5, qual a perceção que tinham sobre a comunicação estabelecida com os filhos (COMPA-P) ou com as figuras parentais (COMPA-C e COMPA-A). Com a exceção dos questionários respondidos online, houve disponibilidade de um elemento da equipa de investigação para administrar e esclarecer qualquer dúvida que pudesse surgir ao longo do processo de preenchimento (apesar das crianças/jovens respondentes solicitarem pouca ajuda durante este processo).


Análise estatística

A análise estatística utilizada foi a mesma para as três versões da escala COMPA. Assim, a estrutura fatorial das versões da COMPA foi determinada através do método de Análises de Componentes Principais, com rotação Varimax, para o conjunto inicial de itens distribuídos pelas sete dimensões referidas na secção anterior. Os critérios de decisão para a solução final de fatores foram: (1) o valor de Kaiser-Meyer-Olkin, (2) o valor do Teste de Esfericidade de Bartlett, e (3) a análise do método scree-plot. Todos os itens que apresentaram um peso inferior a 0.3 foram eliminados e todos os itens que apresentaram um peso superior a 0.3 em pelo menos dois fatores foram distribuídos pelo fator onde a sua saturação era maior.

Depois de determinada a estrutura fatorial exploratória das versões da COMPA, foram realizadas análises confirmatórias das estruturas fatoriais encontradas. Para efetuar essas análises recorreu-se ao software AMOS 18. Para o teste de ajuste do modelo proposto foram analisados os seguintes índices: X2, CFI (Comparative Fit Index), RMSEA (Root Mean Square Error of Aproximation) e IFI (Incremental Fit Index). De acordo com Schermelleh-Engel, Moosbrugger, e Müller (2003) os valores X2 ≤ 3df, RMSEA ≤ .08, e CFI/IFI ≥ .95 indicam um ajuste aceitável do modelo, enquanto que os valores X2 ≤ 2df, RMSEA ≤ .05, e CFI/IFI ≥ .97 indicam um bom ajuste do modelo. A supremacia de um modelo sobre o outro foi determinada através das médias do critéio AIC (Akaike's information criterion). Para as três versões da COMPA foram comparados dois modelos fatoriais: um modelo oblíquo, no qual os itens estão distribuídos por fatores e estes, por sua vez, estão relacionados entre si (modelo 1) e um modelo de um único fator, no qual todos os itens são indicadores da variável latente "comunicação parento-filial" (modelo 2).

Depois de determinada a estrutura fatorial das versões da COMPA, realizaram-se estudos de fiabilidade das escalas através de análises de consistência interna pela determinação do alpha de Cronbach e da correlação item-escala total. As correlações entre as diferentes subescalas e entre estas e o total das versões da COMPA foram também averiguadas através do cálculo de coeficiente de Pearson. Por fim, foram explorados os dados relativos à estatística descritiva das diferentes subescalas, em função do sexo e das idades dos participantes, através do cálculo de médias e desvios-padrão.


Resultados COMPA-P

Análise Fatorial Exploratória

Inicialmente, verificou-se a adequação de se realizar uma análise fatorial à versão COMPA-P, o que foi confirmado através dos índices de KMO = 0.935 e do Teste de Esfericidade de Bartlett, X2 (946) = 10282.662, p < .000. A rotação Varimax produziu uma estrutura fatorial constituída por cinco fatores que explicam 42% da variância, e não por sete fatores como inicialmente se previa. Do conjunto de 71 itens iniciais foram eliminados 27 com peso inferior a 0.3 nos fatores. A partir da análise dos itens de cada um dos fatores, as dimensões passaram a designar-se da seguinte forma (Tabela 1): (fator 1) expressão do afeto e apoio emocional, (fator 2) disponibilidade parental para a comunicação, (fator 3) metacomunicação, (fator 4) confiança/partilha comunicacional de progenitores para filhos e (fator 5) confiança/partilha comunicacional de filhos para os progenitores.

A dimensão expressão do afeto e apoio emocional (12 itens) explica 9.9% da variância e refere-se à troca de mensagens positivas entre os membros da família e a algumas características da comunicação como: clareza, resolução de problemas, suporte emocional, apoio verbal, demonstração de afeto e empatia; a segunda dimensão disponibilidade parental para a comunicação (8 itens) explica 9.8% da variância e diz respeito à sinceridade nas respostas às questões dos filhos, à abertura comunicacional e ao equilíbrio entre estes aspetos e a privacidade; a terceira dimensão metacomunicação (8 itens) explica 8% da variância e remete para a capacidade dos progenitores utilizarem uma comunicação esclarecedora evitando estratégias manipulativas e de controlo; por fim, a quarta (confiança/partilha comunicacional de progenitores para filhos, 7 itens) e quinta dimensão (confiança/partilha comunicacional de filhos para os progenitores, 7 itens) explicam 7.2% e 6.9%, respetivamente, da variância e são relativas à partilha equilibrada de questões e problemas pessoais, de progenitores e de filhos, sobre trabalho, relacionamentos, amizades, família.


Análise Fatorial Confirmatoria

Tal como pode ser visto na tabela 4, de acordo com os índices referidos (RMSEA, CFI/IFI), a COMPA-P apresenta um bom ajuste em todos os índices. De acordo com o AIC, constata-se que o Modelo 1 é superior ao Modelo 2, isto é, o modelo oblíquo explica em melhor medida a estrutura fatorial da COMPA-P, confirmando os dados da análise fatorial exploratória.


Fiabilidade

Para averiguar a fiabilidade da COMPA-P foram realizadas análises de consistência interna (tabela 1) para a escala total e para as diferentes subescalas, atendendo já à cotação invertida de alguns itens. A consistência interna foi analisada para o conjunto de 71 itens, verificando-se um alpha de Cronbach global de .77. Depois de removidos os 27 itens, com peso inferior a .3, o alpha de Cronbach global passou α.91, valor considerado excelente pela literatura (Nunally, 1978). De acordo com o recomendado por Nunally (1978) os valores do coeficiente de alpha de Cronbach para as subescalas são aceitáveis para fins de investigação (fator 1: .821; fator 2: .732; fator 3: .725; fator 4: .753; fator 5: .615).

Alguns autores defendem que o cálculo do coeficiente de alpha deve ser complementado pela análise dos valores das correlações médias interitem, uma vez que um elevado valor de alpha pode significar redundância e não uma adequada consistência interna. Os valores da correlação média interitem para a escala global e para as subescalas (intervalo: .325 α.565), estão dentro dos valores recomendados por Briggs & Cheek (1986).


Correlação entre as escalas e subescalas

Como se pode observar na tabela 5, a análise das correlações entre as subescalas revela correlações positivas moderadas e estatisticamente significativas entre as cinco subescalas (intervalo: r=.415 a r=.646, p=.000). Os valores de Pearson revelam, também, correlações positivas fortes e estatisticamente significativas entre as subescalas e a escala global (intervalo: r=.715 a r=.874, p=.000).


Estatística Descritiva das Subescalas

As médias e os desvios-padrão das pontuações das cinco subescalas para os progenitores encontram-se na Tabela 6. Os valores disponibilizados resultam da soma das pontuações por subescala e pela divisão do valor obtido pelo total de itens de cada subescala permitindo, assim, a comparação dos resultados entre subescalas independentemente do número de itens que as compõem. A subescala expressão do afeto e apoio emocional apresenta as pontuações mais elevadas (as pontuações médias dos itens desta escala para o pai e para a mãe são, respetivamente, 4.25 e 4.42), seguindo-se as pontuações da escala metacomunicação (pontuações médias dos itens de 4.18 para o pai e de 4.28 para a mãe), depois as pontuações da escala disponibilidade parental para a comunicação (pontuações médias dos itens de 4.06 para o pai e de 4.03 para a mãe), de seguida as pontuações da escala confiança/ partilha comunicacional de progenitores para filhos (pontuações médias dos itens de 3.78 para o pai e de 3.89 para a mãe) e, por fim, as pontuações da escala confiança/partilha comunicacional de filhos para os progenitores (pontuações médias dos itens de 3.78 para o pai e de 3.99 para a mãe). Assim, constata-se que as mães tendem a percecionar mais positivamente a comunicação em todas as suas dimensões (exceto na dimensão disponibilidade parental para a comunicação, onde os pais obtêm um resultado ligeiramente superior ao das mães) comparativamente aos progenitores do sexo masculino.

Para efetuar a cotação dos resultados por subescala basta somar os itens e dividi-los pelo total de itens da escala. No entanto, há que ter em conta que os itens 31 e 43 são cotados inversamente, uma vez que se trata de itens formulados pela negativa. Desta forma, quanto mais elevada for a pontuação em cada subescala melhor tende a ser a perceção da comunicação parento-filial.


Resultados COMPA-A

Análise Fatorial Exploratória

Inicialmente, verificou-se a adequação de se realizar uma análise fatorial à versão COMPA-A, o que foi confirmado através dos índices de KMO = .964 e do Teste de Esfericidade de Bartlett, X2 (741) = 10091.742, p< .000. A rotação Varimax produziu uma estrutura fatorial constituída por cinco fatores que explicam 59.7% da variância, à semelhança do que aconteceu na COMPA-P. Do conjunto de 65 itens iniciais foram eliminados 26 com peso inferior a 0.3 nos fatores e com forte influência na variação do valor do coeficiente de alfa de Cronbach. A estrutura fatorial final ficou composta por (tabela 2): (fator 1) disponibilidade parental para a comunicação, (fator 2) confiança/ partilha de filhos para progenitores, (fator 3) expressão do afeto e apoio emocional, (fator 4) me-tacomunicação, e (fator 5) padrão comunicacional negativo.

A dimensão disponibilidade parental para a comunicação (14 itens) explica 16.3% da variância e diz respeito à perceção de escuta atenta e ativa do progenitor em relação ao filho; a segunda dimensão confiança/partilha de filhos para progenitores (7 itens) explica 11.9% da variância e refere-se à perceção da capacidade do filho de ter uma postura aberta e honesta e ser responsivo para com as figuras parentais; a terceira dimensão expressão do afeto e apoio emocional (5 itens) explica 10.8% da variância e implica uma ligação afetiva entre filhos e progenitores que permita a partilha e discussão de preocupações e sentimentos pessoais; a quarta dimensão metacomunicação (9 itens) explica 9.6% da variância e está relacionada com a capacidade dos filhos estabelecerem uma comunicação aberta e clara com os seus progenitores, promovendo um estilo comunicacional livre de mal-entendidos; por fim, a última dimensão padrão comunicacional negativo (4 itens), explica 8.6% da variância e é uma escala relacionada com os aspetos menos ajustados da comunicação, isto é, comportamentos comunicacionais que promovem estilos desadequados de relacionamento, acarretando sofrimento.


Análise Fatorial Confirmatoria

Tal como pode ser visto na Tabela 4, de acordo com os índices referidos (RMSEA, CFI/IFI), a COMPA-A apresenta um bom ajuste em todos os índices. De acordo com o AIC, constata-se que o modelo 1 é superior ao modelo 2, isto é, o modelo oblíquo explica em melhor medida a estrutura fatorial da COMPA-A, confirmando os dados da análise fatorial exploratória.


Fiabilidade

Inicialmente, a consistência interna foi analisada para o conjunto de 65 itens, verificando-se um alpha de Cronbach global de .85. Depois de removidos os 26 itens, com peso inferior a 0.3, o alpha de Cronbach global passou α .94, valor considerado excelente pela literatura (Nunally, 1978). De acordo com o recomendado por Nunally (1978) os valores do coeficiente de alpha de Cronbach para as subescalas são aceitáveis para fins de investigação (fator 1: .865; fator 2: .873; fator 3: .838; fator 4: 0.805; fator 5: .650). Por sua vez, os valores da correlação média interitem para a escala global e subescalas variam entre .296 e .565. Estes valores estão ligeiramente acima daqueles que são considerados níveis aceitáveis (entre .20 e .40) por Briggs e Cheek (1986).


Correlação entre as escalas

A análise das correlações entre as escalas revela correlações positivas e negativas moderadas para as cinco dimensões da escala (intervalo: r = -0.464 a r = -.759). Os valores de correlação negativos dizem respeito aos quatro itens da subescala padrão comunicacional negativo cujo conteúdo indica um afastamento comunicacional entre os comunicantes. Os valores de Pearson revelam, também, correlações positivas e negativas fortes entre as subescalas e a escala global (intervalo: r = - .478 a r = .940). Em todos os casos, as correlações são estatisticamente significativas (p = .000).


Estatística Descritiva das Escalas

As médias e os desvios-padrão das pontuações das cinco subescalas para os adolescentes encontram-se na Tabela 6. Os valores disponibilizados resultam da soma das pontuações por subescala e pela divisão do valor obtido pelo total de itens de cada subescala permitindo, assim, a comparação dos resultados entre subescalas independentemente do número de itens que as compõem. Esta análise foi realizada para os dois progenitores em separado. Deste modo, são apresentados os dados dos adolescentes em relação ao pai e em relação à mãe.

As pontuações nas subescalas dos adolescentes do sexo masculino, por ordem descendente, são: disponibilidade parental para a comunicação (as pontuações médias dos itens desta escala para o pai e para a mãe são, respetivamente 3.98 e 4.12), metacomunicação (as pontuações médias dos itens desta escala para o pai e para a mãe são, respetivamente 3.63 e 3.77), confiança/partilha de filhos para progenitores (as pontuações médias dos itens desta escala para o pai e para a mãe são, respetivamente 3.25 e 3.63), expressão do afeto e apoio emocional, (as pontuações médias dos itens desta escala para o pai e para a mãe são, respetivamente 3.80 e 4.06) e padrão comunicacional negativo (as pontuações médias dos itens desta escala para o pai e para a mãe são, respetivamente 3.90 e 3.06).

As pontuações registadas pelos adolescentes do sexo feminino são as seguintes: disponibilidade parental para a comunicação (as pontuações médias dos itens desta escala para o pai e para a mãe são, respetivamente 3.96 e 4.22), metacomunicação (as pontuações médias dos itens desta escala para o pai e para a mãe são, respetivamente 3.58 e 3.86). confiança/partilha de filhos para progenitores (as pontuações médias dos itens desta escala para o pai e para a mãe são, respetivamente 2.93 e 3.80), expressão do afeto e apoio emocional, (as pontuações médias dos itens desta escala para o pai e para a mãe são, respetivamente 3.73 e 4.17) e padrão comunicacional negativo (as pontuações médias dos itens desta escala para o pai e para a mãe são, respetivamente 3.85 e 3.92). Estes valores indicam que tanto os adolescentes do sexo masculino como os adolescentes do sexo feminino, percecionam maior interação comunicacional por parte da mãe, exceto na dimensão padrão comunicacional negativo, onde os valores dos rapazes são mais elevados para os progenitores do sexo masculino e os valores das adolescentes são ligeiramente superiores para as mães.

Para efetuar a cotação das subescalas da COMPA-A deve utilizar-se o procedimento descrito para a COMPA-P. Mais uma vez, quanto mais elevado for o resultado melhor tende a ser a perceção da comunicação. No entanto, há que ter em conta que a quinta dimensão diz respeito aos aspetos negativos da comunicação e, por esse motivo, resultados elevados nesta subescala revelam uma perceção negativa sobre a comunicação parento-filial.


Resultados COMPA-C

Análise Fatorial Exploratória

Inicialmente, verificou-se a adequação de se realizar uma análise fatorial à versão COMPA-C, o que foi confirmado através dos índices de KMO = 0.919 e do Teste de Esfericidade de Bartlett, X2 (120) = 3112.326, p < 0.000. A rotação Varimax produziu uma estrutura fatorial constituída por dois fatores que explicam 44.6% da variância. Do conjunto de 34 itens iniciais foram eliminados 18 com peso inferior a 0.3 nos fatores e com forte influência na variação do valor do coeficiente de alfa de Cronbach. A estrutura fatorial ficou então composta por (tabela 3): (fator 1) disponibilidade parental para a comunicação e (fator 2) expressão do afeto e apoio emocional.

A dimensão disponibilidade parental para a comunicação (8 itens) explica 37.3% da variância e diz respeito à perceção, por parte dos filhos, de uma escuta atenta e ativa por parte do progenitor e também à capacidade deste para dar resposta às necessidades dos filhos de acordo com a idade destes; a segunda dimensão expressão do afeto e apoio emocional (8 itens) explica 7.2% da variância e refere-se à ligação emocional e afetiva entre pai/ mãe e filho/filha que sustenta uma relação cúmplice e baseada na abertura comunicacional, associada à partilha de problemas e tópicos pessoais por parte da criança.


Análise Fatorial Confirmatoria

Tal como pode ser visto na Tabela 4, de acordo com os índices referidos (RMSEA, CFI/IFI), a COMPA-C apresenta um ajuste aceitável em todos os índices. De acordo com o AIC, mais uma vez se constata que o Modelo 1 é superior ao Modelo 2. Assim, o modelo oblíquo explica em melhor medida a estrutura fatorial da COMPA-C, confirmando os dados da análise fatorial exploratória.


Fiabilidade

Inicialmente, a consistência interna foi analisada para o conjunto de 34 itens, verificando-se um alpha de Cronbach global de .648. Depois de removidos os 18 itens, com peso inferior a .3, o alpha de Cronbach global passou a .879, valor considerado bom pela literatura (Nunally, 1978). De acordo com o recomendado por Nunally (1978) os valores do coeficiente de alpha de Cronbach para as subescalas são aceitáveis para fins de investigação (fator 1: .842; fator 2: .784). Por sua vez, os valores da correlação média interitem para a escala global e subescalas variam entre .316 e 0.407, níveis considerados aceitáveis por Briggs & Cheek (1986).


Correlação entre as escalas

A análise das correlações entre as subescalas revela uma correlação positiva e forte, estatisticamente significativa (r= 0.685; p = 0.000). Os valores de Pearson revelam, também, correlações positivas e fortes, estatisticamente significativas, entre as subescalas e a escala global (intervalo: r = .904 a r = 0.931; p = .000).


Estatística Descritiva das Escalas

As médias e os desvios-padrão das pontuações das duas subescalas para as crianças em idade escolar encontram-se na Tabela 6. Os valores disponibilizados resultam da soma das pontuações por subescala e pela divisão do valor obtido pelo total de itens de cada subescala permitindo, assim, a comparação dos resultados entre subescalas independentemente do número de itens que as compõem. Esta análise foi realizada para os dois progenitores em separado, tal como na COMPA-A.

As pontuações das crianças do sexo masculino relativamente às subescalas, por ordem das mais elevadas, são: disponibilidade parental para a comunicação (as pontuações médias dos itens desta escala para o pai e para a mãe são, respetivamente, 4.31 e 4.52) e expressão do afeto e apoio emocional, (as pontuações médias dos itens desta escala para o pai e para a mãe são, respetivamente, 3.84 e 4.17).

Por sua vez, as pontuações das crianças do sexo feminino são as seguintes: disponibilidade parental para a comunicação (as pontuações médias dos itens desta escala para o pai e para a mãe são, respetivamente 4.50 e 4.65) e expressão do afeto e apoio emocional, (as pontuações médias dos itens desta escala para o pai e para a mãe são, respetivamente 3.91 e 4.29).

À semelhança do que aconteceu na COMPA-A, estes valores indicam que as crianças de ambos os sexos percecionam maior interação comunicacional por parte da mãe do que do pai.

Para efetuar a cotação das subescalas da COM-PA-C deve utilizar-se o procedimento descrito para a COMPA-P e para a COMPA-A. À semelhança destas versões, quanto mais elevado for o resultado nas duas subescalas da COMPA-C, melhor tende a ser a perceção da comunicação. Neste caso não existem itens invertidos.


Discussão

O objetivo deste estudo consistiu na avaliação das qualidades psicométricas da COMPA, uma medida multidimensional da comunicação parentofilial construída de raiz. Existem alguns instrumentos que analisam a relação pais-filhos, porém estas escalas não têm um foco específico na dimensão comunicacional. Um motivo possível para justificar este aspeto prende-se com a complexidade que o conceito acarreta sendo, inclusivamente, difícil de estabelecer uma definição conceptual de comunicação familiar (Watzlawick, Bavelas, & Jackson, 1967/1993).

Para a construção da COMPA foi levado a cabo um estudo qualitativo com o intuito de identificar as principais características e dimensões da comunicação parento-filial na perceção de progenitores e de filhos em duas etapas do ciclo vital da família - com filhos na escola (1° e 2° ciclo) e com adolescentes. Deste estudo resultaram três versões da COMPA: versão parental (COMPA-P), versão filial 7-11 anos (COMPA-C) e versão filial 12-16 anos (COMPA-A).

Os estudos psicométricos permitiram analisar o instrumento em detalhe, revelando que a COMPA tem condições aceitáveis para ser utilizado em contexto clínico/forense e em contexto de investigação. Os valores de consistência interna das três versões da COMPA são considerados bons pela literatura, particularmente os valores da COMPAA. Por sua vez, a estrutura fatorial exploratória foi confirmada por análises de equações estruturais, revelando que, tal como se esperava, a comunicação parento-filial é um constructo multidimensional (Portugal & Alberto, 2013): expressão do afeto e apoio emocional, disponibilidade parental para a comunicação, metacomunicação, confiança/partilha comunicacional de progenitores para filhos, confiança/partilha comunicacional de filhos para os progenitores e padrão comunicacional negativo. Estas dimensão vão ao encontro das indicações da literatura sobre o tema (Barnes & Olson, 1985; Cummings & Cummings, 2002; Floyd & Morman, 2003; Herbert, 2004; Watzlawick, Bavelas, & Jackson, 1967/1993). Os dados revelam a existência de correlações moderadas entre as subescalas de cada versão e correlações fortes entre as subescalas e os totais de cada versão da COMPA. Estes resultados sugerem que as subescalas medem conceitos diferentes mas todas elas constituem componentes importantes para medir a comunicação em global. Por sua vez, a estatística descritiva das três versões da COMPA indica que as mães tendem a ter um papel de destaque positivo na comunicação familiar, segundo a perspetiva de filhos e de progenitores, tal como indica a literatura (Barnes & Olson, 1985; Jiménez & Delgado, 2002). No entanto, a percentagem de variância explicada por cada uma das versões da COMPA não é elevada. Este aspeto pode dever-se ao facto de existirem outros fatores que estão presentes na perceção que os progenitores têm das suas próprias interações comunicacionais e que, até ao momento, não foram identificados.

Em conclusão, as qualidades psicométricas da COMPA indicam que se trata de um instrumento fiável para aplicação em Portugal. Trata-se de uma escala inovadora que permite avaliar a comunicação de forma multidimensional, contemplando duas etapas distintas do ciclo vital da família (versão para crianças em idade escolar e versão para adolescentes) e recorrendo a diferentes perspetivas (progenitores e filhos). Avaliar a perceção de progenitores e de filhos sobre a comunicação que mantêm entre si permite identificar a existência de eventuais discrepâncias que possam estar na base de mal-entendidos e, consequentemente, promover o desenvolvimento de padrões comunicacionais filio-parentais positivos que assegurem comportamentos adequados e uma boa saúde mental (Miller-Day & Kam, 2010).

Apesar das boas qualidades psicométricas demonstradas pela escala COMPA, o presente estudo apresenta algumas limitações que devem ser consideradas. Uma dessas limitações prende-se com a representatividade da amostra, uma vez que se trata de uma amostragem por conveniência. Além disto, não foi possível efetuar um controlo das respostas, nem da compreensão dos itens, por parte dos progenitores que responderam ao protocolo via internet. Uma outra limitação deste estudo remete para o facto da validade preditiva do instrumento não ter sido estudada, isto é, as suas qualidades psicométricas não foram analisadas em populações específicas e independentes. Uma terceira limitação do presente estudo prende-se com o facto das características psicométricas da escala terem sido analisadas conjuntamente para progenitores do sexo masculino e do sexo feminino. Considerando que os estilos comunicacionais variam em função do sexo do progenitor (Barnes & Olson, 1985; Jiménez & Delgado, 2002), poderia ser útil fazer uma análise da consistência interna independente para pais e para mães. Por fim, este estudo não contemplou o grau de parentesco entre os respondentes, ou seja, não foi tido em conta o facto de alguns dos pais e mães respondentes pertencerem ao mesmo agregado familiar e, por esse motivo, não é possível identificar os níveis de correlação de comunicação ao nível da coparentalidade.


Implicações para a Prática e Investigações Futuras

A escala COMPA pode ser aplicado em três contextos distintos: avaliação, intervenção e investigação. De forma mais específica, o instrumento permite: (1) efetuar a avaliação da comunicação na díade pai/mãe-filho/filha e entre ambos os progenitores, (2) avaliar a comunicação parento-filial em diferentes momentos (e.g. antes e depois de uma intervenção clínica ou em processos de cariz forense), (3) monitorizar as atitudes que possam melhorar a relação comunicacional entre progenitores e filhos, e (4) o desenvolvimento de estudos empíricos centrados na comunicação parento-filial. Desta forma, a COMPA pode ser útil para a elaboração de programas de educação parental, ou para o desenvolvimento de grupos psicoeducativos com diversas tipologias familiares.

No futuro, a investigação deve incluir: (1) a validação das três versões da escala em amostras específicas da população portuguesa, (2) a tradução e adaptação do instrumento para outros países, e (3) o desenvolvimento de uma versão da COMPA para crianças em idade pré-escolar. A aplicação deste instrumento em populações específicas (e.g. famílias pós-divórcio, famílias adotivas, famílias com um elemento com psicopatologia ou doença crónica) poderá constituir uma fonte adicional de informação contribuindo, assim, para uma visão mais rica das relações entre progenitores e filhos e da sua comunicação.



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Para citar este artículo: Marques, A. P., & Marques, I. (2014). Escala de Avaliação da Comunicação na Parentalidade (COMPA): Desenvolvimento e Validação de uma Medida da Comunicação Parento-filial. Avances en Psicología Latinoamericana, vol. 32(1), pp. 85-103. doi: dx.doi.org/10.12804/apl32.1.2014.06