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Avances en Psicología Latinoamericana

Print version ISSN 1794-4724On-line version ISSN 2145-4515

Av. Psicol. Latinoam. vol.40 no.3 Bogotá Sep./Dec. 2022  Epub July 05, 2023

https://doi.org/10.12804/revistas.urosario.edu.co/apl/a.9121 

Artículos

Tecnologias de informação e comunicação na clínica psicanalítica: desafios

Information and Communication Technologies in the Psychoanalytic Clinic: Challenges

Tecnologías de información y comunicación en la clínica psicoanalítica: desafíos

Felipe de Souza Barbeiroa  * 
http://orcid.org/0000-0003-0254-3554

Maria Elizabeth Barreto Tavares dos Reisa 
http://orcid.org/0000-0002-3466-4150

a Universidade Estadual de Londrina


Resumo

O progresso tecnológico modificou as formas de interação entre os indivíduos. A psicanálise, enquanto método de investigação de processos mentais, resguarda pressupostos teóricos e técnicos, ao mesmo tempo que considera as mudanças sociais de cada época. O presente estudo visou investigar as possíveis implicações do uso de mídias digitais, tais como celulares e aplicativos como WhatsApp e Skype, na relação transferencial entre paciente e psicanalista. Assim, o objetivo foi verificar como as tecnologias de informação e comunicação são percebidas e utilizadas por profissionais, no contexto da clínica psicanalítica pré-pandemia da COVID-19. A pesquisa foi realizada com a utilização do método clínico-qualitativo e os dados foram examinados a partir da técnica de análise de conteúdo. Participaram oito psicanalistas brasileiros, os quais foram entrevistados a partir de um roteiro semidirigido, no período de 2018 a 2019. Os resultados apontaram que as tecnologias adentraram os consultórios, tornando-se parte do trabalho analítico. Os profissionais entrevistados manifestaram oposições frente aos novos dispositivos no exercício da clínica psicanalítica, ressaltando diferenças entre contatos presenciais e virtuais. Porém, consideraram que a relação transferencial, fundamental para o trabalho psicanalítico, mantém-se independentemente de o setting ser presencial ou digital. Finalmente, verificou-se certa flexibilização no uso de tecnologias de informação e comunicação com os pacientes em situações emergenciais, possibilitando refletir, inclusive, sobre o impacto da pandemia no modo de praticar o atendimento na clínica psicanalítica.

Palavras-chave: clínica psicanalítica; tecnologias de informação e comunicação; setting; transferência; mídias digitais

Abstract

Technological progress has modified the interactions between individuals. Psychoanalysis, as a method of investigating mental processes, safeguards theoretical and technical assumptions while considering the social changes of each era. The present study aimed to investigate the possible implications of the use of digital media, such as cellphones and apps, such as WhatsApp and Skype, in the transference relation between patient and psychoanalyst. Thus, the objective was to investigate how information and communication technologies are perceived and used by professionals in the context of the psychoanalytic clinic previous to the COVID-19 pandemic. The research was conducted using the clinical-qualitative method. The data were analyzed using the content analysis technique. Eight Brazilian psychoanalysts participated, who were interviewed based on a semi-directed script from 2018 to 2019. The results showed that technologies entered the clinics, becoming part of the analytical work. The interviewed professionals expressed opposition to the new devices in the practice of the psychoanalytic clinic, highlighting differences between face-to-face and virtual contacts. However, they considered that the transferential relation, fundamental for psychoanalytic work, remains regardless of whether the setting is face-to-face or digital. Finally, there was a certain flexibility in the use of information and communication technologies with patients in emergency situations, enabling the reflection on the impact of the pandemic on how attendance is practiced in the psychoanalytic clinic.

Keywords: Psychoanalytic clinic; information and communication technologies; setting; transference; digital media

Resumen

El progreso tecnológico modificó las formas de interacción entre los individuos. El psicoanálisis, como método de investigación de los procesos mentales, protege supuestos teóricos y técnicosal mismo tiempo que considera los cambios sociales de cada época. El presente estudio tuvo como objetivo investigar las posibles implicaciones del uso de medios digitales, como teléfonos celulares y aplicaciones como WhatsApp y Skype, en la relación transferencial entre paciente y psicoanalista. Así, el objetivo fue investigar cómo las tecnologías de la información y la comunicación son percibidas y utilizadas por los profesionales, en el contexto de la clínica psicoanalítica pre pandemia COVID-19. La investigación se llevó a cabo utilizando el método clínico-cualitativo y los datos fueron analizados mediante la técnica de análisis de contenido. Participaron ocho psicoanalistas brasileños, que fueron entrevistados a partir de un guion semidirigido, del 2018 a 2019. Los resultados mostraron que las tecnologías entraron en los consultorios, convirtiéndose en parte del trabajo analítico. Los profesionales entrevistados expresaron oposición a los nuevos dispositivos en la práctica de la clínica psicoanalítica, destacando diferencias entre los contactos presenciales y virtuales. Sin embargo, consideraron que la relación transferencial, fundamental para el trabajo psicoanalítico, se mantiene independientemente de que el setting sea presencial o digital. Finalmente, hubo cierta flexibilidad en el uso de las tecnologías de la información y la comunicación con pacientes en situaciones de emergencia, lo que permitió reflexionar, incluso, sobre el impacto de la pandemia en la forma de practicar la asistencia en la clínica psicoanalítica.

Palabras clave: clínica psicoanalítica; tecnologías de información y comunicación; setting; transferencia; medios digitales

As novas tecnologias de informação e comunicação (Tics) influenciaram a forma como os indivíduos se relacionam na sociedade. O constante avanço tecnológico e o rápido fluxo de informações transformaram as formas de viver coletivamente (Kowacs, 2014). Os consultórios psicanalíticos não escaparam dessas mudanças, sendo comuns questionamentos dos profissionais frente à introdução dos aparelhos tecnológicos no contexto analítico (Feijó et al., 2018). Nessa perspectiva, os preceitos técnicos da psicanálise podem ser refletidos considerando o impacto da tecnologia na atualidade.

Processo psicanalítico

Como o próprio Freud (1923/1996) a define, psicanálise é um conjunto de informações psicológicas baseadas na investigação de conteúdos mentais, enquanto possibilidade de tratamento. A técnica psicanalítica substituiu os métodos hipnótico e sugestivo, em favor da associação livre de ideias, através da qual o paciente deve dizer ao analista tudo o que lhe ocorre. Por sua vez, o trabalho deste consiste em comunicar suas interpretações ao paciente a partir da sua fala, possibilitando tornar consciente o material inconsciente (Racker, 1982). Porém, existe uma força que pode impedir esse movimento: a resistência. Freud (1905/1996) a explica compreendendo que o sujeito rejeita o que emerge devido ao desprazer que é ocasionado pela conscientização de determinados conteúdos e é justamente a esse duelo que o analista deve se entregar.

Em vista disso, existe uma relação inconsciente entre paciente e psicanalista, permeada pela transferência. É por ela que o paciente comunica seus conteúdos reprimidos ao analista, integrando passado e presente para poder, então, tornar consciente o inconsciente no processo analítico (Zimerman, 1999/2007). Inevitavelmente, o analista poderá vivenciar emoções em função dos afetos nele projetados pelo paciente. Esse fenômeno é conhecido como contratransferência, que consiste nos sentimentos vivenciados pelo analista em relação ao paciente. Por se tratar de uma relação subjetiva, os dois fenômenos são indissociáveis (Etchegoyen, 1989/2004). Assim, compreende-se que as relações transferencial e contratransferen-cial permitem a comunicação analítica entre a díade, fundamental para o desenvolvimento do processo psicanalítico.

Embora tenha como eixo fundamental o trabalho com o inconsciente e seja pautado em recomendações de Freud (1913/1996), o processo psicanalítico depende de como cada analista trabalha, pois está sujeito aos avanços decorrentes de novas descobertas. Entretanto, Racker (1982) ressalta que, mesmo com as mudanças, existe uma essência particular que direciona o tratamento como uma transformação humana. Para isso, Etchegoyen (1989/2004) afirma ser importante um contrato, estabelecendo como se dará o processo analítico, composto por elementos que se relacionam uns com os outros, demarcados por um enquadre que combina o contrato e um espaço específico.

Esse lugar é composto por analista, paciente, tempo, dinheiro, técnica e manejo (Freud, 1913/1996, 1914/1996). Não são apenas tais elementos que constituem o setting, mas sim toda a situação simbólica da relação paciente-analista. Mesmo que os elementos que sustentam o processo analítico devam ser mantidos, Winnicott (1954/2000) alerta para a rigidez desse enquadre, que deve ser flexibilizado às condições do paciente e ressalta a importância do setting como propiciador da relação transferencial, importante para auxiliar nas mudanças de amadurecimento psíquico do paciente. Percebe-se um consenso entre os autores considerando que o setting compreende um lugar subjetivo que permite a comunicação inconsciente entre a díade, através das relações transferenciais e contratransferenciais.

Evolução das tecnologias e suas implicações na comunicação

As ferramentas tecnológicas há um tempo exercem influência na relação do ser humano com seu mundo e com os outros. Freud (1930/1996), ao analisar a sociedade, entende que todas as ações praticadas pelos indivíduos e suas invenções são culturais, desde o controle do fogo até o manejo e aprimoramento da tecnologia.

Os computadores surgiram em 1945 para cálculos científicos de militares e, a partir dos anos de 1980, começaram a integrar-se às telecomunicações e ao divertimento. Com a expansão da rede de computadores, outras formas de contato interpessoal se desenvolveram, surgindo um novo espaço de interação: "As tecnologias digitais surgiram, então, como a infraestrutura do ciberespaço, novo espaço de comunicação, de sociabilidade" (Lévy, 1999, p. 32). É um lugar virtual, onde os contatos ocorrem de modo fluido, interativo e em tempo real. Nesse sentido, o autor entende a virtualidade como uma dimensão livre de território e de tempo, em que se confundem o que é público e privado, subjetivo e objetivo. Assim, o mundo passou pela transformação de mera transmissão de informação para uma interação de significações, produzindo manifestações concretas no indivíduo e, consequentemente, na sociedade. Portanto, o virtual não é o oposto de real, pois o autor o entende como uma potência, passível de reinventar o mundo: "É virtual toda entidade 'desterritorializada', capaz de gerar diversas manifestações concretas em diferentes momentos e locais determinados, sem contudo estar ela mesma presa a um lugar ou tempo em particular" (p. 47). Dessa forma, compreende o processo de virtualização como um acontecimento irreversível e inevitável ao ser humano, intervindo na técnica, na linguagem e nas organizações sociais.

Os costumes dos indivíduos mudam conforme as tecnologias progridem, influenciando novas formas de relacionamentos, pensamentos e sentimentos, decorrendo novos traços psíquicos e mecanismos de defesa (Nicolacida-Costa, 2002, 2003). Como explicam Alves e Mancebo (2006): "O advento e o intenso desenvolvimento das tecnologias contemporâneas penetram as dobras sociais, influenciando cada vez mais as formas de relacionamento entre os sujeitos, produzindo processos de subjetivação subsidiados pela lógica digital" (p. 45). Como virtual e real não são diretamente opostos, no ciberespaço os indivíduos vivenciam suas identificações pessoais e subjetivas. Portanto, a formação simbólica da sociedade relaciona-se com a produção tecnológica, pois surgem novos valores e estruturações dos indivíduos e suas relações.

Em vista disso, segundo Recuero (2009), é impossível entender tais relações isolando os sujeitos, pois estes são atores nessa forma de interação, vinculados por laços afetivos. É por esse espaço, segundo Nobre e Moreira (2013), que os indivíduos vivenciam suas questões e laços inconscientes, pois é possibilitada uma maior e mais rápida convivência entre eles. Assim, cada sujeito, com suas identidades, relaciona-se com outros por meio do ciberespaço. Lévy (1996) compreende que os dispositivos eletrônicos são objetos concretos utilizados para metaforizar questões abstratas, como os pensamentos e significações atribuídas aos fenômenos da vida. Segundo o autor, os seres humanos não pensam sozinhos, mas sim em diálogos, e os valores culturais da sociedade formam o contexto moral que rege os pensamentos dos indivíduos. Dessa forma, compreende-se que, atualmente, o meio digital é um meio de relacionamento real entre os sujeitos.

Antes, o foco dos estudos era a técnica das ferramentas e, ultimamente, vem sendo a relação entre os indivíduos nesse novo espaço virtual, visto que é nele que podem ser percebidas expressões da identidade dos sujeitos, que se comunicam em tempo real e em lugares diferentes (Santos et al., 2012). Assim, o importante continua sendo o ser humano, ressaltando a relevância de se compreender as práticas dos usuários e não apenas a tecnologia em si.

Essa nova forma de interação é reconhecida por Silva (2000) como um paradigma que dividiu as fases de uma comunicação massiva a uma comunicação interativa. Explica que a Internet permitiu que imagens, sons e textos pudessem ser sobrepostos, lógica que desprendeu os indivíduos de uma relação unilateral. A interatividade é, então, entendida como um diálogo complexo entre sujeito e as tecnologias hipertextuais, conceituadas como a conexão de vários textos. Tais características representam o modo como acontecem as relações humanas atuais, sejam em redes sociais digitais ou fora delas, assim, as convivências no ciberespaço ou fora dele são intrínsecas.

Com os aparelhos digitais atuais, o perfil do hipertexto posiciona os indivíduos em uma comunicação mais complexa, unindo emissor e receptor em uma vivência híbrida (Silva, 2000). Fragoso (2012) compara as comunicações anteriores ao advento da Internet com o telefone, que permite comunicação síncrona entre um indivíduo e outro, mas não a interação massiva entre um e vários receptores. Como esclarece Silva (2000), o que antes era estático e unilateral, no ciberespaço torna-se plural e multi-direcional. É o que pontuou Lévy (1996) ao pensar o processo de virtualização como um novo modo de se viver e conviver em sociedade.

Comunicação e Psicanálise

Ao analisar o desenvolvimento da escrita, Lévy (1999) afirma que em comunidades orais, as mensagens trocadas entre emissores e receptores dependiam semanticamente do mesmo contexto em que estavam inseridos. Com a chegada da escrita, os indivíduos não precisavam mais estar no mesmo lugar, nem ao mesmo tempo. Portanto, desde sua origem, na Mesopotâmia, a escrita é virtual (Lévy, 1996). Isso porque quando um texto é lido, atualiza-se o entendimento do leitor ao percorrer a leitura, oferecendo seu sentido às palavras, levando consigo a subjetividade que se dá ao ato de ler. Pode-se refletir como a escrita foi uma primeira iniciativa tecnológica até chegarmos à atualidade, quando redes sociais digitais permitem comunicações por áudio e vídeo. A comunicação através da escrita foi utilizada por autores clássicos da psicanálise tanto na comunicação entre os profissionais, quanto ocasionalmente entre psicanalista e paciente, através das tecnologias disponíveis àquela época, especialmente a correspondência por cartas.

Um caso, portanto, que pode ser pensado como atendimento virtual é o do pequeno Hans (Freud, 1909/1996). O menino era tratado diretamente pelo pai, que recebia as orientações de Freud através de cartas. Por meio delas, Freud direcionava o atendimento, fazendo suas pontuações e apresentando manejos para as fobias da criança. Outro caso que pode ser citado é o da menina Piggle, atendida por Winnicott (1979). Devido ao fato de a família da paciente residir longe do analista, as sessões presenciais aconteciam com intervalos de meses e, por muitas vezes, havia comunicação por meio de correspondências entre ele e os pais da criança.

Klein (1994), ao relatar sobre o atendimento de um paciente infantil, cita uma carta recebida da mãe da criança. O menino, ao vê-la no setting, questiona à analista o que estava escrito e Klein explica que eram informações da mãe acerca de sua educação. Portanto, fundamentando-se na compreensão de Lévy (1996), pode-se considerar que nos casos citados, houve atendimento, de certa forma virtual, com a utilização de tecnologia disponível àquela época: a troca de cartas.

Acompanhando o avanço do tempo, o telefone começou a ser utilizado na comunicação entre psicanalistas e pacientes, principalmente em situações em que o atendimento presencial não era possível, ou como primeiro contato (Zimerman, 1999/2007). Porém, quando se popularizou, o telefone causava temor, pois as pessoas pensavam que podiam estar sendo espionadas pelo aparelho, mesmo quando não estava sendo utilizado (Nicolaci-da-Costa, 2004).

No contexto psicanalítico, seu uso é citado na literatura em cuidados a pacientes emergenciais há mais de sessenta anos (Montagna, 2015). Segundo o autor, o telefone era uma alternativa para as circunstâncias do cotidiano, como distâncias geográficas ou dificuldades de deslocamento e, com o avanço tecnológico, os contatos puderam ser feitos por meio de aplicativos digitais, como o Skype.

Desde o desenvolvimento da psicanálise até os dias atuais, constata-se como as possibilidades de comunicação se atualizam e influenciam no modo como as pessoas se relacionam. Assim, a clínica psicanalítica não escapa de tais mudanças. Nesse contexto, as interações que eram realizadas por cartas ou telefone foram substituídas por novas mídias digitais, dentre elas o WhatsApp e o Skype (Barbosa et al., 2013; Montagna, 2015; Nóbrega, 2015).

Tecnologias na clínica psicanalítica contemporânea

Todas essas mudanças repercutem nas clínicas psicológicas. Não existe neutralidade do profissional frente ao tema, pois os aparelhos tecnológicos fazem parte do nosso cotidiano, invadindo os consultórios (Barbosa et al., 2013). Pieta e Gomes (2014) ressaltam que o assunto era principiante no Brasil na ocasião em que realizaram seu estudo, havendo dúvidas e objeções quanto ao comportamento dos profissionais em redes digitais, recebimentos de mensagens de pacientes e até mesmo a realização de sessões on-line. O fato ainda persiste até o momento atual, pois ainda existem poucos estudos a respeito do tema, do ponto de vista da psicanálise no contexto do nosso país.

No Brasil, o Conselho Federal de Psicologia (CFP) ampliou a prestação de serviços psicológicos mediados por dispositivos tecnológicos de comunicação em 2018 (CFP, 2018). A partir de então, as diversas maneiras de contatos mediados por tecnologias já existentes, e que possam vir a existir, são autorizadas no país.

Segundo Kowacs (2014), o efeito das tecnologias na vida dos indivíduos reflete na clínica psicanalítica, impactando a forma de trabalho dos profissionais. Para a autora, mesmo com interações através de aparelhos tecnológicos, alguns preceitos técnicos, tais como a transferência, a contratransferência e a resistência, também podem ocorrer. Assim, a psicanálise acompanha os avanços da contemporaneidade, mas sem perder seus princípios fundamentais.

O trabalho psicanalítico se reorganiza, considerando as características culturais da sociedade em determinado momento, pois o setting alterou-se após o advento tecnológico (Levisky & Silva, 2010). Segundo esses autores, atrasos e faltas podem não ser mais, de fato, resistências frente ao tratamento; o nome do psicanalista pode ser achado no Google; as remarcações das sessões podem ser realizadas por mensagens digitais; crianças utilizam aparelhos eletrônicos como objetos lúdicos; celulares tocam durante os atendimentos e aplicativos como o Skype permitem atendimento on-line. Consequentemente, aumentam as relutâncias e dúvidas dos profissionais sobre o manejo da técnica psicanalítica com a inevitável inserção das Tics no contexto clínico: "As constantes redefinições das relações dos sujeitos com seu organismo e com seu meio impõem, como vimos, um redimensionamento das formas de intervir na clínica psicanalítica" (Barbosa et al., 2013, p. 69).

Os celulares aparecem frequentemente durante os atendimentos, fato que, segundo Simon (2015) é como uma "ânsia de comunicação como expressão de uma voracidade dominadora cuja falta de controle impele para a exterioridade, o distanciamento de si mesmo, da reflexão profunda para discriminar o que é importante do que é aleatório" (p. 74). Além disso, ao interagirem com o psicanalista e com o mundo externo ao mesmo tempo, através dos aparelhos tecnológicos na sessão, passa a não existir mais um intervalo de espera "necessário para pensar detidamente o relacionamento com pessoas significativas de seu universo pessoal, apurar sua gratidão, reconhecer seus equívocos e fazer reparações" (Simon, 2015, p. 74). Barbosa et al. (2013) corroboram: "Construiu-se um modelo de relação alteritária que impede o sujeito de experenciar um intervalo suficiente entre a demanda e a satisfação" (p. 66).

Crianças e adolescentes também utilizam dispositivos digitais em sessões, atualmente. Entretanto, o brincar é o modo como comunicam seus conteúdos inconscientes (Klein, 1930/1996) e os jogos virtuais ou qualquer utilização de tecnologia no setting também constituem uma forma de expressão do paciente (Chung & Colarusso, 2012).

O uso de Tics, percebido dentro dos consultórios, é passível de interpretação e, portanto, deve ser analisado individualmente. Assim, ao considerá-lo como uma forma de comunicação da subjetividade de cada paciente, Chung e Colarusso (2012) compreendem que o manejo clínico deve ser repensado, visto que a técnica psicanalítica se mantém, mas existe uma nova forma de interação entre pacientes e seus psicanalistas. Assim, observa-se a importância de refletir sobre o modo como o dispositivo é utilizado, e não o objeto concreto em si.

Fora do setting analítico, também é verificado o uso de tecnologias no contato entre a díade. A psicanalista Luz (2015) indaga como proceder em relação ao impacto do advento tecnológico atual na interação entre analista e paciente, pois os dispositivos eletrônicos podem estar ou não a favor de uma associação livre de ideias. A autora afirma que é inevitável ter que lidar com o assunto em seu trabalho, refletindo sobre como se sentiu invadida após receber uma mensagem via WhatsApp de um paciente sobre sua foto de perfil. Lingiardi (2008) também se sentiu desconfortável com mensagens assíncronas recebidas de um paciente. Atentando-se às suas percepções contratransferenciais ao ler as mensagens, pôde interpretar essa comunicação como um espaço transicional com seu paciente. Assim como Lévy (1996) relata a sensação de diminuição de tempo e de espaço causada pelo avanço tecnológico na sociedade, Kowacs (2014) a percebe também nos pacientes, podendo haver controle e invasão na vida do analista. Não sendo possível escapar dessa nova conjuntura, Luz (2015) compreende que mesmo que a subjetividade dos indivíduos tenha mudado, a essência técnica é igual à descrita por Freud.

A telepsicoterapia é comparada por Migone (2013) como uma extensão da prática da psicanálise. Se esta, antes, ao ser fundada por Freud, não atendia psicóticos, crianças, grupos ou famílias, hoje tal trabalho é possível. Assim, sessões a distância mediadas por aparelhos tecnológicos podem ser uma alternativa para pacientes que estejam impossibilitados de comparecerem ao consultório, como em situações de mudanças, viagens ou deficiências físicas. Então, o autor defende que é essencial a teoria que conserve e fundamente seu uso, atentando-se, sobretudo, à relação transferencial.

Simon (2015) compreende ser uma boa opção para a distância geográfica. Por outro lado, uma análise mediada por Tics não permite aprofundamento das questões inconscientes dos pacientes, deixando o trabalho analítico superficial, pois a distinção entre fantasia e realidade fica dificultada. Lisondo (2012) defende a flexibilização do setting analítico, mas salienta suas ressalvas quanto à te-leanálise. Segundo ela, o processo psicanalítico pode ser prejudicado por impasses do aparelho, como a baixa qualidade da imagem via Skype, a ausência de sinestesia, a origem do silêncio ser do paciente ou de falha na conexão e também indaga como manejar a parte psicótica da mente nessa modalidade de atendimento.

Já autores como Nóbrega (2015) entendem que é um fenômeno que já ocorre, independente da aprovação ou não dos profissionais. Segundo a autora, a relação transferencial emerge da mesma forma no ambiente virtual, bem como qualquer manifestação inconsciente que ocorre no setting tradicional. Sugere, em vista disso, que o profissional deve investigar a possibilidade ou não de determinado paciente ser atendido on-line. Se for viável, o paciente e o psicanalista devem estar sozinhos, em um local que garanta a privacidade, e todas as normas éticas da profissão devem ser seguidas. Desse modo, a autora afirma que o profissional deve estar bem treinado para tal modalidade de atendimento.

Conforme entende Kowacs (2014), nem todos os pacientes poderiam sustentar uma análise a distância, bem como nem todos os profissionais. Constata-se, destarte, haver divergências entre os autores quanto ao assunto, além de ser necessário avaliar e analisar o uso que se faz da tecnologia pelo paciente, assim como qualquer narrativa por ele comunicada.

Tendo em vista as divergências de opiniões sobre o tema, o presente estudo visou a investigar possíveis implicações do uso de mídias digitais na relação transferencial da díade. Sendo assim, tem por objetivo verificar como as tecnologias de infor mação e comunicação são percebidas e utilizadas, por profissionais, dentro e fora do setting analítico.

Método

Foi utilizado o método "clínico-qualitativo de investigação" (Turato, 2010, p. 240), composto pelos conhecimentos psicanalíticos somados às técnicas qualitativas de pesquisa, sendo um "meio científico de conhecer e interpretar as significações [...] que os indivíduos [...] dão aos fenômenos" (Turato, 2010, p. 240). Dessa forma, são consideradas as relações transferenciais e contratransferenciais do pesquisador na análise dos dados. Os participantes foram selecionados propositalmente, seguindo os interesses dos critérios da pesquisa, compondo uma "amostragem intencional", que permite "pedir às pessoas para que expliquem por que elas comportam-se de um certo modo, explorar sobre decisões ou inquirir sobre fatores subjacentes" (Turato, 2010, p. 357).

Participaram do estudo oito psicanalistas da Sociedade Brasileira de Psicanálise, cujos consultórios estavam localizados em cidades do interior dos estados do Paraná e de São Paulo, com tempo de atuação em clínica que oscilou de 25 a 43 anos de exercício. Tais participantes foram escolhidos considerando que têm a mesma escola de formação psicanalítica, mais especificamente na vertente inglesa. O número de participantes foi estabelecido a partir da "amostragem por saturação" (Turato, 2010, p. 363), sendo o número do grupo fechado e a coleta de dados finalizada quando novas informações começaram a se repetir, não trazendo novos dados significativos para a pesquisa. A decisão pelo fechamento da amostra foi realizada através da análise realizada pelos autores da pesquisa e pelos seus pares no Laboratório de Estudos e Pesquisas em Psicanálise (LEPPSI) da instituição.

A coleta de dados ocorreu no consultório de cada participante, através de "entrevista semidirigida" (Turato, 2010, p. 313). Segundo o autor, a literatura científica mostra que é "o formato mais apropriado para instrumento auxiliar a ser utilizado nas pesquisas qualitativas" (p. 314), com a utilização de questões disparadoras, ou seja, "o entrevistador introduz o tópico e então guia a discussão" (p. 314). As informações coletadas foram examinadas através da análise de conteúdo (Bardin, 1977/2016), investigando as significações dadas pelos sujeitos a partir do material que foi comunicado por eles. A autora orienta que três etapas sejam seguidas: (a) pré-análise, (b) exploração do material e, (c) tratamento dos resultados.

No primeiro momento, foram organizadas e sistematizadas as ideias que orientaram a escolha dos materiais para se atingir os objetivos desta pesquisa. Para isso, as entrevistas transcritas foram lidas e relidas com atenção flutuante. Posteriormente, foram selecionadas as unidades de análise para a criação de categorias, considerando as repetições e relevâncias dos aspectos abordados. A seguir, foram criadas pré-categorias, as quais foram validadas (Turato, 2010) em reunião científica com integrantes do laboratório de pesquisas em psicanálise da instituição em que o estudo foi realizado. Por último, as categorias elaboradas foram discutidas a partir de interpretações e inferências dos pesquisadores (Bardin, 1977/2016).

Todos os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa Envolvendo Seres Humanos da instituição onde o estudo foi realizado (Parecer 2.803.283 e CAAE 93741718.4.0000.5231), atendendo às normas estabelecidas pela resolução 510/2016 (Conselho Nacional de Saúde [CNS], 2016).

Convém ressaltar que a coleta de dados foi realizada no período de 2018 a 2019, antes do início da pandemia da COVID-19. Logo, não havia, ainda, a restrição do atendimento clínico em função dos cuidados sanitários vigentes durante o período pandêmico no Brasil.

Resultados e discussão

Serão apresentadas, a seguir, as percepções dos psicanalistas entrevistados acerca do advento tecnológico. Convém ressaltar que não é objetivo desta pesquisa defender ou maldizer os aparelhos tecnológicos, mas sim expor e discutir o que foi constatado a partir das falas dos entrevistados.

O telefone fixo ainda é utilizado pelos entrevistados, entretanto, tem sido substituído por novas tecnologias, sendo que o aplicativo mais comentado foi o WhatsApp. Durante a fala dos psicanalistas, foi percebido que ligações telefônicas são imediatamente relacionadas ao uso do aplicativo. Por exemplo, um entrevistado relatou: "O WhatsApp hoje é a minha secretária eletrônica".

Um participante relatou que o telefone existe há anos, mas, na atualidade, reconhece que o WhatsApp é uma ferramenta que facilita a comunicação em seu trabalho. Há profissionais que possuem o telefone como secretária eletrônica, mas depois acabam utilizando o aplicativo. Tais exemplos retomam a afirmação de Zimerman (1999/2007) de que o telefone já foi utilizado no contexto clínico psicanalítico, incluindo como um primeiro contato. Um entrevistado contou que, em seu trabalho, o que antes era tratado por telefone, hoje pode ser realizado através das novas tecnologias, de forma similar ao apontado por Montagna (2015) acerca do telefone em atendimentos aparecer na literatura há décadas e estar sendo substituído por novos aparelhos (Barbosa et al., 2013; Nóbrega, 2015).

Porém, por meio das falas dos entrevistados, parece haver certa cautela quanto à novidade do WhatsApp, pois, mesmo assumindo que o telefone é uma ferramenta de "antes", este é mais aceito. O aplicativo é utilizado, mas o modo como o uso do telefone e do aplicativo foram citados aponta para uma possível hesitação referente às novas tecnologias na clínica psicanalítica, como uma forma de neutralizá-las. Como se houvesse o reconhecimento de que o WhatsApp facilita a comunicação em relação ao telefone, mas ainda não é totalmente aceito. Um participante afirmou: "Procuro sempre que possível falar por telefone" [... ] "Embora o WhatsApp tenha sido muito útil". Parece haver esforço para se utilizar da primeira ferramenta, pois ela é utilizada "sempre que possível" e, ao dizer que a última tem sido muito utilizada, esta apresenta-se como mais usada atualmente. Tais fatos remetem à afirmação de Nicolaci-da-Costa (2004) sobre a relutância pelas mudanças tecnológicas, tendo o telefone tido seu tempo de aceitação.

Portanto, percebe-se que o telefone é mais aceito por ser uma tecnologia que, pelo seu maior tempo de existência, foi considerado benquisto no setting analítico. Mas, como esclarece Nicolaci-da-Costa (2004), este também já causou resistência e sentimento de desproteção nas pessoas anteriormente. Inevitavelmente relacionado ao WhatsApp, compreende-se que este é considerado recente e, portanto, carece de aceitação em tal grau como o telefone fixo.

O uso do WhatsApp foi citado em todas as falas dos entrevistados. Algumas falas indicaram antagonismo: se a proposição do uso deste aplicativo é do paciente ou do profissional. Esta tecnologia é utilizada com cautela, como se os psicanalistas estivessem atendendo apenas a um pedido do paciente, e com a finalidade específica de remarcações de horários. Um entrevistado enfatizou que nunca oferece o WhatsApp, mas que não consegue negar quando é solicitado pelo paciente. Então, percebe-se que há a utilização do aplicativo, mas a afirmação de que são os pacientes que propõem essa comunicação são como respaldo para o profissional usá-lo em suas práticas clínicas. Assim, podem remeter a um possível antagonismo do psicanalista, pois considera que utiliza o WhatsApp, mas como um movimento daquele atendido e não seu.

Um psicanalista relatou que resistiu fortemente em oferecer a comunicação pelo aplicativo aos pacientes, os quais muitas vezes o procuram para iniciar a análise por esse meio. Contou que, assim como qualquer elemento novo na clínica psicanalítica, é necessário avaliar se representa uma ameaça ou uma facilidade, bem como entende Luz (2015). A autora questiona como os psicanalistas devem proceder em relação a esses contatos, pois não há como se esquivar da incorporação tecnológica no contexto clínico.

Mesmo com a finalidade de remarcações de horários, os psicanalistas entrevistados relataram que não se sentem invadidos com as mensagens, como Kowacs (2014) afirma ser possível, pois a relação, mesmo digital, é estabelecida no decorrer do processo. Dessa forma, seus pacientes, por enquanto, não os causaram tal sentimento. Tal resultado difere dos aspectos abordados por autores como Lingiardi (2008) e Luz (2015), que citaram certo desconforto no recebimento de algumas mensagens, mas, mesmo assim, buscaram analisar o movimento psíquico dos pacientes com as referidas mensagens, bem como refletir sobre suas práticas clínicas no mundo contemporâneo.

Outros entrevistados reconhecem que passaram a oferecer contato pelo aplicativo, mas ainda assim, foi percebido tentativa de reiterar que a maioria dos pedidos para o uso é feita pelos pacientes. Tal condição é constatada por um psicanalista, ao perceber que passou a sugerir o uso do WhatsApp e, ao final, conclui: "Então eu ofereço, né?". Contou que cada vez mais os pacientes o procuram por esse meio, diminuindo as ligações telefônicas em seu consultório. Sua fala indica como busca possivelmente manter os preceitos técnicos da psicanálise, mas também acompanhar as demandas contemporâneas. Seu manej o retoma a manutenção do setting (Freud, 1913/1996, 1914/1996), mas flexibilizando-o às circunstâncias do paciente de forma semelhante ao mencionado por Winnicott (1954/2000). Deve-se reiterar que com o avanço tecnológico, novas formas de relacionamento surgiram, bem como traços psíquicos (Nicolaci-da-Costa, 2002, 2003) e subjetividades (Alves & Mancebo, 2006). Como lembram Levisky e Silva (2010), o setting analítico modificou-se em decorrência do advento digital.

Vale a pena relacionar a relutância em utilizar as novas mídias digitais como forma de comunicação a distância com as cartas que eram trocadas pelos autores clássicos da psicanálise. Se hoje o WhatsApp permite contato a distância entre profissionais e pacientes, anteriormente, psicanalistas como Freud (1909/1996), Klein (1994) e Winnicott (1979) também se comunicavam através de outros meios, de certa forma virtuais, segundo compreensão de Lévy (1996) acerca do conceito.

A partir da análise de conteúdo (Bardin, 1977/2016), foram construídas três categorias. São elas: (a) Comunicação presencial versus comunicação a distância: relação transferencial, (b) Uso de Tics dentro do setting analítico e, (c) Uso de Tics em situações de casos graves.

Comunicação presencial versus comunicação a distância: relação transferencial

A comunicação a distância foi considerada por todos os entrevistados como uma prática existente, mas que apresenta limitações, se comparada à presença física do paciente no setting. A partir das distinções entre as duas formas de contato citadas, foi necessário investigar como a relação transferencial é percebida pelos entrevistados quando se tem um encontro virtual entre analista e paciente.

O atendimento on-line, segundo os entrevistados, possui propriedades limitadas, dificultando o aprofundamento das questões do indivíduo, como destaca um deles: "É mais egoico, de lidar mais com as questões do dia a dia e menos com as questões transferenciais", de certa forma concordando com as ideias de Simon (2015), considerando que essa modalidade possibilitaria apenas o tratamento superficial das questões do sujeito. Por outro lado, há uma contradição, pois os mesmos psicanalistas afirmaram que o fenômeno transferencial acontece da mesma forma no meio digital, em concordância com Nóbrega (2015), que compreende que tal modalidade permite a associação livre e transferência igualmente, pois são circunstâncias simbólicas. Além disso, um psicanalista considera que "não haveria um encontro a dois, é um encontro a três: eu, a pessoa e o computador", portanto, a tecnologia seria mais um elemento na relação. Tal perspectiva corrobora um dado importante a ser aprofundado: se a relação transferencial emerge tanto em uma sessão virtual como em uma presencial, então, percebe-se a relutância frente ao assunto, pois a relevância está na relação analítica e não no instrumento.

A linguagem não verbal foi ressaltada pelos entrevistados como importante modo de comunicação inconsciente no setting presencial. A presença física do paciente permite que alguns aspectos sejam detectados através de percepções sensoriais, o que nem sempre é possível em uma sessão via Skype. Considerados preciosos para a análise, o cheiro, a respiração, o tom de voz e o costume da fala foram citados pelos psicanalistas. Tais pontos de vista corroboram o entendimento de autores como Simon (2015) e Lisondo (2012), que compreendem que a análise presencial permite o aprofundamento das questões dos pacientes devido à presença física da díade, os quais também enfatizam a possibilidade de transferência de conteúdos inconscientes do paciente para a figura do analista. Porém, encontram-se divergências com autores como Barbosa et al. (2013) e Kowacs (2014), que argumentam que a tecnologia se integrou à prática clínica e que, mesmo no meio virtual, princípios que sustentam o trabalho analítico, como a relação transferencial, podem ocorrer.

Um entrevistado relatou que um paciente em estado de angústia mencionou que a recepção de seu consultório tem um cheiro que o lembrava de quando era criança, o que permitiu a rememoração de sentimentos de desamparo e maus tratos.

Outro entrevistado contou que um paciente, ao entrar na sala de atendimento, colocou seus pertences na poltrona e disse: "Nossa, eu não paro de colocar as coisas aqui". Para o analista, o fato já aponta para o início da sessão e, assim, passível de interpretação analítica. Até mesmo o perfume do próprio paciente, que "vem no começo da tarde e fica a tarde inteira o cheiro dele aqui na sala", pode indicar seu desejo em ocupar e permanecer no local mesmo depois do fim de sua sessão.

Mesmo havendo distinções entre as análises presencial e a distância, o Skype permite a continuidade de sessões quando o paciente passa por uma mudança geográfica, concordando com o entendimento de Migone (2013). Todos os entrevistados consideram ser impossível realizar a análise tradicional quando há mediação de um aparelho tecnológico entre a díade, mas torna-se uma ferramenta útil em situações específicas, concordando com o posicionamento de Lisondo (2012).

Tendo em vista a prioridade para o encontro humano, um entrevistado contou como resistiu a atender ao pedido de um paciente que precisou viajar por um tempo e insistiu para manterem as sessões através da tecnologia. Frente aos pedidos de pacientes que se mudam de cidade, recomenda a procura de outro analista no futuro local, pois há de se reconhecer que existe o luto da separação que precisa ser considerado e superado.

Porém, se a mudança é para um país de outra língua, um entrevistado afirmou que há uma particularidade referente à língua materna do sujeito, na qual há um afeto simbólico que somente o ser que está inserido na mesma cultura pode apreender. Nesse sentido, considera que o Skype se torna essencial para manter a análise de forma melhor exequível. Assim, percebe-se que, em situações específicas, o aplicativo é considerado como uma alternativa para manutenção do vínculo já estabelecido presencialmente.

Pela forma como os psicanalistas entrevistados mencionaram, a relação transferencial enquanto relação analítica não se alterou desde sua conceituação (Zimerman, 1999/2007) até o momento atual, quando as tecnologias fazem parte de todos os espaços. Conforme ressalta Nóbrega (2015), a análise on-line é um acontecimento constatado, independentemente de como cada profissional compreende o assunto. Além disso, afirma que o fenômeno transferencial também existe no ambiente virtual.

É justamente pela relação transferencial que são percebidos alguns pormenores quanto ao uso de aparelhos eletrônicos no contexto psicanalítico, tendo em vista a possibilidade de favorecer o processo analítico ou estar a serviço de uma resistência, como afirmaram os entrevistados e já mencionado anteriormente por Luz (2015). Com isso, é relevante considerar o significado do uso de determinada ferramenta tecnológica, como alertam Chung e Colarusso (2012), e não o aparelho isoladamente.

Um entrevistado abordou o assunto de forma bastante pontual, afirmando que não sente alguma modificação da relação transferencial com seus pacientes: "Eu não sinto assim. Não... não". A objetividade de sua resposta pode representar a compreensão de todos os entrevistados, fazendo pensar que qualquer acréscimo de sua explicação seria algo além da função analítica da transferência, como se as tecnologias estivessem transfigurando o entendimento do conceito. Assim, corrobora-se a característica subjetiva da relação transferencial, conforme explicou Zimerman (1999/2007).

O uso das tecnologias na contemporaneidade é analisado da mesma maneira como a narrativa do sujeito em sessão, como afirma um entrevistado. Em vista disso, a transferência permanece como uma relação inconsciente entre paciente e psicanalista, mantendo-se mesmo no setting virtual. Considerando isso, outro entrevistado relatou que as tecnologias não interferem "na relação transferencial propriamente dita", pois ela ocorre entre a díade: "eu e a pessoa". Em sua fala, o psicanalista enfatizou a preposição, levando a considerar que respalda o entendimento de que o fenômeno é uma atualização inconsciente na figura do analista, constituindo, assim, algo do plano subjetivo existente na comunicação analítica, consoante com o entendimento de Zimerman (1999/2007).

A transferência no contexto clínico psicanalítico é algo que fica à parte do avanço tecnológico. Um entrevistado afirmou que não percebe diferenças, pois é como se houvesse duas dimensões: "Então nós temos aquilo e nós temos aqui. Então, aqui acontecem as coisas". O psicanalista realçou as palavras destacadas, como se estivesse explicitando sua atenção ao uso que se faz da tecnologia na relação analítica e não o aparelho em si, mais uma vez congruente com o entendimento de Chung e Colarusso (2012). Mesmo considerando as diferenças da contemporaneidade em decorrência do avanço tecnológico, como novas subjetividades dos sujeitos (Alves & Mancebo, 2006) e também o uso do ciberespaço (Lévy, 1999) para sublimação de seus desejos arcaicos (Nobre & Moreira, 2013), a relação transferencial continua sendo algo subjetivo, à parte, que permite a comunicação inconsciente entre a díade, conforme afirmou um entrevistado.

Uso de Tics dentro do setting analítico

Os aparelhos tecnológicos adentraram de certa forma no contexto da clínica psicanalítica (Barbosa et al., 2013; Chung & Colarusso, 2012; Levisky & Silva, 2010; Simon, 2015). Assim como os contatos fora dos consultórios devem ser interpretados psicanaliticamente, o uso de dispositivos pelos pacientes durante a sessão também pode ser utilizado como meio de comunicação de conteúdos inconscientes.

Os entrevistados relataram que, inevitavelmente, crianças e adolescentes levam seus celulares ou jogos eletrônicos para o consultório. Um psicanalista contou que não propõe tal atividade em seu trabalho, mas os pacientes infantis os introduzem de qualquer forma. O brincar, tão importante como via de acesso aos conteúdos mentais da criança, atualmente é observado por meio dos dispositivos digitais.

Os celulares podem ser um meio de esquiva do contato, como também podem representar a vivência "autística" das crianças, conforme explicou um entrevistado. Considerando a singularidade de cada indivíduo e o entendimento de Klein (1930/1996) sobre o brincar, pode-se considerar tais aparelhos como os brinquedos, utilizados há muito tempo na clínica psicanalítica, como forma de acesso ao inconsciente da criança. O entrevistado citado ainda compara que mesmo que o celular possa promover uma distração durante a sessão, uma ida ao banheiro também pode. Portanto, não são apenas as tecnologias que podem interferir no processo analítico. Como descrevem Chung e Colarusso (2012), a criança e o adolescente, ao convocarem a participação do analista, representam seus desejos em compartilhar com estes seus mundos internos, atualmente, através de aparelhos tecnológicos.

Segundo Barbosa et al. (2013), pacientes utilizam as tecnologias como forma de apresentarem conteúdos aos analistas, alguns ao atender ligações ou responder mensagens durante as sessões. Os entrevistados ponderam que seus pacientes não fazem uso demasiado dentro do consultório, entretanto precisam, pelo menos, olhar a mensagem recebida pelo aplicativo. Nesse ponto, o paciente se posiciona no que é mais importante no momento: atender ou não. Essa compreensão concorda com Simon (2015), pois pode representar a dificuldade do paciente considerar o que é relevante no momento: a sessão de análise ou o mundo externo.

Além de estarem em contato com outro elemento durante o atendimento, um entrevistado afirmou que são pacientes que não conseguem ficar sozinhos com ele. Considerando que a sessão de análise é uma forma de o paciente entrar em contato com seus conteúdos internos (Freud, 1905/1996), ficar sozinho pode ser muito difícil para o sujeito (Simon, 2015).

Anotações e reproduções literais de músicas, áudios e mensagens surgem no setting, representando um modo de o paciente querer ser fiel ao conteúdo comunicado. A fala deixa de ser a única forma de comunicação durante as sessões e os pacientes demonstram o desejo de serem ouvidos de várias formas pelos analistas. Considerando que a técnica psicanalítica consiste em pedir ao paciente dizer tudo o que vem à mente (Racker, 1982), a clínica atual recebe sujeitos inseridos em um contexto em que tempo e espaço modificaram-se devido ao advento tecnológico (Lévy, 1999).

A necessidade de mostrar conteúdos pelo celular, como fotos ou músicas, assemelha-se à vivência dos sujeitos em mídias digitais, que se relacionam intensivamente devido às possibilidades ofertadas pelo ciberespaço (Lévy, 1999; Santos et al., 2012). É uma forma de relacionamento na qual imagens, sons e textos são interligados (Silva, 2000), como se fora do ambiente digital, a comunicação também se dá por hipertextos. Assim, o contato massivo das mídias sociais (Fragoso, 2012) reflete nos consultórios psicanalíticos, pelas narrativas dos pacientes.

Uso de Tics em situações de casos graves

As limitações quanto ao uso de tecnologias no contato entre psicanalista e paciente não são consideradas em casos considerados graves pelos entrevistados. Estes se mostraram totalmente a favor e disponíveis ao utilizarem os dispositivos em circunstâncias delicadas, com pacientes em situação de risco.

É estabelecido que a disponibilidade é ofertada em qualquer horário, por qualquer meio, mas que pode acontecer de o profissional não estar disponível. Como relata um entrevistado: "Você pode entrar em contato comigo a qualquer hora, se eu não retornar imediatamente, é porque eu estou indisponível naquele momento". Então, o paciente, em situação de crise, deve aguardar o retorno de seu analista. Entretanto, existe uma abertura total para pacientes de risco. Quando há alguma situação de emergência, o contato pode ser realizado a distância através das plataformas digitais. A tecnologia pode auxiliar em situações de impossibilidades de comparecimento no consultório decorrentes de doenças graves, como pacientes em tratamento de câncer: "Então, nós mantivemos o contato por esse período por telefone, né, por celular". Assim como entende Migone (2013), a análise a distância é uma ampliação da prática psicanalítica, como nos casos em questão.

Nesse sentido convém refletir sobre a possibilidade ou necessidade de utilização das Tics em situações emergenciais, tais como as decorrentes da pandemia mundial, decorrente do coronavírus, a partir de 2019. Devido às medidas de proteção, os cidadãos foram convocados a manter isolamento social e evitar contatos presenciais a fim de diminuir a disseminação da doença COVID-19 (Ventura et al., 2020). Em consequência da situação, o Conselho Federal de Psicologia incentivou os profissionais a realizarem os atendimentos pelo meio on-line nesse período, para que todos permanecessem em seus domicílios (CFP, 2020).

Convém ressaltar que não há consenso entre os autores pesquisados (Kowacs, 2014; Lisondo, 2012; Migone, 2013; Nóbrega, 2015; Simon, 2015) acerca do atendimento através das tecnologias de informação e comunicação. Enquanto alguns a defendem como uma possível modalidade de atendimento, outros reconhecem suas limitações de maneira semelhante às apontadas pelos psicanalistas entrevistados. De qualquer forma, é um assunto crescente e, ultimamente, inevitável no contexto clínico psicanalítico, seja pelo crescente desenvolvimento das tecnologias ou por acontecimentos de emergência, tal qual a pandemia COVID-19. Dessa forma, é possível hipotetizar que os psicanalistas entrevistados poderiam apresentar opiniões diferentes das apresentadas se questionados após a vigência da declaração mundial de necessidades de cuidados sanitários para evitar disseminação do vírus, que incluiu a reclusão a fim de evitar contatos sociais presenciais.

Não cabe aqui discutir a incontestável necessidade de apoio a pacientes em risco, mas ressaltar que, segundo os psicanalistas entrevistados no presente estudo, em tais situações, as Tics têm sido utilizadas no trabalho psicanalítico. Tendo em vista as diferenças entre os pacientes considerados graves ou não, citadas pelos entrevistados, pode-se inferir que o uso das tecnologias na comunicação com o paciente, de certa forma, é autorizado pelo sintoma do sujeito.

Considerações finais

As falas dos entrevistados, a literatura da área e o contexto de pandemia permitiram compreender que as tecnologias de informação e comunicação alteraram o funcionamento da sociedade. A atualidade do assunto torna necessária a reflexão por parte dos profissionais, visto que todas essas mudanças adentraram o contexto da clínica psicanalítica. Nas conversas informais, anteriores às entrevistas, alguns entrevistados relataram que não saberiam como ajudar o pesquisador, explicando que não dominavam o assunto das tecnologias. Entretanto, foi possível constatar que alguns psicanalistas, aparentemente, desconheciam o quanto os aparelhos tecnológicos já faziam parte de seus cotidianos pessoais e profissionais.

A relação transferencial continua sendo percebida como uma comunicação inconsciente entre paciente e psicanalista, independente da mediação por um dispositivo digital. O que ocorre é que a clínica está recebendo novas subjetividades e demandas, conforme as mudanças sociais, refletindo nos sujeitos. Os aparelhos eletrônicos dentro dos consultórios parecem ser formas alternativas para expressão de conteúdos, inclusive, inconscientes. Portanto, torna-se importante analisar o uso que se faz da tecnologia e não o objeto concreto em si, pois este é uma ferramenta de comunicação inconsciente, sendo observada como qualquer narrativa do paciente em sessão.

As constantes mudanças na contemporaneidade apontam a necessidade de novos estudos, já que a psicanálise se designa a compreender o sujeito e as conjunturas de suas relações. Além disso, o número de psicanalistas restringe o estudo à amostra consultada. Dessa forma, é conveniente pensar nos possíveis desdobramentos desta pesquisa, como psicoterapeutas com menos tempo de atuação, mais jovens ou até mesmo de outras abordagens psicológicas. Ademais, seria proveitoso refletir sobre as mudanças possivelmente provocadas pela pandemia da COVID-19, pois após tal acontecimento, alguns profissionais que nunca haviam sequer pensado em realizar o trabalho analítico de modo on-line passaram a ofertar tal modalidade e, depois de um tempo, sentiram-se mais confortáveis (Barbeiro, 2020).

A vigência e gravidade da pandemia contribuíram para a necessidade de evitar os atendimentos presenciais e realizar o atendimento na modalidade on-line, também nas clínicas psicanalíticas. Assim, é possível que a percepção a respeito das características da relação transferencial no atendimento virtual, apresente outras nuances, além das aqui apontadas, caso o presente estudo seja replicado.

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Para citar este artigo: Barbeiro, F. S., & Reis, M. E. B. T. (2022). Tecnologias de informação e comunicação na clínica psicanalítica: desafios. Avances en Psicología Latinoamericana, 40(3), 1-17. https://doi.org/10.12804/revistas.urosario.edu.co/apl/a.9121

Recebido: 11 de Março de 2022; Aceito: 28 de Outubro de 2022

*Dirigir correspondência à Felipe de Souza Barbeiro. Correio eletrônico: felipebarbeiro@hotmail.com

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