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Diversitas: Perspectivas en Psicología

Print version ISSN 1794-9998

Divers.: Perspect. Psicol. vol.12 no.1 Bogotá Jan./June 2016

https://doi.org/10.15332/s1794-9998.2016.0001.07 


Perfil de idosos através do modelo dos cinco fatores de personalidade (Big Five):
revisão sistemática

Peril de ancianos mediante modelo de los cinco factores de personalidad de (Big Five):
revisión sistemática

Profile of elderly people through the five personality factors model (Big Five):
a systematic review*

Marianne Farina**, Regina Maria Fernandes Lopes, Irani Iracema de Lima Argimon

* Artículo de investigación.
http://dx.doi.org/10.15332/s1794-9998.2016.0001.07

** Psicóloga, Pontificia Universidad Católica de Rio Grande del Sur, Pós-Graduação em Terapia Sistêmica (INFAPA), Mestre em Psicologia (PUCRS), Doutoranda em Psicologia (PUCRS). Porto Alegre, Brasil

Recibido: 2 de septiembre de 2015 / Revisado: 3 de octubre de 2015 / Aceptado: 12 de diciembre de 2015



Resumo

As características de personalidade na velhice tanto podem se manter estáveis, como podem variar em função das experiências vividas ao longo do ciclo vital. O que requer um movimento de adaptação da pessoa a essas novas circunstâncias e diferem de uma pessoa para outra. Assim como, tendem relativamente estáveis ao longo da vida. Para avaliar a personalidade, uma das teorias explicativas da personalidade é o Big Five —cinco grandes fatores de personalidade—, que possui evidências de universalidade e aplicação em diferentes contextos. O objetivo deste trabalho foi o de elaborar uma revisão sistemática da literatura, através da pesquisa nas principais bases de dados de estudos que abordam personalidade, dentro do modelo dos cinco grandes fatores —Big Five— em idosos, com intuito de identificar os aspectos biopsicossociais relacionados à personalidade do idoso. Utilizou-se os descritores personality, Big Five e elderly, presentes no abstract, nos anos de 2010 até 2014, nas bases de dados internacionais: Scopus, PsycINFO, Pubmed, Web of Science e ProQuest. Os resultados evidenciaram diferenças nas características de personalidade em relação ao tipo de moradia, assertividade, qualidade de vida, afetividade e habilidade de metamemória. O Neuroticismo está associado a determinados comportamentos relacionados a um funcionamento mais negativo da pessoa. Tendo em vista o envelhecimento populacional, estudos com idosos são importantes, sobretudo sob o olhar de uma teoria reconhecida e valorizada no meio científico, Big Five.

Palavras-chave: idosos, personalidade, Big Five.



Resumen

En la vejez, las características de personalidad pueden mantenerse estables o pueden variar en función de las experiencias vividas a lo largo del ciclo vital —que requieren un movimiento de adaptación de la persona con esas nuevas circunstancias—. Las características de personalidad difieren de una persona para otra y tienden a ser relativamente estables a lo largo de la vida. Una de las teorías explicativas de la personalidad es el Big Five —cinco grandes factores de personalidad—, que posee evidencias de universalidad y aplicación en diferentes contextos. El objetivo de este trabajo fue elaborar una revisión sistemática de la literatura, a través de la investigación en las principales bases de datos de estudios que abordan la personalidad dentro del modelo de los cinco grandes factores —Big Five— en ancianos, con el objetivo de identificar los aspectos biopsicosociales relacionados a la personalidad del anciano. Fue hecha una búsqueda de artículos publicados entre 2010 y 2014 en bases de datos internacionales: Scopus, PsycINFO, PubMed, Web of Science y ProQuest. Los resultados evidenciaron diferencias en las características de personalidad con relación al tipo de vivienda, asertividad, calidad de vida, afecto y habilidad de metamemoria. El neuroticismo está asociado a determinados comportamientos relacionados con un funcionamiento más negativo de la persona. Teniendo en cuenta el envejecimiento de la población, los estudios con ancianos se hacen más importantes, sobre todo bajo la mirada de una teoría reconocida y valorizada en el medio científico, Big Five.

Keywords: ancianos, personalidad, Big Five.



Abstract

Personality characteristics at old age may remain stable, but they may also change due to experiences during the life cycle, which require an individual adjustment to the new circumstances. Personality traits vary from person to person and they tend to be relatively stable throughout life. One of the theories of personality is the Big Five model, which proposes the existence of five main personality factors —this model has evidence of universality and application in different contexts. This study aimed to conduct a systematic literature review of biopsychosocial aspects of personality at old age from the Big Five Model. We used the Personality, Big Five and Elderly descriptors present in the abstract, between 2010 and 2014 in the Scopus, PsycINFO, PubMed, Web of Science and ProQuest international databases. Results showed differences in personality traits with regards to the types of housing, assertiveness, quality of life, affection and metamemory skills. Neuroticism is associated with certain behaviors related to a more negative functioning of the person. Given that the population is aging in many countries, studies with the elderly are important, especially from the perspective of a recognized theory valued in scientific circles.

Keywords: Elderly, personality, Big Five.



Introdução

O envelhecimento é definido, pelo Dicionário de Psicologia (American Psychological Association [APA], 2010), como um processo composto por mudanças psicológicas e biológicas associadas à idade cronológica. Há diferenciação entre as mudanças devido aos processos biológicos normais e às ocasionadas por patologias relacionadas à idade. É considerado um processo, um continuum, que inicia na concepção e vai até a morte. Além disso, é uma fase de desenvolvimento, não tendo um marcador biofisiológico de seu início, sendo que a demarcação entre a maturidade e o envelhecimento é fixada de modo arbitrário, mais por aspectos legais e socioeconómicos do que biológicos. A concepção de velhice está relacionada a uma fase da vida que não tem um início claramente definido, caracterizada por uma redução de diversas capacidades, tais como: funcional, cognitiva, psicológicas, motoras, dentre outras (Freitas, Py, Cançado, Doll & Gorzoni, 2006).

Um dos grandes desafios da atualidade pode ser considerado o envelhecimento populacional, tendo em vista o significativo crescimento da expectativa de vida desde o final do século passado (Jesus, 2010). Dessa forma, o envelhecimento da população, além de ser um aspecto positivo, é considerado também uma preocupação mundial e exige estratégias de prevenção e manutenção de saúde a serem adotadas com a maior brevidade possível. Anualmente, no Brasil, em torno de 700 mil pessoas se inserem nessa etapa do ciclo vital, fazendo com que este seja considerado um país que está envelhecendo de forma progressiva e acelerada (Veras, 2011). No processo do envelhecimento, a influência dos aspectos de personalidade ainda é muito discutida, variando de acordo com a teoria utilizada. As características de personalidade diferem de uma pessoa para outra, podem variar ao longo do ciclo vital, como forma de adaptação do idoso ao seu contexto, no entanto, percebe-se estabilidade delas ao longo do tempo (Rebollo & Harris, 2006; Irigaray & Schneider, 2007).

O modelo dos Cinco Grandes Fatores (CGF) —Big Five— é um dos mais extensamente aceitos no mundo científico, com validade da sua utilização em amostras brasileiras (Lounsbury, Hutchens & Loveland, 2005; Silva & Nakano, 2011). É uma versão moderna da Teoria do Traço, que se originou através de um acúmulo de pesquisas na área da personalidade, que abordam as teorias fatoriais e de traço. O advento da teoria ocorreu de forma lenta e gradual. Com o auxílio de programas computacionais para realizar as análises fatoriais, o modelo recebeu maior atenção do mundo científico (Digman, 2002). Atualmente, os CGF possuem evidências de universalidade e aplicação em variados contextos, tendo em vista sua forma eficiente de agrupar características comuns muito gerais, observadas em diferentes culturas, propondo que as pessoas possuem predisposições a se comportarem de determinadas formas (Nunes, Hutz & Nunes, 2010). Ressalta-se a hipótese de universalidade dessa teoria (Costa & McCrae, 1988).

Um dos grandes fatores é o Neuroticismo, que, no modelo dos CGF, tem relação com características de vulnerabilidade, que engloba insegurança e dificuldade de tomar decisões (Hutz & Nunes, 2001). Em seu alto nível, também está presente descaso com as normas sociais, hostilidade com pessoas e animais, um elevado nível de afeto negativo, irritabilidade e condutas de risco: tanto sexuais como quanto ao consumo exagerado de drogas lícitas (Auerbach, Abela & Ringo, 2007; Vazques, Zanon & Hutz, 2010).

Outro grande fator é a Extroversão, que engloba características que envolvem comunicação, assertividade, interesse por atividade de lazer e capacidade ativa das pessoas. Níveis elevados nessa característica demonstram capacidade de falar de si mesmo, com um número menor ou maior de pessoas, além da facilidade de conhecer pessoas novas (Nunes & Hutz, 2006).

A Socialização ou Amabilidade, assim como a Extroversão, é uma dimensão interpessoal e refere-se às pessoas mais agradáveis, amáveis, generosas, preocupadas, comprometidas, altruístas e disponíveis para ajudar os outros (Costa & McCrae, 2007; Nunes & Hutz, 2007). Essa característica engloba os comportamentos socialmente positivos e a qualidade dos padrões estabelecidos nos relacionamentos, assim como o quão apto ou capaz o indivíduo se vê em relação ao convívio social (Nunes et al., 2010).

Já a característica de personalidade a Realização ou Conscienciosidade refere-se ao grau tanto de controle quanto da luta dos indivíduos para atingir seus objetivos. Pessoas com alto nível dessa característica são mais organizadas, persistentes, motivadas, trabalhadoras, pontuais e ambiciosas (Noronha, Mansão & Nunes, 2012). Já o baixo nível dessa característica está relacionado com pessoas desleixadas, negligentes e com falta de clareza de seus objetivos (Howard & Howard, 1995).

Por fim, a característica de personalidade Abertura refere-se à tendência a vivenciar novas experiências, explorá-las ou realizá-las de formas diversas, e interesse pelo meio cultural, estando relacionadas a novas vivências, interesses por atividades sociais e artísticas (Ambiel, Noronha, & Nunes, 2012; Dessen & Paz, 2010). Essa característica também é referida como intelecto, apesar de não estar diretamente associada com inteligência (Carvalho, Nunes, Primi & Nunes, 2012). Pessoas com alto nível de abertura são mais curiosas, criativas e questionadoras. Já as que apresentam baixo nível dessa característica são mais rígidas e convencionais (Howard & Howard, 1995).

Ainda há um número limitado disponível de instrumentos que avaliam a personalidade em idosos (Oltmanns & Balsis, 2011). Tendo em vista que ao envelhecimento, as pessoas têm de lidar não só com as mudanças biológicas, orgânicas, fisiológicas e físicas, é necessário também estarem atentas e cuidarem as mudanças mentais e sociais que podem ocorrer nesse período (Balogh, Bognár, Barthalos, Plachy & Teodóra, 2012). Assim, o presente estudo visa desenvolver uma revisão sistemática da literatura, através da pesquisa nas principais bases de dados de pesquisas que abordam personalidade, dentro do modelo dos cinco grandes fatores —Big Five— em idosos, com objetivo de identificar os aspectos biopsicossociais relacionados à personalidade do idoso, e, assim, contribuir para estudos empíricos e pesquisas futuras.


Método

Tipo de estudo

Trata-se de uma revisão sistemática de literatura, elaborada com base em artigos científicos já publicados no período selecionado, de 2010 a 2014. Este estudo é composto por cinco etapas, conforme Soares, Rodrigues, Martins, Flávia Silveira e Figueiredo (2013): 1) escolha do tema; delimitação, evitando temáticas muito amplas; 2) elaboração do plano de trabalho; 3) escolha das fontes que forneceram as informações pertinentes ao objetivo da revisão; 4) elaboração do trabalho (compilação e leitura do material selecionado); por fim, 5) a análise dos dados e sua interpretação.


Materiais e estratégias de busca

Utilizou-se os descritores Personality, Big Five e Elderly, presentes no abstract, nos anos de 2010 até 2014, nas bases de dados internacionais Scopus, PsycINFO, Pubmed, Web of Science e ProQuest. Os descritores foram consultados no banco de terminologias da Biblioteca Virtual em Saúde - DECs Server Brasil (http://decs.bvs.br/). Todos os termos foram encontrados, exceto Big Five, que não apareceu com outras opções de terminologia. Primeiramente, foi realizado um levantamento bibliográfico preliminar em diversas bases de dados, tanto nacionais quanto internacionais, e, após, optou-se pelas referidas no presente estudo.


Procedimentos para seleção e análise das informações

Todas as buscas foram realizadas no dia 26 de março de 2014, por dois juízes, de forma independente e cega, utilizando a string personality AND Big Five AND Elderly, Não houve diferença na quantidade de resultados encontrados na busca pelas palavras-chave entre aspas ou não, e optouse pela busca sem aspas em todas as bases de dados. Também foram avaliados por dois juízes novamente os abstracts de artigos que tratam o foco da revisão, que aborda características de personalidade em idosos, dentro da teoria dos Cinco Fatores de Personalidade (Big Five), publicados e indexados nos últimos cinco anos, no período de 2010 a 2014. Essa restrição foi determinada, tendo em vista que nos últimos 5 anos têm-se encontrado mais pesquisas com o público idoso, abordando a personalidade, na teoria do Big Five (Booth et al., 2013; Reiss, Eccles & Nielsen, 2014).

Após a seleção dos abstracts, foram verificados os artigos completos indexados nessas bases. A análise dos dados ocorreu a partir da elaboração de um banco de dados com todos os abstracts e da exclusão de artigos repetidos verificados pelo título. A busca restringiu aos idiomas português, inglês e espanhol. Todos os abstracts foram publicados em inglês. Foi utilizado como critério de inclusão: ser artigo empírico/original completo. Foram utilizados como critérios de exclusão: tratar sobre outras fases do ciclo vital e não tratar de aspectos biopsicossociais (sociodemográficos, comportamentais e cognitivos) envolvidos no objetivo do artigo.

Em pesquisa realizada na base de dados PsycINFO, com as palavras-chave presentes no abstract, foram encontrados quatro estudos relacionados à esta pesquisa. Na PubMed, foi realizada a busca com os mesmos descritores, no mesmo período, estando presentes no title/abstract, em função de não se ter a opção de estar apenas no abstract. Foram encontrados dois estudos que apresentavam os termos em questão no abstract e também no título. Na base de dados ProQuest, a busca com os descritores presentes no abstract, foram encontrados cinco estudos. Na Web of Science, com os mesmos descritores, presentes no Tópico (abstracts), foram achados seis estudos. Por fim, na Scopus, com os descritores presentes no abstract, foram encontrados quatro estudos.

Os passos da busca podem ser vistos na Figura 1, que apresenta o fluxograma com os resultados das bases de dados pesquisadas. Na primeira etapa da seleção, através da busca, foi encontrado o total de 21 artigos. A partir desses artigos achados e selecionados em cada base de dados, foram excluídos os artigos repetidos em cada base anterior, através da leitura do título e dos autores do artigo, totalizando nove artigos repetidos nas bases de dados. Após, foi realizada a leitura do abstract dos 12 artigos mantidos e foram excluídos seis em função dos tipos de estudos não estarem de acordo com os critérios de inclusão/exclusão. Após a leitura integral dos artigos selecionados, três foram excluídos: dois em função de não ser amostragem só com idosos e o outro por não tratar de aspectos biopsicossociais da pessoa. Assim, três artigos foram analisados e discutidos nesta revisão. Todas etapas foram realizadas por dois avaliadores independentes, de forma independente e cega.


Resultados e discussão

As características gerais a respeito de cada um dos três artigos selecionados e discutidos nesta revisão estão a presentados na Tabela 1. A tabela apresenta o ano, o título, a autoria, a base de dados da qual o artigo foi retirado, além de informações acerca da origem do estudo, objetivo, método e principais resultados.

Os três estudos selecionados (Balogh et al., 2012; Dahl, Allwood, Rennemark & Hagberg, 2010; Steca, Alessandrini & Caprara, 2010) foram quantitativos, delineamento do tipo transversal, com participantes idosos de 60 até 95 anos. O número total de idosos avaliados em cada referência citada anteriormente foi respectivamente, n = 1384, n = 735 e n = 1269. Esses estudos referem que outras características de personalidade, além das medidas por instrumentos inspirados no modelo do Big Five, podem ser importantes para determinar as diferenças individuais relacionadas às características biopsicossociais avaliadas nos estudos. As pesquisas selecionadas nesta revisão sistemática tiveram o objetivo de verificar a relação das características de personalidade, de acordo com a teoria do Big Five, com aspectos variados da pessoa, considerando os que abrangem questões biopsicossociais. Para isso, além de investigar a personalidade, utilizaram outros instrumentos psicológicos para a avaliação da qualidade de vida, assertividade, satisfação com a vida, afeto positivo, resiliência, controle e capacidade cognitiva nos idosos.


Personalidade: aspectos emocionais, comportamentais e cognitivos

Evidenciam-se aspectos cognitivos relacionados às características de personalidade do idoso. O estudo 1, de Dahl et al. (2010), com 1.384 idosos suecos, sugere que existe um pequeno efeito das características de personalidade em relação as capacidades de metamemória em idosos, encontrando que níveis de Neuroticismo e de Abertura estavam significativamente relacionados com a confiança no julgamento da metamemória dos idosos. Lazari (2014) verificou que a habilidade de metamemória não parece depender de determinas características de personalidade.Também se têm visto relação da personalidade com aspectos emocionais e afetivos dos idosos. No estudo 2, de Steca, Alessandrini e Caprara (2010), com 735 idosos italianos, ao dividi-los em três grupos: resilientes (n = 287), pouco controlados (under-controlled) (n = 210) e muito controlados (over-controlled) (n = 238), encontrou que pessoas mais resilientes têm pontuações médias mais elevadas nas características Socialização, Abertura, Extroversão e principalmente na Realização, exceto o Neuroticismo, que teve uma baixa média, assim, encontrando altas pontuações nas características consideradas mais "positivas" de personalidade, dentro do modelo Big Five. Esse dado vai em direção à descrição de Nunes e Hutz (2007), que considera que a Socialização está relacionada com a capacidade empática, o interesse e a disponibilidade de ajudar os outros. Os idosos resilientestambém tiveram alta pontuação na variável satisfação com a vida em relação aos outros grupos, assim, sugerindo que eles possuem suas necessidades satisfeitas. O estudo de Maiden, Peterson, Caya e Hayslip (2003) identificou um aumento de necessidades não satisfeitas associado com níveis maiores de Neuroticismo, considerando que essa correlação direta corrobora com o achado do estudo 2 de Steca, Alessandrini e Caprara (2010), de que as necessidades satisfeitas estão correlacionadas com menor nível dessa característica. Então, nota-se que os idosos mais resilientes apresentaram altos níveis das características de personalidade mais desejáveis, com maior nível de Extroversão, Socialização e Realização, sendo emocionalmente mais estáveis, ou seja, com menor Neuroticismo.

Os idosos pertencentes no grupo dos pouco controlados apresentam baixos níveis de Abertura, Extroversão Socialização e Realização, exceto para Neuroticismo. Assim, apresentando um perfil menos adaptativo ao ambiente, com elevados níveis de Neuroticismo e muito baixos principalmente na Extroversão, Abertura e Socialização. No entanto, apesar do baixo nível em Realização, os idosos deste estudo também apresentaram alta satisfação com a saúde (Steca et al., 2010), o que é um achado que surpreende, tendo em vista que níveis altos dessa característica têm relação com cuidado adequado à saúde (Booth et al., 2013). Steca et al. (2010), também identificaram alto nível de Neuroticismo em idosos dos grupos muito e pouco controlados, o que demonstra que ambos tendem a apresentar desajustamento afetivo, instabilidade emocional, ansiedade, além de dificuldades de lidar com situações estressantes (Borine, 2011; Schultz & Schultz, 2000), em função desse controle em níveis extremos - em exagero ou escassez. Também, ambos apresentaram baixos níveis de Socialização, sendo que pessoas combaixo nível essa característica a presentam maior irritabilidade (Nunes et al., 2010). Por fim, também foram identificados baixos níveis de Realização, que podem estar relacionados ao pior grau de organização, à falta de persistência e a pouca motivação para atingir os objetivos (Silva & Nakano, 2011).

O estudo 3, realizado com 1269 homens idosos da Hungria, de Balogh et al., (2012), encontrou um valor relativamente baixo do Neuroticismo, em relação às outras características de personalidade, encontrando que homens idosos que vivem no meio urbano têm maiores níveis de Socialização, Abertura e Realização. Foram observadas apenas duas diferenças significativas - naauto eficácia, em relação à assertividade ecaracterística de personalidade Abertura. Também identificou que homens idosos residentes da zona rural apresentam baixos níveis nas características de personalidade (exceto no Neuroticismo), em comparação com homens idosos que vivem na zona urbana. Pensa-se que isso ocorra justamente pelos residentes da zona urbana terem mais condições e opções para realizar atividades que propiciem uma melhor qualidade de vida, como a prática de atividades físicas. O estudo de Silva (2010) verificou que residentes do meio urbano demonstraram níveis mais elevados de Neuroticismo e de Abertura que os do meio rural. O que demonstra dados contraditórios na literatura em relação à personalidade e local de moradia. Sugere-se mais estudos a respeito da relação com o local de moradia e às características de personalidade, tanto em idosos, quanto em outras fases do ciclo vital. Também seria importante uma amostra heterogênea nesta pesquisa, para comparação entre os sexos e para verificar se nas mulheres encontramse esses mesmo resultados.


Personalidade: características sociodemográficas

As características de personalidade em relação ao sexo se apresentaram de forma diversificada nos idosos. No estudo de Dahl et al. (2010) as mulheres pontuaram significativamente maior nível de Neuroticismo e de Socialização, e menor de Realização, comparadas aos homens. Esse achado corrobora com o estudo exploratório de Oliveira (2002), que verificou que as mulheres têm tendência a apresentar níveis maiores de Neuroticismo e também que os adolescentes e os idosos têm maiores níveis dessa característica que os adultos jovens. Já Steca et al. (2010) não encontraram diferenças em relação ao sexo, ao status de trabalho e ao estado civil nas características de personalidade, em sua amostra de idosos divididos em grupos de resilientes, muito ou pouco controlados.

Ainda a cerca da relação entre personalidade e idade nos idosos, se verificouque a idade não tem necessariamente relação significativa com a personalidade. Quando homens eram divididos por idade, dos 60-69 anos e 70 anos ou mais, não foi identificada diferenças significativas em relação às características de personalidade, nem à escolaridade, à qualidade de vida e assertividade (Balogh et al., 2012). No entanto, algumas pesquisas têm encontrado uma variação dos níveis das características ao longo do tempo. Dahl et al. (2010) encontraram que Neuroticismo aumenta significativamente com a idade, enquanto Extroversão, Abertura, Socialização e Realização diminuem. Isso corrobora o estudo de Lourenço (2012), que avaliou autopercepção do envelhecimento, características de personalidade e depressão em idosos de 60 a 90 anos, e identificou que as mulheres expressam níveis mais elevados de Neuroticismo e também que, em função da idade, essa característica sofre variações e a Extroversão diminui. Ao avaliar características de personalidade e a habilidade de metamemória em relação à idade ou sexo, Dahl et al. (2010) não encontraram diferenças significativas.


Considerações finais

Este estudo teve como propósito a realização de uma revisão sistemática de literatura com o objetivo de identificar os aspectos biopsicossociais relacionados à personalidade dentro do modelo dos cinco grandes fatores —Big Five— em idosos. Tendo em vista o aumento do número de idosos na população brasileira e o aumento daexpectativa de vida na última década, estudos com essa população são importantes (Menezes et al., 2013).

Nesta revisão, foi visto que as características de personalidade podem diferir, não necessariamente, em relação ao sexo e à idade da pessoa. Evidenciou-se a relação entre níveis altos e baixos de determinadas características em relação à capacidade de metamemória, satisfação com saúde, afetividade, controle, qualidade de vida, local de moradia, atividades de lazer e de cunho social nos idosos.

Em relação aos abstracts encontrados para a seleção, a partir dos critérios de inclusão e exclusão, alguns deles não explicitavam os instrumentos, os métodos nem os resultados, sendo necessária a realização da leitura do artigo completo para, posteriormente, serem excluídos ou não. Nenhum estudo encontrado avaliava exclusivamente a personalidade, através do modelo teórico do Big Five. Havia outros instrumentos sendo utilizados juntamente, com intuito de relacionar características de personalidade com outros aspectos dos idosos.Na busca realizada com as palavras-chave Personality, Big Five e Elderly, foram encontrados apenas 12 artigos para a leitura do abstract, sendo que apenas um deles era de revisão. No entanto, esta revisão possuía um objetivo diferente deste presente estudo, em função de abordar questões referentes à personalidade e também aos transtornos de personalidade em idosos.

Conforme a pesquisa de Silva e Nakano (2011), ainda há reduzidas pesquisas envolvendo amostras de crianças e idosos dentro do modelo dos cinco fatores, Big Five. Apesar da busca em diversas bases de dados, foi verificado um número pequeno de artigos nos últimos cinco anos. Pode-se pensar que seja em função de uma das limitações dessa revisão sistemática de literatura, que foi a escolha dos descritores, pois os mesmos foram consultados em um banco de terminologias latinoamericano. Dessa forma, a string poderia incluir uma diversidade maior de palavras e o operador booleano OR. Indica-se para futuros estudos a consulta em bancos de terminologias internacionais, na área da Psicologia, como Thesaurus of Psychological Terms da American Psychological Association —APA—. (psycnet.APA.org) ou na literatura Biomédica, como o Medical SubjectHea-dings —MeSH— (www.nlm.nih.gov/mesh/).

Também, para pesquisas futuras, sugere-se realizar estudos longitudinais, para investigar a estabilidade e a variação das características de personalidade ao longo da vida. O estudo de Steca et al. (2010) também teve como sugestão a utilização de outros instrumentos, não só de auto relato para investigar a personalidade, também utilizando as versões completas de questionários na avaliação.

Através desse panorama geral atual a respeito da temática, esta revisão poderá proporcionar contribuições ao meio científico, em função de trazer uma discussão pertinente e atual a respeito de características de personalidade e suas relações com aspectos biopsicossociais nos idosos. Ainda não há uma revisão sistemática de literatura, nos últimos 5 anos, abordando especificamente essa temática, dentro do modelo dos cinco grandes fatores —Big Five—, o que pode ser considerado um estudo com dados atuais.

Através deste estudo pretende-se contribuir também com os profissionais que trabalham com idosos, no sentido de adquirirem maior conhecimento sobre a personalidade de idosos, de forma atualizada. Com isso, têm-se o intuito de promover medidas tanto de prevenção quanto de intervenção e de técnicas de tratamentos que têm objetivos terapêuticos relacionados ao fortalecimento da qualidade de vida do idoso, em função desta revisão promover um maior entendimento da relação das características de personalidade e do envelhecimento da população.



Referências

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