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Introdução
A satisfação dos estudantes com a instituição de ensino e com as experiências vivenciadas nela é um dos elementos capazes de afetar o sucesso do discente. Nesse sentido, pode ser utilizada como métrica de qualidade e ser apresentada como uma medida de reputação da universidade (Poon, 2019).
Estudos têm discutido a importância de se observar a satisfação dos discentes com as condições que moldam as experiências vivenciadas nos ambientes acadêmicos, a fim de aprimorar o processo de ensino-aprendizagem em termos de qualidade e maximizar o bem-estar dos discentes, o que levaria a uma redução de problemas psicológicos desenvolvidos ao longo desse processo (Hyun et al., 2006; University of California, 2014).
A satisfação do discente com o ambiente universitário está relacionada a diferentes fatores, sendo observados, neste estudo, as relações interpessoais, a estrutura institucional, a organização do curso e o apoio ao desenvolvimento acadêmico, fatores que moldam as habilidades dos estudantes (Schleich et al., 2006; Rezaei, 2022).
Este estudo aborda especificamente estudantes de cursos de mestrado e doutorado, também denominados “cur-sos stricto sensu”, os quais se caracterizam por um ambiente solitário e estressante (Reeve & Partridge, 2017), que exige o envolvimento dos estudantes em uma série de funções, rotinas e atividades diárias distintas (Prendergast, 2023). Tais fatores propulsionam o isolamento físico e social entre os acadêmicos (Reeve & Partridge, 2017) e podem afetar a satisfação do discente com o curso e com a instituição.
Em termos conceituais, as relações interpessoais dizem respeito à interação com colegas do mesmo nível de formação, funcionários, coordenação, membros de grupos de pesquisa, entre outros. A estrutura institucional pauta-se em recursos físicos disponibilizados e no compromisso da instituição com a qualidade do curso. Por sua vez, a organização do curso consiste na disposição das disciplinas, no atendimento dos estudantes extraclasse, nas formas de avaliação e na atenção dos professores durante as aulas. Por fim, o apoio ao desenvolvimento acadêmico abrange a promoção de workshops instrumentais, os incentivos financeiros para a pesquisa, o intercâmbio e as demais atividades extracurriculares (Schleich et al., 2006; Meurer et al., 2020.
Além disso, o perfil dos acadêmicos das diversas áreas do conhecimento, a região do curso e as políticas de apoio ao desenvolvimento científico também podem estar relacionados com o comportamento e com a satisfação dos discentes com a pós-graduação, visto que, no Brasil, há diferenças entre as estruturas ofertadas nas instituições de ensino, nas formas de organização dos cursos e, principalmente, no orçamento destinado ao ensino superior em diferentes regiões do país (Rodrigues, 2014). Além disso, Oliveira (2019) apresenta indícios de que características observáveis como a área do curso possam condicionar a satisfação com as experiências vivenciadas pelos discentes.
As experiências vivenciadas nesses ambientes de aprendizagem materializam-se em emoções que podem ser relacionadas com o sucesso ou insucesso acadêmico e com níveis de estresse (Saklofske et al., 2012; Jackman et al., 2022; Lisnyj et al., 2023). Nesse contexto, as redes sociais têm sido utilizadas como mecanismo para a exteriorização de sentimentos além de representarem um meio de buscar apoio emocional e compartilhar vivências positivas e negativas na pós-graduação (Neal, 2012; Lupton, 2014).
Moon (1998; 2000), Shobana et al. (2023), Lupton (2014) e Jordan e Weller (2018) acreditam que experiências positivas e negativas no ambiente acadêmico podem ser identificadas a partir dos relatos em redes sociais. Isso porque o ambiente virtual é tido como um dos principais meios para a exposição de emoções, pois oportuniza uma sensação de liberdade típica das ferramentas que propiciam aos usuários expressar opiniões e posturas que dificilmente seriam autodivulgadas em ambientes não virtuais (Moon, 1998; 2000; Shobana et al., 2023).
Dessa forma, o estudo investiga a seguinte inquietação: qual a relação entre a satisfação com as experiências com a pós-graduação e as emoções autodeclaradas nas redes sociais por estudantes brasileiros? O objetivo da pesquisa consiste em verificar a relação entre as experiências com a pós-graduação e as emoções autodeclaradas nas redes sociais por estudantes brasileiros. De modo complementar, busca-se identificar se há diferenças na percepção dos respondentes conforme as características observáveis em termos pessoais, acadêmicos e demográficos.
A pesquisa justifica-se sob alguns aspectos. Estudos sobre redes sociais e sua relação com a satisfação com a pós-graduação e com os aspectos psicológicos ajudam a conhecer novas vertentes do ambiente acadêmico, em especial sobre a exteriorização de sentimentos reprimidos no processo de ensino-aprendizagem (Reeve & Partridge, 2017). Essas evidências podem ajudar no desenvolvimento e no aprimoramento das experiências dos pós-graduandos durante o curso, à medida que a má saúde mental de estudantes de nível superior poderá ser contornada a partir de evidências que permitam identificar os aspectos associados com as emoções dos estudantes que podem ser aprimorados no ambiente da pós-graduação (Holbrook et al., 2023).
Métodos
Delineamento das hipóteses de pesquisa
A satisfação com as experiências vivenciadas na pós-graduação pode ser vista sob diferentes perspectivas. Este estudo aborda especificamente a satisfação dos discentes com quatro destes elementos: 1) relações interpessoais; 2) estrutura institucional; 3) organização do curso; e 4) apoio ao desenvolvimento acadêmico. No âmbito das relações interpessoais, há evidências de que o apoio social proporciona um ambiente harmônico e propício para a construção do conhecimento, para o engajamento dos estudantes, para a satisfação e para o bem-estar (Levecque et al., 2017; Jackman et al., 2023). Já a estrutura institucional fornece condições adequadas para o desempenho das atividades e está relacionada com o desempenho acadêmico dos discentes (Kulikowski & Damaziak, 2017). A organização do curso e o apoio estudantil referem-se à satisfação com as disciplinas, com a utilidade dos conteúdos analisados e com o enfoque estritamente acadêmico, assim como com a disponibilidade de recursos financeiros (Tunes, 1981; Hyun et al., 2006;Gutierrez et al., 2016).
Saleem et al. (2022) apontam que os pós-graduandos são desafiados intelectual e emocionalmente, e que esse processo pode fomentar emoções positivas, como entusiasmo e alegria, mas também negativas, como tristeza e desânimo, advindas do estresse e da exaustão no processo de ensino-aprendizagem. Assim, o comportamento dos pós-graduandos no ambiente virtual, que, nesta pesquisa, é consubstanciado a partir das publicações realizadas nas redes sociais, está relacionado com suas vivências e satisfação com as diferentes experiências nesse ambiente. Oliveira (2019) mapeou motivos que geram insatisfação dos discentes com seus programas de pós-graduação, encontrando que a relação conturbada entre discentes e docentes, os problemas na organização do curso e no apoio aos estudantes e os problemas estruturais são elementos capazes de afetar o desempenho e a continuidade do pós-graduando no curso.
Portanto, as emoções geradas a partir das experiências na pós-graduação tendem a afetar o comportamento do indivíduo. Evidências discutidas na literatura (James, 2022; Goh et al., 2023) indicam haver relação entre as situações positivas ou negativas às quais os indivíduos são expostos com o seu nível de bem-estar e com o comportamento social, sendo os posts em redes sociais uma forma de comportamento social. Assim, a hipótese teórica 1 (HT1) desta pesquisa afirma que:
HT1 - A satisfação com as experiências na pós-graduação exerce efeitos nas emoções autodeclaradas nas redes sociais.
Evidências expostas por Rodrigues (2014) indicaram que o desenho dos programas de pós-graduação pode diferenciar-se conforme características da região ou particularidades de cada área do conhecimento, sendo propícia a identificação de possíveis diferenças entre a satisfação com a pós-graduação e as emoções autodeclaradas por pós-graduandos nas redes sociais conforme tais peculiaridades. Poon (2019) testou variáveis como idade, gênero, turno de estudo, modalidade de ensino, entre outras, e verificou que somente o gênero condicionou a satisfação dos estudantes com a pós-graduação, sendo que discentes do gênero masculino apresentaram níveis mais elevados de satisfação.
Percebe-se, desse modo, que a literatura aponta evidências de que as características observáveis podem condicionar a satisfação com as experiências vivenciadas na pós-graduação. Além disso, não foram encontrados estudos que abordassem as emoções autodeclaradas nas redes sociais ante as características observáveis, sendo uma oportunidade de avanço com relação à literatura. Assim, tem-se a segunda hipótese (HT2) teórica da pesquisa:
HT2 - Características observáveis dos pós-graduandos condicionam a satisfação com as experiências vivenciadas na pós-graduação e as emoções autodeclaradas nas redes sociais.
Procedimentos metodológicos
A coleta de dados foi realizada por meio de survey em novembro e dezembro de 2017, utilizando a plataforma SurveyMonkey®. A pesquisa foi divulgada em grupos nas redes sociais e fan pages destinadas a pós-graduandos do Brasil, com alcance estimado em 128 000 usuários. Além disso, houve a divulgação em blogs direcionados a assuntos da pós-graduação e via endereço eletrônico dos programas de pós-graduação cadastrados na Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, em 2017. Foi obtido retorno de 1173 questionários válidos, cujo perfil dos respondentes é apresentado na Tabela 1.
Cabe destacar que o quantitativo de programas de pós-graduação stricto sensu no Brasil é disperso. Estados como São Paulo e Rio de Janeiro concentram um número mais elevado de programas e, consequentemente, de estudantes. Por exemplo, em 2023, a Região Sudeste concentrava aproximadamente 60% das matrículas de estudantes de mestrado acadêmico (Brasil, 2023).
O instrumento de coleta foi constituído a partir de assertivas com uso de escala do tipo Likert de 7 pontos. As assertivas sobre emoções derivam do trabalho de Lent et al. (2017); as experiências vivenciadas na pós-graduação foram capturadas a partir da satisfação dos estudantes com a estrutura institucional, da organização do curso e do apoio ao desenvolvimento acadêmico, sendo as assertivas adaptadas de Schleich et al. (2006); e as relações interpessoais pautam-se em Meurer et al. (2020). Na Tabela 2, é apresentado um detalhamento da constituição dos constructos da pesquisa.
O instrumento de coleta de dados passou por um processo de validação aparente, validação de conteúdo e validação de face com vistas a aprimorar a compreensão das assertivas e a aderência ao conteúdo da pesquisa. Participaram desse processo três pesquisadores com experiência na temática, além de dois estudantes pertencentes à amostra-alvo da pesquisa.
A normalidade dos dados foi testada por meio do teste de Kolmogorov-Smirnov, conforme apresentado na Tabela 3.
Devido à identificação de uma distribuição não normal, para a análise de dados, utilizou-se teste não paramétrico de Kruskal-Wallis (KW) para verificar diferenças entre os grupos. Posteriormente, utilizou-se modelagem de equações estruturais (PLS-PM) para verificar relações entre as variáveis. No cálculo da amostra adequada para o uso da técnica, utilizou-se o software G*Power® com Effect size f² = 0.15, nível de significância de 1% (a err prob = 0.01), Power (1-b err prob) = 0.95, e o Numbers of predictors = 4, que determinou tamanho mínimo de 169 observações.
Resultados
Descrição dos dados
As diferenças entre as percepções dos respondentes sobre a satisfação com as experiências na pós-graduação e com as emoções autodeclaradas nas redes sociais a partir de características observáveis em termos pessoais, acadêmicos e demográficos são apresentadas na Tabela 4.
Tabela 4 Teste de Kruskal-Wallis por constructo e agrupamento
Nota: * p < 0.10; ** p < 0.05; *** p < 0.01.
Fonte: dados da pesquisa.
Os resultados permitem inferir que há diferenças entre os grupos no constructo estrutura institucional, para tipo de instituição de ensino, área do conhecimento e região do país. Na organização do curso, as diferenças somente não foram identificadas com a modalidade de formação. Para as relações interpessoais, identificaram-se diferenças entre o gênero e o tipo de instituição de ensino. As oportunidades de desenvolvimento acadêmico apresentaram diferenças nos grupos de gênero, área do conhecimento e regiões do país. Para as emoções positivas, não foram constatadas disparidades significativas; para as emoções negativas, foram identificadas diferenças significativas entre a modalidade de formação e a região do país.
Na Tabela 5, apresentam-se os valores médios dos constructos e o mean rank das comparações que manifestaram diferenças significantes no teste de KW.
Com relação à estrutura do curso, os pós-graduandos de instituições de ensino superior comunitárias apresentam maiores níveis de satisfação (5.46), assim como os discentes da Região Sudeste (5.18). Quanto à organização do curso, respondentes do gênero masculino apresentam maiores níveis de satisfação (5.12), assim como alunos de instituições comunitárias (5.53), da área de linguística, letras e artes (5.39) e da Região Sul (5.06). Para as relações interpessoais, o gênero masculino (5.27) e de instituições de ensino superior comunitárias (5.81) apresentaram satisfações mais elevadas. No apoio ao desenvolvimento acadêmico, foram observados níveis de satisfação mais elevados para o gênero masculino (4.05), da área de engenharias (4.16) e para os discentes da Região Norte (4.04). Por fim, identificaram-se maiores níveis de emoções negativas em pós-doutorandos (3.90) e acadêmicos da Região Norte (4.23). Logo, nota-se que a satisfação dos discentes quanto às experiências vivenciadas na pós-graduação e o nível de emoções podem diferir conforme as características dos pós-graduandos.
Assim, para a amostra de estudantes, há fortes evidências de que o desenho da pós-graduação possui características peculiares por área do conhecimento e região do país, por exemplo, dando indícios da necessidade de políticas e ações que atendam as especificidades de cada ambiente de ensino. A Região Sudeste foi a que apresentou maior nível de satisfação com a estrutura institucional, tal fato pode estar relacionado ao orçamento destinado ao ensino superior, visto que essa região é a que recebe maior volume de investimentos (Rodrigues, 2014).
Historicamente, cursos da área de engenharias costumam possuir diversas alternativas para a realização de intercâmbios e parcerias internacionais, podendo justificar o maior nível de satisfação com o apoio ao desenvolvimento acadêmico. As emoções negativas verificadas em pós-graduandos da Região Norte podem estar relacionadas ao baixo número de programas de pós-graduação existentes na região e à insatisfação com as estruturas institucionais das instituições de ensino superior. Outro aspecto que justifica o grau de satisfação e experiências vivenciadas pelos discentes das áreas de engenharias é o foco governamental no desenvolvimento de políticas destinadas a fomentar a pesquisa, o desenvolvimento e a inovação nessas áreas, como é o caso do Plano Brasil Maior 2011-2014 (Brasil, 2014). Logo, a HT2 não foi rejeitada.
Análise inferencial
O modelo estrutural visa analisar a unidimensionalidade das assertivas com relação ao constructo formado por estas. A avaliação ocorreu por meio da análise de consistência interna verificada pelos indicadores alpha de Cronbach (AC) e Dg. Rho, com parâmetros de 0,70; 1º autovalores maiores que 1 e 2º autovalores menores que 1; a validade convergente foi realizada por meio da variância média extraída (VME), sendo necessário ser maior que 0,50; e validade discriminante ocorreu com a matriz Crossloadings da variável latente, a qual deve ser maior que as dos constructos associados (Hair et al., 2014). Na Tabela 6, são apresentados os indicadores e as correlações entre os constructos.
Tabela 6 Correlação, confiabilidade interna, validade convergente e validade discriminante
Fonte: dados da pesquisa.
Os parâmetros do teste PLS-PM foram alcançados e não foram identificadas correlações entre constructos que pudessem indicar problemas de multicolinearidade. Dessa forma, seguiu-se à análise do modelo estrutural e da hipótese de pesquisa, conforme apresentado na Tabela 7.
Tabela 7 Modelo estrutural
Notas: E. I. = estrutura institucional; O. C. = organização do curso; R. I. = relações interpessoais; A. D. A. = apoio ao desenvolvimento aca dêmico; E. P. = emoções positivas; E.N.= emoções negativas. * p < 0.10; ** p < 0.05; *** p < 0.01.
Fonte: dados da pesquisa.
Os resultados obtidos indicam haver relações significantes no modelo analisado, fato que não permite rejeitar a HT1 e inferir que as experiências vivenciadas por estudan tes brasileiros na pós-graduação influenciam as emoções autodeclaradas nas redes sociais. Tal influência ocorre nas emoções positivas a partir das dimensões de organização do curso, relações interpessoais e apoio ao desenvolvimento acadêmico.
Em termos de intensidade e manifestação, nota-se que as emoções expostas nas redes sociais por meio de publicações não estão associadas de modo significante com a estrutura institucional dos programas de pós-graduação. Apesar de o resultado não ser significante para a estrutura institucional, destaca-se que elas podem afetar o comportamento dos estudantes de maneira indireta, facilitando ou dificultando as relações interpessoais e o desempenho durante o curso (Hyun et al., 2006).
Observa-se que a organização do curso está relacionada de modo significativo com as emoções positivas (b = 0.093; p-value = 0.021) e com as emoções negativas (b = -0.145; p-value = 0.000). Assim, a forma com que as disciplinas são organizadas, os benefícios percebidos pelos alunos a partir do conhecimento adquirido, da carga horária, de orientações e da qualidade de ensino deveriam ser observados pelas coordenações dos cursos e dos professores na tentativa de minimizar as emoções negativas dos estudantes e melhorar os níveis de satisfação na pós-graduação.
As relações interpessoais apresentaram relação significante para emoções positivas (b = 0.126; p-value = 0.000) e emoções negativas (b = -0.069; p-value = 0.061), o que indica que o convívio harmônico entre discentes, docentes e colaboradores deve ser priorizado. Fomentar um ambiente que maximize as interações entre os alunos, por meio das estruturas físicas, e a cooperação no âmbito acadêmico ajuda a elevar o nível de satisfação na pós-graduação e as emoções positivas.
O apoio ao desenvolvimento acadêmico apresentou coeficiente significante somente para emoções positivas (b = 0.092; p-value = 0.023). Nesse contexto, oferecer possibilidades e ações de internacionalização, incentivos para eventos científicos, workshops, oficinas acadêmicas e demais atividades extracurriculares podem aumentar a exposição positiva do programa de pós-graduação nas redes sociais, por meio da satisfação dos discentes.
Discussão dos resultados
As emoções negativas foram formadas pelos sentimentos de sobrecarga de atividades, receosidade, nervosismo e tristeza, sendo esses antecedentes que permeiam problemas de depressão, estresse e síndrome de Burnout (Hyun et al., 2006; University of California, 2014; Kulikowski & Damaziak, 2017). Desse modo, observar as emoções autodeclaradas nas redes sociais com relação às experiências no ambiente universitário fornece evidências para o desenvolvimento ou aprimoramento de políticas estudantis (Hyun et al., 2006; Saklofske et al., 2012).
As condições de vida dos alunos, as ações de engajamento acadêmico, o apoio social, os programas para a manutenção financeira e a valorização social do discente pelos colegas e os demais integrantes do curso são pontos a serem considerados nas ações propostas por tais políticas estudantis à medida que esses fatores estão entre os principais preditores do bem-estar acadêmico (University of California, 2014).
Os achados desta pesquisa indicam a importância de considerar as experiências vivenciadas na pós-graduação no estudo das emoções autodeclaradas nas redes sociais, visto que, no modelo testado, 7% das emoções positivas expostas no ambiente virtual e 5.20% das emoções negativas são explicadas pela satisfação do discente com a estrutura institucional, com a organização do curso, com as relações interpessoais e com o apoio ao desenvolvimento acadêmico. Obteve-se um poder explicativo próximo de 19.30%, o que indica poder explicativo médio, sendo confirmada a relevância de investigações que tangenciem a satisfação com a pós-graduação a partir das emoções autodeclaradas pelos pós-graduandos nas redes sociais, cujo escopo também representa uma das contribuições desta investigação.
Conclusões
A pesquisa teve como proposta analisar a relação entre as experiências com a pós-graduação e as emoções autodeclaradas nas redes sociais. Complementarmente, buscou identificar diferenças na percepção dos respondentes conforme as características pessoais. Assim, a partir de elementos quantitativos, foi possível ilustrar que as emoções autodeclaradas nas redes sociais por estudantes brasileiros são influenciadas pelas experiências vivenciadas na pós-graduação e diferem-se conforme as características dos discentes.
Notou-se que a satisfação com a estrutura institucional não apresentou significância com as emoções autodeclaradas em redes sociais. A organização do curso e a satisfação com as relações interpessoais estão relacionadas com as emoções positivas e negativas, enquanto o apoio ao desenvolvimento acadêmico somente com as emoções negativas. Logo, ações de integrações entre os discentes, como oficinas e workshops, apoio financeiro, parcerias com instituições in ternacionais que viabilizem o intercâmbio dos discentes e disciplinas relacionadas à construção das pesquisas científicas são oportunas para minimizar as emoções negativas e fomentar as positivas.
A partir dos resultados identificados, contribuições práticas e teóricas são advindas da pesquisa. Em termos práticos, o artigo contribui para a compreensão de como as experiências na pós-graduação afetam as emoções dos estudantes, o que pode ser útil para as instituições de ensino superior na melhoria de seus programas acadêmicos. Esse cenário permite que as universidades identifiquem áreas que precisam de aprimoramento para tornar a experiência dos estudantes mais positiva.
Pelo fato de ser verificado o efeito das emoções positivas e negativas, o artigo oferece informações sobre a saúde mental dos estudantes na pós-graduação, um processo um pouco negligenciado na academia brasileira nos últimos tempos, na qual se vivem situações que assolam os estudantes do ambiente da pós-graduação. Assim, a partir dos resultados, instituições podem adotar medidas personalizadas para apoiar a saúde emocional de seus alunos, reduzindo problemas como estresse, ansiedade e depressão.
Por fim, em termos práticos, a pesquisa destaca a importância das redes sociais como um canal para expressar emoções por parte dos pós-graduandos. Esse comportamento pode incentivar instituições e profissionais de educação a considerarem o uso das redes sociais como uma ferramenta para monitorar o bem-estar dos estudantes e oferecer ajuda quando necessário.
No escopo teórico, a pesquisa amplia o entendimento da experiência do pós-graduando na academia brasileira a partir do seu comportamento na rede social. Esse processo pode contribuir para teorizar de que maneira fatores como o ambiente acadêmico, o apoio institucional e as interações interpessoais impactam o bem-estar emocional dos estudantes.
Ao focar nas emoções autodeclaradas nas redes sociais, a pesquisa contribui para o campo da comunicação digital, o que abre espaço inclusive para novas investigações. O estudo pode ajudar a desenvolver um mapeamento sobre como as mídias sociais servem como um espaço para a expressão de emoções, para a construção de identidade digital e para a interação social on-line, particularmente no contexto educacional de pós-graduandos brasileiros.
Reconhece-se também que, em termos teóricos, a pesquisa colabora para o aprimoramento da pesquisa em redes sociais. Nessa direção, ao considerar o papel das redes sociais na expressão e na percepção emocional dos estudantes brasileiros de pós-graduação, o artigo contribui para a teoria das redes sociais. Isso envolve a exploração de como as conexões e interações on-line influenciam as experiências e as emoções dos estudantes, o que é relevante para o campo da sociologia e da psicologia social.
A pesquisa possui limitações. Assim, é importante destacar que os achados não podem ser generalizados para além da amostra analisada devido à sua característica não probabilística. Estima-se também que esses resultados apresentados não são definitivos; em outros tempos, os estudantes de pós-graduação podem apresentar comportamento diferentes, o que abre espaço para uma vigilância constante. Investigações futuras podem aprofundar-se no estudo dessas ferramentas para o desenvolvimento de pesquisas científicas, para trocas de informações e para a construção do conhecimento. Outro direcionamento futuro pauta-se em identificar e mensurar a autodeclaração no ambiente virtual, com vistas a coletar informações para a gestão e a reconfiguração dos programas de pós-graduação no Brasil.1 2
