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Revista Cuidarte

Print version ISSN 2216-0973

Rev Cuid vol.4 no.1 Bucaramanga Jan. 2013

 

FATORES DE RISCO QUE CONTRIBUEM PARA A OCORRÊNCIA DA GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA: REVISÃO INTEGRATIVA DA LITERATURA1

FACTORES DE RIESGO QUE CONTRIBUYEN A LA OCURRENCIA DEL EMBARAZO ADOLESCENTE: REVISIÓN INTEGRADORA DE LA LITERATURA

RISK FACTORS CONTRIBUTING TO THE OCCURRENCE OF ADOLESCENT PREGNANCY: INTEGRATIVE REVIEW OF THE LITERATURE

Ana Caroline Araujo Silva2, Magna Santos Andrade3, Rudval Souza da Silva4, Taiana Jambeiro Evangelista5, Isaiane Santos Bittencourt6, Gilvânia Patrícia do Nascimento Paixão7

1 Artigo de Revisão.
2 Acadêmica do Curso de Enfermagem da Universidade do Estado da Bahia - UNEB, Campus VII, Senhor do Bonfim, Bahia, Brasil.
3 Enfermeira, Mestre em Saúde Coletiva, Professora Assistente da Universidade do Estado da Bahia - UNEB/Campus VII, Senhor do Bonfim, Bahia, Brasil.
4 Enfermeiro, Doutorando em Enfermagem, Bolsita CAPES, Professor Assistente da Universidade do Estado da Bahia - UNEB/Campus VII - Senhor do Bonfim, Bahia, Brasil.
5 Acadêmica do Curso de Enfermagem da Universidade do Estado da Bahia - UNEB/Campus VII - Senhor do Bonfim, Bahia, Brasil.
6 Enfermeira, Mestre em Enfermagem, Professora Assistente da Universidade do Estado da Bahia - UNEB/Campus VII - Senhor do Bonfim, Bahia, Brasil.
7 Enfermeira, Mestre em Enfermagem, Professora Auxiliar da Universidade do Estado da Bahia - UNEB/Campus VII, Senhor do Bonfim, Bahia, Brasil.
Autor de Correspondente: Rudval Souza da Silva. Universidade do Estado da BahiaDepartamento de Educação - Campus VII. Rodovia Lomanto Júnior, BR 407, Km 127CEP: 48970-000 - Senhor do Bonfim (BA), Brasil.

Articulo recibido el 20 de Julio de 2013 y aceptado para su publicación el 15 de Agosto de 2013.


RESUMO

Introdução: A gravidez na adolescência é considerada um relevante problema de saúde pública, em virtude da alta prevalência em todo o país. A ocorrência de uma gravidez não planejada desestabiliza a vida dos jovens e acarreta sérias consequências econômicas e sociais, além de possíveis complicações para a mãe e o feto. O presente estudo tem como objetivo descrever os fatores de risco que contribuem para a ocorrência da gravidez na adolescência, a partir de produções científicas brasileiras. Materiais e Métodos: Trata-se de um estudo descritivo de revisão integrativa da literatura, desenvolvido a partir de produções científicas identificadas na Biblioteca Virtual de Saúde (BVS). A amostra do estudo foi composta de 11 artigos da SCIELO e 19 da LILACS, os quais respondiam aos objetivos do estudo. Após leitura na íntegra, restou uma amostra final de 10 artigos, os quais respondiam de forma explícita, em seus resultados, as evidencias acerca dos fatores de riscos que contribuem para a ocorrência da gravidez na adolescência. Resultados: Abaixa escolaridade das adolescentes, a idade precoce para a primeira relação sexual, baixas condições socioeconômicas, o não uso de métodos contraceptivos, história materna de gestação na adolescência e falta de orientação sexual foram alguns dos resultados evidenciados como fatores de risco para uma gestação precoce, identificados a partir dos estudos analisados. Discussão e Conclusões: O estudo pode contribuir com novas discussões sobre as políticas públicas de saúde que atendam as necessidades dos jovens, além de sensibilizar os pais, escolas, sociedade e instituições de saúde, possibilitando a reflexão sobre o os diversos papéis frente à orientação dos adolescentes, de modo a intervir sobre os fatores de riscos para a gravidez precoce, diminuindo, por conseguinte o número de adolescentes grávidas e os indicadores de morbimortalidade decorrente deste relevante problema de saúde pública. (Rev Cuid 2013; 4(1): 531-9).

Palavras chave: Gravidez na Adolescência, Fatores de Risco, Anticoncepção. (Fonte: DeCS BIREME).


RESUMEN

Introducción: El embarazo en la adolescencia se considera un importante problema de salud pública, debido a la alta prevalencia en todo el país. La ocurrencia de un embarazo no planeado desestabiliza la vida de los jóvenes y tiene complicaciones económicas y consecuencias sociales, y las posibles graves para la madre y el feto. Este estudio tiene como objetivo describir los factores de riesgo que contribuyen a la ocurrencia de embarazos en adolescentes de la producción científica brasileña. Materiales y Métodos: Se realizó un estudio descriptivo de revisión integradora de la literatura, desarrollado a partir de las producciones científicas identificadas en la Biblioteca Virtual en Salud (BVS). La muestra del estudio se componía de 11 artículos SciELO y 19 LILACS, que cumplan con los objetivos del estudio. Después de leer en su totalidad, a la izquierda una muestra final de 10 artículos, que representan de manera explícita, en sus resultados, la evidencia sobre los factores de riesgo que contribuyen a la incidencia de embarazos en adolescentes. Resultados: Bajo nivel de educación de los adolescentes, la edad temprana de la primera relación sexual, nivel socioeconómico bajo, no utilizan métodos anticonceptivos, antecedentes maternos de embarazos en adolescentes y la falta de orientación sexual fueron algunos de los resultados que se muestran como factores de riesgo para una la gestación temprana, identificados a partir de los estudios analizados. Discusión y Conclusiones: Se cree que el estudio contribuirá a nuevos debates de políticas públicas de salud que respondan a las necesidades de los jóvenes y sus padres, las escuelas, la sociedad y las instituciones de salud, reflexionen sobre su papel con la orientación adolescentes con el fin de intervenir en los factores de riesgo para el embarazo temprano, reduciendo así el número de embarazos de adolescentes.

Palabras clave: Embarazo en Adolescencia, Factores de Riesgo, Anticoncepción. (Fuente: DeCS BIREME).


ABSTRACT

Introduction: Adolescent pregnancy is considered an important public health problem, because of the high prevalence throughout the country. The occurrence of an unplanned pregnancy destabilizes the lives of young and has serious economic and social consequences, and possible complications for mother and fetus. This study aims to describe the risk factors that contribute to the occurrence of teenage pregnancy from Brazilian scientific production. Materials and Methods: This is a descriptive study of integrative literature review, developed from scientific productions identified in the Virtual Health Library (VHL). The study sample was composed of 11 articles SciELO and 19 LILACS, which meet the objectives of the study. After reading in full, remained a final sample of 10 articles, which accounted explicitly, in their results, the evidence about the risk factors that contribute to the incidence of teenage pregnancy. Results: Low education of adolescents, early age for first sexual intercourse, low socioeconomic status, and not using contraception, maternal history of teenage pregnancy and lack of sexual orientation were some of the results shown as risk factors for an early gestation, identified from the studies analyzed. Discussion and Conclusions: It is thought that the study will contribute to further discussions of public health policies that meet the needs of young people and their parents, schools, society and healthcare institutions reflect on your role with the guidance adolescents in order to intervene on risk factors for early pregnancy, reducing therefore the number of teenage pregnancies.

Key words: Pregnancy in Adolescence, Risk Factors, Contraception. (Source: DeCS BIREME).


INTRODUÇÃO

A adolescência é um importante período do processo evolutivo humano, no qual ocorrem inúmeras modificações físicas, psicológicas, emocionais e sociais, sendo ainda essa fase, o momento em que os jovens experimentam desejos, dúvidas, curiosidades e no meio de tantas transformações vivenciam a descoberta do próprio corpo e do prazer sexual, muitas vezes compartilhado com o companheiro, resultando em riscos para uma gravidez indesejada (1).

A vida sexual ativa dos adolescentes é uma realidade notória, que exige sensibilização e orientação dos jovens para a prática do sexo seguro, objetivando a prevenção de diversos tipos de patologias de transmissão sexual e da gravidez não planejada (2). Nas últimas décadas, observa-se que no Brasil, o fenômeno da gravidez na adolescência tem sido abordado por diferentes segmentos da sociedade, de forma mais intensa e abrangente, sendo considerando esta uma questão de saúde pública pelo próprio Ministério da Saúde do Brasil (3).

Em virtude da alta prevalência, a gravidez na adolescência tem sido considerada um importante assunto de saúde pública (4), o qual tem atingido tanto as adolescentes como a sociedade de um modo geral, fazendo com que as possibilidades de desenvolvimento dessas jovens, na sociedade, sejam limitadas ou adiadas (5).

Em sua grande maioria, a gravidez nessa fase da vida é enfrentada com muita dificuldade, pois juntamente com ela, ocorre uma brusca mudança da situação da mulher que passa da condição de filha para ser mãe e, de modo geral, a adolescente encontra-se despreparada nas suas condições física, psicológica, social e econômica para exercer o novo papel materno (6).

A ocorrência da gravidez faz com que a adolescente sofra um corte em seu desenvolvimento, viva um momento de muitas perdas, tais como a perda de identidade, expectativa do futuro, confiabilidade e proteção da família (5). Por estes motivos, a gestação precoce é apontada como um elemento capaz de desestabilizar a vida da adolescente, além de ser um elemento determinante na reprodução do ciclo de pobreza das populações, ao ocasionar obstáculos na continuidade dos estudos e no acesso ao mercado de trabalho (7).

Além disso, a gravidez na adolescência ainda representa uma das principais causas de morte de mulheres entre 15 e 19 anos de idade e é capaz de gerar consequências para os bebês, deixando estes mais vulneráveis a apresentar condições de risco como o baixo peso ao nascer e a morte por problemas infecciosos e/ou desnutrição no primeiro ano de vida (8).

No que se refere às ações preventivas, torna-se relevante o conhecimento dos fatores que contribuem para a ocorrência da gravidez entre adolescentes, sendo imprescindível compreender e reconhecer a complexidade e multicausalidade, que tornam as adolescentes vulneráveis a essa situação. A partir da compreensão desses aspectos, pode pensar no planejamento de políticas de saúde pública e na implementação das ações pelas equipes de saúde, de modo que as atividades de promoção e prevenção sejam direcionadas aos grupos mais vulneráveis, e assim consigam reduzir os indicadores de gravidez entre adolescentes e, por conseguinte melhorar a qualidade de vida desta parcela da população (9).

Para tanto, o presente estudo parte da questão norteadora: Quais são os principais fatores de risco para a ocorrência da gravidez na adolescência? E, tem como objetivo descrever os fatores de risco que contribuem para a ocorrência da gravidez na adolescência a partir de produções científicas brasileiras.

MATERIAS E MÉTODOS

Trata-se de um estudo de abordagem qualitativa, desenvolvido a partir de uma revisão integrativa, a qual tem sido definida como uma das mais vastas das abordagens metodológicas em desenvolvimento, quando se trata de uma revisão do estado de literatura, uma vez que para haver um entendimento mais abrangente, este método permite a utilização de estudos tanto experimentais quanto não-experimentais (10).

De maneira coordenada, a revisão integrativa tem o intuito de agrupar e resumir os resultados das pesquisas, a partir das evidencias científicas, seguindo seis passos metodológicos (11), que constitui o que será apresentado a seguir:

A primeira etapa iniciar-se com a escolha do tema e a formulação da pergunta norteadora. Assim, o presente estudo tem como tema de investigação, os fatores de risco associados à gravidez na adolescência, direcionado pela questão norteadora: quais são os principais fatores de risco para a ocorrência da gravidez na adolescência? Seguindo o que determina o método de revisão integrativa, a segunda etapa se ateve a realizar uma busca na literatura, tomando por base os critérios de inclusão e exclusão pré-estabelecidos. Foram considerados critérios de inclusão: a) artigos que abordassem os riscos associados à gravidez na adolescência; b) com textos completos disponíveis nas referidas bases de dados; c) periódicos publicados no Brasil, em português; d) publicados no período de Janeiro de 2001 a Dezembro de 2011, considerando ser o período de uma década o suficiente para traçar um perfil e analisar quais os fatores de risco para uma gravidez na adolescência.

Como critérios de exclusão foram considerados: a) artigos que não abordassem os riscos associados à gravidez na adolescência; b) que não possuíssem publicação do texto disponível na íntegra; c) artigos não publicados no idioma português; d) artigos com data de publicação que não atendessem ao recorte temporal.

A busca dos artigos foi realizada em periódicos científicos de Enfermagem constantes da Biblioteca Virtual de Saúde (BVS), que inclui dentre outras, as seguintes bases de dados informatizadas: Scientific Eletronic Library Online (SciELO) e Literatura Latino Americana do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), a partir dos descritores: gravidez na adolescência, fatores de risco e anticoncepção.

Em consonância com o que determina o método, a terceira etapa se deu com a categorização dos estudos, a partir de uma planilha desenvolvida no Software Excel for Windows 2010®, com o objetivo de facilitar a visualização e categorização dos artigos selecionados, o que gerou os o banco de dados (título do artigo, autor (es), periódico, ano, local, objetivo do estudo, método, amostra e resultados) apresentados no quadro 01.

Na quarta etapa, foi realizada a avaliação dos estudos incluídos no banco de dados, de modo que os artigos selecionados foram lidos, utilizando-se de uma leitura em profundidade com o objetivo de subsidiar a análise detalha das evidências. A quinta etapa, possibilitou a interpretação dos resultados, a partir de um processo de comparação, análise e interpretação dos dados, para então, responder a questão norteadora e o objetivo do estudo. Por fim, na sexta e última etapa, foram apresentados os resultados da revisão evidenciados a partir de pesquisas previamente realizadas em diversas regiões do Brasil.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Utilizando os descritores gravidez na adolescência, fatores de risco e anticoncepção, foi encontrado um total de 219 artigos científicos, sendo 125 na base de dados LILACS e 94 na SCIELO. Após essa seleção foi realizada a leitura exploratória dos títulos e resumos, o que possibilitou a exclusão daqueles estudos que não atenderam aos critérios de inclusão. Esse procedimento permitiu selecionar apenas 30 artigos da primeira amostra, sendo 19 artigos da base de dados LILACS e 11 da SCIELO, por apresentarem evidencias que respondiam aos objetivos do presente estudo. Após a leitura na íntegra destes artigos, acabou por serem excluídos mais 20 artigos, por não estarem condizentes do o objetivo do estudo, restando uma amostra final de 10 artigos selecionados, por trazerem de forma explícita, em seus resultados, as evidencias acerca dos fatores de riscos associados à gravidez na adolescência.

Conforme demonstrado no Quadro 01, os 10 artigos selecionados foram escritos em português, publicados entre 2007 e 2011, tendo um quantitativo de autores por manuscrito variado entre um e sete autores, totalizando trinta e nove articulistas envolvidos nas pesquisas analisadas.

Pôde-se observar também, que em relação ao tipo de estudo empregado nos artigos selecionados, dois foram do tipo caso-controle, uma pesquisa qualiquantitativa, duas pesquisa de abordagem eminentemente qualitativa e cinco quantitativas. Quanto ao tamanho da amostra houve uma variação com amostras entre 19 e 1015 participantes, dentre estes tiveram adolescentes primigestas, gestantes e puérperas, além de familiares de adolescentes grávidas.

Em relação aos objetivos dos estudos, pôde-se constatar que estes variaram desde o interesse em conhecer o processo da gravidez na adolescência, até aqueles que buscaram de fato evidenciar os fatores de risco individuais, familiares e psicossociais aos quais estas jovens estão vulneráveis ao se encontrar gravida em plena adolescência.

Quanto ao instrumento de coleta de dados, observaram-se que os estudos utilizaram formulários, questionários com perguntas abertas e fechadas e entrevistas. Em se tratando dos resultados encontrados pelos pesquisadores, foram listados dezenove diferentes fatores de risco apresentados na figura 1, onde podem ser evidenciados a presença de alguns fatores em mais de um estudo, reforçando ainda mais as evidencias enquanto um fator de risco para a gravidez na adolescência.

A partir da síntese apresentada no (Quadro 1), dos artigos incluídos na revisão integrativa, emergiram nove categorias temáticas de análise, respectivamente intituladas: baixa escolaridade do adolescente e abandono escolar; idade precoce para o namoro e para a primeira relação sexual; relacionamento duradouro; baixas condições socioeconômicas, local de moradia próximo ao tráfico de drogas, à zona de prostituição e de criminalidade; falta de orientação sexual, não uso, uso inadequado e dificuldade de acesso aos métodos anticoncepcionais; história materna de gestação na adolescência e baixa escolaridade dos pais; relação conflitante da adolescente com os pais; uso de álcool e drogas por familiares e, rebeldia das adolescentes e más companhias. Passamos a apresenta e discutir cada uma das categorias temáticas.

1. Baixa Escolaridade do Adolescente e Abandono Escolar

Estudos (Quadro 1 - Estudos IV e VIII) realizados em Estados da Região Nordeste brasileiro evidenciam que a baixa escolaridade estaria relacionada à gravidez na adolescência, visto que mais de 80% das adolescentes pesquisadas tinham menos que oito anos de escolaridade. Do mesmo modo, pesquisa realizada em outros Estados como Bahia, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul, mostrou que entre as adolescentes grávidas, 35,3% tinham apenas o Ensino Fundamental Incompleto e 44,1% possuíam o Ensino Médio Incompleto.

Assim, a jovem que não estuda ou tenha abandonado os estudos tem mais chances de fazer parte das estatísticas de jovens grávidas, pois a baixa ou ausência de escolaridade pode influenciar na não aquisição de práticas preventivas (5), já que a escola desempenha um papel de educação em saúde ao transmitir informações sobre o corpo e sobre os métodos contraceptivos (12).

2. Idade Precoce para o Namoro e Para a Primeira Relação Sexual

Pesquisa (Q-1 - E-I) desenvolvida num município do Estado do Ceará verificou que 62% das adolescentes grávidas tiveram a sua primeira relação sexual entre 14 e 16 anos de idade, corroborado por pesquisas (Q-1 - E-IV) realizadas em outro município do Estado da Paraíba, que revelou que 47% das mães adolescentes participantes da pesquisa tinham iniciado a sua vida sexual antes dos 15 anos de idade.

Em estudos (Q-1 - E-VIII e IX) realizados por adolescente nos estados do Rio Grande do Norte e no Rio Grande do Sul, evidenciaram que a idade da sexarca das entrevistadas ocorreu em média aos 13 anos e a primeira gestação aos 14 anos de idade, demonstrando a precocidade da primeira relação sexual.

Percebe-se então, que o início precoce da atividade sexual e as consequências advindas desse fenômeno (12), se devem ao fato de que os jovens estão chegando à adolescência e descobrindo o sexo, antes mesmo de terem informações suficientes que lhes permitam compreender primeiro a sua sexualidade e se prevenir de situações como a maternidade e a paternidade sem planejamento (5).

3. Relacionamento Duradouro

Os estudos (Q-1 - E-I, VI e VIII) mostram que a maior parte das jovens que passaram pela experiência de gravidez na adolescência tinha um companheiro fixo e/ou viviam com ele, sob a forma de casamento ou união estável. Das jovens grávidas que participaram da pesquisa realizada num município do Estado do Ceará46% viviam com companheiro fixo e 26% eram casadas e município do Estado de Goiás, observou-se que mais de 58,8% viviam sob a forma de união estável.

O relacionamento duradouro se encaixa como um fator de risco, pois o fato das jovens manterem um relacionamento estável e duradouro aumentaria a frequência das práticas sexuais e em contrapartida reduziria a utilização dos métodos anticoncepcionais pelos parceiros, facilitando assim a ocorrência da gestação na adolescência (5).

4. Baixas Condições Socioeconômicas, Local de Moradia Próximo ao Tráfico de Drogas, à Zona de Prostituição e de Criminalidade

O estudo (Quadro 1 - E-VI) demonstrou que apenas 26,5% das adolescentes possuíam renda familiar superior a um salário mínimo, corroborando com esse dado, outro estudo (Quadro 1 - E-I) revelou que 51,8% possuíam renda familiar de até um salário mínimo (em valores da época) e 40,7% se encontravam abaixo da linha da pobreza.

As precárias condições socioeconômicas potencializam a exposição aos riscos que ameaçam o desenvolvimento saudável dos jovens, no entanto, a situação socioeconômica não deve ser foco para explicar a gravidez na adolescência, uma vez que a baixa renda familiar é apenas parte de um conjunto maior, que envolve pessoa, tempo, processo e contexto (13).

5. Falta de Orientação Sexual, não uso/uso Inadequado e Dificuldade de Acesso aos Métodos Anticoncepcionais

A educação sexual deve ser iniciada na infância e potencializada na adolescência, que é o período que ocorrem as primeiras relações sexuais (1). No entanto, ainda podem ser encontradas jovens que não receberam esse tipo de educação, como mostra os dados encontrados nos estudos analisados (Q-1 - E-II), em que 30% das adolescentes grávidas pesquisadas jamais tiveram qualquer orientação sexual e numa outra pesquisa (Q-1 - E-III) evidenciou-se que 16% das primigestas revelaram não ter recebido informações sobre sexualidade e fertilização. Essa desinformação sobre sexualidade e fertilização tem como consequência a não adesão aos métodos contraceptivos pelas adolescentes (9).

A não utilização dos métodos anticoncepcionais, como um fator de risco para a gravidez na adolescência, foi evidenciada num estudo realizado no município de Fortaleza no Estado do Ceará (Q-1 - E-II), em que 60% das gestantes adolescentes pesquisadas disseram não utilizar nenhum método anticoncepcional. Tal evidencia também foi observada num outro estudo (Q-1 - E-IV) que demonstrou que 57,1% dos casos tinham usado algum método anticoncepcional e, um terceiro estudo (Q-1 - E-IX) realizado na região sul do país, revelou que 75,6% das pesquisadas disseram usar sempre algum método e somente 8,8% disseram nunca terem usado métodos anticoncepcionais.

Num estudo multicêntrico (Q-1 - E-V), a partir os relatos das mães adolescentes foi evidenciado que mesmo conhecendo os métodos anticoncepcionais, elas não usavam os mesmos, por temer as mudanças físicas que poderiam advir dos efeitos colaterais desses medicamentos. No mesmo estudo, as mães adolescentes entrevistadas, revelaram que a dificuldade de acesso aos métodos anticoncepcionais ocorria devido à limitação dos recursos financeiros e também ao sentimento de vergonha e medo.

6. História Materna de Gestação na Adolescência e Baixa Escolaridade dos Pais

As mães são consideradas como o modelo, em que os adolescentes devem se espelhar para enfrentar as experiências que encontrarão ao logo da vida (14). Sendo assim, uma história materna de gestação na adolescência é considerada fator de risco apontado pelos estudos (Q-1 - E-IV e VIII), nos quais, mais de 50% das adolescentes entrevistadas afirmaram que suas mães também haviam sido mães na adolescência.

A ocorrência de uma gravidez na adolescência num ambiente que houve história materna de gestação precoce é explicada como um fenômeno psicológico, que de forma inconsciente, a adolescente repete a história de suas mães, podendo ainda a gravidez ser uma forma de reaproximação entre mãe e filha (15).

Com relação à baixa escolaridade, como fator de risco, os estudos (Q-1 - E-III e VI) revelaram que mais de 70% dos pais das adolescentes grávidas nunca tinham frequentado a escola ou tinham até o primeiro grau incompleto e 61,8% das mães das adolescentes entrevistadas possuíam o Ensino Fundamental Incompleto.

Portanto, os dados mostram que essa limitação da escolaridade dos pais contribui de forma significativa, pois a baixa instrução dificulta a comunicação entre os pais e filhos e até mesmo, em alguns casos, ocorrem a total ausência desse diálogo (16).

7. Relação Conflitante da Adolescente Com os Pais

Num estudo realizado no Estado de São Paulo (Q-1 - E-VII) percebeu-se, por meio das narrativas dos familiares entrevistados, que o relacionamento que as adolescentes tinham com seus pais influenciava na ocorrência da gestação precoce, de modo que, em um dos depoimentos os pais disseram que o desejo da filha era engravidar, constituir sua própria família e assim poder sair de casa.

Em contrapartida, estudo realizado no Estado de Goiás (Q-1 - E-VI) revelou que 58,8% das gestantes adolescentes tinham boa relação com os pais, sendo o pai pouco referido, ou por não morar junto ou por nunca tê-lo conhecido e de modo semelhante. E, pesquisa desenvolvida num Estado do Nordeste (Q-1 - E-VIII) evidenciou-se que 28% das adolescentes afirmaram ter bom relacionamento com o pai e 40% bom relacionamento com a mãe.

8. Uso de Álcool e Drogas por Familiares

Quanto ao uso de álcool e drogas por membros da família, os estudos (Q-1 - E-III e X) investigaram a relação deste fator de risco e concluíram que 17% das gestantes adolescentes relataram ter membro da família que use álcool e 14% disseram ter membro da família que use drogas ilícitas mais de uma vez na semana, além de um percentual de 34,8% de adolescentes que afirmaram ser membro de famílias com pessoas que fazem use abusivo de álcool e drogas.

O uso de drogas lícitas e ilícitas por familiares promove o estresse do ambiente, uma vez que a família fica mais propensa a passar por situações desagradáveis e a sofrer repercussões psicossociais, contribuindo para a desestruturação familiar e para o desejo da jovem engravidar e sair de casa (9).

9. Rebeldia das Adolescentes e más Companhias

A partir dos relatos dos familiares de adolescentes grávidas, pesquisa realizada em São Paulo (Q-1 - E-VII) apontou que a rebeldia das jovens seria um fator de risco, uma vez que, a mãe relatou que apesar de todas as orientações dadas, a jovem havia engravidado, propositalmente, só para lhe causar aborrecimentos. No mesmo estudo, os depoimentos dos familiares permitiram concluir que a gravidez ocorria devido à influência negativa das amigas.

Sendo assim, as características precárias do local de moradia promovem a inevitável aproximação de amizades impróprias, de tal forma, que muitas vezes os próprios familiares se viam impossibilitados de impedir essa aproximação e essa convivência (17).

CONCLUSÕES

Diante da grande incidência de gravidez na adolescência e as suas repercussões negativas para as jovens, o presente estudo pode evidenciar dezenove fatores de risco associados ao fenômeno.

Dentre os fatores de risco encontrados, a partir dos estudos, foi possível concluir que a baixa escolaridade tem influência na gravidez precoce, uma vez que o fato da adolescente não frequentar a escola faz com que ela deixe de adquirir os devidos conhecimentos sobre educação em saúde; a idade precoce para o namoro e para a primeira relação sexual foram outros fatores de risco encontrados, visto a relação proporcional entre eles, ou seja, quanto mais cedo a jovem começa a ter um relacionamento, mais cedo ela também terá a sua primeira relação sexual e mais precocemente ela poderá engravidar.

Com relação ao relacionamento duradouro, observou-se que a estabilidade da relação e a confiança adquirida entre os parceiros fazem com que a adolescente não se previna adequadamente; em se tratando da falta de orientação sexual, do não uso, uso inadequado e dificuldade de acesso aos métodos anticoncepcionais, conclui-se que o fato da adolescente não ter orientação sexual adequada, faz com que ela não use os métodos anticoncepcionais e com isso engravide sem planejamento.

A história materna de gestação na adolescência foi outro fator de risco encontrado, pois as adolescentes repetem, de forma inconsciente, o comportamento que a mãe teve; a baixa escolaridade dos pais contribui para a gestação precoce, pois limita a comunicação e por consequência dificulta a orientação sexual a ser passada para as filhas.

A relação conflitante das adolescentes com os pais, rebeldia das adolescentes e más companhias, também contribuem para a gestação precoce, pois a adolescente enxerga na gravidez uma forma de contrariar os pais e ao mesmo tempo sair de casa e poder ter a liberdade e autonomia que os pais sempre as negaram; o uso de álcool e drogas por familiares, por sua vez, cria um ambiente estressante, cheio de conflitos e desse modo a jovem imagina que a gestação e a consequente saída da casa dos pais lhe proporcionarão mais tranquilidade.

Já com relação as baixas condições socioeconômicas e local de moradia próxima ao tráfico de drogas, à zona de prostituição e criminalidade, observou-se que há uma divergência entre alguns autores, pois uns acham que as condições precárias seriam fatores de risco, uma vez que faz a jovem pensar que a gravidez será capaz de melhorar sua vida econômica, enquanto outros autores afirmam que as precárias condições socioeconômicas ameaçam o desenvolvimento saudável da jovem, mas que não deve ser considerada causa.

Portanto, diante da complexidade e da multicausalidade desse fenômeno, acredita-se que estudo possa contribuir com a discussão das políticas públicas de saúde que atendam as necessidades dos jovens e que os pais, as escolas, a sociedade e as instituições de saúde, reflitam sobre o seu papel fundamental frente a orientação dos jovens e sobre a relevância do trabalho em conjunto, no sentido de reduzir a exposição das adolescentes aos fatores de risco para a gestação precoce, diminuindo desta maneira os índices de gestação na adolescência.


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