SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.14 issue3Continuing bonds, men, and women in bereavement: A secondary analysisConstruction and validation of a video about breast cancer for deaf women author indexsubject indexarticles search
Home Pagealphabetic serial listing  

Services on Demand

Journal

Article

Indicators

Related links

  • On index processCited by Google
  • Have no similar articlesSimilars in SciELO
  • On index processSimilars in Google

Share


Revista Cuidarte

Print version ISSN 2216-0973On-line version ISSN 2346-3414

Rev Cuid vol.14 no.3 Bucaramanga Sep./Dec. 2023  Epub Dec 24, 2023

https://doi.org/10.15649/cuidarte.3060 

Research Article

Fatores Associados aos Triggers e Eventos Adversos em Pediatria*

Factors Associated with Triggers and Adverse Events in Pediatrics

Factores asociados con desencadenantes y eventos adversos en pediatría

Rúbia Marcela Rodrigues Moraes1  * 

Sileyde Cristiane Bernardino Matos Povoas Jucá2 

Deise Vacario de Quadros3 

Ana Maria Müller de Magalhaes4 

Gilmar Jorge de Oliveira Júnior5 

Welistania Vieira Bispo Barbosa6 

Joao Lucas Campos de Oliveira7 

1. Hospital Universitário Júlio Müller, Cuiabá, MT, Brasil. Email: rubia mc@yahoo.com.br

2. Hospital Universitário Júlio Müller, Cuiabá, MT, Brasil. E-mail: mscjuca@gmail.com

3. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS, Brasil. Email: deisevquadros@gmail.com

4. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS, Brasil. Email: amagalhaes@hcpa.edu.br

5. Universidade Federal do Mato Grosso, Cuiabá, MT, Brasil. Email: gilmar.junior@ufmt.br

6. Universidade Federal do Mato Grosso, Cuiabá, MT, Brasil. E-mail: welistania@gmail.com

7. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS, Brasil. E-mail: joao-lucascampos@hotmail.com


Resumo

Introdujo:

A ocorrencia frequente de eventos adversos durante a internado hospitalar demanda meios proativos de gerenciamento de riscos, incluindo a verificado de rastreadores/triggers.

Objetivo:

Verificar os fatores associados aos triggers e eventos adversos na internado pediátrica.

Material e Métodos:

Pesquisa transversal embasada na metodologia do Institute for Healthcare Improvement (IHI), por meio da aplicado do Paediatric Trigger Tool (PTT) a uma amostra (n=194) de prontuários de pacientes pediátricos de um hospital do Centro-Oeste do Brasil. Foi realizada análise estatística descritiva, inferencial e regressao de Poisson.

Resultados:

Mais da metade (n=107; 55,15%) dos pacientes apresentou pelo menos um trigger na internado. Foram identificados 204 triggers/gatilhos, com maior ocorrencia de queda de hemoglobina/ hematócrito (9,80%), queda de saturado de oxigenio (9,80%) e aumento de marcadores de fundes renais (9,20%). Do total de gatilhos, 64 (31,37%) eventos adversos foram confirmados, os quais foram classificados majoritariamente como dano temporário com necessidade de suporte ao paciente (65,62%). O tempo de internado (p-valor=0,004) e o caráter da internado (p-valor<0,001) foram variáveis associadas a ocorrencia de triggers. Caráter de internado e admissóes provenientes de outras instituióes foram preditores na ocorrencia de triggers e eventos adversos.

Discussao:

O estudo encontrou 31,37% dos triggers resultando em danos ao paciente, a detecáo precoce é essencial na seguranza do paciente pediátrico, internaóes prolongadas estáo ligadas a infecdes e eventos adversos, transferencias de pacientes exigem medidas de seguranza rigorosas e eficazes.

Conclusóes:

Internaóes prolongadas e crianzas admitidas via transferencia merecem atenáo a triggers e/ou eventos adversos concretizados.

Palavras-Chave: Eventos Adversos; Gestáo de Riscos; Rastreamento; Seguranza do Paciente; Enfermagem Pediátrica

Abstract

Introduction:

The frequent occurrence of adverse events during hospital admission demands proactive means of risk management, including checking trackers/triggers.

Objective:

To verify the factors associated with triggers and adverse events in pediatric hospitalization.

Material and Methods:

Cross-sectional research based on the Institute for Healthcare Improvement (IHI) methodology, through the application of the Pediatric Trigger Tool (PTT) to a sample (n= 194) from medical records of pediatric patients from a hospital in the Center-West of Brazil. Descriptive, inferential statistical analysis and Poisson regression were performed.

Results:

More than half (n=107; 55.15%) of patients had at least one trigger upon admission. 204 triggers were identified, with the highest occurrence of a drop in hemoglobin/hematocrit (9.80%), a drop in oxygen saturation (9.80%) and an increase in kidney function markers (9.20%). Of the total triggers, 64 (31.37%) adverse events were confirmed, which were mostly classified as temporary damage requiring patient support (65.62%). The length of stay (p-value=0.004) and the nature of the hospitalization (p-value<0.001) were variables associated with the occurrence of triggers. Character of hospitalization and admissions from other institutions were predictors of the occurrence of triggers and adverse events.

Discussion:

The study found 31.37% of triggers resulting in harm to the patient, early detection is essential in pediatric patient safety, prolonged hospitalizations are linked to infections and adverse events, patient transfers require rigorous and effective safety measures.

Conclusions:

Prolonged hospitalizations and children admitted via transfer deserve attention to triggers and/or adverse events.

Keywords: Adverse Events; Risk Management; Tracking; Patient Safety; Pediatric Nursing

Resumen

Introducción:

La frecuente aparición de eventos adversos durante el ingreso hospitalario exige medios proactivos de gestión de riesgos, incluida la verificación de rastreadores/disparadores.

Objetivo:

Verificar los factores asociados a desencadenantes y eventos adversos en la hospitalización pediátrica,

Material y Métodos:

Investigación transversal basada en la metodología Institute for Healthcare Improvement (IHI), mediante la aplicación del Pediatric Trigger Tool (PTT) a una muestra (n= 194) de historias clínicas de pacientes pediátricos de un hospital del Centro-Oeste de Brasil. Se realizaron análisis estadísticos descriptivos, inferenciales y regresión de Poisson.

Resultados:

Más de la mitad (n=107; 55,15%) de los pacientes presentaron al menos un desencadenante al ingreso. Se identificaron 204 desencadenantes, con mayor incidencia de descenso de la hemoglobina/hematocrito (9,80%), descenso de la saturación de oxígeno (9,80%) y aumento de los marcadores de función renal (9,20%). Del total de desencadenantes, se confirmaron 64 (31,37%) eventos adversos, los cuales en su mayoría fueron clasificados como daños temporales que requirieron apoyo del paciente (65,62%). La duración de la estancia (p-valor=0,004) y la naturaleza de la hospitalización (p-valor<0,001) fueron variables asociadas con la aparición de desencadenantes. El carácter de la hospitalización y los ingresos de otras instituciones fueron predictores de la aparición de desencadenantes y eventos adversos.

Discusión:

El estudio encontró que el 31,37% de los desencadenantes resultan en daño al paciente, la detección temprana es esencial en la seguridad del paciente pediátrico, las hospitalizaciones prolongadas están vinculadas a infecciones y eventos adversos, los traslados de pacientes requieren medidas de seguridad rigurosas y efectivas.

Conclusiones:

Las hospitalizaciones prolongadas y los niños ingresados vía traslado merecen atención a los desencadenantes y/o eventos adversos.

Palabras Clave: Eventos Adversos; Gestión de Riesgos; Seguimiento (Tamizaje); Seguridad del Paciente; Enfermería Pediátrica

Introdujo

Na hospitalizado pediátrica, a oferta do cuidado seguro e de qualidade a crianza e/ou adolescente e família, considerando o contexto clínico, sociocultural e organizacional, permeia inúmeros desafios em virtude da maior vulnerabilidade a incidencia de eventos adversos (EA). Isso decorre de fatores intrínsecos - como estágios do crescimento e desenvolvimento - e aspectos anatómicos e fisiopatológicos peculiares a essa clientela1. Além disso, elementos como a organizado e gestáo do trabalho podem favorecer a ocorrencia de incidentes e EA em pediatria, evidenciados pela evitabilidade de uma elevada proporgáo destas ocorrencias2.

Estudo brasileiro feito no Ceará verificou uma ocorrencia de eventos adversos notificados como never events e óbitos em recém-nascidos com idade > 28 dias de 7,5% e crianzas com idade entre 5-11 anos de 5%3. Ainda no Brasil, observou-se num período de seis anos (2008-2013) 3.330 reagóes adversas em criangas, sendo que 28% dos relatos suspeitos das reagóes adversas medicamentosas envolviam menores de um ano, e quase 30% das notificagóes envolveram o uso off label dos medicamentos4. No México, em um hospital pediátrico, 81% das reagóes adversas medicamentosas foram consideradas graves, sendo 0,7% com sequelas e 1,10% evoluíram para óbito5.

A incidencia, gravidade e evitabilidade de EA sáo fatores que justificam o melhor gerenciamento de riscos, inclusive na hospitalizagáo pediátrica6. Para isso, ferramentas de investigagáo de EA e de triggers/gatilhos sáo instrumentos que qualificam o gerenciamento de riscos e podem colaborar para a seguranga do paciente, pediátrico ou náo.7Trigger/gatilho é definido como uma palavra sinalizadora/ rastreador ou pista que ajuda determinado revisor a encontrar um EA ou situagáo que possa favorecer a sua ocorrencia. Por sua vez, EA é um incidente que resulta em dano ao paciente8.

Existem variadas formas de investigagáo de EA nas instituigóes hospitalares, que sáo respaldadas por instrumentos de detecgáo, incluindo: revisáo do prontuário do paciente; análise dos índices de gravidade, mortalidade e morbidade; verificagáo dos sistemas de notificagáo voluntários; observagáo direta e a avaliagáo dos sistemas de ouvidoria7)-(9. Uma revisáo de literatura recente7 que analisou 13 estudos primários apontou que os métodos/instrumentos de revisáo retrospectiva de prontuários para avaliagáo da incidencia e evitabilidade de EA em hospitais mais frequentes foram o Harvard Medical Practice Study, o Canadian Adverse Event Study, o Quality in Australian Health Care Study e o Global Trigger Tool. A relevancia dessas ferramentas se dá justamente pela persistente baixa notificagáo de eventos adversos nas organizagóes de saúde, motivada especialmente pelo medo,9 portanto, sáo meios que podem aproximar a gestáo de riscos a realidade assistencial, que é dinamica e complexa.

Conhecer quais pacientes sáo mais suscetíveis aos triggers e aos EA, sensíveis ao emprego de ferramentas de rastreio, pode contribuir de forma robusta ao avango científico e clínico-gerencial no cenário do gerenciamento de riscos e seguranga do paciente pediátrico, pois se trata de uma clientela com particularidades assistenciais e maior susceptibilidade a ocorrencia de incidentes. Deste modo, este estudo teve o intuito de responder as seguintes perguntas: quais sáo os fatores associados aos triggers/gatilhos e aos eventos adversos na internagáo pediátrica? E, quais sáo os triggers associados aos eventos adversos na internagáo pediátrica? Com isso, o objetivo consistiu em verificar os fatores associados a ocorrencia de triggers e eventos adversos em criangas hospitalizadas.

Materiais e Métodos

Estudo transversal, analítico e retrospectivo. Foi realizado na unidade de internado pediátrica de em um hospital universitário público de médio porte da regiáo Centro-Oeste do Brasil. A unidade estudada é referenciada no estado para tratamento de doengas crónicas, raras e infectocontagiosas e conta com 14 leitos de internado entre pacientes clínico-cirúrgicos vinculados exclusivamente ao Sistema Único de Saúde.

A populagáo foi constituida da totalidade (N=608) de prontuários físicos provenientes dos pacientes que estiveram internados no setor no ano de 2019. Para conseguir alcanzar os objetivos do estudo, calculou-se o tamanho mínimo necessário da amostra, utilizando a seguinte expressáo10:

Onde, Z é obtida na tabela de distribuido normal padronizada, considerando um coeficiente de confianza de 95%, isto é, Z = 1,96; um erro de amostragem de 5,00% (e = 0,05); a proporgáo será considerado de 50% (p =0,50) para estimar o maior n possível; e o tamanho de populado N = 608. Com isso, o tamanho amostral mínimo pela equagáo aplicada foi de 236.

O processo amostral utilizado foi aleatório simples. Houve 42 perdas, com impossibilidade de reposido das unidades amostrais devido ao agravamento do contexto de pandemia de COVID-19 vigente, o que inviabilizou a continuidade da coleta de dados de in loco.

A coleta de dados ocorreu de outubro de 2020 a fevereiro de 2021, seguindo a metodologia do IHI.8 Para tanto, foram escolhidos de forma aleatória e proporcional 20 prontuários por mes, com pontos de cortes quinzenais. Conforme norma institucional, cada pesquisador deveria utilizar 20 prontuários físicos por vez na unidade de coleta, e o mesmo teria de solicitá-los com prazo de 72h, náo havendo com isso tempo hábil para novas coletas. Portanto, a amostra final foi constituída por 194 (82% do dimensionado) prontuários.

Os critérios de inclusáo foram: prontuários de crianzas com tempo de internado de no mínimo 24 horas e idade maior ou igual a 28 dias e menor ou igual a 16 anos, 11 meses e 29 dias; diagnóstico clínico; com desfecho: de alta hospitalar, transferencia ou óbito. Adotou-se como critérios de exclusáo: prontuários de crianzas com tempo de internado superior a seis meses (por inviabilidade de coleta de dados); prontuários incompletos em relado aos dados demográficos e clínicos; prontuários náo localizados; pacientes internados em regime de hospital-dia e pacientes cirúrgicos (objetivando uma amostra homogenea).

O rastreamento dos triggers e eventos adversos ocorreu por meio da aplicado do Paediatric Trigger Tool (PTT),8 e de um formulário para extrado de variáveis demográficas e clínicas dos pacientes. A ferramenta PTT contém cinco módulos constituídos por gatilhos/pistas que variam de 1 a 15 rastreadores. Os gatilhos estáo inseridos nos seguintes módulos, a saber: Cuidados gerais (11 rastreadores), Cuidados Cirúrgico (04 rastreadores), Cuidados intensivos (01 rastreador), Medicado (08 rastreadores) e Resultado de Testes Laboratoriais (15 rastreadores)

Considerado como uma variado do Global Trigger Tool (GTT) mais apropriada a clientela pediátrica, o Paediatric Trigger Tool (PTT) é uma ferramenta estruturada de revisáo de prontuários recomendada pelo Institute for Healthcare Improvement (IHI) que busca mensurar a ocorréncia de danos nas instituigóes hospitalares usando gatilhos específicos para pacientes pediátricos para identificar os triggers de EA, bem como confirmar a ocorréncia desses eventos.8 O PTT fornece as equipes pediátricas métricas quanto a incidéncia de danos relacionados a assisténcia, permitindo gerenciar fragilidades e implementar melhorias na seguranza e qualidade assistencial, acompanhando sistematicamente as estratégias propostas8.

Pelo perfil bem delimitado da clientela pediátrica em estudo, que tem especificidade clínica nao crítica, foram utilizados os rastreadores dos módulos: Cuidados Gerais, Medicagáo e Resultados de Testes Laboratoriais. Os módulos de Cuidados intensivos e Cuidado Cirúrgico nao foram utilizados também pelo perfil dos pacientes da unidade (poucos pacientes cirúrgicos) e do hospital, que náo possui Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica.

Foram consideradas como variáveis dependentes os rastreadores (triggers) identificados pelo PTT, os eventos adversos confirmados e gravidade do dano ao paciente. Foram delimitadas como variáveis independentes: idade, sexo, diagnóstico médico principal (agrupado por categorias de acordo com CID-10 - Classificagao Internacional de Doengas) tempo de permanencia, caráter da internado (eletiva, emergencial ou transferencia) e desfecho clínico (alta médica, transferencia ou óbito). Para obtengáo destas variáveis considerou-se a revisáo retrospectiva de prontuários físicos de forma aleatória conforme preconizado pelo IHI.

Em conformidade a metodologia do IHI,8 a equipe de coleta de dados foi constituída por duas enfermeiras mestrandas e uma médica pediatra, as quais foram previamente treinadas, através da plataforma de curso online fornecido pelo IHI, com aspectos teóricos dos métodos e quanto as instrugóes de aplicagáo. Devido a complexidade de análise de eventos adversos, e, para confrontar dados colhidos pelos revisores bem como a dificuldade em diferenciar os EA com eventos do curso natural da doenga e/ou das morbidades apresentadas pelo paciente, necessita-se de um profissional médico, que atua na revisáo dos formulários de rastreadores, conforme preconizado pela ferramenta11. Portanto, a médica pediatra da equipe de coleta, em acordo com o PTT, realizou as validagóes das avaliagóes.

Antes da coleta de dados foi realizado teste piloto, em agosto de 2020, com toda a equipe de pesquisa com prontuários que náo foram utilizados no banco de dados. Neste teste, foram identificadas inconsistencias quanto a forma de preenchimento da planilha, que foram ajustadas e dúvidas foram sanadas de forma consensual e coletivamente. O instrumento de coleta de dados utilizado foi uma planilha Excel® elaborada pela pesquisadora com os dados pertinentes da ferramenta do PTT e as variáveis supracitadas. De acordo com a metodologia empregada, quando rastreado e confirmado um EA, há uma classificagáo de tipos de danos relacionados a assistencia, através da utilizagáo do National Coordinating Council (NCC) for Medication Error Reporting and Prevention (MERP),12 que classifica um erro de acordo com a gravidade do resultado, divididos em cinco categorias: Categoria E: dano temporário ao paciente e intervengáo necessária; Categoria F: dano temporário ao paciente e requerimento inicial ou prolongado de hospitalizagáo; Categoria G: dano permanente ao paciente; Categoria H: intervengáo necessária para sustentar a vida; Categoria I: morte do paciente12.

Para verificar as associagóes entre os desfechos e as variáveis independentes, foi considerada a razáo de prevalencia bruta com seus respectivos intervalos de confianga e o teste de qui-quadrado. Posteriormente, determinou-se as razóes de prevalencias ajustadas, utilizando o modelo de regressáo de Poisson múltiplo com variancia robusta, onde as variáveis que apresentaram no teste de qui- quadrado valor p < 0,20 foram inseridas inicialmente no modelo, e somente as que tiveram valor p < 0,05 permaneceram nele após a análise. Em virtude de algumas variáveis nao terem apresentado distribuiao em normalidade, optou-se por utilizar por testes nao paramétricos e o modelo de regressao de Poisson com variancia robusta. Todas as análises estatísticas foram realizadas com auxilio dos softwares Rstudio® versao 2022.7.2.0 e Stata® versao 14, sendo todos os intervalos com confianza de 95% e os testes com nível de significancia a 5%, sendo os dados armazenados em Zenodo13.

Foram cumpridas todas as normas de ética em pesquisas vigentes no Brasil, dispostas pela Resolugáo do Conselho Nacional de Saúde n° 466/2012. O projeto foi aprovado pelo Comité de Ética em Pesquisa (CAEE: 07626019.5.0000.5541) da instituido na qual o estudo foi realizado e aprovado sob parecer 3.603.794/2019.

Resultados

As características dos pacientes (n=194) quanto ao sexo, idade e motivo de internado sao descritas na Tabela 1. Na análise de associagao das variáveis sócioclínicas em relado a ocorréncia ou nao de triggers, se apresentaram significativas as variáveis: tempo de internado, caráter de internado e desfecho.

A Tabela 1 apresenta as características dos pacientes quanto ao sexo, idade e quadro clínico. Na análise de associado das variáveis sócio clínicas em relado a ocorréncia ou nao de triggers, se apresentaram significativas as variáveis tempo de internado, caráter de internado, tipo de alta e severidade.

Tabela 1 Características sócioclínicas de pacientes pediátricos hospitalizados, quanto a ocorréncia ou nao de triggers. Centro-Oeste, Brasil, 2019 (n=194) 

Variáveis Sim Nao
% (n=107) % (n=87) valor-p
Sexo 0,4076
Feminino 49,53 (53) 42,53 (37)
Masculino 50,47 (54) 57,47 (50)
Idade 0,5636
Maior e igual a 6 anos 47,66 (51) 42,99 (51)
Menor que 6 anos 52,34 (56) 38,32 (56)
Tempo de Internado 0,004
Maior e igual a 6 dias 60,75 (65) 39,08 (34)
Menor que 6 dias 39,25 (42) 60,92 (53)
CID Internado 0,9203
Urinário 24,30 (26) 24,14 (21)
Respiratório 7,48 (8) 3,45 (3)
Autoimune e/ou genético 12,15 (13) 9,20 (8)
Gastrointestinal 11,21 (12) 11,49 (10)
Neurológico 5,61 (6) 11,49 (10)
Cardiovascular 22,43 (24) 24,14 (1)
Endócrino 7,48 (8) 9,20 (8)
Metabólico 4,67 (5) 3,45 (3)
Violencia Sexual 1,87 (2) 1,15 (1)
Tegumentar 0,93 (1) 1,15 (1)
Infeccioso 1,87 (2) 1,15 (21)
Caráter da internado < 0,001
Eletivo 4,67 (5) 20,69 (18)
Transferido 23,36 (25) 10,34 (9)
Urgencia/Emergencia 71,96 (77) 68,97 (60)
Desfecho 0,010
Alta Melhorada 85,05 (91) 97,70 (85)
Transferencia 14,02 (15) 2,30 (2)
Óbito 0,93 (1) 0,00 -

Fonte: dados da dissertagáo de mestrado da autora; teste estatístico de qui-quadrado para cálculo dep-valor.

Do total de pacientes (n=194), 55,15% e 22,16% apresentou, respectivamente, pelo menos um trigger e/ou evento adverso na sua hospitalizado. A Tabela 2 ilustra as medidas quantitativas dos pacientes que apresentaram ou nao triggers e eventos adversos.

Tabela 2 Mínimo, máximo, mediana, intervalo interquartil para as variáveis quantitativas: idade, tempo de internado e a ocorrencia ou nao de Triggers, eventos adversos e grau de severidade de eventos adversos entre pacientes pediátricos hospitalizados. Centro-Oeste, Brasil, 2019 (n=194) 

Variáveis Pacientes com Triggers
Sim (n=107) Nao (n=87)
Min Max Mediana Q3 - Q1 (IQR) Min Max Mediana Q3 - Q1 (IQR)
Idade em anos 1 16 5,00 10,00 - 2,00 (8) 1 16 5,00 11,00 - 2,00 (9)
Tempo Total de Internado 1 74 7,00 11,50 - 4,00 (7,5) 1 126 5,00 8,50 - 3,00 (5,5)
Variáveis Pacientes com Eventos Adversos
Sim (n=43) Nao (n= 151)
Min Max Mediana Q3 - Q1 (IQR) Min Max Mediana Q3 - Q1 (IQR)
Idade em anos 1 16 4 10,00 - 2,50 (8,5) 1 16 6,00 11,00 - 2,00 (9)
Tempo Total de Internado 1 74 10,00 14,50 - 4,50 (10) 1 126 5,00 9,00 - 3,00 (6)
Grau de Severidade 0 6 2,00 3,50 - 2,00 (1,5) 0 3 0,00 1,00 - 0,00 (1)

* IQR - Intervalo interquartil: Q3,3° quartil (superior, 75%) e Q1,1°quartil (inferior, 25%).

No total da amostra de pacientes (n=194) foram identificados 204 triggers/gatilhos de eventos adversos, ou seja, vários pacientes apresentaram mais de um trigger. Destes, 64 (31,37%) eventos adversos foram confirmados.

A Tabela 3 apresenta a frequéncia dos tipos de triggers por módulos do PTT. Verifica-se que os triggers com maior ocorréncia foram queda de hemoglobina, queda de saturado e aumente.

Tabela 3 Frequência de triggers na hospitalização pediátrica, por módulos do Paediatric Trigger Tool (PTT), Centro-Oeste, Brasil, 2019.o de marcadores renais 

Triggers Identificados por módulos do PTT % (n) % (n)
Cuidados Gerais 100 (66/66) 32,35 (66/204)
Danos teciduais 18,18 (12) 5,88 (12)
Readmissao hospitalar < 30 dias 3,03 (2) 0,98 (2)
Admissao nao planejada 1,52 (1) 0,49 (1)
Imagem craneana anormal 3,03 (2) 0,98 (2)
Parada cardíaca e/ou respiratória 1,52 (1) 0,49 (1)
Diag. embolia / trombose pulmonar 1,52 (1) 0,49 (1)
Complicates 19,70 (13) 6,37 (13)
Transferencia 21,21 (14) 6,86 (14)
SPO2 < 85% 30,30 (20) 9,80 (20)
Medicamentos 100 (38) 18,63 (38/204)
Vit K exceto de rotina em RN 28,95 (11) 5,39 (11)
Glucagon / Glicose 10% 2,63 (1) 0,49 (1)
Anti-histamínicos 10,53 (4) 1,96 (4)
Antieméticos 7,89 (3) 1,47 (3)
Colóide ou cristalóide em bolus 23,68 (9) 4,41 (9)
Suspensao abrupta da medicado 26,32 (10) 4,90 (10)
Resultado de Testes Laboratoriais 100 (100) 49,02(100/204)
INR >5 ou APTT>99 2,00 (2) 0,98 (2)
Transfusao 14,00 (14) 6,86 (14)
Queda >25% de Hb ou Hct 20,00 (20) 9,80 (20)
Uréia e Creatinina >2x basal 19,00 (19) 9,31 (19)
Na+ <130 or >150 4,00 (4) 1,96 (4)
Hipoglicemia (<3mmol/L ou <54mg/dL) 9,00 (9) 4,41 (9)
Hiperglicemia (>12mmol/L ou 216 mg/dL) 13,00 (13) 6,37 (13)
Pneumonia nosocomial 3,00 (3) 1,47 (3)
Plaquetas < 100.000 6,00 (6) 2,94 (6)
Cultura de sangue positiva 2,00 (2) 0,98 (2)
Evento nao identificado por trigger 8,00 (8) 3,92 (8)

Em relagáo a severidade dos eventos adversos confirmados (n=64), os mais expressivos foram os da categoría E (65,62%), ou seja, levaram a dano temporário ao paciente com intervengo necessária (Tabela 4).

Tabela 4 Grau de severidade dos Eventos Adversos (EA) confirmados entre pacientes pediátricos hospitalizados. Centro-oeste, Brasil, 2019. (n=64)ais 

Grau de Severidade do EA % n(64)
E = Dano temporario ao paciente e intervengo necessária 65,62 42
F = Dano temporário ao paciente e requerimento inicial ou pro- 31,25 20
longado de hospitalizacao
G = Dano permanente ao paciente - -
H = Intervengo necessária para sustentar a vida 3,12 2
I = Óbito - -

Foram realizadas as análises com as variáveis sexo, idade, que foram utilizadas como ajuste, tempo de internado e caráter de internado. Assim, a Tabela 5 demonstra tempo de internado e caráter de internagáo para ocorréncia de triggers e também como preditores de evento adverso.

Tabela 5 Razao da Prevalencia Bruta (R.P.B) e Razao da Prevalencia Ajustada (R.P.A), para ocorréncia de triggers e eventos adversos e as variáveis socioclínicas de pacientes pediátricos hospitalizados, Centro Oeste, Brasil, 2019 

Variáveis Sim Nao valor-p* R.P.B R.P.A
% (n=107) % (n=87) R.P [IC(95%)] valor-p** R.P [IC(95%)] valor-p**
Sexo 0,4076
Masculino 50,47 (54) 57,47 (50) 1
Feminino 49,53 (53) 49,53 (37) 0,85 [0,62; 1,17] 0,336
Idade 0,5636
Menor que 6 anos 52,34 (56) 38,32 (41) 1
Maior e igual a 6 anos 47,66 (51) 42,99 (46) 1,12 [0,82; 1,53] 0,472
Tempo de Internado 0,004
Maior ou igual 6 dias 60,75 (65) 39,08 (34) 1 1,00
Menor ou igual a 6 dias 39,25 (42) 60,92 (53) 1,62 [1,17; 2,25] 0,004 1,44[1,04; 2,02] 0,030
Caráter da internado < 0,001
Eletivo 4,67 (5) 20,69 (18) 1 1,00
Transferido 23,36 (25) 10,34 (9) 0,54 [0,30; 0,97] 0,040 0,39 [0,21;0,72] 0,003
Urgéncia/Emergéncia 71,96 (77) 68,97 (60) 0,92 [0,66; 1,29] 0,645 0,61 [0,46; 0,80] < 0,001
Evento Adverso % (n=43) % (n=151)
Sexo 0,3961
Masculino 60,46 (26) 51,65 (78) 1
Feminino 39,53 (17) 48,34 (73) 1,81[0,93;1,25] 0,305
Idade 0,2967
Menor que 6 anos 41,86 (18) 52,32 (79) 1
Maior e igual a 6 anos 58,14 (25) 47,68 (72) 0,91[0,78;1,06] 0,229
Tempo de Internado 0,1151
Maior que 6 dias 62,79 (27) 47,68 (72) 1
Menor que 6 dias 37,21 (16) 52,32 (79) 1,14[0,98;1,33] 0,082
Caráter da internado 0,0525
Eletivo 4,65 (2) 13,91 (21) 1 1
Transferido 27,91 (12) 14,57 (22) 1,20[1,031;1,39] 0,018 0,70[0,53;0,94] 0,016
Urgéncia/Emergéncia 67,44 (29) 71,52 (108) 0,80[0,62;1,04] 0,098 0,86[0,74;1,006] 0,061

* valor-p do teste estatístico qui-quadrado;prevalencia bruta e razáo de prevalencia ajustada. ** valor-p para razáo de.

Na análise de regressáo de Poisson múltipla, as variáveis que apresentaram significancia com valor-p < 0,05 foram: tempo de internado e caráter de internado, sendo que o tempo de internado menor que 6 dias foi de 1,44 vezes a prevaléncia do tempo de internado menor que 6 dias para ocorréncia de trigger. O caráter de internado por transferencia foi de 0,39 vezes a prevaléncia em relagáo ao caráter de internado de forma eletiva, e o caráter urgencia e emergencia foi de 0,61 vezes a prevaléncia do caráter de internado de forma eletiva para ocorréncia de trigger.

Já para a ocorréncia de evento adverso, o caráter de internado por transferéncia foi de 0,70 vezes a prevaléncia do caráter de internado de forma eletiva.

Discussao

Verificou-se que, do total de 204 triggers apurados, 64 (31,37%), trataram-se de incidentes que causaram algum dano ao paciente. Esse achado corrobora com estudo retrospectivo indiano de avaliagáo de gatilhos em prontuários de pacientes pediátricos, utilizando a metodologia adaptada do GTT, que detectou 35% de eventos adversos confirmados.14 Atrelando o achado do presente estudo a literatura correlata, concorda-se com o pressuposto de que a detecgáo precoce de incidentes de seguranza do paciente é um dos pilares do cuidado seguro em saúde, até mesmo porque eventos adversos envolvem processos gerenciais, terapéuticos e medicamentosos2.

Acerca dos danos dos EA, a maior parte foi classificada na categoria de menor gravidade. Resultado este semelhante ao estudo realizado nos Estados Unidos, onde foi aplicado a metodologia de Global Assessment of Pediatric Patient Safety (GAPPS), o qual evidenciou 52,7% dos incidentes determinados nesta mesma categoria6. Outro estudo indiano utilizando o GTT adaptado, detectou níveis de severidades distribuídos nas categorias E (58,80%), F (23,62%) G (12,08%), H (4,95%) e I (0,55%)10. Considerando a literatura de base e que essa classificagáo leva em conta um nivel crescente de gravidade do evento adverso, percebe-se que na amostra estudada foi pouco frequente eventos de maior severidade, todavia, 3,12% dos eventos demandaram intervengo necessária para sustentar a vida, o que já é suficiente para justificar as políticas, programas de rastreamento e estratégias de seguranza do paciente pediátrico.

Reforja a alusáo anterior uma pesquisa realizada em um hospital pediátrico em Otawa, que demonstrou que 87,9% do total de 29 crianzas internadas sofreu um EA considerado evitável com prolongamento de sintomas relacionados, tendo como causas principais os problemas gerenciais e erros terapéuticos2. Neste sentido, um estudo de revisáo integrativa na área da qualidade assistencial e seguranza do paciente indica o amplo uso de ferramentas que melhorem a cultura de seguranza e o gerenciamento de riscos nas instituyes, visto que ainda existem fragilidades no cuidado seguro nas unidades de saúde15.

Estudos de revisáo de prontuários tém se mostrado eficazes na detecgáo de eventos adversos e atualmente sáo considerados o “padráo ouro” para identificar incidentes com danos, sendo a metodologia Paediatric Trigger Tool na investigado de eventos adversos através do uso dos rastreadores, na busca de incidentes com danos7. Na análise dos prontuários deste inquérito, queda de hemoglobina, queda de saturado e aumento de marcadores das fungóes renais foram os triggers prevalentes, aspecto este vai ao encontro aos resultados de um estudo realizado em um hospital infantil argentino utilizando a ferramenta GTT, que evidenciou triggers relacionados ao cuidado: (58,3%); ao uso de medicamentos: (26,78%); e a microbiologia: (14,88%), sendo os EAs mais comuns a queda de saturagáo, complicates do procedimento, uso de antieméticos e hemocultura positivo16. Uma recente revisáo de literatura relatou que a queda de hemoglobina pode ocorrer até o 3° dia de internado e que este é um evento multifatorial, tendo como possíveis causas: a constante retirada de sangue para exames, diluigáo do sangue dos pacientes a administrado medicamentos e uma produjo de eritrócitos reduzida, caracterizando-se como um evento adverso17.

Os biomarcadores renais elevados sinalizam a possibilidade de lesáo renal e prejuízo na fundo dos rins. Existe uma infinidade de fármacos considerados nefrotóxicos que devem usados com cautela aos portadores de doenga renal crónica. Neste aspecto, o aumento dos níveis séricos de creatinina e ureia, pode ser caracterizado como um evento adverso medicamentoso caso terapia utilizada seja inadequada18.

Dentre a maior frequéncia de trigger durante a internado, verificou-se pacientes com diagnóstico relacionado ao sistema urinário, os quais, muitas vezes sáo acometidos por circunstancias crónicas complexas prévias e a fragilidade orgánica renal, que os torna mais susceptíveis a danos18.

Para além da complexidade imposta pelo próprio processo de crescimento e desenvolvimento das crianzas, um estudo realizado em hospital mexicano em locais de alta complexidade evidenciou uma maior ocorréncia de incidentes relacionados a fatores como: excesso de trabalho, inclusive o burocrático, falta de adesáo a protocolos, falta de experiéncia e habilidades dos profissionais, que fomentam um ambiente propicio a sua ocorréncia19.

Dentre os grupos diagnósticos elencados, as doengas cardiovasculares (22,43%) tiveram destaque neste estudo, pois tratam-se de doengas de cunho deletério que ainda ocupam lugar de destaque nas morbidades dentre os problemas de saúde pública, no Brasil, as Doengas Crónicas náo Transmissíveis (DCNT) sáo responsáveis por uma alta proporgáo de óbitos, notadamente entre os individuos de menor renda e escolaridade. A prevaléncia dessas doengas está ligada ao consumo crescente de alimentos ultra processados, sedentarismo e obesidade infantil. Essas condigóes, por sua vez, aumentam o risco de dislipidemia, hipertensáo, diabetes e doengas cardiovasculares. O enfrentamento eficaz das DCNT demanda abordagens multidisciplinares e preventivas20.

Evidenciou-se neste estudo período de internagáo superior a seis dias, o que é preocupante, sendo que o maior o tempo de hospitalizagáo foi associado a maior a chance de incidentes como infecgóes de corrente sanguínea e do trato urinário, podendo resultar em danos para o paciente6. Essa alusáo reforga que planejamento da alta e a articulagáo do hospital com a rede de saúde é relevante para galgar níveis mais elevados de seguranga ao cuidado do paciente pediátrico1.

Ainda sobre o tempo extra de internagáo (> de 20 dias), um estudo nigeriano retrospectivo realizado em trés hospitais de ensino, reforgou a necessidade de maior rotatividade de leitos para otimizagáo da produgáo de servigos de saúde, visto que, quanto maior o tempo de permanéncia hospitalar maior é o risco para infecgóes, eventos adversos e morbimortalidade21.

No Brasil, um estudo retrospectivo realizado em dois hospitais gerais públicos e de ensino revelou que 99% dos EA poderiam ter sido evitados. Esses EA resultaram em um aumento de 65,7% no tempo de internagáo dos pacientes e foram responsáveis por 11,8% das reinternagóes22. Essa alusáo reforga a importáncia de investimento em estratégias proativas de gestáo de riscos, ao exemplo do rastreamento dos gatilhos, já que, conforme os dados do presente estudo, uma parcela considerável de triggers foi confirmada como EA.

É possível que pacientes provenientes de outras instituigóes, tenham maiores chances da ocorréncia de triggers quando comparados aos pacientes eletivos, visto a carga de incidentes já ocorridos em outros servigos diante de outras condutas assistenciais e o próprio itinerário prolongado nos servigos de saúde e visto as falhas nas atividades administrativas. A literatura ressalta a existéncia de um maior risco de eventos adversos durante a transferéncia de pacientes,23 sendo mais agravante naqueles que possuem algum tipo de instabilidade.

Em virtude do potencial danoso das admissóes de pacientes provenientes de outras instituigóes, reforga-se a necessidade da implementagao de meios/instrumentos que possam garantir a seguranza no processo de transigao do cuidado do paciente pediátrico,24 mediados por agóes efetivas associadas a adogao de barreiras de seguranga ao sistema da assisténcia que possam prevenir situagóes de risco e eventos adversos23. Razao pela qual tem sido, cada vez mais, utilizado documentos estruturados, quando da transferéncia de pacientes, visando incidir na cultura de seguranga organizacional25. No contexto pediátrico isso é muito relevante porque pode aumentar os riscos de eventos como: descompensagóes hemodinámicas ou ventilatórias, pelo manejo que envolve o transporte, dependendo do grau de disfungao orgánica apresentada pelo paciente.

A gravidade clínica das internagóes em caráter de urgéncia e/ou emergéncia requer da equipe cuidados especializados, ressaltando-se o perfil de acometimento crónico dos pacientes do hospital de inquérito como agravante para maior ocorréncia de EAs. Um estudo canadense realizado em 6 hospitais pediátricos de grande porte evidenciou maior ocorréncia de EA em unidades de urgéncia e emergéncia, ressaltando a importáncia em se conhecer e elaborar estratégias que visem a diminuigao da incidéncia de EAs através de práticas centradas na seguranga do paciente e na minimizagao de danos, com fomento a cultura de seguranga do paciente2.

A maior probabilidade de ocorréncia de eventos adversos em pacientes provenientes de outras instituigóes possivelmente decorre da complexidade do processo de transferéncia, sendo sujeito a inúmeras falhas, por estar relacionado a continuidade do cuidado. A implementagao de agóes e protocolos eficazes associados a barreiras de seguranga podem prevenir situagóes de risco e possíveis incidentes com danos, decorrendo na redugao de incidentes e óbitos relacionados a eventos adversos efeitos nas transferéncias de cuidado26.

A internagao menor ou igual a 6 dias, foi evidenciada como fator preditor (1,44 vezes) para ocorréncia de Triggers em detrimento da internagao maior ou igual a 6 dias, a redugao do tempo de permanéncia, pode diminuir a ocorréncia de eventos adversos, e está indicada desde que nao haja riscos para o paciente com o intuito de evitar alta precoce e readmissao27, já que a internagao prolongada agrega inúmeros riscos como infecgóes nosocomiais, resisténcia bacteriana, e mortalidade28.

O uso de ferramentas de rastreio de gatilhos auxilia profissionais de saúde e gestores a identificarem fragilidades e tragarem estratégias de melhoria da qualidade nos processos assistenciais,7 qualificado o processo assistencial e gerencial. A ferramenta PTT é um importante instrumento de gestao da qualidade assistencial, descrito na literatura internacional como uma ferramenta confiável para identificar triggers e eventos adversos no contexto pediátrico8.

Contributes para o Campo da Enfermagem

A utilizagao da ferramenta PTT é de grande valia para enfermagem e saúde, pois racionaliza a gestao de riscos e, com isso, pode favorecer o cuidado pediátrico mais seguro. Conhecendo de forma sistemática os riscos de triggers e eventos adversos inerentes a clientela, o enfermeiro pode implementar a gerencia do cuidado de forma mais assertiva.

Limitares do Estudo

Apesar de nao ser uma escala psicométrica e sim uma ferramenta com elementos clínicos muito consolidados, ou seja, que nao cabem necessariamente julgamento/opiniáo, nao foi encontrado uma versao traduzida e adaptada do Paediatric Trigger Tool para a língua portuguesa e em uso no Brasil, e isso, ainda que seja uma limitagáo do estudo, é também uma sinalizagáo para futuras investigares.

A possível subestimado dos triggers verificados, em virtude da má qualidade de alguns registros consiste em uma limitado deste estudo, um possível viés que possa existir, trata-se de um viés sistemático existam vieses sistemáticos com base no diagnóstico médico por exemplo, idade ou outra característica na detecgáo de um evento adverso por um revisor humano durante a coleta de dados usando a ferramenta. A análise de regressao multivariável também seria pertinente para confirmar a predido do fato caráter da internado. No entanto, a densidade de dados, inovado do estudo e potencial de instrumentando a respeito da gestáo de riscos em pediatria, possivelmente, superam essas limitagóes.

Todavia, apesar de ser outra limitado deste estudo, náo ter investigado outros aspectos relacionados ao cuidado e ao trabalho na unidade pediátrica de inquérito, considera-se que as informagóes advindas deste tipo de análise podem ser incrementadas por outras como, por exemplo, os recursos disponíveis, a carga de trabalho dos profissionais, a complexidade dos pacientes e o ambiente de prática profissional.

Conclusao

Conclui-se que o tempo de internagáo < 6 dias e o caráter da internagáo via urgencia/emergencia foram associados a ocorrencia de triggers na hospitalizagáo pediátrica. A transferencia foi ainda um preditor a confirmagáo ocorrencia de eventos adversos. Portanto, internagóes prolongadas e criangas admitidas via transferencia, além daquelas que ingressam no hospital de forma náo eletiva, ou seja, via urgencia/emergencia, merecem atengáo a ocorrencia de triggers e/ou eventos adversos concretizados.

Os triggers prevalentes foram queda de hemoglobina ou hematócrito, queda de saturagáo de oxigenio e aumento de marcadores de fungóes renais. Em torno de um tergo do total de triggers apurados foram confirmados como eventos adversos, o que é uma evidencia importante na gestáo proativa de riscos assistenciais em pediatria. Quanto o grau de severidade dos eventos adversos confirmados, os de dano temporário na crianga/adolescente, com necessidade de intervengáo, foram os de maior concentragáo.

Referencias

1. Silva EMB, Garcia CRF, Silva DM, Duarte JC. A seguranza dos cuidados da crianza hospitalizada: percepgáo dos enfermeiros. Rev Psicol. Crianza Adolesc. 2018 9(1):67-82. https://doi.org/10.34628/sary-e786Links ]

2. Plint, AC, Stang, A., Newton, AS, Dalgleish, D., Aglipay, M., Barrowman, N., et al. Adverse events in the paediatric emergency department: a prospective cohort study. BMJ Qual Saf. 2021;0:1-12. http://dx.doi.org/10.1136/bmjqs-2019-010055Links ]

3. Cunha EMD, Gomes LGA. Eventos adversos relacionados com a assisténcia a saúde no Ceará. Cadernos ESP/CE. 2019;13(2):131-147. https://cadernos.esp.ce.gov.br/index.php/cadernos/article/view/204/181Links ]

4. Lima EC, Matos GC, Vieira GML, Goncalves ICCR, Cabral LM, Turner M. Suspected adverse drug reactions reported for Brazilian children: cross-sectional study. Jornal de Pediatria. 2019;95(6):682- 688. https://doi.org/10.1016/j.jped.2018.05.019Links ]

5. Morales-Ríos O, Cicero-Oneto C, García-Ruiz C, Villanueva-García D, Hernández-Hernández M, Olivar-Lopez V et al. Descriptive study of adverse drug reactions in a tertiary care pediatric hospital in México from 2014 to 2017. 2018 PLoS ONE. 15(3):e0230576. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0230576Links ]

6. David C. Stockwell, Christopher P. Landrigan, Sara L. Toomey, Samuel S. Loren, Jisun Jang, Jessica A. Quinn et al. Adverse Events in Hospitalized Pediatric Patients. Ped/atr/cs. 2018;142(2):e20173360. https://doi.org/10.1542/peds.2017-3360Links ]

7. Zanetti ACB, Gabriel CS, Dias BM, Bernardes A, Moura AA, Gabriel AB et al. Assessment of the incidence and preventability of adverse events in hospitals: an integrative review. Rev Gaúcha Enferm. 2020;41:e20190364. https://doi.org/10.1590/1983-1447.2020.20190364Links ]

8. Institute for Innovation and improvemet, NHS. The Paediatric Trigger Tool User guide. 2014. United Kingdom UK. https://bmjopen.bmj.com/content/suppl/2014/07/03/bmjopen-2014005066.DC1/bmjopen-2014-005066supp2.pdfLinks ]

9. Alves MFT, Carvalho DS, Albuquerque GSC. Barriers to patient safety incident reporting by Brazilian health professionals: an integrative review. Ciencia & Saúde Coletiva. 2019; 24(8):2895- 2908. https://doi.org/10.1590/1413-81232018248.23912017Links ]

10. Arango HG. Bioestatística: teoria e computacional, Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005. [ Links ]

11. Griffin FA, Resar RK. IHI Global Trigger Tool for Measuring Adverse Events (Second Edition). IHI Innovation Series white paper. Cambridge, MA, Institute for Healthcare Improvement. [Online] 2009 [cited 12/04/2022 abril 12]. http://www.ihi.org/resources/Pages/IHIWhitePapers/ IHIGlobalTriggerToolWhitePaper.aspxLinks ]

12. NCC MERP. National Coordinating Council for Medication Error Reporting and Prevention. NCC MERP Taxonomy of Medication Errors. [Online] 2001 [cited 12/04/2022 abril 12]. https://www.nccmerp.org/sites/default/files/taxonomy2001-07-31.pdfLinks ]

13. Moraes RMR, Juca SCMP, Quadros DV, Magalhaes AMM de, Junior GJO, Barbosa WVB, et al. Fatores Associados aos Gatilhos e Eventos Adversos em Pediatria. Zenodo. 2023. https://doi.org/10.5281/zenodo.8342754Links ]

14. Salimath GS, Ganachari MS, Gudhoor M. Paediatric Focused Triggering Tool (PFTT) To Assess the Harm and its Utilization to Minimize the Levels of Harm among Children at a Tertiary Care Hospital. Indian J of Pharmaceutical Education and Research. 2020;54(3):819-25. https://doi.org/10.5530/ijper.54.3.134Links ]

15. Galdino SV, Reis EMB dos, Santos CB, Soares FP, Lima FS, Caldas JG, Piedade MACR, Oliveira A de S. Ferramentas de qualidade na gestáo dos servidos de saúde: revisáo integrativa de literatura. Rev. Gestao&Saúde. 2016;7(1):1023-1057. https://periodicos.unb.br/index.php/rgs/article/view/3569Links ]

16. Fajreldines A, Schnitzler E, Torres S, Panattieri N, Pellizzari M. Measurement of the incidence of care-associated adverse events at the Department of Pediatrics of a teaching hospital. Arch Argent Pediatr 2019;117(2):e106-e109. http://dx.doi.org/10.5546/aap.2019.eng.e106Links ]

17. Tavares PGB, Pacheco AVTMJ, Batista ACC, Miranda LR, Santos MEA, Oliveira ACPE, et al. Anemia Adquirida em Internado Hospitalar e sua Prevengáo: Revisáo de Literatura. Hematology, Transfusion and Cell Therapy. 2020; 42(2):20. http://dx.doi.org/10.1016/Lhtct2020.10.032Links ]

18. Mello PA de, Rocha BG, Oliveira WN, Mendonca TS, Domingueti CP. Nefrotoxicidade e alteragóes de exames laboratoriais por fármacos: revisáo da literatura. Revista de Medicina. 2021;100(2):152- 61. http://dx.doi.org/10.11606/issn.1679-9836.v100i2p152-161Links ]

19. Barrientos-Sánchez J., Hernández-Zavala M., Zárate-Grajales RA. Factores relacionados con la seguridad y la calidad en la atención del paciente pediátrico hospitalizado. Enferm. univ. 2019; 16(1): 52-62. https://doi.org/10.22201/eneo.23958421e.2019.1.592Links ]

20. Felix AS, Santos BPS, Rodrigues GM, Souza DA, Pimentel LC, Ferreira KD, Peronico JL. Doenás crónicas na infancia. Rev. Liberum Accessum 2023 [cited 12/07/2023 jul 12]jul;15(1):24-31. http://revista.liberumaccesum.com.br/index.php/RLA/article/view/210Links ]

21. Aloh HE, Obinna EO, Obianuju GA, Nweke CJ. Is bed turnover rate a good metric for hospital scale efficiency? A measure of resource utilization rate for hospitals in Southeast Nigeria. Cost Eff Resour Alloc. 2020; [cited 12/04/2022 abril 12] 18: (21). https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/ PMC7329453/Links ]

22. Lima Júnior AJ, Zanetti ACB, Dias BM, Bernandes A, Gastaldi FM, Gabriel CS. Occurrence and preventability of adverse events in hospitals: a retrospective study. Rev Bras Enferm. 2023;76(3):e20220025. https://doi.org/10.1590/0034-7167-2022-0025ptLinks ]

23. Olino L, Gongalves AC, Strada JKR, Vieira LB, Machado MLP, Molina KL et al. Comunicación efectiva para la seguridad del paciente: nota de transferencia y Modified Early Warning Score. Revista Gaúcha de Enfermagem 2019; e20180341. https://doi.org/10.1590/1983-1447.2019.20180341Links ]

24. Pritt A, Johnson A, Kahle J, Preston DL, Flesher S. Better Outcomes for Hospitalized Children through Safe Transitions: A Quality Improvement Project. Pediatr Qual Saf. 2021; 6: e378. https://doi.org/10.1097/pq9.0000000000000378Links ]

25. Batista J, Cruz EDA, Lopez ECMS, Sarquis LMM, Seiffert LS, Wolff LDG. Effect of the administrative transition of hospital management on the safety culture in surgical units. Texto Contexto Enferm. 2020; 29:e20190012. https://doi.org/10.1590/1980-265X-TCE-2019-0012Links ]

26. Maziero ECS, Cruz EDA, Batista J, Alpendre FT, Brandao MB, Krainski ET. Asociación entre calificación profesional y eventos adversos en unidades de tratamiento intensivo neonatal y pediátrico. Rev. Gaúcha Enferm. 2021; (42). https://doi.org/10.1590/1983-1447.2021.20210025Links ]

27. Brandi S, Troster EJ, Cunha MLR. Tempo de permanencia em unidade de terapia intensiva pediátrica: modelo de predigáo. einstein (Sao Paulo). 2020;(18). https://doi.org/10.31744/einsteinjournal/2020AO5476Links ]

28. Peters L, Olson L, Khu DT, Linros S, Le NK, Hanberger H, et al. Multiple antibiotic resistance as a risk factor for mortality and prolonged hospital stay: A cohort study among neonatal intensive care patients with hospital-acquired infections caused by gram-negative bacteria in Vietnam. PLOS ONE 2019 14(5). https://doi.org/10.1371/journal.pone.0215666Links ]

*Cómo citar: Rodrigues Moraes RM, Bernardino Matos Povoas Jucá SC, Vacario de Quadros D, Müller de Magalhães AM, de Oliveira Júnior GJ, Bispo Barbosa WV, et al. Factores Asociados con Desencadenantes y Eventos Adversos en Pediatría . Revista Cuidarte [Internet]. 1 de diciembre de 2023 [citado 24 de diciembre de 2023];14(3). Disponible en: https://revistas.udes.edu.co/cuidarte/article/view/3060

Informales sobre financiamento: Esta pesquisa náo recebeu apoio específico de agencias do setor público, do setor comercial ou de entidades sem fins lucrativos.

Recebido: 09 de Fevereiro de 2022; Aceito: 23 de Agosto de 2022

*Correspondencia: Rúbia Marcela Rodrigues Moraes, Email: rubia mc@yahoo.com.br

Conflitos de Interesse:

Os autores declaram náo ter qualquer conflito de interesses em relagáo a publicagáo do artigo.

Creative Commons License Este é um artigo publicado em acesso aberto sob uma licença Creative Commons