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Universitas Psychologica

versão impressa ISSN 1657-9267

Univ. Psychol. vol.12 no.4 Bogotá oct./dez. 2013

 

"Todo dia uma casa diferente": trajetórias, sentidos e cotidianos laborais de diaristas

"Everyday in a Different House": Trajectories, Meanings and Maids'Working Life

Maria Chalfin Coutinho*
Regina Célia Borges
Laila Priscila Graf
Aline Suave da Silva
Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, Brasil.

*Endereço dos Autores: Programa de PósOraduação em Psicologia. Centro de Filosofia e Ciências Humanas. Campus Universitário — Trindade. Flori' anópolis — SC. CEP: 88040-500. E-mails: maria.chalfin@ufsc.br ; reginacl@uol.com.br ; lailagraf@gmail.com ; suave.aline@gmail.com

Recibido: marzo 4 de 2013 | Revisado: julio 30 de 2013 | Aceptado: septiembre 15 de 2013


Para citar este artículo

Coutinho, M. C., Borges, R. C., Graf, L. P., & da Silva, A. S. (2013). "Todo dia uma casa diferente": trajetórias, sentidos e cotidianos laborais de diaristas. Universitas Psychologica, 12(4), 1127-1140. doi:10.11144/Javeriana.UPSY12-4. tdcd


Resumo

No contexto atual de trabalho persistem as informalidades, campo no qual se situam as diaristas, trabalhadoras domésticas sem vínculo formal, foco da presente pesquisa, efetivada para investigar os sentidos produzidos por essas mulheres em seu cotidiano de trabalho. Trata-se de pesquisa qualitativa, realizada por meio de entrevistas com oito trabalhadoras. As informações foram analisadas pelo procedimento de núcleos de significação, gerando três núcleos: trajetórias ocupacionais, práticas cotidianas e sentidos do trabalho na faxina. Os resultados revelam trajetórias ocupacionais descontínuas, geralmente associadas ao feminino, nas quais a opção por ser diarista, apesar das precariedades, está associada às vantagens atribuídas à ocupação e à possibilidade de conciliar com outras atividades. De modo astucioso e criativo, as diaristas equilibram as exigências cotidianas.

Palavras-chave autores: Informalidades, trabalho doméstico, mulheres, cotidiano.

Palavras-chave descriptores: Psicologia social, trabalho, gênero, economia informal.


Abstract

In the current context of work, there are a large number of employees working in the informal economy, in which they are located part in of the domestic workers and as cleaners. This research investigated the meanings produced by paid domestic workers as cleaners about their daily work life. This is a qualitative study conducted through interviews with eight workers. Data were analyzed according to the procedure "Significance Core", generating three categories: occupational trajectories, everyday practices and meanings of work in housecleaning. The results reveal discontinuous occupational trajectories, usually associated with the feminine contexts, in which the choice of being a cleaner, despite the precariousness, is associated with the advantages attributed to the occupation and the possibility to combine with other family activities. Therefore, there is a need for a crafty and creative mode of working-family balance.

Key words authors: Informal economy, domestic work, women, daily life.

Key words plus: Social Psychology, Work, Gender, Informal Economy.


Introdução

Desde as últimas décadas do século passado, o "mundo do trabalho"1 tem sido marcado por inúmeras transformações, as quais afetam não só os sistemas produtivos, mas também os trabalhadores. Entre as mudanças observadas, se destaca a reestruturação produtiva, efetivada por meio de inovações organizacionais e/ou da introdução de novas tecnologias produtivas (microeletrônica e tecnologias de informação e comunicação — TIC) (Coutinho & Silva, 2011).

No Brasil, as formas de reestruturação se intensificaram desde os anos 1990, em um contexto marcado por desemprego, flexibilização e precariza-ção das relações de trabalho. Diante desse quadro, observou-se, de um lado, a emergência de novos modos de trabalhar e de se inserir no mercado de trabalho. De outro lado, persistem ou mesmo se ampliam as ocupações informais, tradicionais no país.

Entre as ocupações informais tradicionais, po-de-se citar o caso de trabalhadoras domésticas, também conhecidas como faxineiras ou diaristas, cujas atividades são exercidas, sem vínculo formal de trabalho, por mulheres prestadoras de serviços de limpeza, conservação e higiene em residências. Como veremos adiante, o emprego doméstico, exercido majoritariamente por mulheres, é uma ocupação pouco valorizada socialmente, e a informalidade é, muitas vezes, associada à precariedade das relações de trabalho. Sendo assim, a condição de diarista poderia ser compreendida apenas como atividade laboral desgastante, exercida por quem não tem opções.

Interessadas não só nas conotações negativas socialmente atribuídas ao trabalho de diaristas, mas na compreensão do cotidiano laboral dessas trabalhadoras, empreendemos uma investigação para responder à seguinte questão: quais os sentidos produzidos no cotidiano de trabalho por diaristas? Assim, definimos como objetivo da pesquisa investigar os sentidos que trabalhadoras domésticas sem vínculo empregatício produzem em seu cotidiano de trabalho. Para tanto, buscamos compreender: as trajetórias laborais dessas mulheres, suas práticas cotidianas e os sentidos que atribuem ao trabalho na faxina.

Na pesquisa, tomamos como pressuposto a concepção de que os processos de significação se efe-tivam pela articulação entre sentidos subjetivos e significados coletivos, os quais, contudo, consistem em duas categorias diferentes (Aguiar & Ozella, 2006) , assim compreendidas:

(...) los significados como construcciones elaboradas colectivamente, en determinado contexto histórico, económico y social concreto. Si ya los sentidos consisten en una producción personal dependiente de la aprehensión individual de los significados colectivos, en las experiencias cotidianas, es importante, entonces, resaltar las transformaciones por las que pasan los sentidos y los significados, ya que son construidos en una relación dialéctica con la realidad. (Tolfo, Coutinho, Baasch, & Cugnier, 2011, p. 30).

Na perspectiva dialética, a contradição é característica fundamental e a realidade se expressa por meio de constantes movimentos de transformação. Ao adotarmos essa perspectiva, buscamos apreender os movimentos de constituição subjetiva das mulheres investigadas, uma vez que o pensamento dialético concebe a possibilidade de superar as dicotomias entre objetividade e subjetividade (Bock, 2007) .

Para apreendermos a dimensão subjetiva das diaristas, investigamos os sentidos produzidos por elas em seu cotidianos laborais, tomando como referência suas trajetórias ocupacionais (Coutinho, 2009) e suas práticas diárias. Ao tratarmos de cotidiano, pretendemos destacar seus aspectos contraditórios, concebendo-o não só como um campo de rotinas e repetições, mas também como um lugar de inovação, pois dele "faz também parte o excepcional, a aventura, o inesperado, o sonho" (Pais, 2003, p. 81). Os modos rotineiros de ação e pensamento, certamente reveladores de uma vida cotidiana alienada, são acentuados nas sociedades capitalistas e caracterizam, de acordo com Heller (2008) , o ser humano enquanto particular, limitando as possibilidades de desenvolvimento na direção de genericidade humana.

Ainda que não se possa negar essa colonização da vida cotidiana pela racionalidade capitalista, um olhar mais apurado pode revelar outras práticas. Essas práticas compõem, de acordo com Certeau (2009) , as táticas2, ou "maneiras de fazer", por meio das quais os dominados são capazes de operar, de modo astucioso, nos interstícios da ordem imposta.

As concepções sobre processos de significação e cotidiano sumarizadas até aqui constituem os pressupostos da investigação apresentada no presente artigo, na qual adotamos uma perspectiva dialética com o propósito de destacar as contradições presentes no cotidiano das diaristas, que exercem uma atividade geralmente caracterizada apenas pelos aspectos negativos associados à informalidade e ao trabalho doméstico, como veremos na breve revisão apresentada a seguir. O artigo seguirá com a apresentação do método da pesquisa, em seguida serão apresentados e discutidos os resultados e, por fim, as considerações finais.

Informalidade e prestação de serviços domésticos

As transformações do "mundo do trabalho" se inserem em um contexto de crises econômicas recorrentes. Trata-se de processo em pleno curso, cuja complexidade não pode ser abarcada neste texto, mas seus desdobramentos afetam significativamente os modos de trabalhar contemporâneos. Entre as transformações observadas, cabe destacar o crescimento das formas flexíveis e precárias de emprego (Coutinho & Silva, 2011), as quais remetem ao campo das informalidades.

A terminologia "informalidade" foi cunhada no século XX para designar uma forma de atividade laboral distinta da atividade de emprego formal característico do contexto capitalista. Atualmente, ainda é compreendida, por vezes, como desqualificada e ilegítima, com ônus para a atuação profissional/social dos trabalhadores (Organista, 2006; Campos, 2005).

Nos países capitalistas, considerados como avançados, a industrialização gerou a chamada "sociedade salarial" (Castel, 1998), na qual o crescimento econômico foi acompanhado pelo assalariamento formal e pela estruturação de direitos sociais dos trabalhadores3. Em países de capitalismo tardio, como o Brasil, o mercado de trabalho sempre foi heterogêneo e "não conseguiu estabelecer uma situação onde o emprego formal (aquele que possibilita garantias e direitos sociais) tenha se tornado algo generalizado" (Segnini, 2001, s/p).

No mercado brasileiro, o emprego formal4 sempre conviveu com outras formas de trabalho, como a subcontratação, o trabalho por empreitada e o trabalho em domicílio. De acordo com Lima (2007), essas formas de emprego seriam características do início do capitalismo industrial e teriam declinado com o desenvolvimento do processo de industrialização. O autor assinala a informalidade como predominante nos países em desenvolvimento, como o Brasil, mas, até os anos 1970, era possível observar uma tendência ao assalariamento formal e a informalidade era compreendida como uma manifestação de subdesenvolvimento, a ser superada.

Quando se busca compreender o trabalho informal, este aparece em contraposição ao formal, entretanto é possível questionar, como fazem Noronha (2003) e — com base nele — Sato (2011), a dicotomia formal/informal. Esses autores apontam a polissemia do conceito de informalidade, o qual abarca um conjunto bastante amplo e variado de fe-nômenos. Assim, a compreensão da informalidade — ou, como prefere Noronha (2003), dos contratos atípicos — decorre daquilo que é concebido como "contrato formal predominante em cada país, região, setor ou categoria profissional" (p. 112).

Noronha (2003) aponta três fontes de interpretação possíveis sobre informalidade. A dualidade formal/informal é característica das interpretações económicas. Já os juristas analisam a questão da perspectiva do par legal/ilegal, enquanto a população, em decorrência das visões de economistas e juristas (entre outras influências), classifica os empregos como justos ou injustos, esses últimos associados à ausência do registro formal na carteira de trabalho5. Todas essas interpretações apresentam a relação entre trabalho formal e informal de modo binário; assim, a informalidade estaria sempre associada ao polo negativo (informal, ilegal e injusto), dualidade essa questionada pelo autor.

Na mesma direção, Sato (2011) reconhece a pluralidade de significados associados à informalidade e observa que, quando se adjetiva o trabalho informal, este é reconhecido como aquilo que não é considerado como normal, correto ou justo; como algo ligado a atividades subterrâneas, ilegais, criminosas, desprotegidas, de subsistência etc. Ao analisar atividades informais organizadas pela população pobre para viabilizar sua sobrevivência e gerar trabalho e renda, a autora, mesmo reconhecendo os limites da informalidade e as desigualdades sociais a ela associadas, enfatiza a importância de se reconhecer e se descrever tais atividades, o que requer a análise da vida cotidiana desses trabalhadores, esfera de interação e construção de conhecimentos compartilhados.

Aqui buscamos, tão somente, descrever como se dão as atividades que visam gerar algum tipo de rendimento, que são, em muitas situações, frutos da ação tática, que aproveita as oportunidades e as circunstâncias que se oferecem para, como diz Certeau (1994), inventar algo para sobreviver. Ao descrever tais atividades, busca-se contribuir para o reconhecimento de sua existência, dar-lhe relevo, com a esperança de que sejam vistas não como "o outro" do trabalho assalariado, o negativo do trabalho assalariado, mas como formas de trabalho que merecem ser apreendidas em sua positividade e que possam dar elementos para a proteção social que lhes falta. (Sato, 2011, p. 240)

Outra forma de analisar os modos de ser na informalidade é efetivada por Antunes (2011), ao resgatar a leitura marxista sobre o sentido destrutivo do capital em relação ao trabalho. Mesmo incapaz de eliminar o trabalho vivo aplicado, o capital tende sempre a reduzi-lo ao máximo. Na atualidade, com o acirramento da crise global, o "trabalho mais formalizado vem sendo substituído pelos mais distintos e diversificados modos de informalidade e precarização" (Antunes, 2011, p. 407). Para Alves e Tavares (2006), as atividades informais se inserem nos interstícios das atividades capitalistas e, com a ampliação observada nos anos 1990 no Brasil, abarcam diferentes modalidades de relações trabalhistas. Persistem e se ampliam os trabalhadores informais tradicionais, que vivem de sua força de trabalho, incluindo-se nessa categoria tanto os "menos instáveis", que atuam na prestação de serviços, caso dos trabalhadores domésticos, como os "mais instáveis", que realizam trabalhos ocasionais ou "bicos" quando desempregados ou para complementar a renda. Outra modalidade engloba os trabalhadores informais assalariados sem registro, muitas vezes subcontratados de grandes empresas, os quais perderam o registro formal e, com isso, os benefícios sociais associados ao emprego formal. Os trabalhadores por conta própria, com pequenos negócios inseridos na economia informal, realizam um tipo de prática antigo, mas recriado com a associação desses negócios a grandes empresas capitalistas.

Para além de um esboço das modalidades hoje vigentes na informalidade, Antunes (2011) pontua a atual tendência de precarização estrutural das relações de trabalho, na qual se configura um aumento da superfluidade, visto que o trabalho estável é cada vez menos necessário ao capital. Nessa realidade, é ampliado o contingente de proletariados mais precarizados, terceirizados e informalizados.

Em que pese às conotações negativas associadas ao trabalho informal, essa forma de emprego pode ser considerada como uma opção diante da precariedade que também atinge o mercado de trabalho formal. Em seu estudo com trabalhadores informais, Campos (2005) verificou que a opção por atuar na informalidade pode ser decorrente de dificuldades identificadas pelos trabalhadores nas ocupações com vínculo formal disponíveis, como baixos salários, horários rígidos de trabalho e ínfimas possibilidades criativas, entre outras. O mercado informal possibilitava a eles mais controle sobre sua atividade e sobre os modos de operar, embora não eliminasse dificuldades inerentes à informalidade, tais como a imprevisibilidade dos serviços e da renda e a falta de seguridade social.

A ocupação de diarista é uma modalidade de trabalho informal bastante tradicional no mercado de trabalho brasileiro. De acordo com o estabelecido na Classificação Brasileira de Ocupações (CBO), essa ocupação faz parte do grupo dos trabalhadores dos serviços domésticos em geral. A CBO assim descreve as funções do empregado doméstico diarista (Classificação 5121-20):

(...) preparam refeições e prestam assistência às pessoas, cuidam de peças do vestuário como roupas e sapatos e colaboram na administração da casa, conforme orientações recebidas. Fazem arrumação ou faxina e podem cuidar de plantas do ambiente interno e de animais domésticos6.

Ao analisarem a participação das mulheres no mercado de trabalho brasileiro com base em indicadores estatísticos dos anos 1990 no Brasil, Bruschini e Lombardi (2000) escolhem para sua análise o emprego doméstico como representativo de ocupações de má qualidade (pelo nível de rendimento, de formalização das relações e de proteção no trabalho). De acordo com as autoras, o serviço doméstico remunerado comporta uma heterogeneidade de situações:

De um lado, as empregadas domésticas que vivem no local de trabalho recebem salário mensal, mais casa e comida: as mensalistas residentes7. Há também aquelas que têm contrato mensal, mas que não residem no local de trabalho, embora nele trabalhem diariamente. Na outra ponta estão as diaristas, que não residem no local de trabalho e trabalham por conta própria em várias casas de família, recebendo por dia, semana ou mês. (p. 72)

Apesar de considerarem o emprego doméstico como "uma das ocupações mais precárias que existem no mercado de trabalho" (p. 78), Bruschini e Lombardi (2000) observaram evoluções nos indicadores relativos à qualidade do emprego doméstico, entre as quais estaria a melhora salarial, em especial no caso das diaristas, com maiores elevações de renda no período.

O cenário do emprego doméstico tem sido objeto de estudos e análises efetivados pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), fazendo parte as lutas dessa organização por trabalho decente. Em recente relatório sobre o trabalho doméstico ao redor do mundo (International Labour Organization, 2013), a OIT esclareceu seus esforços no sentido de superar a invisibilidade dos(as) trabalhadores(as) domésticos(as) e de, com base em indicadores estatísticos, divulgar a significativa participação do trabalho doméstico no emprego remunerado global. Entretanto, esses trabalhadores permanecem, em extensão, excluídos do escopo das leis trabalhistas e, consequentemente, do rol de proteção legal desfrutado por outros trabalhadores.

Em relatório sobre trabalhadores domésticos, a Organização Internacional de Trabalho (2011) identifica a existência de cerca de 52 milhões de pessoas no mundo atuando no trabalho doméstico. Desse contingente, é significativo destacar o número correspondente apenas às mulheres: um total de 43 milhões (83% do total de trabalhadores), sendo as maiores concentrações/percentagens lotadas na América Latina e no Caribe, com 18 milhões de trabalhadoras (41%).

Valenzuela e Sjoberg (2012, p. 60), apoiados no relatório citado anteriormente, destacam: "hay países donde es um contingente significativo, como ocurre en los casos de Argentina, Brasil, Costa Rica y Paraguay, donde superan el 15% de las mujeres ocupadas" no trabalho doméstico. Assim, exercem essa atividade laboral — frequentemente como uma "porta" de acesso ao mercado de trabalho— mulheres pobres e com índices mais baixos de escolaridade/educação.

No Brasil, embora com avanços na legislação trabalhista, permanecem dificuldades nesse setor, como a baixa formalização dos trabalhadores (apenas 26.3% do total são registrados formalmente) e a ausência, até recentemente, de legislação para regulamentar o período de trabalho —o qual, em alguns casos, poderia superar 50 horas semanais, sem pagamento de hora extra—. Há uma luta antiga de trabalhadores e seus representantes sindicais para avançar na garantia dos direitos trabalhistas aos trabalhadores domésticos. Com o propósito de aprimorar a legislação vigente, foi criada uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC 478/2010) pela Câmara dos Deputados objetivando igualar os direitos dos empregados domésticos aos dos demais trabalhadores8. As diferenças entre os direitos trabalhistas dos empregados domésticos e os de outros trabalhadores são geradoras de dúvidas e de problemas nos contratos de trabalho. De acordo com a representante do Sindicato das Empregadas Domésticas de Florianópolis, também entrevistada neste estudo, são frequentes as consultas das empregadas domésticas referentes a direitos trabalhistas e a projetos de leis referentes à sua categoria.

Souza (2011) pontua o aspecto subalterno das tarefas de limpeza geralmente atribuídas às mulheres, bem como a desvalorização histórica e cultural característica desse tipo de ocupação. O emprego doméstico é tradicionalmente uma ocupação feminina, como fica evidenciado na pesquisa da OIT. Na presente pesquisa, todas as diaristas entrevistadas foram mulheres. De acordo com Bruschini e Lombardi (2000), não é surpresa o caráter feminino atribuído aos empregos domésticos, pois, "em nossa sociedade, os afazeres domésticos são tidos como responsabilidade da mulher, qualquer que seja sua situação social, sua posição na família e trabalhe ela ou não fora do lar" (p. 70). As autoras pontuam o fato de que os afazeres domésticos, quando realizados no âmbito da própria família, não são considerados como trabalho nas estatísticas oficiais e, portanto, correspondem à inatividade econômica. Ao contrário, quando os mesmos afazeres são realizados de forma remunerada, assumem o rótulo de serviço ou emprego doméstico e passam a ser considerados como trabalho.

A inserção de mulheres em posições subalternas e menos valorizadas é histórica e está presente, até hoje, em diferentes setores produtivos. Tradicionalmente as mulheres foram excluídas do mercado de trabalho formal e dos processos de qualificação, revelando, de acordo com Diogo (2005), o quanto a história de dominação do feminino é antiga. Para a autora, mesmo com todos os avanços e com todas as conquistas, as mulheres ainda estão numa posição díspar e inferior em relação aos homens, verifican-do-se dupla jornada de trabalho, sobrecarga de tarefas, remuneração inferior, baixa qualificação, entre outras desvantagens.

Método

Para permitir uma aproximação com o cotidiano dos sujeitos, foi utilizada nesta pesquisa9 uma abordagem qualitativa (Biasoli-Alves, 1998). A coleta de informações foi efetuada com o uso de entrevistas dentro da perspectiva compreensiva, de modo a facilitar o diálogo entre pesquisador e pesquisado e o estabelecimento de uma relação de confiança (Zago, 2003). As entrevistas tiveram como referência um roteiro norteador, utilizado de modo livre, com questões organizadas nos seguintes campos temáticos: dados de identificação, atividade atual, histórico profissional e de formação (escolaridade), projetos, questões financeiras, divisão das tarefas domésticas e sentidos do trabalho.

Para compreender os sentidos produzidos pelas diaristas, foram investigadas as trajetórias ocupacionais das entrevistadas, estratégia também utilizada por Graf e Coutinho (2010). De acordo com as autoras, "os sujeitos não apenas discorrem sobre suas vidas, mas também sobre os acontecimentos no entorno e, assim, é possível analisar os fatos sociais que dialogam com as histórias pessoais" ( p. 121). A investigação das trajetórias das diaristas possibilitou apreender a "dimensão temporal (passado, presente e futuro) da vida laboral dos sujeitos entrevistados" (Coutinho, 2009, p. 10), articulando suas singularidades e suas relações com o coletivo.

Foram entrevistadas oito diaristas atuantes na região da Grande Florianópolis10, trabalhadoras domésticas remuneradas sem registro formal, sendo essa a principal ocupação exercida. Todas as entrevistadas são mulheres com idades entre 27 e 57 anos. Três são naturais de Florianópolis e as demais oriundas de cidades do interior de Santa Catarina e de outros estados da região sul do Brasil. A maioria cursou apenas o ensino fundamental (completo ou não)11, uma possui o nível escolar médio e outra trabalhadora iniciou curso superior, mas não o concluiu. A maior parte das entrevistadas descende de famílias de baixa renda e tem muitos irmãos. Ainda em maioria são casadas e residem com seus companheiros e seus filhos. Cinco trabalham exclusivamente como diaristas, mas três conciliam a atividade com distintos serviços, como garçonete e manicure.

A coleta de informações ocorreu durante o ano de 2011. O contato com as participantes, inicialmente, foi efetivado por meio de indicações pessoais dentro do próprio grupo de pesquisadoras. Posteriormente, as diaristas entrevistadas sugeriram outras colegas. As entrevistas foram gravadas em áudio e, depois, transcritas.

Para análise do material coletado, recorreu-se ao procedimento dos núcleos de significação, conforme preconizado por Aguiar e Ozella (2006). As análises se iniciaram por meio de leituras flutuantes das transcrições, para permitir a familiarização com seu conteúdo. A partir daí, iniciou-se o processo de aglutinação, composto por três etapas sucessivas, de modo a organizar os pré-indicadores, os indicadores e, por fim, os núcleos de significação. Ao final foram identificados três núcleos: Trajetórias Ocupacionais; Práticas Cotidianas; e Sentidos do Trabalho na Faxina. Quando identificados, os núcleos, expressões das falas dos sujeitos, formaram o primeiro momento analítico deste estudo. Na sequência, houve a análise propriamente dita, primeiramente de cada núcleo e, posteriormente, articulando os núcleos, sendo sua finalização e sua compreensão decorrentes dessa articulação dentro de um contexto social e histórico. A seguir são apresentados os resultados referentes a cada um dos núcleos separadamente, apenas para facilitar a exposição, lembrando que os três estão intimamente relacionados.

Resultados: apresentação e discussão Trajetórias ocupacionais

A análise das trajetórias ocupacionais buscou articular as dimensões objetiva e subjetiva, dentro da perspectiva relacional adotada por Dubar (1998). As posições (escolares, profissionais etc.) ocupadas pelo sujeito ao longo da vida se referem à objetivi-dade. A subjetividade é relativa à forma como o sujeito fala sobre si e sobre sua história. As tramas relacionais, entre objetividade e subjetividade, se evidenciam nas histórias de vida e de trabalho das diaristas entrevistadas.

As entrevistadas começaram a exercer o trabalho doméstico remunerado quando jovens —algumas, ainda crianças. Além desse tipo de atividade remunerada, elas já haviam desempenhado afazeres variados, na maioria ocupações associadas ao feminino, como: camareira, cozinheira, costureira, auxiliar de enfermagem, babá, cuidadora de idosos etc.; mas também referem outro tipo de ocupação (por exemplo, caixa, atendente de padaria, vendedora e agricultora). A principal atividade em suas histórias laborais foi a de empregada doméstica, atuando como mensalistas com ou sem registro formal de trabalho.

Como apontado, predominam entre as entrevistadas mulheres oriundas de famílias pobres e com baixa escolaridade. Seus percursos escolares foram muitas vezes interrompidos em razão de condições de vida diversas —por exemplo, a maternidade pre-coce12—. As trabalhadoras indicaram a baixa escolaridade como elemento limitador de suas oportunidades ocupacionais. Elas também relatam entradas e saídas no mercado de trabalho, ocasionadas principalmente por contingências pessoais e/ou familiares, como mudança de cidade (para acompanhar os pais ou o marido), gravidez, nascimento ou doença de filhos. Os relatos de interrupções recorrentes nas trajetórias ocupacionais dessas mulheres se coadunam com o observado por Diogo e Coutinho (2006) sobre a atividade econômica descontínua das mulheres como associada a determinados momentos de suas vidas, como a situação de maternidade, em que a descontinuidade laboral, em razão da dificuldade de compartilhamento do cuidado da prole, pode ser vista por empregadores como descompromisso.

As trajetórias ocupacionais das entrevistadas poderiam ser consideradas como características de mobilidade horizontal. De acordo com Bruschini e Lombardi (2000), esse tipo de movimento é característico dos percursos das trabalhadoras domésticas, pois:

Como praticamente não há mobilidade vertical ou ascendente, a carreira profissional consiste em mudanças para outros empregos nos quais os problemas básicos — salário, bom ambiente, sentir-se bem com a família, horário, carga de trabalho etc. — sejam mais bem resolvidos. (p. 82)

O início da atuação das entrevistadas como diaristas se deu em momentos variados, por razões e contingências diversas, em especial pela indicação de parentes ou amigos, geralmente sem muito pla-nejamente». Muitas já haviam experimentado essa atividade, entre ou paralelamente a outros empregos. Atuar na faxina corresponde à opção por uma ocupação, com vantagens e desvantagens, mas não propriamente a uma escolha profissional. Em pesquisa realizada com cobradores de ônibus urbano, Dalmaso (2010) observou que esses trabalhadores não consideram sua ocupação como profissão (lugar reservado aos colegas motoristas); elegeram atuar como cobradores, mas sem planejamento e sem que isso configurasse uma escolha profissional13. Atividades como faxineira e cobrador de ônibus não teriam, portanto, o status e a qualificação para o seu reconhecimento legal e social como profissões.

A permanência na ocupação de faxineira é associada a algumas vantagens elencadas pelas entrevistadas. A principal delas é a remuneração, avaliada positivamente pela maioria, principalmente quando comparada aos rendimentos decorrentes de outras atividades já exercidas, inclusive com registro formal em carteira. A situação é exemplificada por Tânia14: "pra mim, a faxina dá mais do que eu voltar pra uma loja, alguma coisa, sabe, eu vou ganhar bem menos, né". Na visão de Alice, atuar na faxina permitiria inclusive economizar despesas, pois: "se a gente trabalha em outro lugar, daí precisa de roupa, calçado, comida, aí não compensa. Daí eu vi que assim é mais pesado, mas você ganha mais". As falas das entrevistadas podem revelar as astúcias implicadas na opção por trabalhar em uma atividade que, mesmo "pesada" e desvalorizada socialmente, pode ser vantajosa para elas, seja pela remuneração mais alta, seja pela diminuição dos gastos requeridos para atuar em outras ocupações.

Na experiência das entrevistadas, os ganhos compensam o desgaste associado ao trabalho de faxina e justificam a opção por atuar na informalidade. Esses resultados se coadunam com os encontrados por Campos (2005). Embora o trabalho informal seja tradicionalmente caracterizado por um padrão de renda muito baixo (Alves & Tavares, 2006), nossas entrevistadas relatam experiências anteriores de trabalho formal com remuneração muito aquém daquilo que perfazem como diaristas. Essa informação é corroborada pela responsável pelo Sindicato das Empregadas Domésticas de Florianópolis entrevistada, segundo a qual uma grande parcela das empregadas domésticas com remuneração mensal pretende trabalhar como diarista por ser mais rentável — praticamente o dobro da remuneração auferida mensalmente.

A permanência na faxina também se justifica por essa ocupação permitir às trabalhadoras conciliarem exigências laborais com as do âmbito doméstico e familiar. É o caso de Tânia, que escolheu trabalhar com faxina apenas três vezes na semana para "ficar perto" do seu filho. Diversos estudos apontam as mulheres como principais responsáveis pelos afazeres em suas próprias casas. Segundo Diogo (2012, p. 91), é "comum mulheres pautarem sua inserção laboral nos cuidados dos filhos (principalmente bebês e crianças pequenas) e da casa", em especial mulheres de camadas populares, as quais tendem a priorizar "as responsabilidades domésticas e familiares porque não tinham a quem delegá-las".

A maioria das entrevistadas relatou ter, no momento, a faxina como única atividade remunerada, mas três delas também desenvolviam outros trabalhos, como garçonete em eventos e manicure, para complementação da renda. Nesses casos, o trabalho mais estável de faxina é associado com outros trabalhos informais, seja com "bicos", exercidos nas horas vagas, seja com a tentativa de montar um negócio próprio, como é o caso de uma das diaristas e também garçonete que iniciou a estruturação de um serviço de eventos.

Em relação aos projetos laborais, foi possível observar trajetórias ocupacionais de continuidade, mas, também, expectativas de mudança. Mesmo quem pretende continuar na atividade de diarista apresenta outras aspirações, como retornar à sua cidade natal ou estudar para ser professora, ou mesmo sonha com a compra de uma máquina de costura ou de um carro. Outras querem continuar na faxina, mas pretendem reduzir sua carga de trabalho, e ainda há aquelas que preferem mudar de ocupação, seja escolhendo uma nova atividade, seja se dedicando exclusivamente a algum "bico" já exercido. Mas é interessante observar como, em geral, as diaristas entrevistadas não apresentam planos estruturados relativos à sua vida laboral futura.

As narrativas revelam contradições; gostar de atuar como diarista, por exemplo, não significa necessariamente pretender permanecer nessa ocupação por longo prazo. Os planos de continuidade ou mudança se alternam nos discursos. Graf e Coutinho (2010), ao investigarem mulheres atuantes em pequenos abatedouros, também encontram discursos contraditórios e pouco estruturados quanto aos projetos laborais. A análise de trajetórias ocupacionais possibilita compreender como se constituem os sentidos produzidos nas vivências cotidianas (Coutinho, 2009).

Práticas cotidianas

O cotidiano laboral das diaristas é descrito por elas como muito instável e variável. Instável devido à inexistência de vínculo empregatício, o que implica remuneração irregular e ausência de benefícios sociais. Elas enfrentam essas dificuldades buscando estabelecer uma agenda regular de trabalho, garantindo desse modo uma remuneração mais estável, uma vez que são pagas por serviço prestado. Outra estratégia é o pagamento individual da previ-dência15, efetuado por cinco das entrevistadas, que, assim, buscam garantir a futura aposentadoria ou mesmo alguma remuneração quando impossibilitadas de trabalhar por problemas de saúde.

Todas as entrevistadas organizam seu cotidiano laboral por meio de uma agenda de trabalho remunerado. A algumas residências elas compareciam regularmente, uma ou duas vezes na semana, a outras quinzenalmente, e há ainda locais aos quais comparecem esporadicamente, quando são solicitadas. O tempo despendido para execução da faxina também varia e segue o acordado com os contratantes. Desse modo, o cotidiano dessas trabalhadoras se coaduna com a concepção de Spink (2008), para quem nossa vida cotidiana é formada por microlugares, ou seja, a cada dia novos espaços necessitam ser "construídos", diante de fluxos e/ou acontecimentos corriqueiros.

Cada diarista possui formas peculiares de organizar e efetuar a limpeza das residências. Algumas trabalham em sequência de cômodos, seguindo um padrão, pois "é a mesma rotina sempre" (Renata), enquanto outras limpam cada dia e lugar de forma diferente, pois "não é sempre a mesma coisa" (Mariana). A ordem de execução das tarefas segue critérios diferentes. "Aí eu abro tudo, (...) começo sempre no mais pesado. Aí vou nos banheiros, vou nas janelas, depois um pozinho, um aspirador, aí eu vou reduzindo a velocidade" (Diana).

Em suas reflexões, baseadas na teoria helleriana, Patto (1993) observa que cada pessoa demonstra suas motivações, seus sentimentos e suas paixões de modo particular. As particularidades do modo de trabalhar de cada diarista revelam cotidianos hete-rogêneos, pautados em ações das trabalhadoras, articuladas com necessidades dos contratantes. Essas ações podem ser praticadas de modo automático, sem reflexão consciente, revelando a espontaneidade característica da vida cotidiana (Heller, 2008).

Também é possível perceber certo controle e autonomia das trabalhadoras em suas escolhas, pois "a vida cotidiana está carregada de alternativas, de escolhas" (Heller, 2008, p. 39). Uma escolha valorizada pelas entrevistadas é a dos clientes: para quem trabalhar. Assim, ficar como diarista em uma residência depende das relações com o contratante. Essa seria uma vantagem da atuação como diarista, pois "tem esse lado de você, se você não gosta, você não é obrigado a ir" (Rafaela). Algumas preferem trabalhar apenas em apartamentos, evitando casas, pois "casa é mais complicado, é muito grande e depois tem um monte de calçada" (Norma). Também podem escolher trabalhar apenas em residências perto dos locais onde moram, para facilitar o deslocamento. Essas opções poderiam ser consideradas como ações pautadas no economicismo (Heller, 2008), as quais são guiadas pela "lei do menor esforço", na busca de economia de tempo e esforço, a fim de "dar conta" do seu conjunto heterogêneo de atividades. Uma das características do trabalho doméstico, apontadas por Bruschini e Lombardi (2000), são as extensas jornadas de trabalho. Entretanto, as autoras observam que as diaristas são uma exce-ção nesse quadro, pois conseguem manter suas jornadas dentro de limites razoáveis. No caso de nossas entrevistadas, são justamente esses limites que facilitam a conciliação com outras atribuições de suas vidas cotidianas.

As falas também revelam rotinas flexíveis, passíveis de mudanças para atender seus interesses pessoais, como deixar dias ou turnos de trabalho livres na sua agenda semanal, para descanso ou cuidado dos filhos. Desse modo, elas podem conciliar o trabalho de diaristas com outros condicionantes de suas vidas e, por meio de práticas ou maneiras de fazer/agir (Certeau, 2009), equilibrar o exercício do papel de trabalhadoras domésticas remuneradas com sua condição de mulheres, com suas responsabilidades domésticas e familiares.

Sentidos do trabalho na faxina

Em sua revisão sobre sentidos e significados do trabalho, Tolfo et al. (2011) assinalam as conotações positivas e negativas atribuídas ao trabalho ao longo da história. O discurso das diaristas entrevistadas revela negatividades e positividades associadas a esse trabalho. Vários aspectos negativos são assinalados, como a desvalorização e a ausência de benefícios sociais, e entre eles se destacam o cansaço e o ritmo intenso do trabalho, mesmo quando valorizam a ocupação: "é um serviço bom de trabalhar, mas é um serviço que te cansa" (Alice).

A desvalorização mencionada pelas entrevistadas faz parte do significado social das atividades de limpeza, historicamente subalternas e pouco valorizadas. A ausência de benefícios sociais, como um dos sentidos negativos da atuação na informalidade, foi também identificada na pesquisa de Campos (2005) com trabalhadores informais, e o cansaço associado à atividade de limpeza e conservação é um resultado que corrobora os achados de Diogo (2005) em pesquisa com trabalhadoras de uma empresa prestadora de serviços de limpeza.

A busca por formas rápidas de trabalhar implica intensificar o trabalho: "eu trabalho por tempo, né, então para mim ter mais tempo eu acabo não comendo, às vezes eu não tomo nem água pra não ter que parar, entendeu?" (Diana). Em sua análise sobre as modalidades contemporâneas da informalidade, Antunes (2011, p. 407) pontua os "novos e velhos mecanismos de intensificação (quando não de au-toexploração do trabalho)".

Na análise dos sentidos do trabalho para as entrevistadas foi possível identificar aspectos positivos associados à atividade como diaristas, os quais justificam a permanência na função. O principal deles foi a remuneração. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2012), de 2009 a 2011, o rendimento dos trabalhadores domésticos brasileiros sem carteira aumentou 15.2%. Já para quem exercia a mesma função com registro formal o aumento no período foi de 5.2%. Esses indicadores de mercado reiteram as vantagens de se atuar como trabalhadora doméstica sem registro formal, situação claramente identificada por nossas entrevistadas, justificando a permanência na atividade de diarista mesmo sem as garantias do emprego formal.

Nas narrativas das entrevistadas o trabalho assume a conotação de sustento material, característica das sociedades capitalistas, nas quais a finalidade do trabalho se distancia das necessidades dos produtores, o qual se torna apenas um meio de subsistência (Antunes, 2000). Na mesma direção, estudos empíricos com outros tipos de trabalhadores indicam a remuneração como um dos sentidos relevantes associados ao trabalho — ver em Coutinho e Diogo (2011) e Dalmaso (2010).

Ao descreverem seu cotidiano de trabalho, as diaristas revelam um relativo grau de controle e autonomia na execução das tarefas. Desse modo, exercer a faxina pode ter o sentido de liberdade, como registrado por Melissa: "mais liberdade, assim, de trabalhar, não tem aquele chefe te mandando, tem que fazer isso, fazer aquilo, né". Coutinho e Diogo (2011) analisaram os sentidos de trabalho e do emprego para trabalhadores informais e encontraram conotações similares. Além da remuneração e da liberdade, o trabalho na faxina assume outras conotações positivas nas falas das entrevistadas, como: "honesto", "vida", "tira o estresse", "significa tudo". Por meio dessas falas, seria possível vislumbrar na atuação das diaristas as pequenas vitórias ou sucessos, tal como indicado por Certeau (2009).

A relação com os contratantes é um aspecto importante na atuação das diaristas e pode levar a valorizar ou não o trabalho. Ao se referir às trabalhadoras domésticas com vínculo formal de trabalho, a representante sindical entrevistada menciona diversos problemas nas relações com os empregadores, como falta de diálogo, imposição de longas jornadas. Embora mencionem a possibilidade de escolha dos "patrões" ou das "patroas", as diaristas também relatam dificuldades em suas relações com os contratantes, como no exemplo de Rafaela, que se sente desvalorizada quando: "do lado financeiro também, acham que tu cobra demais". Outras entrevistadas destacam a valorização e a relação de confiança estabelecida com os contratantes: "eu me sinto mais feliz quando vejo que tal pessoa me valoriza, pelo trabalho" (Renata). Pela leitura de Certeau (2009), é possível pensar nos contratantes como quem estabelece estratégias reguladoras da atividade laboral das diaristas, as quais são capazes de, de maneira astuciosa, negociar a gestão de seus cotidianos de trabalho (Sato & Oliveira, 2008).

Considerações finais

Esta pesquisa teve como foco a vida laboral de trabalhadoras domésticas sem vínculo formal de trabalho, nomeadas de "diaristas". Foram apresentados os resultados organizados em três núcleos de significação: Trajetórias Ocupacionais; Práticas Cotidianas; e Sentidos do Trabalho na Faxina. Ao longo da apresentação e da discussão dos resultados, buscamos destacar os aspectos contraditórios presentes na vida cotidiana das entrevistadas. O significado social associado à ocupação de diarista é eivado de negatividades, pois esta se configura como uma ocupação precária, desgastante, de baixa qualidade, sem proteção social etc. Mesmo sem desconsiderar esses elementos associados à ocupação como diarista, quando nos aproximarmos dos movimentos e das táticas empreendidos por nossas entrevistas pudemos vislumbrar a pluralidade de sentidos construídos por elas em suas vidas cotidianas.

A análise das trajetórias das diaristas revelou o quanto sua origem em camadas populares, a história familiar e o fato de serem mulheres contribuíram para as opções ou escolhas possíveis no decorrer da vida. Assim, o percurso escolar irregular, geralmente associado ao baixo nível de escolaridade, bem como à necessidade de conciliar o trabalho doméstico familiar e o remunerado, se constitui no principal fator determinante da opção pelo trabalho como diarista. Elas consideram que essa ocupação é bem remunerada e permite relativa liberdade na execução das tarefas. Ser diarista aparece como uma alternativa vantajosa diante das vicissitudes da vida cotidiana dessas mulheres, em meio a tra-jetórias educacionais e ocupacionais descontínuas, sem planejamento ou projetos estruturados.

A análise das práticas cotidianas das diaristas revela a singularidade com que cada uma negocia e organiza sua vida pessoal e laboral, podendo regular seus dias e seus horários de trabalho, os modos de exercer as atividades, os locais de trabalho e os clientes para quem trabalhar. Esses modos singulares de ser diarista possibilitam às entrevistadas conciliar as atividades como trabalhadoras domésticas remuneradas e outras atividades importantes no seu dia a dia, como o cuidado dos filhos, as atividades domésticas em suas residências e o exercício de outros trabalhos remunerados.

Ao significarem o trabalho exercido na faxina, as entrevistadas revelam positividades e negativi-dades. A principal conotação positiva é atribuída à remuneração; trata-se de uma atividade que não só provê sustento, mas remunera melhor do que outras ocupações disponíveis para elas no mercado de trabalho. O trabalho como diarista também é associado à ideia de liberdade nos modos de trabalhar e, principalmente, na relação com o contratante. Em contrapartida, atuar como diarista implica exercer uma atividade desvalorizada socialmente, com um ritmo intenso e, consequentemente, desgastante.

A análise das trajetórias ocupacionais, das práticas cotidianas e dos sentidos do trabalho na faxina revelam articulações nas tramas das vidas dessas mulheres. Essa análise nos permitiu compreender nuances, vicissitudes e contradições invisíveis quando se olha para o conjunto de trabalhadoras domésticas. Certamente o trabalho exercido por nossas entrevistadas se assemelha ao de outras com a mesma inserção ocupacional: um emprego exercido sem proteção social, numa posição subalterna e desvalorizada, com ritmos desgastantes de trabalho. Também é possível vislumbrar como a inserção e a permanência nessa ocupação não foi propriamente uma escolha, mas uma opção por uma atividade tradicionalmente associada ao feminino, em condições de precariedade e subalternidade características de mulheres de camadas pobres. Foi justamente o olhar para o cotidiano das diaristas que nos permitiu compreender sua capacidade de aproveitar as vantagens dessa ocupação para operar de modo astucioso e criativo (Certeau, 2009; Sato, 2011), ou seja, não atrelado somente a dificuldades, mas com possibilidades de criar enfrentamentos e prazeres em seu exercício, de modo a equilibrar as demandas de suas vidas.

Ao olhar sentidos produzidos no cotidiano por mulheres que atuam como diaristas, esse estudo buscou desvelar as articulações entre as dimensões subjetiva e objetiva dessa atividade de serviços domésticos exercida na informalidade. A psicologia tradicionalmente inserida no campo do trabalho é voltada para as ocupações formais, preocupada com as formas de gerenciar o trabalho inserido nas organizações (Sampaio, 1998) e, ao fazê-lo, acaba por "transformar os trabalhadores em recursos" (Sato & Oliveira, 2008), deixando de compreender o que efetivamente acontece no trabalho. Com o presente estudo buscamos contribuir para uma psicologia que olha para o trabalho tal como acontece no cotidiano e, acima de tudo, voltamos nosso olhar para a ocupação de diarista, emprego doméstico exercido na informalidade cuja relevância social e económica é corroborada pelos indicadores estatísticos apresentados anteriormente. Desse modo, pretendemos contribuir para a ampliação de foco da psicologia no campo do trabalho, visto que "apenas recentemente essa disciplina começou a tratar do trabalho informal, ainda que de forma tímida" (Sato, 2011, p. 237).

Cabe salientar que este estudo objetivou contribuir para a construção de uma psicologia do trabalho voltada a abarcar a complexidade da dimensão subjetiva da vida laboral, compreendendo trajetórias de pessoas quase invisíveis socialmente, bem como sentidos e significados de um trabalho relevante socialmente. Outros trabalhos científicos necessitam ser efetuados no campo dos trabalhos informais, por meio de análises dialéticas, que contribuam para superar dicotomias entre subjetivida-de e objetividade. Também nos parece relevante a continuidade de estudos com outras trabalhadoras domésticas, aprofundando as análises sobre o modo como as atividades domésticas remuneradas e não remuneradas se articulam em suas vidas cotidianas.


Rodapé

1A utilização da metáfora "mundo do trabalho" tem como proposito a demarcação do foco nas relações laborais, mesmo reconhecendo sua inexistência isolada no tecido social (Coutinho & Silva, 2011).
2Para Certeau (2009), as relações de poder se expressam por meio de práticas cotidianas de dois tipos: estratéggia e tática. A primeira é exercida por aqueles que têm poder, enquanto a tática é a "arte do fraco"; se caracteriza justamente pela ausência do poder e por aproveitar ocasiões para atuar no campo dominado pelo outro.
3As crises económicas recorrentes e cada vez mais acirradas têm afetado profundamente os direitos sociais e a dinâmica do mercado de trabalho, inclusive nos países fortemente industrializados.
4Embora informalidade ainda consista em um traço marcante do mercado de trabalho brasileiro, indicadores mais recentes mostram um recuo nos índices de emprego informal. Análise baseada em indicadores da Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (Pnad/ IBGE) relativa ao período 2004-2009 indica o crescimento do assalariamento (com ou sem carteira de trabalho assinada), passando de 51.3% para 53.7 da população economicamente ativa (PEA), sendo que no período "o segmento formal passou de 38.2% a 42.5% da PEA ... revelando uma expressiva formalização da estrutura ocupacional brasileira" (Krein, Santos, & Nunes, 2012, p. 22).
5Noronha (2003) pontua o caráter simbólico e prático da carteira de trabalho no Brasil, a qual exerce o papel de uma carteira de identidade, capaz de comprovar ou não a confiabilidade do portador, de modo que, popularmente no país, ter "trabalho formal" corresponde a ter "carteira assinada".
6 Para obter mais informações, consultar o site da CBO: http:// www.mtecbo.gov.br/cbosite/pages/home.jsf
7Nos anos 1990 as mensalistas residentes correspondiam a apenas 18% das trabalhadoras domésticas, sendo que Bruschini e Lombardi (2000) levantavam a hipótese de que em futuro próximo deveria ocorrer sua extinção.
8Essa proposta foi aprovada pela Câmara dos Deputados em 4 de dezembro de 2012 e agora aguarda a aprovação do Senado. Para obter mais informações, consultar: <http://www.brasil.gov.br/ secoes/mulher/atuacao-feminina/trabalhadoras-domesticas> e <http://www2 .camara.leg.br/camaranoticias/noticias/TRA-BALHO-E-PREVIDENCIA/431802-CAMARA-APROVA-PEC-DAS-DOMESTICAS-EM-SEGUNDO-TURNO.html>.
9Este estudo fez parte do projeto "Investigando os sentidos de trabalho e os processos identitários de trabalhadores com formas flexíveis de emprego", apoiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) com a concessão de bolsa de Produtividade em Pesquisa para a primeira autora e bolsa de Iniciação Científica para a última. O projeto foi submetido e aprovado pelo Comitê de Etica em Pesquisa com Seres Humanos da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
10Capital de Santa Catarina, estado localizado na região sul do Brasil.
11No Brasil, a estrutura educacional (sem considerar o ensino infantil e o superior) é composta por duas etapas: ensino fundamental (até recentemente com oito séries) e ensino médio (com 3três séries).
12Mesmo a entrevistada com grau de escolaridade mais alto relata um percurso escolar com várias interrupções.
13Existe extensa literatura sobre as diferenças entre profissão e ocupação, impossível de ser revisada aqui. Dalmaso (2010) indica a origem das profissões ligadas às corporações, separadas das ocupações não qualificadas. A partir da criação das universidades essa divisão se acirra. Assim, "as ocupações se definiriam como atividades braçais e as profissões seriam definidas como artes intelectuais" (pp. 99-100).
14Os nomes das entrevistadas são fictícios.
15A legislação previdenciária brasileira possibilita aos que trabalham por conta própria, ou autónomos, incluindo os trabalhadores domésticos, a contribuição individual à Previdência Social (ver mais detalhes em: www.previdenciasocial.gov.br).


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